Quando eu disse as mesmíssimas coisas, antes da vaca ir pro brejo, muitos se indignaram, inclusive alegando que enfoques políticos não cabem na análise futebolística.
Cabem sim, como prova, de forma exemplar, o veterano jornalista Jânio de Freitas -- um dos que, como eu, mantêm vivos na memória os anos terríveis da ditadura militar, não se conformando com a permanência de práticas autoritárias no país redemocratizado.
Sua coluna deste domingo (4), A Pátria Sem Chuteiras, é tão boa que merece ser reproduzida na íntegra -- mesmo porque endosso e subscrevo cada uma das palavras:
Cabem sim, como prova, de forma exemplar, o veterano jornalista Jânio de Freitas -- um dos que, como eu, mantêm vivos na memória os anos terríveis da ditadura militar, não se conformando com a permanência de práticas autoritárias no país redemocratizado.
Sua coluna deste domingo (4), A Pátria Sem Chuteiras, é tão boa que merece ser reproduzida na íntegra -- mesmo porque endosso e subscrevo cada uma das palavras:
"A Seleção Dunga trouxe à tona um remanescente, na vida brasileira, de que o país tanto deveria se livrar quanto se recusa a encarar.
"Tudo na seleção, desde o primeiro momento, baseou-se em um exíguo corpo de ideias, e consequentes práticas, que caraterizam o mais deslavado autoritarismo.
"Era a velha e sempre viva regra: contra a liberalidade descontrolada, não a busca do equilíbrio, mas o autoritarismo.
"No estilo anos 30 do século passado, o instrumento simbólico foi o patriotismo (com ou sem aspas). Os chamados à seleção seriam os que Dunga considerasse 'dispostos a defender a seleção brasileira com todos os sacrifícios'.
"Se assim foi o começo, no fim derrotado Dunga exaltava 'esses jogadores que ficaram 52 dias distantes de tudo'.
"Proibidos de contato com a vista do seu público, proibidos de conversar com jornalistas, proibidos de reunir-se a familiares, proibidos, proibidos. Os 52 dias não foram de concentração, foram de repressão de uma parte e sujeição passiva de outra.
"Exigência que Dunga estendeu à imprensa, posta, com bastante passividade, sob a boçalidade como tratamento pessoal e a censura como prática, nas proibições ao trabalho habitual de reportagem e na exiguidade das informações permitidas à população ansiosa.
"Autoritarismo explícito, na forma mais sentida pela imprensa, e nem por isso mais intolerada. Críticas houve, sim, cautelosas e superficiais; reação, nenhuma.
"Nem quando Dunga investiu, ao vivo e em cores, contra um comentarista equilibrado, competente, sempre bem humorado e educado, Alex Escobar, nem aí houve sequer um mínimo ato representativo de repulsa ao autoritarismo.
"Dunga brindou-se como um ser coerente e foi consagrado como tal, nas ressalvas incluídas pelos críticos às próprias críticas. Ficou dado, assim, um novo nome para a prática da injustiça.
"Na concepção 'coerente' de Dunga, de nada valeram o esforço e o mérito de ser o melhor ou estar melhor.
"Se jogadores caídos na reserva em seus times são chamados a preterir jogadores em fase de excelência, que seleção é essa? E o que significa para os preteridos? E com que autoridade representa o estágio verdadeiro futebol do país? Apenas valeu o voluntarismo autoritário.
"Neste sentido, Dunga fez uma síntese exemplar, quando explicou a convocação de um jogador que está como terceiro goleiro no seu time: 'Quando eu convoquei o Dani da primeira vez, ele veio contra a vontade do técnico dele e por isso foi posto na reserva quando voltou pra lá. E o que os outros jogadores iam dizer agora? Olha o que o Dunga fez com ele...
"A prioridade não era a seleção, no sentido esperado, eram considerações particulares. Impostas a partir do poder. Não da coerência, do reconhecimento justo e dos deveres da função.
"A todas as críticas, ou ao que sua visão paranóide tomou por tal, Dunga ofereceu como contraste a devoção e a entrega dos seus cativos à pátria. Não por acaso, na hora de partir para a cruzada patriótica a seleção fora receber a bênção do primeiro mandatário e de sua mulher devidamente paramentados em verde e amarelo.
"Mas brasileira é que a seleção não foi, nunca. Futebol fosco e tosco, de gente insegura e desnorteada ante a possível adversidade, nenhum momento de brilho verdadeiro, jamais um encanto de brasilidade.
"E um histérico à beira do campo ao ver que seu autoritarismo não transpunha fronteiras.
"Tudo não passou de uma manifestação a mais, e inconteste, do autoritarismo persistente na vida brasileira".
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