sábado, 9 de janeiro de 2010
Avatar: Qual é a mensagem subliminar do filme
Minha crítica ao filme “Avatar” gerou como eu esperava uma forte reação negativa de quem gostou do filme. O argumento deles é sempre o mesmo: filmes como esse devem ser unicamente avaliados como peças de entretenimento. Ponto final.
Eu não concordo. Ainda mais no caso desse filme, que traz em seu bojo uma pretensa mensagem política e ecológica. Para mim, quanto mais pretensioso é o filme em seus objetivos, maior deve ser a cobrança sobre ele. E quanto maior for sua pretensão, maior deve ser o cuidado do cineasta em embasar sua obra com conteúdo suficiente para que ela sobreviva a uma análise mais profunda e crítica.
Uma vez eu vi uma entrevista com o diretor John Carpenter onde ele era questionado sobre as possíveis conotações políticas do filme “Era Uma Vez Na América”, de Sergio Leone. Ao que o diretor de “Fuga de Nova York” responde: “Todo filme tem conotação política, até mesmo eu suponho ‘Plan 9 From Outer Space’”. Eu assino embaixo.
Muitas vezes um filme pode parecer que é apenas “entretenimento”, porém traz embutido nele centenas de mensagens, conceitos e valores sociais ou morais que vão manipular e moldar a mente do espectador. Algumas vezes, esses conceitos são explícitos, mas na maioria eles ficam implícitos. E em grande parte das vezes, os conceitos implícitos são diferentes dos explícitos embora, em última instância, sejam os últimos que vão formar a opinião de espectadores incautos.
“Avatar” é um desses casos. Apesar de possuir uma suposta mensagem altamente explícita contra o capitalismo, o exército e a favor da natureza e da ecologia, o que vale realmente é o que está por trás de tudo isso e que, na minha modesta opinião, vai contra ao que o autor da obra supostamente quer ensinar.
E como eu cheguei a essa brilhante conclusão? Bem, não é fácil explicar, mas vejamos se eu consigo.
Em primeiro lugar, filmes com mensagens pretensiosas que querem provocar a reflexão da platéia devem, como eu disse, embasar seus argumentos de maneira forte e coerente. “Avatar” para começo de conversa passa longe disso. Assim, ao invés de personagens complexos e humanos (leia-se, com problemas, dúvidas, fraquezas e conflitos), temos personagens unidimensionais (os bons, os maus, os ingênuos) e caricatos (maus são violentos ou gananciosos, bons são pacíficos, ingênuos querem o bem, mas fazem o mau por tabela, e assim por diante). Isso, já de cara, dilui completamente qualquer mensagem que o filme quer passar porque reduz tudo a um festival de clichês que não exige reflexão por parte da platéia e impede que nos identifiquemos com os personagens. Além disso, qualquer um é capaz de adivinhar o que vai acontecer até o final depois de 20 minutos de projeção.
Alguns podem argumentar que o protagonista, Jake Scully, seja matizado, afinal começa “vilão” (servindo aos interesses dos militares) e depois se torna “herói”. Poderia até ser, porém o arco que o personagem passa é por demais primário e suas motivações nunca são expostas claramente para tornar sua “jornada” da direita para a esquerda sequer perto de algo interessante.
Compare, por exemplo, com o arco sofrido pelo personagem de Val Kilmer no filme “Coração de Trovão”. Naquele filme, Kilmer também começa à direita, fazendo o serviço sujo do governo dos EUA numa reserva indígena, para depois voltar-se para a esquerda, ajudando os nativos revolucionários que lutavam contra latifundiários que queriam explorar suas terras. A “jornada” do “Coração de Trovão” é extremamente complexa, pesarosa e cheia de conflitos – ele é filho de um nativo alcoólatra, rejeita sua herança e sempre se portou como um mauricinho de Washington até mergulhar de cabeça no mundo dos nativos e sujar suas mãos com o sangue de seus antepassados. Embora consiga desmascarar os envolvidos no esquema de morte e repressão dos nativos (inclusive dentro do próprio FBI) ele obtém uma mera vitória de Pirro e o filme termina de forma melancólica, deixando claro que as injustiças e as perseguições políticas denunciadas pelo filme continuariam ocorrendo.
Já em “Avatar”, o que ocorre é justamente o contrário. O protagonista sai da direita (representada por um comportamento desumano, frio, insensível, preconceituoso, egoísta, violento) e vai para a esquerda (o contrário de tudo aquilo) num piscar de olhos, sem passar por qualquer conflito ou drama interior. Ele começa caricato e termina caricato. Nem em “Star Wars” a jornada do herói é tão vazia e raza assim, pois lembremos que Luke Skywalker, além de sofrer o diabo nos três filmes da série, ainda descobre que o malvadão máximo da trilogia é ninguém menos do que seu pai! Eu vi “O Império Contra-Ataca” nos cinemas quando tinha uns 10 anos e lembro bem até hoje do impacto que essa revelação teve na gente.
Não importa se sejam comédia, drama, épico ou terror: filmes bons, que são lembrados com o tempo, são aqueles que conseguem deixar uma marca, uma idéia, uma reflexão, ou seja, algo mais do que simples imagens bonitas e maravilhosos efeitos especiais. Principalmente aqueles que tem a pretensão de nos fazerem pensar. E aí vamos chegando à conclusão do filme, que é onde tudo desanda de vez.
“Avatar”, assim como muitos outros filmes com mensagens fracassadas, erra feio justamente em sua conclusão ao apelar para o bendito final feliz e redentor. Se até então o que vimos na tela estava há mil anos luz de ser uma obra prima da dramaturgia, tudo fica ainda mais abominável quando o encerramento apela para o que há de mais pobre e batido. No caso, a vitória altamente improvável e esmagadora dos “heróis” contra os “vilões” e a transformação final do protagonista, que literalmente vira um dos alienígenas, jogando fora e rejeitando tudo que ela havia sido até então (aqui ainda temos uma mensagem implícita extremamente fascista para as pessoas portadoras de necessidades especiais!).
Que tipo de reflexão isso gera nas pessoas? Será mesmo que alguém saiu do cinema pensando em se engajar politicamente para “salvar o planeta” ou repensando seus conceitos em relação ao capitalismo e sobre o massacre de indígenas que ocorreu na conquista das Américas, que pareciam ser os objetivos do diretor James Cameron? É claro que não! O máximo de comentários que um filme desses gera é sobre seus efeitos especiais “revolucionários” e uma sensação do tipo “alguém precisa salvar a natureza” que se esvai assim que o sujeito chega ao balcão do próximo McDonald’s.
Cito aqui, a título de comparação, outro filme de fantasia e ficção que é o contrário de “Avatar” em tudo, menos na pretensão de nos fazer refletir sobre as injustiças e os absurdos de nossa sociedade capitalista opressiva. É “Brazil”, de Terry Gilliam. Repare que a jornada do protagonista é bem similar à de Jake Sully – sai da direita e vai para esquerda -, porém na obra de Gilliam não há lugar para finais felizes nem redentores. E é justamente quando confrontados com a duríssima realidade político-social do filme que percebemos que aquele absurdo todo visto na tela nada mais é do que um reflexo distorcido da nossa própria realidade.
E, por favor, não venham me falar que “Brazil” é filme cabeça, que só iniciados podem entender, porque eu o assisti quando tinha uns 16 anos e estava no auge da minha modalidade “papagaio da direita”, porém lembro até hoje do impacto que aquela obra – principalmente seu final terrível – teve no início da formação do meu caráter à esquerda.
Os filmes da trilogia "Matrix" também são exemplos de clichês sendo virados de ponta cabeça com o objetivo de gerar reflexão política naqueles que se incomodam de colocar seus neurônios para funcionar.
Mas, tenho certeza, algum leitor mais esperto vai me dizer: “Ora, mas o filme de James Cameron custou US$ 300 milhões! Você acha que o cara ia colocar um final triste desses aí que você gosta só pra fazer meia dúzia de chatos pensarem?”. Pois é. A pergunta que esse babaca ia formular é justamente o que eu precisava para fechar meu texto. “Avatar” é um produto cultural feito para, única e exclusivamente, trazer lucros para as empresas e pessoas que nele investiram seu capital – inclusive seu super bem intencionado diretor. Não é, portanto, o mesmo objetivo da companhia “vilã” que estava explorando Pandora? Quais são então os valores que o filme realmente defende e passa em última instância e de maneira subliminar?
A resposta é simples, não? Simples até demais pro meu gosto...
Mas verdade seja dita: os executivos e acionistas do cinemão comercial estadunidense adoram ver revolucionários felizes e armados até os dentes derrotando opressores capitalistas na tela dos cinemas. Porque isso gera catarse e sensação de redenção (que são garantias de alienação e acomodação) e, acima de tudo, lucro. Já na na vida real os Jake Sullys não podem ganhar de jeito nenhum e são chamados de “terroristas” e outras aberrações do tipo. É ou não é?
E se você acha que tudo isso acontece por coincidência ou acidente, pense de novo. "Avatar" demorou 10 anos para ficar pronto e custou trocentos milhões de dólares. Não há um fotograma no filme que não tenha sido meticulosamente escrutinado e programado para passar o máximo de impacto possível. Na indústria cultural de propaganda do capitalismo não há nada que aconteça por coincidência ou acidente. Nada!
Postado por André Lux
Aos doutrinados pela mídia corporativa:
Perguntas que não querem calar
Quando você se assume como sendo de "esquerda", isto significa, ao menos no meu caso, que você luta pelo paz, pelo humanismo, pela justiça social, pelos direitos iguais, pelo fim da exploração do homem pelo homem, pelo respeito às leis (desde que justas e igualitárias), pelo fim do racismo, do preconceito, da homofobia, do chauvinismo machista, do fanatismo (religioso e ideológico), entre outras coisas.
E daí, obviamente, você vai se alinhar a outras pessoas que também lutam pela mesma coisa ou que, pelo menos, lutam pelo maior número possível de itens da sua lista particular. Nem sempre todos os esquerdistas lutam exatamente pelos mesmos ideais ou concordam sobre qual é a melhor forma de conquistá-los. Mas, em linhas gerais, existe um consenso de que quem é de esquerda é progressista e libertário.
A partir do momento que você assume publicamente essa posição, começa imediatamente a ser "questionado" pelos doutrinados pela mídia corporativa de direita, que busca o lucro acima de tudo e de todos e está alinhada sempre ao que há de mais reacionário, conservador e intolerante. Essas pessoas, em sua raiva cega e sem sentido, não percebem o quanto são incoerentes e obtusas.
Mas agora é a minha vez de questionar esse pessoal com algumas perguntas básicas. Vamos ver se algum deles se manifesta. Se bem que eu duvido muito, afinal, nunca encontrei alguém que tenha coragem de se assumir como sendo de direita...
1) Por que vocês vivem indignados com o regime socialista de Cuba e sua suposta "falta de liberdade", mas não dirigem sua raiva a regimes muito mais selvagens e totalitários que o cubano, como os da Arábia Saudita ou do Kuwait, por exemplo? Será que é porque a mídia que vocês consomem nunca contou que esses países são governados por verdadeiros "faraós" que dominam a população com mão de ferro e praticam os piores tipos de perseguição política? Será que é porque esses países são aliados de primeira linha dos EUA, cuja doutrina imperialista dita o que a mídia corporativa mundial deve ou não divulgar, condenar, denunciar ou esconder?
2) Por que vocês estrebucham em feridas quando lembram das execuções cometidas pelo regime cubano contra criminosos julgados e condenados juridicamente, mas não soltam um pio em relação às execuções cometidas até hoje nos EUA da mesma forma? Bush Jr., por exemplo, foi o rei das execuções quando governou o Texas. Ele pode e o Fidel não pode? Por que essa indignação seletiva?
3) Por que todos vocês chamam Hugo Chávez de "ditador" mesmo sabendo que ele foi ELEITO por voto democrático pela maioria absoluta de seu país por nada menos que três vezes, sendo aprovado inclusive em um plebiscito no meio do primeiro mandato? Será que é porque Chávez é contra o imperialismo dos EUA e luta pra proteger os interesses da nação dele, ao contrário do que faziam os governantes antes dele, que vendiam a preço de banana as reservas do país e deixavam a maioria da população na maior miséria?
4) Por que vocês não chamam de ditador Pervez Musharraf, que chegou ao poder no Paquistão depois de um golpe militar em 1999 e massacra e prende qualquer pessoa que ouse ir contra seu governo? Será que é porque Musharraf é favorável às políticas imperialistas dos EUA e deixa seu país ser usado como base pelo exército estadunidense?
5) Por que vocês têm ódio da FARC, que é uma guerrilha que realmente usa de práticas condenáveis como o sequestro, mas adoram o Álvaro Uribe, que era aliado de narcotraficantes como Pablo Escobar, tem a seu serviço milícias para-militares que assassinam sindicalistas e serve com capacho de Bush Jr. para usar a Colômbia como quintal de seus interesses nada nobres na região?
6) Por que vocês têm orgasmos toda vez que algum petista ou esquerdista é linchado publicamente pela mídia, sem qualquer prova ou direito de resposta, mas ficam revoltados quando o mesmo acontece com algum parente ou amigo de vocês?
7) Vocês protestam o tempo todo contra a suposta "falta de liberdade" em Cuba, mas se amanhã rolar um novo golpe militar no Brasil e Lula for derrubado, não vão vibrar quando derem a ordem de "prender e arrebentar" essa corja de petistas, lulistas e esquerdistas em geral? Em 1964 foi assim. Os mesmos que xingavam a revolução cubana e a dita falta de democracia deles, batiam palmas para os milicos na rua, para as prisões, torturas, perseguições políticas, assassinatos e desaparecimento dos corpos, não é mesmo?
8) Vocês dizem que em Cuba o povo não pode pegar um avião e ir para a Europa. Poder, eles podem, só que lá ninguém tem dinheiro para fazer isso. Já aqui no Brasil, terra da liberdade, qualquer um pode ir para a Europa a hora que quiser, certo? Ah, não pode? Por que será, hein?
9) Ok, confesso que eu não tenho medo de dizer que admiro pessoas como Che Guevara, Ghandi, Olga Benário, Fidel, Lennon, Chomsky, Ramonet, Lenin, Marighella, Lamarca, Mino Carta, Vladmir Herzog e muitas outras figuras que, sim, são controversas, mas ao menos lutaram e lutam por um mundo mais justo e igualitário. E vocês? Têm coragem mesmo de se alinhar a gente como delegado Fleury, coronel Ubiratan, Mussolini, Hitler, Jorge Bornhausen, ACM, Garrastazu Médici, Pinochet, Bush Jr., Geisel, Carlos Lacerda, Uribe e outros figurões da extrema-direita, que faziam e fazem seu serviço covarde e sujo em nome da manutenção dos privilégios de meia-dúzia de podres de rico?
Bom, eu poderia fazer muitas outras perguntas, mas vou parar por aqui.
Vamos ver se alguém se manifesta de forma coerente, sem apelar para os velhos clichés do anti-esquerdismo midiático de sempre...
Fonte: blog Tudo em cima
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Ubatubanas
HISTÓRIA ? A FAVOR DE QUEM ?
“A preservação da história, através de nomes de rodovias, nem sempre é justa e, por vezes, é injusta.”
O texto do Elcio Machado, “Ubatuba e as democracias adjetivadas”, especialmente o trecho citado acima, despertou-me o desejo de levantar algumas questões.
As ciências, principalmente as humanas, quase nunca são neutras porque o objeto, o tema que se discute, sempre é olhado do ponto de vista de alguém que tem valores e opiniões. E quase sempre o cientista depende do patrocínio de alguma instituição ou pessoa, ficando sujeito à pressões e diminuição de sua autonomia. Na antiguidade, os pensadores e estudiosos, ou dependiam dos reis, dos aristocratas ou da igreja.
Além disso, o próprio domínio da leitura e da escrita era um privilégio das classes mais abastadas, direito que se tornou uma das bandeiras da Revolução Francesa e dos processos revolucionários posteriores mas que até hoje ainda não foi alcançado em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil.
Assim, a escrita da história foi sendo feita a partir do ponto de vista das classes dominantes. E uma das maneiras dos poderosos se perpetuarem no poder é ganhando corações e mentes, como heróis e vencedores, tornando os seus valores e sua maneira de ver o mundo a forma valorizada e “correta”. Uma das formas de não serem esquecidos é através da representação através de estátuas, pinturas e placas em praças e lugares públicos.
Com o aparecimento de novas tecnologias, como o cinema e a tv, essa dominação ideológica foi ampliada. Um exemplo disso é o grande investimento que o cinema recebeu tanto de Hitler e do nazismo como dos norteamericanos. O próprio Getúlio Vargas, ainda que perseguisse intelectuais como Graciliano Ramos, “permitia” e incentivava a divulgação de marchinhas populares e de caricaturas que o criticavam porque, de certa maneira criava uma proximidade com o povo humanizando o ditador, criando uma imagem de bondade e tolerância.
O aparecimento do gravador e do vídeo e o desenvolvimento dos movimentos populares, possibilitou o desenvolvimento de uma história contada a partir desses protagonistas, daqueles que “carregam o piano” da sociedade. Hoje há documentários produzidos pelos próprios índios, mulheres, sindicatos de trabalhadores e de todos aqueles que não eram contemplados pela história tradicional. No entanto, esses materiais ainda sofrem o boicote das grandes redes de comunicação, circulando apenas em espaços comunitários e acadêmicos.
Eu me lembro que, quando a deputada Irmã Passoni conseguiu aprovar o nome de Santo Dias para uma escola, causou verdadeiro alvoroço e resistência no ato de introdução do retrato do patrono da escola e da inauguração da placa. Hoje há ruas, parques e praças com o nome desse operário que foi assassinado por um policial militar em um piquete diante da fábrica Sylvania, em Santo Amaro.
Hoje, se vivemos em uma democracia e com alguns direitos trabalhistas garantidos, devemos à luta que os operários e trabalhadores desenvolveram para quebrar as amarras da ditadura. No entanto, quando se fala em redemocratização, é relembrado o nome de Ulisses Guimarães e de outras figuras de políticos e intelectuais, mas poucos conhecem os nomes dos operários que foram torturados, presos e assassinados.
E quase ninguém sabe que um dos maiores movimentos de contestação à ditadura, o “Movimento contra a Carestia”, começou a partir dos clubes de mães que se reuniam na periferia de Santo Amaro para tricotar, bordar e falar de seus problemas.
Postado por: Rui Grilo – ragrilo@terra.com.br
“A preservação da história, através de nomes de rodovias, nem sempre é justa e, por vezes, é injusta.”
O texto do Elcio Machado, “Ubatuba e as democracias adjetivadas”, especialmente o trecho citado acima, despertou-me o desejo de levantar algumas questões.
As ciências, principalmente as humanas, quase nunca são neutras porque o objeto, o tema que se discute, sempre é olhado do ponto de vista de alguém que tem valores e opiniões. E quase sempre o cientista depende do patrocínio de alguma instituição ou pessoa, ficando sujeito à pressões e diminuição de sua autonomia. Na antiguidade, os pensadores e estudiosos, ou dependiam dos reis, dos aristocratas ou da igreja.
Além disso, o próprio domínio da leitura e da escrita era um privilégio das classes mais abastadas, direito que se tornou uma das bandeiras da Revolução Francesa e dos processos revolucionários posteriores mas que até hoje ainda não foi alcançado em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil.
Assim, a escrita da história foi sendo feita a partir do ponto de vista das classes dominantes. E uma das maneiras dos poderosos se perpetuarem no poder é ganhando corações e mentes, como heróis e vencedores, tornando os seus valores e sua maneira de ver o mundo a forma valorizada e “correta”. Uma das formas de não serem esquecidos é através da representação através de estátuas, pinturas e placas em praças e lugares públicos.
Com o aparecimento de novas tecnologias, como o cinema e a tv, essa dominação ideológica foi ampliada. Um exemplo disso é o grande investimento que o cinema recebeu tanto de Hitler e do nazismo como dos norteamericanos. O próprio Getúlio Vargas, ainda que perseguisse intelectuais como Graciliano Ramos, “permitia” e incentivava a divulgação de marchinhas populares e de caricaturas que o criticavam porque, de certa maneira criava uma proximidade com o povo humanizando o ditador, criando uma imagem de bondade e tolerância.
O aparecimento do gravador e do vídeo e o desenvolvimento dos movimentos populares, possibilitou o desenvolvimento de uma história contada a partir desses protagonistas, daqueles que “carregam o piano” da sociedade. Hoje há documentários produzidos pelos próprios índios, mulheres, sindicatos de trabalhadores e de todos aqueles que não eram contemplados pela história tradicional. No entanto, esses materiais ainda sofrem o boicote das grandes redes de comunicação, circulando apenas em espaços comunitários e acadêmicos.
Eu me lembro que, quando a deputada Irmã Passoni conseguiu aprovar o nome de Santo Dias para uma escola, causou verdadeiro alvoroço e resistência no ato de introdução do retrato do patrono da escola e da inauguração da placa. Hoje há ruas, parques e praças com o nome desse operário que foi assassinado por um policial militar em um piquete diante da fábrica Sylvania, em Santo Amaro.
Hoje, se vivemos em uma democracia e com alguns direitos trabalhistas garantidos, devemos à luta que os operários e trabalhadores desenvolveram para quebrar as amarras da ditadura. No entanto, quando se fala em redemocratização, é relembrado o nome de Ulisses Guimarães e de outras figuras de políticos e intelectuais, mas poucos conhecem os nomes dos operários que foram torturados, presos e assassinados.
E quase ninguém sabe que um dos maiores movimentos de contestação à ditadura, o “Movimento contra a Carestia”, começou a partir dos clubes de mães que se reuniam na periferia de Santo Amaro para tricotar, bordar e falar de seus problemas.
Postado por: Rui Grilo – ragrilo@terra.com.br
Boris Casoy e Band já são réus em ação movida por Federação de garis
Já tramita o processo nº: 583.00.2010.100773-0 movido pela FENASCON - Federação Nacional dos Trabalhadores em Serviços, Asseio e Conservação, Limpeza Urbana Ambiental e Areas Verdes.
A ação civil é contra Boris Casoy e a TV Bandeirantes, pelos comentários ofensivos à dignidade humana dos garis que desejaram feliz ano novo. O comentário feito no intervalo do Telejornal, foi ao ar porque o som ficou ligado. Os telespectadores ouviram a voz de Casoy:
"Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades... Do alto de suas vassouras...Dois lixeiros...O mais baixo da escala do trabalho..."
As várias cópias do vídeo com o flagra espalhadas no Youtube tornaram fenômeno na Internet e já somam mais de 2 milhões de visualizações. A versão mais vista tem quase 1,2 milhão acessos, e mais de 9 mil comentários, quase todos condenando o preconceito criminoso e arrogância do apresentador.
Fonte : blog A P L
Petrobras é 9ª empresa mais valiosa do mundo
A Petrobras é a nona colocada num ranking das empresas com maior valor de mercado no mundo. A lista foi divulgada nesta quinta-feira pela consultoria Ernst & Young.
A lider do ranking é a PetroChina (com US$ 353,174 bilhões), segundo a Ernst & Young.A segunda empresa com maior valor de mercado do mundo é a americana Exxon Mobil, com US$ 323,717 bilhões, e a terceira é a também americana Microsoft, com um valor de mercado de US$ 270,636 bilhões em 31 de dezembro do ano passado.
As empresas de energia dominam a lista, na qual, das dez primeiras, quatro são americanas e três chinesas: PetroChina, Exxon Mobil, Microsoft, Bank of China, Walmart, China Construction Bank, BHP Billiton, HSBC, Petrobras e Google.
Os Estados Unidos lideram o ranking com 38 empresas, seguido da China, com 11, e o Reino Unido, com 8. Na nona posição dentre os países, a Espanha está representada por três empresas, duas a menos que no final de dezembro de 2008 e o mesmo número que em 2007.
O Banco Santander encontra-se na 36ª posição, com um valor de mercado de US$ 136,282 bilhões; a Telefónica, na 39ª (US$ 127,745 bilhões), e o Banco Bilbao Vizcaya, na 76ª (US$ 68,414 bilhões). O valor de mercado total das 100 maiores empresas do mundo passou para US$ 11,9 trilhões em 31 de dezembro, 28% a mais que no ano anterior.
Informações da Agência de Notícias
A lider do ranking é a PetroChina (com US$ 353,174 bilhões), segundo a Ernst & Young.A segunda empresa com maior valor de mercado do mundo é a americana Exxon Mobil, com US$ 323,717 bilhões, e a terceira é a também americana Microsoft, com um valor de mercado de US$ 270,636 bilhões em 31 de dezembro do ano passado.
As empresas de energia dominam a lista, na qual, das dez primeiras, quatro são americanas e três chinesas: PetroChina, Exxon Mobil, Microsoft, Bank of China, Walmart, China Construction Bank, BHP Billiton, HSBC, Petrobras e Google.
Os Estados Unidos lideram o ranking com 38 empresas, seguido da China, com 11, e o Reino Unido, com 8. Na nona posição dentre os países, a Espanha está representada por três empresas, duas a menos que no final de dezembro de 2008 e o mesmo número que em 2007.
O Banco Santander encontra-se na 36ª posição, com um valor de mercado de US$ 136,282 bilhões; a Telefónica, na 39ª (US$ 127,745 bilhões), e o Banco Bilbao Vizcaya, na 76ª (US$ 68,414 bilhões). O valor de mercado total das 100 maiores empresas do mundo passou para US$ 11,9 trilhões em 31 de dezembro, 28% a mais que no ano anterior.
Informações da Agência de Notícias
Os Arcanos da Província
Os dirigentes paulistas do PSDB fecham o cerco, nestas horas, com o fim de constranger o governador de Minas a disputar a Vice-Presidência, na chapa do partido. Eles podem não conhecer as razões de Minas, mas Aécio Neves, até mesmo pelas circunstâncias familiares, as conhece bem, e sabe que não pode recuar. Ele parece entender que, tanto em seu projeto biográfico quanto na fidelidade a Minas, não pode ser candidato a vice, mesmo com as excelentes relações que sempre manteve com o governador de São Paulo. Não é uma postura pessoal, embora, em Minas, quando se trata de política, seja difícil separar o indivíduo de sua grei.
Os mineiros brigam entre eles, armam ciladas, dissimulam os sentimentos, são astutos pecadores e espertos em negócios. Eles podem eventualmente aceitar que seus conterrâneos sejam atacados e ofendidos, como pessoas comuns, mas se tornam ferozes quando qualquer mineiro é atingido pelo fato de ser mineiro. Quando isso ocorre, reagem com o sentimento tribal. Sentem-se tocados, porque se irmanam ao ofendido, na identidade comum de montanheses. E quando qualquer um deles, em nome de sua ambição, rompe esse compromisso consuetudinário de solidariedade da província, os conterrâneos não o perdoam. Podem continuar convivendo com o trânsfuga, tratá-lo com elegância, visitá-lo na enfermidade e assistir a seu enterro, mas os gestos, o olhar, o altear das sobrancelhas, o movimento involuntário dos lábios, o constrangimento, demonstram o que lhes vai no fundo da alma. Não se trata de sentimento de desprezo. É, mais do que isso, discreta manifestação de piedade.
É também certo que não basta nascer em Minas para ser mineiro, como também não é necessário nascer ali para imbuir-se do caráter da gente da terra. Esse caráter é o resultado do ceticismo, da dúvida, de natural aceitação da transcendência, e providencial desconfiança de que Deus e o Diabo (sobretudo o Diabo) realmente existem. É em razão disso que Guimarães Rosa resume o mineiro, ao dizer que ele “escorrega para cima”. Escorrega para cima e diz “vou chegando”, quando está se despedindo. Não sabemos o que, exatamente, pensa Aécio, mas é bom apostar que ele conhece e respeita os arcanos da província. Ele sabe que, se ouvir o canto das sereias do Tietê, e aceitar ser vice, ambos – ele e o candidato à Presidência – correm o risco de perder as eleições em Minas, ainda que possam ganhá-las no resto do país. Essa seria a mais desoladora das derrotas para um mineiro.
Entre as melodias que cantam aos ouvidos de Aécio, nestas horas, há a da divisão do poder entre o vice e o presidente. Todos sabemos que, conforme a Constituição, no Brasil não há dualidade na chefia dos poderes, como havia no consulado romano. A atribuição de parcelas do Poder Executivo ao vice-presidente, ainda que houvesse, seria mera concessão, ad nutum, do titular, e não duraria mais do que a famosa rosa de Malherbe. Como dizem os mineiros, é melhor não.
É melhor não. Aécio tem a sua eleição garantida para o Senado, e dispõe de um capital considerável, que é a sua popularidade. Se ele fosse candidato à Presidência, e não tivesse êxito, seria, mesmo sem mandato, uma referência política nacional importante. Mas se perdesse as eleições, como o segundo da chapa, seria o vice do derrotado. Senador por Minas, Aécio continuará prestando seus serviços aos mineiros e ao Brasil, porque contribuirá, com suas ideias conhecidas, para a reconstrução do pacto federativo brasileiro. Essa é uma bandeira antiga do estado.
Um dos que menos conhecem Minas é o presidente do PPS, o ex-deputado Roberto Freire. Ao desmentir que seu partido pretenda propor o nome de Itamar Franco para a Vice-Presidência, afirmou que a agremiação trabalha para que o governador de Minas seja o candidato a vice, na chapa do PSDB. O político pernambucano foi deselegante com Itamar que, em nota distribuída à imprensa, deixara bem claro que o seu compromisso é com Minas e com o destino político de Aécio Neves. Freire, com sua alma de tucano de São Paulo, se soma assim aos que tentam constranger o governador de Minas.
O presidente Mário Soares disse, uma vez, que todos os políticos brasileiros deviam fazer um estágio em Minas, pelo menos durante alguns meses – “como fez Getulio Vargas, ainda adolescente”. O estadista português provavelmente tenha pensado no fato de que Minas, até mesmo pela fatalidade geográfica, é uma das mais brasileiras de todas as regiões nacionais.
Por Mauro Santayana
Fonte blog Brasil, mostra tua cara
Postado por Glória Leite
Os mineiros brigam entre eles, armam ciladas, dissimulam os sentimentos, são astutos pecadores e espertos em negócios. Eles podem eventualmente aceitar que seus conterrâneos sejam atacados e ofendidos, como pessoas comuns, mas se tornam ferozes quando qualquer mineiro é atingido pelo fato de ser mineiro. Quando isso ocorre, reagem com o sentimento tribal. Sentem-se tocados, porque se irmanam ao ofendido, na identidade comum de montanheses. E quando qualquer um deles, em nome de sua ambição, rompe esse compromisso consuetudinário de solidariedade da província, os conterrâneos não o perdoam. Podem continuar convivendo com o trânsfuga, tratá-lo com elegância, visitá-lo na enfermidade e assistir a seu enterro, mas os gestos, o olhar, o altear das sobrancelhas, o movimento involuntário dos lábios, o constrangimento, demonstram o que lhes vai no fundo da alma. Não se trata de sentimento de desprezo. É, mais do que isso, discreta manifestação de piedade.
É também certo que não basta nascer em Minas para ser mineiro, como também não é necessário nascer ali para imbuir-se do caráter da gente da terra. Esse caráter é o resultado do ceticismo, da dúvida, de natural aceitação da transcendência, e providencial desconfiança de que Deus e o Diabo (sobretudo o Diabo) realmente existem. É em razão disso que Guimarães Rosa resume o mineiro, ao dizer que ele “escorrega para cima”. Escorrega para cima e diz “vou chegando”, quando está se despedindo. Não sabemos o que, exatamente, pensa Aécio, mas é bom apostar que ele conhece e respeita os arcanos da província. Ele sabe que, se ouvir o canto das sereias do Tietê, e aceitar ser vice, ambos – ele e o candidato à Presidência – correm o risco de perder as eleições em Minas, ainda que possam ganhá-las no resto do país. Essa seria a mais desoladora das derrotas para um mineiro.
Entre as melodias que cantam aos ouvidos de Aécio, nestas horas, há a da divisão do poder entre o vice e o presidente. Todos sabemos que, conforme a Constituição, no Brasil não há dualidade na chefia dos poderes, como havia no consulado romano. A atribuição de parcelas do Poder Executivo ao vice-presidente, ainda que houvesse, seria mera concessão, ad nutum, do titular, e não duraria mais do que a famosa rosa de Malherbe. Como dizem os mineiros, é melhor não.
É melhor não. Aécio tem a sua eleição garantida para o Senado, e dispõe de um capital considerável, que é a sua popularidade. Se ele fosse candidato à Presidência, e não tivesse êxito, seria, mesmo sem mandato, uma referência política nacional importante. Mas se perdesse as eleições, como o segundo da chapa, seria o vice do derrotado. Senador por Minas, Aécio continuará prestando seus serviços aos mineiros e ao Brasil, porque contribuirá, com suas ideias conhecidas, para a reconstrução do pacto federativo brasileiro. Essa é uma bandeira antiga do estado.
Um dos que menos conhecem Minas é o presidente do PPS, o ex-deputado Roberto Freire. Ao desmentir que seu partido pretenda propor o nome de Itamar Franco para a Vice-Presidência, afirmou que a agremiação trabalha para que o governador de Minas seja o candidato a vice, na chapa do PSDB. O político pernambucano foi deselegante com Itamar que, em nota distribuída à imprensa, deixara bem claro que o seu compromisso é com Minas e com o destino político de Aécio Neves. Freire, com sua alma de tucano de São Paulo, se soma assim aos que tentam constranger o governador de Minas.
O presidente Mário Soares disse, uma vez, que todos os políticos brasileiros deviam fazer um estágio em Minas, pelo menos durante alguns meses – “como fez Getulio Vargas, ainda adolescente”. O estadista português provavelmente tenha pensado no fato de que Minas, até mesmo pela fatalidade geográfica, é uma das mais brasileiras de todas as regiões nacionais.
Por Mauro Santayana
Fonte blog Brasil, mostra tua cara
Postado por Glória Leite
Brasil, "refém" do humor dos franceses
por Luiz Carlos Azenha
A "crise militar" -- a polêmica envolvendo as decisões do governo Lula referentes à Comissão da Verdade e a compra de caças para a FAB -- interessa a Washington e aos lobistas de Washington. Os lobistas de Washington querem que o Brasil compre aviões fabricados nos Estados Unidos. Ao governo de Washington não interessa que o Brasil "injete" a França na geopolítica do hemisfério, com uma ampla parceria estratégica.
Ao Pentágono interessa que o Brasil compre aviões americanos e, se de fato precisar usá-los, fique sem peças de reposição e sem os softwares de gestão. O Pentágono quer vender ao Brasil uma daquelas impressoras cujo cartucho de impressão custa duas vezes mais que a própria impressora. Se o Brasil decidir imprimir algum texto escrito em Brasília, não em Washington, eles cortam o fornecimento de cartuchos.
Se o Brasil não comprar dos Estados Unidos, que pelo menos compre da Suécia: comprando da Suécia, ficará da mesma maneira dependente da tecnologia dos Estados Unidos.
É impossível determinar exatamente a quem servem os "mentores" da "crise militar". Mas sabemos quem ganha com a "crise": Washington deposita nela as esperanças de, se não fizer negócio com o Brasil agora, pelo menos desfazer o negócio alheio. Adiar o negócio, quem sabe para um futuro governo. Adiar o negócio, ganhar tempo, esperar "novas circunstâncias", quem sabe "facilidades". Tudo isso interessa aos lobistas de Washington. Aos vendedores de avião e aos estrategistas. O Estadão chega a ser explícito:
"Deixar o assunto em banho-maria pode ser, para Lula, a escolha menos onerosa", diz trecho de editorial recente.
Do jeitinho que Washington quer.
Mas há a demanda interna por mais uma crise. "Atritar" o adversário é uma das táticas para desviar a atenção dele, fazer com que ele gaste energia onde não precisaria gastar, perca o foco e faça besteira. Por isso, a assessoria midiática de um certo candidato "fabrica" mais uma crise, assim como fabricou o caos aéreo, a epidemia de febre amarela e a hecatombe da gripe suína. O Brasil, alerta a Folha, pode ficar refém dos humores "dos governantes franceses de turno". Não consta que o jornal tenha manifestado a mesma preocupação acerca dos humores de Washington. Aliás, ficar refém do humor dos franceses soa como uma gigantesca ameaça e estou certo de que foi uma piada involuntária, que escapou ao editorialista do jornal.
"Vale lembrar que nem os presidentes militares atropelaram decisões técnicas na compra de material bélico", alertou um ex-porta voz do regime militar, hoje comentarista da TV Globo. O Estadão chuta o balde: simplesmente sugere, por comparação com o presidente Sarkozy, da França -- "ele sim, trabalhando pelo interesse nacional" -- que Lula não representa os interesses brasileiros. É a pista para que os militares -- estes sim, supostamente defendendo o interesse nacional -- acusem Lula de ser apátrida ou de tirar vantagens pessoais do negócio.
Trata-se de uma retórica que tem o objetivo de constranger o presidente da República, com repercussões de médio e longo prazo.
Lula será acusado em qualquer das circunstâncias: será acusado de mudar de ideia diante da pressão de subordinados, se o fizer; ou de "insistir no erro", "atropelando os subordinados". Lula, aquele que não defende os interesses nacionais, atropelando os militares -- estes sim, patriotas. Trata-se de um discurso irresponsável, de franco desespero.
Entendo que se trata do velho jogo de desgastar o governo, de olho nas eleições. O problema é que a tal "crise militar" não rende um voto sequer. Se a economia estiver bombando em 2010, quem é que vai votar porque o Brasil comprou caças deste ou daquele país? Ou seja, tudo indica que cavar o fosso entre o poder civil e o poder militar não renda votos. É pouco provável que de fato interfira com uma decisão soberana do Estado brasileiro, que cabe ao presidente da República, comandante-em-chefe das Forças Armadas. Assim sendo, a quem realmente interessa desmoralizar o poder civil e reacender as chamas do poder militar? Acima de tudo, àqueles que desconfiam não contar com o poder dos eleitores para chegar ao poder.
A "crise militar" -- a polêmica envolvendo as decisões do governo Lula referentes à Comissão da Verdade e a compra de caças para a FAB -- interessa a Washington e aos lobistas de Washington. Os lobistas de Washington querem que o Brasil compre aviões fabricados nos Estados Unidos. Ao governo de Washington não interessa que o Brasil "injete" a França na geopolítica do hemisfério, com uma ampla parceria estratégica.
Ao Pentágono interessa que o Brasil compre aviões americanos e, se de fato precisar usá-los, fique sem peças de reposição e sem os softwares de gestão. O Pentágono quer vender ao Brasil uma daquelas impressoras cujo cartucho de impressão custa duas vezes mais que a própria impressora. Se o Brasil decidir imprimir algum texto escrito em Brasília, não em Washington, eles cortam o fornecimento de cartuchos.
Se o Brasil não comprar dos Estados Unidos, que pelo menos compre da Suécia: comprando da Suécia, ficará da mesma maneira dependente da tecnologia dos Estados Unidos.
É impossível determinar exatamente a quem servem os "mentores" da "crise militar". Mas sabemos quem ganha com a "crise": Washington deposita nela as esperanças de, se não fizer negócio com o Brasil agora, pelo menos desfazer o negócio alheio. Adiar o negócio, quem sabe para um futuro governo. Adiar o negócio, ganhar tempo, esperar "novas circunstâncias", quem sabe "facilidades". Tudo isso interessa aos lobistas de Washington. Aos vendedores de avião e aos estrategistas. O Estadão chega a ser explícito:
"Deixar o assunto em banho-maria pode ser, para Lula, a escolha menos onerosa", diz trecho de editorial recente.
Do jeitinho que Washington quer.
Mas há a demanda interna por mais uma crise. "Atritar" o adversário é uma das táticas para desviar a atenção dele, fazer com que ele gaste energia onde não precisaria gastar, perca o foco e faça besteira. Por isso, a assessoria midiática de um certo candidato "fabrica" mais uma crise, assim como fabricou o caos aéreo, a epidemia de febre amarela e a hecatombe da gripe suína. O Brasil, alerta a Folha, pode ficar refém dos humores "dos governantes franceses de turno". Não consta que o jornal tenha manifestado a mesma preocupação acerca dos humores de Washington. Aliás, ficar refém do humor dos franceses soa como uma gigantesca ameaça e estou certo de que foi uma piada involuntária, que escapou ao editorialista do jornal.
"Vale lembrar que nem os presidentes militares atropelaram decisões técnicas na compra de material bélico", alertou um ex-porta voz do regime militar, hoje comentarista da TV Globo. O Estadão chuta o balde: simplesmente sugere, por comparação com o presidente Sarkozy, da França -- "ele sim, trabalhando pelo interesse nacional" -- que Lula não representa os interesses brasileiros. É a pista para que os militares -- estes sim, supostamente defendendo o interesse nacional -- acusem Lula de ser apátrida ou de tirar vantagens pessoais do negócio.
Trata-se de uma retórica que tem o objetivo de constranger o presidente da República, com repercussões de médio e longo prazo.
Lula será acusado em qualquer das circunstâncias: será acusado de mudar de ideia diante da pressão de subordinados, se o fizer; ou de "insistir no erro", "atropelando os subordinados". Lula, aquele que não defende os interesses nacionais, atropelando os militares -- estes sim, patriotas. Trata-se de um discurso irresponsável, de franco desespero.
Entendo que se trata do velho jogo de desgastar o governo, de olho nas eleições. O problema é que a tal "crise militar" não rende um voto sequer. Se a economia estiver bombando em 2010, quem é que vai votar porque o Brasil comprou caças deste ou daquele país? Ou seja, tudo indica que cavar o fosso entre o poder civil e o poder militar não renda votos. É pouco provável que de fato interfira com uma decisão soberana do Estado brasileiro, que cabe ao presidente da República, comandante-em-chefe das Forças Armadas. Assim sendo, a quem realmente interessa desmoralizar o poder civil e reacender as chamas do poder militar? Acima de tudo, àqueles que desconfiam não contar com o poder dos eleitores para chegar ao poder.
Um bode expiatório para escapar das enchentes
Governador afirma que prefeituras têm licenciado obras que impermeabilizam várzeas do Rio Tietê na Grande SP
Carolina Freitas, da Agência Estado
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse nesta terça-feira, 5, que determinou à Secretaria do Meio Ambiente que intervenha em licenciamentos ambientais concedidos por prefeituras paulistas para a execução de obras em áreas de risco na várzea do Rio Tietê. "Estamos preocupados. Será uma ação enérgica. Nos casos mais críticos, podemos intervir", afirmou hoje, após evento da Secretaria de Saúde na capital paulista.
A preocupação surgiu, segundo Serra, por conta de obras autorizadas pelas prefeituras que estariam impermeabilizando as várzeas do Rio Tietê na Grande São Paulo. "As prefeituras têm licenciado obras que impermeabilizam essas regiões", afirmou.
O governador defendeu que as obras de ampliação da Marginal do Tietê têm impacto "zero" nas enchentes que atingiram a capital paulista nos últimos meses. "As obras compensatórias criam até vantagem, como o plantio de árvores", acrescentou.
A Nova Marginal consiste na construção de uma pista auxiliar, entre a expressa e a local, ao longo dos 24,5 quilômetros da via. As obras começaram em 4 de junho de 2009. Em 9 de setembro, o Rio Tietê transbordou e alagou a marginal, o que não acontecia desde 2005. Segundo parecer do Conselho Municipal do Meio Ambiente, a construção da pista extra elimina 18,9 hectares de área permeável, o equivalente a 19 campos de futebol. Mesmo assim, Serra defendeu hoje a sustentabilidade da obra.
"Quem fala dos impactos achando que conhece o assunto não sabe o que está acontecendo. Algumas pessoas fazem isso com pura má-fé", rebateu. Segundo a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), órgão vinculado à Secretaria Estadual dos Transportes, a ampliação não contribuiu para o transbordamento de setembro passado, pois as obras estavam ainda em fase de abertura de pistas. Além disso, de acordo com a Dersa, depois de pronta, a nova pista vai impermeabilizar 0,006% da área total da bacia do Tietê no Estado.
O investimento total na ampliação da Tietê será de R$ 1,3 bilhão, sendo R$ 1,1 bilhão do Tesouro estadual e R$ 200 milhões das concessionárias de rodovias com ligação com a marginal.
Nota do Viomundo: Antes o governador precisa se explicar sobre a limpeza do rio Tietê, sobre o gerenciamento das barragens do Tietê e sobre o motivo pelo qual só decidiu tomar alguma medida agora, depois que a casa caiu. Vai jogar a culpa nos prefeitos e tomar medidas "enérgicas", com o aplauso da mídia comprada, como se tivesse assumido o governo do Estado hoje.
* Joselito, o personagem sem noção da TV, de acordo com o leitor Eduardo.
Fonte : Vi o mundo
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
OS CARGOS VITALÍCIOS DOS JUÍZES FAZEM COM QUE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SEJA O PODER MAIS ANTIDEMOCRÁTICO DO BRASIL
O STF (Supremo Tribunal Federal) é o único poder antidemocrático do Brasil e o único que nas próximas décadas impedirá o avanço do país contra a corrupção e a desigualdade social.
Há no STF um princípio antidemocrático e monarca, que não deixa de ser inconstitucional em uma democracia que se preze, que é a vitaliciedade. Os cargos vitalícios do STF constituem o que há de mais desprezível nos três poderes da república. É horrendo, imoral, arcaico e sufoca a democracia brasileira. As imagens do esquema de corrupção apontado pela Polícia Federal no governo de Brasília, protagonizado pelo governador José Roberto Arruda (ex-PSDB e ex-DEM) e seus deputados, é a fina flor que cultiva o poder judiciário brasileiro. Nós não precisamos só de reforma política, precisamos emergencialmente de reforma judiciária.
Os cargos vitalícios do Supremo instauram um desequilíbrio entre os poderes porque não há renovação, diferente do Executivo e do Legislativo, submetidos a escrutínio periodicamente.
Um dos princípios mais caros às democracias modernas é a alternância de poder. Isso não significa a alternância de partidos no poder. Um partido pode reeleger candidatos quantas décadas conseguir, mas um único candidato não pode se reeleger a um cargo do executivo infinitamente. É por isso que o presidente Lula vai deixar o poder no final de 2010, mesmo que a ministra Dilma Rousseff ganhe as eleições e dê continuidade ao governo petista. Essa é uma alternância de poder que não existe no STF.
Um juiz da corte do país não pode ficar mais do que 8 anos. Como diz o ministro Supremo, Joaquim Barbosa, é preciso refazer o poder judiciário. Aliás, Joaquim Barbosa parece ser a única herança digna de elogios que o presidente Lula nomeou para o Supremo. Lula teve a chance de colocar uns cinco joaquins no Supremo, mas não o fez e deixa o Brasil com esse fardo vitalício. É urgente e premente o fim da vitaliciedade no Supremo.
Veja abaixo as afirmações de Joaquim Barbosa dadas em uma entrevista e reproduzida no site Conversa Afiada, do PHA
“A impunidade no Brasil é planejada, é deliberada. As instituições concebidas para combatê-las são organizadas de forma que elas sejam impotentes, incapazes na prática de ter uma ação eficaz.”
“ … o Poder Judiciário tem uma parcela grande de responsabilidade pelo aumento das práticas de corrupção …”
“A generalizada sensação de impunidade … é reforçada pela atuação do Pode Judiciário, das suas práticas arcaicas, das suas INTERPRETAÇÕES LENIENTES (ÊNFASE MINHA – PHA) … Para ser minimamente eficaz, o Poder Judiciário brasileiro precisaria se reinventado.”
“Temos um problema cultural sério: a passividade com que a sociedade assiste a práticas chocantes de corrupção … tudo isso vem confortar a situação dos corruptos…”
“Elas (a sociedade) deviam externar a sua indignação”.
“Ela (a elite) deveria abandonar a clivagem ideológica e partidária que guia as suas manifestações (contra a corrupção)”
Fonte: blog Educação Política
A dor da saudade
O tesouro chamado São Luiz do Paraitinga deixou de existir de uma hora para outra.
No lugar das casas coloridas, montes de entulho e sujeira.
Em vez do povo simpático e alegre, medo e desespero.
Num país onde se cultua tão pouco o passado, a destruição de São Luiz do Paraitinga é uma enorme tragédia.
Vai-se embora junto com as grossas, porém frágeis paredes das construções centenárias, um sentimento único de que a vida pode, sim, ser mais simples, mais calma, mais intensa.
Antes de uma evocação, esta crônica é um agradecimento sincero aos momentos mágicos desfrutados em meio a montanhas verdes, casario multicor, panos de chita, pessoas sorridentes, e um rio que nos faz refletir sobre o quanto somos pequeninos.
No lugar das casas coloridas, montes de entulho e sujeira.
Em vez do povo simpático e alegre, medo e desespero.
Num país onde se cultua tão pouco o passado, a destruição de São Luiz do Paraitinga é uma enorme tragédia.
Vai-se embora junto com as grossas, porém frágeis paredes das construções centenárias, um sentimento único de que a vida pode, sim, ser mais simples, mais calma, mais intensa.
Antes de uma evocação, esta crônica é um agradecimento sincero aos momentos mágicos desfrutados em meio a montanhas verdes, casario multicor, panos de chita, pessoas sorridentes, e um rio que nos faz refletir sobre o quanto somos pequeninos.
Serra recebe vacinas compradas pelo governo Lula, omite o nome do Presidente em seu discurso e não convida governistas para cerimônia
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB),fez campanha política ontem, no Instituto Butantan, na cerimônia de recebimento das vacinas contra a gripe A H1N1, que serão distribuídas pela Secretaria de Saúde a partir deste mês.
Por diversas vezes, durante seu discurso, Serra virou-se para seu secretário de Saúde, Luiz Roberto Barata Barradas, para confirmar informações ou corrigir-se, refazendo sua fala para a gravação de rádios e emissoras de televisão presentes ao evento para o horário político. Por fim, admitiu que estava pouco seguro para falar do assunto.
As vacinas, na verdade, serão pagas pelo Ministério da Saúde(do Governo Federal), por conta de um acordo com três diferentes fornecedores. O investimento total é de R$ 1,006 bilhão para as 83 milhões de doses que serão distribuídas em todo país. A informação sobre a cerimônia realizada em São Paulo com as vacinas enviadas pelo governo Lula e os números divulgados pelo governador foram recebidos, segundo a assessoria do ministério, com surpresa e um certo mal-estar.
O acordo firmado previa que o instituto Butantan receberia 33 milhões de vacinas, e não 41 milhões, como divulgado no evento. Além disso, os números finais e estratégias de distribuição seriam divulgados pelo próprio Ministério da Saúde apenas entre fevereiro e março e não agora. Nenhum representante do governo federal esteve presente à cerimônia, porque José Serra não convidou.
Serra disse que nçao ia falar sobre eleições, respondendo à indagação de um repórter: "Se eu falar disso, as manchetes serão todas sobre eleição e vocês (jornalistas) esquecem de falar das vacinas, que é o motivo do evento". Em via oposta, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), afirmou ontem pela manhã, em entrevista à Rádio Eldorado: "Vou torcer para que o Serra se defina por sua candidatura a presidente da República". Kassab afirmou, ainda, que não é candidato a governador do Estado e que ficará até o fim do mandato na Prefeitura.
Fonte: blog A P L
Por diversas vezes, durante seu discurso, Serra virou-se para seu secretário de Saúde, Luiz Roberto Barata Barradas, para confirmar informações ou corrigir-se, refazendo sua fala para a gravação de rádios e emissoras de televisão presentes ao evento para o horário político. Por fim, admitiu que estava pouco seguro para falar do assunto.
As vacinas, na verdade, serão pagas pelo Ministério da Saúde(do Governo Federal), por conta de um acordo com três diferentes fornecedores. O investimento total é de R$ 1,006 bilhão para as 83 milhões de doses que serão distribuídas em todo país. A informação sobre a cerimônia realizada em São Paulo com as vacinas enviadas pelo governo Lula e os números divulgados pelo governador foram recebidos, segundo a assessoria do ministério, com surpresa e um certo mal-estar.
O acordo firmado previa que o instituto Butantan receberia 33 milhões de vacinas, e não 41 milhões, como divulgado no evento. Além disso, os números finais e estratégias de distribuição seriam divulgados pelo próprio Ministério da Saúde apenas entre fevereiro e março e não agora. Nenhum representante do governo federal esteve presente à cerimônia, porque José Serra não convidou.
Serra disse que nçao ia falar sobre eleições, respondendo à indagação de um repórter: "Se eu falar disso, as manchetes serão todas sobre eleição e vocês (jornalistas) esquecem de falar das vacinas, que é o motivo do evento". Em via oposta, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), afirmou ontem pela manhã, em entrevista à Rádio Eldorado: "Vou torcer para que o Serra se defina por sua candidatura a presidente da República". Kassab afirmou, ainda, que não é candidato a governador do Estado e que ficará até o fim do mandato na Prefeitura.
Fonte: blog A P L
Brincar com fogo
Como esperado, a notícia dada pela Folha de que a FAB concluiu, em seu relatório técnico, que comprar os caças da sueca Saab e não os da francesa Dassault, é o melhor para o Brasil, criou a confusão diária desejada pela imprensa.
Num momento em que o governo Lula vive o auge de sua popularidade é justo que a oposição contra-ataque com as armas que tem. Afinal, o prazo para a largada para a corrida rumo ao Palácio do Planalto se estreita e é normal que os competidores reforcem seus preparativos.
Mas existem limites para tudo, precisam entender esses arautos do caos. Usar certos temas para criar a impressão de que o atual governo é composto por um bando de trapalhões, de populistas irresponsáveis e falastrões, de mistificadores e arrivistas, é, como se diz popularmente, brincar com fogo.
Todos sabem o que as Forças Armadas fizeram no Brasil num passado recente. Não é preciso explicar que o militar, por formação, trata-se de um sujeito conservador, metódico, preso à disciplina e à hierarquia, que ainda divide o mundo entre "nós", os bons e certos, e "eles", os maus e errados - nem é preciso dizer, também, quem são "eles".
O governo Lula tem procurado reparar um erro dos governos anteriores, especialmente os dos tucanos, que simplesmente esqueceram que os militares existiam, deixando seus equipamentos apodrecerem e, principalmente, seus salários congelarem em níveis baixíssimos. Essa mesma compra de caças para a FAB deveria ter sido feita por FHC, que, com medo de desagradar uns e outros, passou o abacaxi para seu sucessor.
Os militares podem fazer todas as ressalvas do mundo a Lula, mas, por uma questão de Justiça, são obrigados a reconhecer que recebem deste governo um tratamento infinitamente melhor do que o dado pelos outros presidentes civis do período pós-ditatorial. De uma forma ou de outra, a recomposição salarial está sendo promovida e o orçamento federal, ano a ano, tem permitido reequipar as três Forças.
Os comentários de vários jornalistas sobre as notícias da compra dos caças são feitos num tom evidente de intriga, da pura fofoca.
Por acaso, ouvi um debate entre alguns desses comentaristas hoje de manhã num programa "noticioso" da rádio Bandeirantes AM. Os erros factuais se sucediam: um deles promoveu o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, a "ministro da Aeronáutica"; o outro se referiu às vantagens que a Embraer poderia obter se os suecos ganhassem a "licitação", se esquecendo que também a Dassault se comprometeu a firmar parceria com a empresa brasileira.
Um festival de bobagens e desinformação, promovido com a intenção clara de dar ao ouvinte a impressão de que este realmente é um governo formado por completos imbecis.
Pode ser que essa propaganda influencie algumas pessoas na hora do voto - afinal, ela existe para isso.
O problema todo é que ela também pode ajudar a fazer crescer a barba de alguns radicais que ainda existem nas Forças Armadas - e não estou falando dos generais de pijama que passam os dias no Clube Militar a lembrar os bons tempos que se foram.
O risco é mínimo, mas não devemos esquecer que a Lei de Murphy, assim como a da gravidade, ainda não foi revogada.
fonte: crônicas do motta
Primeiro indicador da economia divulgado em 2010
Primeiro indicador da economia divulgado em 2010, o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1), calculado com base nas despesas de
consumo das famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos mensais, registrou variação de 0,16% em dezembro. Com este resultado, o índice apresentou alta de 3,69% em 2009, variação muito abaixo da apurada em 2008, que foi de 7,37%.
Amanhã sai o índice de atividade industrial de novembro e é esperada uma alta em torno de 1% em relação a outubro. Em 2008, com o início da crise, esta comparação com outubro mensurou uma queda de 5,2. Hoje, o mercado financeiro já perdeu um pouco do seu ânimo em especular com uma subida de juros em razão do temor de uma “explosão” da produção e do consumo e da inflação.
Não há explosão, há crescimento. O problema da economia brasileira continua sendo o câmbio, que está atraindo capital externo para especulação em juros e na bolsa.
Postado por BLOG DE UM SEM-MÍDIA
O Brasil é o 38º país do mundo em qualidade de vida
O Brasil é o 38º país do mundo em qualidade de vida, segundo um ranking com quase 200 países publicado pela revista americana International Living.
A liderança do ranking, que leva em consideração nove itens – custo de vida, cultura e lazer, economia, ambiente, liberdade, saúde, infraestrutura, segurança e risco e clima – ficou com a França, pelo quinto ano consecutivo.
O Brasil subiu da 43ª posição no ranking de 2009 para a 38ª neste ano. Em 2008, o país havia ficado na 39ª posição.
As melhores avaliações do Brasil ficaram nos quesitos liberdade (83 pontos de 100 possíveis), risco e segurança (83) e clima (82). Os itens mais mal avaliados foram lazer e cultura (58 pontos de 100 possíveis) e infraestrutura (59).
Apesar disso, entre o ranking do ano passado e o deste ano, as notas para infraestrutura passaram de 47 para 59, enquanto a avaliação para a economia foi de 45 para 65.
Leia mais
Postado por Glória Leite
A liderança do ranking, que leva em consideração nove itens – custo de vida, cultura e lazer, economia, ambiente, liberdade, saúde, infraestrutura, segurança e risco e clima – ficou com a França, pelo quinto ano consecutivo.
O Brasil subiu da 43ª posição no ranking de 2009 para a 38ª neste ano. Em 2008, o país havia ficado na 39ª posição.
As melhores avaliações do Brasil ficaram nos quesitos liberdade (83 pontos de 100 possíveis), risco e segurança (83) e clima (82). Os itens mais mal avaliados foram lazer e cultura (58 pontos de 100 possíveis) e infraestrutura (59).
Apesar disso, entre o ranking do ano passado e o deste ano, as notas para infraestrutura passaram de 47 para 59, enquanto a avaliação para a economia foi de 45 para 65.
Leia mais
Postado por Glória Leite
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
O destino acerta suas contas
Por Celso Lungaretti em 5/1/2010
Na manhã de segunda-feira (4/1), as dezenas de postagens no YouTube referentes aos comentários que o apresentador Boris Casoy inadvertidamente fez sobre os garis no Jornal da Band já haviam sido vistas quase 1,2 milhão de vezes. A mais assistida estava na casa de 850 mil hits.
Se alguém ainda não sabe, o noticioso levou ao ar saudações de Ano Novo de dois simpáticos garis: um senhor branco já com cabelos brancos e um negro na faixa de 40 anos. Causaram ótima impressão, com seu ar digno e uma alegria que não parecia forçada. Depois, enquanto eram exibidas vinhetas, ouviu-se a voz de Casoy no fundo, comentando com a equipe:
"Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala de trabalho!"
No dia seguinte Casoy pediu "profundas desculpas aos garis e aos telespetadores da Band" pelo que escutaram em razão de um "vazamento de áudio" (na verdade, só ouviram isso porque ele disse...). Fê-lo, entretanto, de maneira burocrática e pouco convincente, não aparentando estar nem um pouco arrependido do desprezo aristocrático que manifestou pelos trabalhadores humildes. As postagens relativas no YouTube não somavam hoje nem 100 mil exibições.
Lembrei-me da rainha Maria Antonieta recomendando aos pobres que, se não tinham pães, que comessem bolos. Perdeu a cabeça. Casoy teve mais sorte, só quebrou a cara...
Fiquei matutando sobre o destino e seus contrapesos. Às vezes a mesma pessoa é brindada com a sorte grande num momento e tira o azar grande adiante. Ou vice-versa.
Casoy é elitista, racista, conservador e reacionário desde muito cedo. Um velho companheiro que com ele cursou Direito no Mackenzie me contou: aos 23 anos, Casoy era um dos líderes da ala jovem do Comando de Caça aos Comunistas, que tinha nessa faculdade um de seus focos principais.
Mais: nos idos de 1964, Casoy chegou a ser citado em reportagem da revista Cruzeiro como membro destacado da juventude anticomunista.
A quartelada o beneficiou, claro: foi homem de imprensa de um ministro do governo Médici e do secretário da Agricultura de São, Herbert Levy, outra figurinha carimbada da direita. Mas, nem tinha texto de qualidade superior, nem era uma figura agradável na telinha, portanto estava direcionado para uma carreira mediana no jornalismo, não fosse uma moeda que caiu em pé.
Sete anos
Isto aconteceu quando o comando do II Exército aproveitou uma frase imprudente do cronista Lourenço Diaféria (sobre mendigos urinarem na estátua de Caxias) para intervir na Folha de S.Paulo.
Os militares exigiram a destituição do diretor de redação Cláudio Abramo (trotskista histórico), o afastamento de alguns profissionais (demitidos ou realocados) e o abrandamento da linha editorial.
O proprietário Octávio Frias de Oliveira, que sempre se definiu como comerciante e não jornalista, negociou. Servil, aceitou até substituir Abramo por um homem de absoluta confiança do regime militar: Casoy, que editava a coluna "Painel" (sobre os bastidores políticos), então um espaço dos mais secundários no jornal.
Igualmente secundário era Casoy para os leitores da Folha e para os próprios militantes/simpatizantes da esquerda. Suas posições fascistóides eram ignoradas pela maioria.
Aí, como diretor de Redação, calhou de ser ele o principal defensor do jornal num episódio de reação à censura. Ou seja, sob palco iluminado, o lobo teve seu momento de cordeiro, o caçador de comunistas maquilou sua imagem para a de defensor da liberdade de expressão.
Sua carreira deslanchou. Depois de comandar a redação da Folha por sete anos (saiu para dar lugar ao filho do patrão), voltou a editar a coluna "Painel", cuja importância crescera nesse ínterim. Finalmente, tornou-se conhecido pelo grande público como apresentador do Telejornal Brasil, do SBT, entre 1988 e 1997.
Justiça divina
Novamente os fados o bafejaram. Numa emissora que investia pouco em jornalismo e não tinha reportagens para mostrar que, quantitativa e qualitativamente, chegassem nem perto das exibidas pela Rede Globo, o jeito foi deixar crescer o espaço do apresentador.
Casoy pôde, assim, atuar como um âncora à moda dos EUA, fazendo comentários catárticos sobre episódios de corrupção política (principalmente) que eram concluídos com um ou outro de seus bordões habituais: "Isto é uma vergonha!" é "É preciso passar o Brasil a limpo!".
Ou seja, para telespectadores da classe "C" e "D", ele passou a personificar o justiceiro que atirava a verdade na cara dos poderosos. É um público que, em sua ingenuidade, valoriza desmesuradamente essa justiça retórica e ilusória, sem perceber que, depois do desabafo, continua tudo na mesma...
Assim, por novo golpe do destino, um comunicador azedo conquistou a simpatia dos pobres e dos muito pobres, ao expressar seu inconformismo impotente face às agruras que os atingem e eles são incapazes de compreender em toda sua extensão.
É fácil canalizar seu justo ressentimento contra os políticos desonestos. Tanto quanto é conveniente, para os poderosos, mantê-los na ignorância de que o maior vilão em suas sofridas existências atende pelo nome de capitalismo.
Servindo tão bem os interesses do sistema, Casoy atravessou as duas últimas décadas como um aclamado populista televisivo de direita.
Só teve alguns percalços ao exagerar na dose contra o governo Lula, mas seus pés de barro continuaram, tanto quanto possível, ignorados pelo grande público. Agora, um acaso revelou ao Brasil inteiro que indivíduo insensível e preconceituoso é, na verdade, Boris Casoy.
Alguns viram este episódio como um exemplo da justiça divina em ação. Quem sabe?
Fonte
Postado por Glória Leite
Na manhã de segunda-feira (4/1), as dezenas de postagens no YouTube referentes aos comentários que o apresentador Boris Casoy inadvertidamente fez sobre os garis no Jornal da Band já haviam sido vistas quase 1,2 milhão de vezes. A mais assistida estava na casa de 850 mil hits.
Se alguém ainda não sabe, o noticioso levou ao ar saudações de Ano Novo de dois simpáticos garis: um senhor branco já com cabelos brancos e um negro na faixa de 40 anos. Causaram ótima impressão, com seu ar digno e uma alegria que não parecia forçada. Depois, enquanto eram exibidas vinhetas, ouviu-se a voz de Casoy no fundo, comentando com a equipe:
"Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala de trabalho!"
No dia seguinte Casoy pediu "profundas desculpas aos garis e aos telespetadores da Band" pelo que escutaram em razão de um "vazamento de áudio" (na verdade, só ouviram isso porque ele disse...). Fê-lo, entretanto, de maneira burocrática e pouco convincente, não aparentando estar nem um pouco arrependido do desprezo aristocrático que manifestou pelos trabalhadores humildes. As postagens relativas no YouTube não somavam hoje nem 100 mil exibições.
Lembrei-me da rainha Maria Antonieta recomendando aos pobres que, se não tinham pães, que comessem bolos. Perdeu a cabeça. Casoy teve mais sorte, só quebrou a cara...
Fiquei matutando sobre o destino e seus contrapesos. Às vezes a mesma pessoa é brindada com a sorte grande num momento e tira o azar grande adiante. Ou vice-versa.
Casoy é elitista, racista, conservador e reacionário desde muito cedo. Um velho companheiro que com ele cursou Direito no Mackenzie me contou: aos 23 anos, Casoy era um dos líderes da ala jovem do Comando de Caça aos Comunistas, que tinha nessa faculdade um de seus focos principais.
Mais: nos idos de 1964, Casoy chegou a ser citado em reportagem da revista Cruzeiro como membro destacado da juventude anticomunista.
A quartelada o beneficiou, claro: foi homem de imprensa de um ministro do governo Médici e do secretário da Agricultura de São, Herbert Levy, outra figurinha carimbada da direita. Mas, nem tinha texto de qualidade superior, nem era uma figura agradável na telinha, portanto estava direcionado para uma carreira mediana no jornalismo, não fosse uma moeda que caiu em pé.
Sete anos
Isto aconteceu quando o comando do II Exército aproveitou uma frase imprudente do cronista Lourenço Diaféria (sobre mendigos urinarem na estátua de Caxias) para intervir na Folha de S.Paulo.
Os militares exigiram a destituição do diretor de redação Cláudio Abramo (trotskista histórico), o afastamento de alguns profissionais (demitidos ou realocados) e o abrandamento da linha editorial.
O proprietário Octávio Frias de Oliveira, que sempre se definiu como comerciante e não jornalista, negociou. Servil, aceitou até substituir Abramo por um homem de absoluta confiança do regime militar: Casoy, que editava a coluna "Painel" (sobre os bastidores políticos), então um espaço dos mais secundários no jornal.
Igualmente secundário era Casoy para os leitores da Folha e para os próprios militantes/simpatizantes da esquerda. Suas posições fascistóides eram ignoradas pela maioria.
Aí, como diretor de Redação, calhou de ser ele o principal defensor do jornal num episódio de reação à censura. Ou seja, sob palco iluminado, o lobo teve seu momento de cordeiro, o caçador de comunistas maquilou sua imagem para a de defensor da liberdade de expressão.
Sua carreira deslanchou. Depois de comandar a redação da Folha por sete anos (saiu para dar lugar ao filho do patrão), voltou a editar a coluna "Painel", cuja importância crescera nesse ínterim. Finalmente, tornou-se conhecido pelo grande público como apresentador do Telejornal Brasil, do SBT, entre 1988 e 1997.
Justiça divina
Novamente os fados o bafejaram. Numa emissora que investia pouco em jornalismo e não tinha reportagens para mostrar que, quantitativa e qualitativamente, chegassem nem perto das exibidas pela Rede Globo, o jeito foi deixar crescer o espaço do apresentador.
Casoy pôde, assim, atuar como um âncora à moda dos EUA, fazendo comentários catárticos sobre episódios de corrupção política (principalmente) que eram concluídos com um ou outro de seus bordões habituais: "Isto é uma vergonha!" é "É preciso passar o Brasil a limpo!".
Ou seja, para telespectadores da classe "C" e "D", ele passou a personificar o justiceiro que atirava a verdade na cara dos poderosos. É um público que, em sua ingenuidade, valoriza desmesuradamente essa justiça retórica e ilusória, sem perceber que, depois do desabafo, continua tudo na mesma...
Assim, por novo golpe do destino, um comunicador azedo conquistou a simpatia dos pobres e dos muito pobres, ao expressar seu inconformismo impotente face às agruras que os atingem e eles são incapazes de compreender em toda sua extensão.
É fácil canalizar seu justo ressentimento contra os políticos desonestos. Tanto quanto é conveniente, para os poderosos, mantê-los na ignorância de que o maior vilão em suas sofridas existências atende pelo nome de capitalismo.
Servindo tão bem os interesses do sistema, Casoy atravessou as duas últimas décadas como um aclamado populista televisivo de direita.
Só teve alguns percalços ao exagerar na dose contra o governo Lula, mas seus pés de barro continuaram, tanto quanto possível, ignorados pelo grande público. Agora, um acaso revelou ao Brasil inteiro que indivíduo insensível e preconceituoso é, na verdade, Boris Casoy.
Alguns viram este episódio como um exemplo da justiça divina em ação. Quem sabe?
Fonte
Postado por Glória Leite
Os empregos de Serra, segundo o Governo de São Paulo
Eu estou desde o final do ano com vontade de comentar uma afirmação do Governador José Serra, publicada no dia 28/12 pelo Estadão, onde ele fala que São Paulo gerou 800 mil empregos no ano, como resultado de um plano de investimentos de R$ 20 bilhões.
Se o critério for facilidade de conseguir emprego no Estado, José Serra é que deveria ser vice de Aécio ou de Yeda Crusius. Veja na tabela abaixo.
Achei que a imprensa ia checar estes números, mas não foi. Eu fui.
O número de empregos gerados em São Paulo em 2009, segundo os dados do Caged, do Ministério do Trabalho – são públicos e podem ser consultados na página de estatísticas do site – apontam um saldo positivo de 468,9 mil vagas. Mas, se a soma for de 12 meses – dezembro a dezembro – o número é menor: 183,2 mil. O motivo? A indústria paulista demitiu impiedosamente no final de 2008, e por isso, com a recuperação da economia, teve de readmitir fortemente, embora tenha terminado 2009 com saldo ainda negativo de postos de trabalho. E teria demitido muito mais em São Paulo se o Governo Federal não tivesse reduzido o IPI dos automóveis que, como se sabe, têm ali o seu maior pólo produtor.
Mesmo assim, a indústria paulista, bem como os setores de comércio e de serviços dependem de um quadro nacional de aquecimento da economia, das compras que a situação econômica induz ou reprime, que é algo fora, em grande parte, do poder de ação do governo do Estado.
Os setores diretamente dependentes do investimento público estadual são o da construção civil (obras públicas), a própria administração e a indústria de serviços públicos. Se considerarmos estes setores, o dado é muito mais modesto: cerca de 80,5 mil novos empregos.
Mas vamos considerar que o Governador está correto. Se, para cada emprego formal, ele considera que se criou outro, informal, para chegar aos mais de 800 mil que anunciou, então, pela mesma conta, o Governo Federal poderia anuciar que criou 3 milhões de empregos, pegando o número de perto de 1,5 milhão de empregos criados até novembro e dizendo que, somados os informais, seriam 3 milhões de novos empregos.
Imaginem o que seria se o Lula anunciasse isso? Páginas e páginas de matérias mostrando que isso era falso.
Assim, não haveria um desempregado no Brasil. E há muitos.
E muitos em São Paulo.
Quer uma prova, irrefutável, com as contas do próprio Governo Serra?
O Governo de São Paulo lançou, no final do ano, um site chamado “Termômetro Nacional do Emprego” onde, mediante determinadas fórmulas, calcula as chances de um trabalhador conseguir uma colocação no mercado, formal ou informal, em seis regiões metropolitanas do Brasil.
Criei um trabalhador hipotético: José da Silva, branco, 40 anos, casado, sem filhos pequenos, quatro pessoas em seu domicílio, ensino médio incompleto, renda familiar de R$ 1,5 mil, que já trabalhou, com menos de um ano de desemprego, disposto a trabalhar 40 horas. Dou todos os dados para que você, querendo, possa repetir a conta e chegar os resultados.
A chance de emprego e possível remuneração em cada cidade estão reproduzidas na tabela abaixo, veja só:
Região Metropolitana
Chances de emprego em 30 e 60 dias
Faixa de Salário – em R$*
Belo Horizonte 33 % – 54% 556 a 1233
Porto Alegre 29%-50% 591 a 1311
Recife 21%-38% 465 a 847
São Paulo 19%-35% 587 a 1302
Rio de Janeiro 13%-25% 599 a 1329
Salvador 11%-21% 465 a 958
* com carteira assinada
Os cálculos foram feitos hoje, pouco antes do meio-dia. O site e a metodologia pertencem ao Governo de São Paulo e eu não posso responder por sua qualidade técnica. Suponho que seja correta.
O Governador Serra, portanto, deveria ser bem mais modesto em seus comentários. Ou, talvez, consultar os dados de seu próprio Governo.
Mas, como a imprensa brasileira não investiga nada do que ele diz, pode falar o que quiser.
Fonte: Tijolaço- Brizola Neto
Folha de José Serra (Folha de São Paulo) está doida para arranjar uma crise militar no governo Lula.
Agora se mete a querer gerar intrigas por conta da compra de novos caças da FAB (Força Aérea Brasileira). A intrigueira de plantão é Eliane Cantanhede, e pelas suas conclusões ela entende tanto dos interesses que cercam a compra dos caças, quanto entende de submarino nucleares (relembre aqui o que ela escreveu sobre os submarinos da Marinha).
Segundo a Folha, ela teve acesso ao "sumário executivo" do relatório da FAB, com as conclusões finais das mais de 30 mil páginas de dados, e saiu tratando o relatório (?) como se fosse um campeonato de Escolas de Samba, onde os "juízes" da FAB julgaram os quesitos "alegorias", "fantasias", "enredo", a soma dos pontos daria o vencedor, e como se a Presidência da República quisesse influir no resultado, no tapetão.
Nada mais falso e absurdo, pela própria leitura da reportagem.
Vamos aos fatos:
Qualquer relatório técnico dessa natureza é como um laudo. Ele orienta decisões que devem ser tomadas.
A FAB fez seu papel com profissionalismo: mostrou os pontos fracos e fortes de cada modelo e de cada proposta, criou um critério de pontuação e apresentou um ranking para a coisa não ficar subjetiva.
Nada impede que pontos fracos de uma proposta sejam superados em uma negociação entre governos, e nada impede que contratos finais superem restrições apontadas.
Pelo que foi noticiado, a FAB usou critérios de pontuação de acordo com quesitos como recursos tecnólogicos, transferência de tecnologia, custos financeiros, operacionais, etc.
Qualquer dos modelos atende às necessidades bélicas de defesa da FAB, portanto é errado dizer que a FAB ficaria insatisfeita com qualquer modelo (foi a FAB quem selecionou os modelos a serem analisados, e esses 3 modelos são os finalistas).
A Folha diz que o fator financeiro foi decisivo para a classificação do caça sueco, seguido do estadunidense e o francês teria ficado em terceiro lugar. Mas a ausência de detalhes diz pouco sobre esse resultado.
Se for isso mesmo, a leitura do relatório da aeronáutica é simples: com um orçamento menor, o caça sueco é o que melhor se encaixa. Para ter o caça francês exige um orçamento maior para o Comando da Aeronáutica.
Priorizar orçamento é decisão política e não meramente técnica. É a nação, representada pelo governo eleito e o Congresso, quem decide se quer gastar um pouco mais para ter o modelo mais avançado (obviamente com parecer técnico de quem entende, na própria FAB), ou se quer gastar menos com um modelo mais econômico.
Segundo a Folha, o relatório técnico da FAB diz que "o Gripen NG [sueco] é um projeto em desenvolvimento que oferece em tese mais acesso a tecnologias para empresas futuramente parceiras, como a Embraer. Há a promessa genérica de produção final no Brasil, mas de resto o Rafale [francês] também diz isso. O problema é que o francês é um produto pronto, supostamente com menor taxa de transferência de conhecimento de produção".
Novamente o relatório aponta corretamente as vantagens e desvantagens óbvias. O uso de expressões como "promessas genéricas" demonstra que o critério de pontuação diz pouco. O que falará mais alto são as cláusulas que nada tem de genéricas nos contratos finais a serem assinados.
Há que se levar em conta até uma possibilidade na escolha: é possível economizar na compra, optando pelo modelo sueco, e destinar verba economizada para usar em pesquisa e desenvolvimento para desenvolver tecnologia própria. É uma opção a se considerar. Mas também é possível fazer pesquisa e desenvolvimento partindo de um patamar mais avançado, no caso do modelo francês, cortando caminho e ganhando tempo. Novamente tudo depende do que venha a ser escrito nos contratos finais.
A especialista da Folha aponta: "A Embraer, consultada pela Aeronáutica, declarou que, se fosse o Rafale [francês], não teria interesse em participar do projeto, pois lucraria muito pouco em tecnologia e em negócios".
Ora, a FAB aponta apenas uma ressalva, que deve ser levada em conta, mas a FAB não é subordinada à EMBRAER, como insinua o lobby explícito de Cantanhede por modelos que trazem mais lucros aos interesses de acionistas.
A Embraer é uma empresa privada, que tem também acionistas estrangeiros. Seu compromisso é com o lucro e com acionistas, e não com o interesse nacional. Um projeto dessa envergadura, em qualquer país do mundo, quem dá as diretrizes às empresas é as Forças Armadas, e não o "mercado" quem dá diretrizes às Forças Armadas. A Embraer vai fazer o que o governo encomendar. Simples assim.
A FAB ainda não divulgou oficialmente o relatório, e é mais do que provável que parte seja sigilosa por motivos óbvios: envolve estratégias de defesa nacional que não interessa tornar pública a potenciais agressores.
Um relatório dessa complexidade passa longe de ser unanimidade dentro da própria aeronáutica, entre seus maiores especilistas. Por isso é passível até mesmo de revisões em alguns tópicos.
Se a Folha fosse honesta, a interpretação seria outra:
- a FAB produz um relatório para orientar a tomada de decisão;
- aponta pontos críticos nas propostas, que orientam negociações;
- a FAB faz o que o governo espera: um relatório honesto nos quesitos técnicos e apontando os pontos fracos de cada proposta para subsidiar as negociações finais.
Ao contrário do que insinua a Folha, a FAB e governo convergem para o mesmo interesse: a defesa das riquezas nacionais com os melhores equipamentos e com o máximo de conhecimento tecnológico por brasileiros.
A falácia da ideologia
A imprensa tenta vender a idéia de que haveria uma preferência pela França por motivos ideológicos. É falso.
Sarkosy é a direita francesa (apesar da direita européia ser bem mais civilizada do que a brasileira). Obama seria a esquerda dos EUA, apesar tomar decisões recentes decepcionantes. O primeiro-ministro sueco é de centro-direita, mas na suécia um governo destes, é praticamente esquerda no Brasil.
Restrições à compras de armamentos dos EUA vem do seio das próprias Forças Armadas, devido à antecedentes. Os EUA usaram cláusula de veto proibindo a venda de aviões super-tucanos da Embraer para Venezuela por conter equipamentos estadunidenses em sua fabricação.
No regime militar, o governo Geisel fez um acordo nuclear com a Alemanha, após a brusca decisão dos Estados Unidos de suspender, em 1974, o fornecimento do urânio enriquecido para novas usinas (Angra I foi fornecida pela Westinghouse, estadunidense, em 1971).
O que existe com a França é uma maior aproximação geopolítica, e simetria econômica (o tamanho das economias são mais próximos, o que facilita negociações de igual para igual). A França tem apoiado as mesmas posições brasileiras nos foros internacionais. A França tem uma presença na América do Sul, na Amazônia, a Guiana Francesa. Tudo isso facilita negociações, mas jamais o governo brasileiro do presidente Lula irá comprar aviões franceses por causa dos belos olhos de Carla Bruni. A decisão final será técnica, econômica e estratégica com olhos no futuro, voltados para aquilo que for melhor para nação.
Fonte: blog A P L
Confiança do consumidor encerra ano em patamar recorde
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), da Fecomercio-SP, encerrou o ano de 2009 em um patamar recorde, com 155,22 pontos. O número representa uma alta de 1,3% na comparação com novembro e de 22,5% em relação a dezembro de 2008.
Segundo a entidade, justificam a alta a melhoria no emprego e na renda, além do fato de que a base de comparação com o ano anterior é fraca.
O indicador está acima da média histórica, segundo a Fecomercio, e tende a seguir em alta em 2010, por causa das perspectivas de crescimento da economia e da expansão do consumo.
Segundo a entidade, justificam a alta a melhoria no emprego e na renda, além do fato de que a base de comparação com o ano anterior é fraca.
O indicador está acima da média histórica, segundo a Fecomercio, e tende a seguir em alta em 2010, por causa das perspectivas de crescimento da economia e da expansão do consumo.
Daniel Dantas ganhando todas
O banqueiro Daniel Dantas obteve da Justiça decisão que suspende processo de 2005 em que ele é acusado de contratar a empresa norte-americana Kroll para espionar a Telecom Itália e membros do governo Lula.
O processo fica suspenso até que cheguem, da Itália, documentos que os advogados de Dantas dizem ser imprescindíveis à defesa.
Nota do Aguinaldo: Enquanto isso, o Mardoff há muito está na cadeia...
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
São Luiz do Paraitinga pede ajuda
Luiz do Paraitinga, ficou conhecida nestes últimos dias pelo país inteiro por ter sido vítima e palco de uma tragédia. Escrevi há pouco tempo que "só passando por lá para entender seu fascínio". Parte deste fascínio foi perdido com o desmoronamento de alguns dos seu bem cuidados casarões que datavam do séc. XVIII e XIX e principalmente com a queda da Igreja Matriz S. Luiz de Tolosa e da Capela das Mercês, que eram símbolos maior da religiosidade deste povo. Mas o luizense é um povo forte, acostumado com os revezes da vida, mas mesmo sendo um povo forte eles não vão conseguir se re-erguer sozinhos. Hoje eles precisam da ajuda de todos nós e em nome das operadoras Rafting Brasil e Cia. de Rafting de São Luiz do Paraitinga.
O povo de São Luiz do Paraitinga agredece.
Imaginem se o governo Serra não estivesse trabalhando por nós...
Imaginem se o governo Serra não estivesse trabalhando por nós...
por Luiz Carlos Azenha
O período de chuvas tem sido revelador no Estado de São Paulo. Não consta que as chuvas tenham deixado de cair no chamado "período de chuvas". Revelador porque há uma clara desconexão entre o governo de São Paulo que aparece na TV e o governo de São Paulo que vemos, trabalhando por nós, no cotidiano.
Senão, vejamos.
Há indícios fortíssimos, levantados pela jornalista Conceição Lemes, de que o governo do Estado não fez o que deveria ter feito na obra que aprofundou o canal do rio Tietê: a limpeza cotidiana. A retirada da lama, das pedras e do lixo que os afluentes levam cotidianamente para o rio Tietê. O governo de SP talvez tenha ficado três anos sem limpar o Tietê. Resultado? Menos espaço para escoarem as águas de todos os afluentes e enchentes como as de novembro e dezembro últimos.
Fechando a barragem da Penha o governo paulista evitou novas inundações ao longo das obras de ampliação das marginais do Tietê, optando por encher os bairros da Zona Leste, inclusive o Jardim Romano, tomado por uma mistura de águas e esgoto que está lá há mais de trinta dias, como mostrou o Domingo Espetacular, da TV Record. Na mesma reportagem, um líder comunitário disse que o motivo das enchentes foi a construção recente de uma escola. Ora, como já se perguntou: porque a Prefeitura de São Paulo construiu uma escola e permitiu a construção de um conjunto habitacional em um bairro de onde agora quer tirar os moradores?
Por outro lado, temos uma situação bizarra em torno das obras que deveriam combater as enchentes: os piscinões. Como revelou Conceição Lemes, os piscinões de São Paulo recolhem tanto água de chuva quanto água de esgoto: sim, as redes de esgoto da SABESP caem diretamente nos córregos e os piscinões da periferia recolhem água desses córregos por um determinado período. Aquele bolo de cocô e xixi, misturado à água, deixa crostas de detritos que atraem ratos e baratas, de acordo com denúncias de moradores. Foram publicadas no Jornal da Tarde.
Outra obra questionada é a própria ampliação das marginais: segundo grupos que se opõem à ampliação, a obra reduz o espaço para infiltração das águas da chuva e levará mais automóveis para uma região sujeita às enchentes, ainda mais se considerarmos que o governo paulista não fez o que deveria ter feito para manter limpo o canal do rio Tietê; e professores da Universidade de São Paulo dizem que esse tipo de obra apenas repete a lógica de priorizar o automóvel, quando São Paulo tem apenas 61 km de metrô, contra 202 km da Cidade do México.
É possível imaginar qual o objetivo das obras do Tietê: quando chegar março e elas forem inauguradas, junto com mais um trecho do Rodoanel, seremos submetidos a um bombardeio ainda maior de comerciais na TV dizendo que o governo de São Paulo está trabalhando por nós, está criando milhões de empregos, promovendo o crescimento do Brasil, acabando com o efeito-estufa e garantindo a vitória do Brasil na Copa do Mundo. Mas não adianta trabalhar por nós desse jeito: com obras de caráter questionável, que certamente servirão para fazer propaganda eleitoral, mas que a longo prazo se revelarão inúteis, contraproducentes ou os dois.
Obras, é importante que se lembre, que financiamos não só com nossos impostos: São Paulo cobra pedágios de primeiríssimo mundo, como revelei depois de publicar os recibos de pedágio de uma viagem entre São Paulo-Bauru-São Paulo: 13 centavos por quilômetro rodado! Para fazer parte da viagem na rodovia Marechal Rondon, que está longe de ser de "primeiro mundo". Ganhamos em real, pagamos pedágio em euro!
Finalmente, chegamos a São Luís do Paraitinga, onde os moradores ficaram à própria sorte depois que uma enchente devastadora cobriu o centro da cidade. Não houve apenas atraso, mas completa descoordenação nos trabalhos de resgate e de ajuda aos moradores, como os próprios moradores denunciaram. Leia mais aqui, aqui eaqui. O governador José Serra chegou à cidade no domingo, trazendo os assessores e bombeiros que não estavam lá na hora da enchente -- e as câmeras de TV que o apresentaram no Fantástico.
O que me leva ao ponto final, que é essa completa desconexão entre obras de caráter duvidoso, falta de planejamento e improvisação de um governo que torra milhões de reais todos os dias para nos dizer que está trabalhando por nós, com nosso dinheiro, para fazer obras de caráter duvidoso, com falta de planejamento e improvisação. Ou seja, nós pagamos para que o governador paulista pague ao Ali Kamel para que o Ali Kamel interdite completamente o debate sobre questões essenciais ao futuro de São Paulo, esconda o que não interessa ao governo paulista e propague o que interessa.
Oba !
Bornhausen cogitou escalar Boris Casoy para pedir impeachment de Lula
Boris Casoy em um momento em que recebe o aliado Jorge Bornhausen (DEMos/SC), assim que voltou à TV em 2008.
Em março de 2006, bateu desespero na oposição. As pesquisas já indicavam a vitória do presidente Lula. Sem chance nas urnas, a oposição voltou a flertar com o golpe.
O demo-pefelista Jorge Bornhausen (DEMos/SC) era o presidente do PFL na época e tomava a linha de frente no campo político-partidário das articulações pelo golpe do impeachment.
O "apartidário" demo-tucano Boris Casoy representou a "vanguarda" do golpismo nesta época, representando a "sociedade civil".
A escalada da tentativa de golpe se deu assim:
A edição do dia 28 de março de 2006 da Folha de José Serra (jornal Folha de São Paulo) trouxe um artigo de Boris Casoy, pedindo o impeachment de Lula.
Poucos dias depois, no dia 9 de abril de 2006, a coluna painel da mesma Folha de José Serra, dava a senha:
Sem rodeios 1
A oposição já busca na sociedade civil um nome para encabeçar o pedido de impeachment de Lula, assim como Barbosa Lima Sobrinho fez com Fernando Collor. A revelação da participação de Márcio Thomaz Bastos no "caseirogate" retirou as últimas reservas sobre o assunto.
Sem rodeios 2
"Somada a outros indícios, a violação do sigilo pode redundar, sim, em um processo [de impeachment] por crime de responsabilidade", diz o presidente do PFL, Jorge Bornhausen. Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça de FHC, e o jornalista Boris Casoy estão cotados para subscrever a peça.
Como o golpe não pegou, não encontrou apoio suficiente na sociedade, a coisa esfriou, e Boris Casoy aparentemente "amarelou" desistindo de subscrever um pedido de impeachment ao Congresso, como ele havia feito na Folha demo-tucana.
O que Boris Casoy pensa de fato sobre os simples caseiros:
Curioso que Bóris Casoy, repetindo a oposição, usou o caseiro Francenildo como bucha de canhão para pedir o impeachment do presidente.
Fonte: blog A P L
O "Cidadão Boilesen"
por Luiz Carlos Azenha
Vi o documentário Cidadão Boilesen. Muito bom. Excelente. Avança em uma área onde não existia filmografia no Brasil. Abre caminho para outros documentaristas.
Mas faço reparos.
Em primeiro lugar, o documentário passa a impressão de que os militares e seus associados civis apenas reagiram ao risco de comunização do Brasil. Acho que esse debate ficou frouxo no filme. Havia mesmo esse risco?
O segundo reparo é que o documentário diz, sim, que os industriais brasileiros tinham muito a perder em um regime "revolucionário" ou "comunista", partindo do pressuposto de que havia mesmo esse risco. Perderiam o investimento feito, os bons negócios. Mas -- e o arrocho salarial?
Assim como aconteceu no Chile, com Pinochet, no Brasil o princípio foi o mesmo: os militares assumiram o poder para fazer a "modernização" brasileira na marra, dentro de um modelo econômico satisfatório para Washington, com a supressão da organização popular e sindical. Um dos objetivos centrais era promover o arrocho salarial.
Ora, porque é que a FIESP fechou com os militares? Porque é que o então ministro Delfim passeava com o Boilesen? Porque é que os empresários estrangeiros, como o próprio Boilesen, apoiavam os militares e a tortura? A Operação Bandeirantes? Não era apenas porque os empresários "tinham medo do comunismo": os empresários tinham medo é dos movimentos sociais, dos sindicatos e das organizações populares que lutavam pelo aumento do salário mínimo, por melhores condições de vida, contra a "carestia" (a inflação que transferia renda dos pobres para os mais ricos) e em defesa de direitos adquiridos anteriormente, inclusive sob João Goulart.
Ao se fixar na personalidade de Boilesen, tentando inclusive estabelecer uma relação bizarra entre um episódio da infância do empresário na Dinamarca e a presença dele nas salas de tortura da OBAN -- ao tentar "psicologizar" Boilesen, o documentário passa a impressão de que ele era uma "maçã podre" em um cesto de maçãs, os empresários brasileiros. Em minha opinião, isso desvia o foco da questão essencial: aos empresários o regime servia por promover o arrocho salarial, a cartelização do mercado brasileiro e os "favores" que fizeram muitos grupos empresariais florescer.
O golpe, assim, não foi apenas "anticomunista", mas, no plano não ideológico, também foi "anticapitalista": promovia o interesse de alguns capitalistas em detrimento de outros. Basta ver o que aconteceu com os empresários identificados com o governo de João Goulart, como Mário Wallace Simonsen.
Sim, sim, sei que o foco do documentário era Boilesen. Mas se as informações acima não ficam claras para os espectadores, fica a impressão de que Boilesen, um homem mau, foi "justiçado" por "terroristas" por ir além do papel que se esperava dele, de mero financiador da OBAN.
Está tudo lá, no livro 1964: A Conquista do Estado, de Rene Armand Dreifuss. O golpe marcou a conquista do Estado por um grupo de empresários nacionais e estrangeiros, aliados aos militares e a Washington, cujo principal resultado foi a supressão de direitos políticos e econômicos já conquistados, a supressão das ferramentas que poderiam ser utilizadas para novas conquistas e o arrocho salarial.
Ao definir a tortura como reação apenas a "terroristas" ou a um suposto "perigo vermelho", o documentário -- em minha opinião -- erra o foco. A tortura foi um instrumento extremo de um regime que suprimiu os direitos e a liberdade de todos os brasileiros, não só dos militantes de esquerda armados; quem não apanhou foi violentado cotidianamente em seus direitos, das reivindicações salariais à liberdade de expressão.
Havia, sim, dois grupos: de um lado os militares, seus aliados civis e estrangeiros e os torturadores. De outro, o Brasil quase inteiro. Os "terroristas" eram uma ínfima parte das vítimas: eles não aceitavam apanhar calados.
Minha principal crítica ao documentário é essa: cadê o povo brasileiro?
Aos empresários que cresceram durante o regime militar, tirando proveito do arrocho salarial e de outras benesses, interessa agora promover um certo revisionismo histórico -- contam para isso com muitos porta-vozes na mídia. Feito as "armas de destruição" do Iraque, eles logo vão descobrir que o MRT tinha um petardo atômico pronto para promover a comunização do Brasil. Assim como aos militares, naquela época, interessava "bombar" o poder de organizações minúsculas e inexpressivas, agora o discurso está de volta: vão tentar convencer você que a ALN (Aliança Libertadora Nacional) foi pior que a Al Qaeda.
Mas, repito: o documentário é importante, tem muitas informações e depoimentos relevantes e serve para fomentar o debate que nunca tivemos sobre o regime militar.
PS: Como escreveu recentemente Alípio Freire em uma carta endereçada ao ministro Paulo Vannuchi, em breve chega aos cinemas outro documentário, Reparação, que parece ser um esforço explícito de provocar um debate nos termos que interessam ao mesmo grupo que lucrou com o golpe e que quer, a qualquer custo, reconquistar o estado.
Vi o documentário Cidadão Boilesen. Muito bom. Excelente. Avança em uma área onde não existia filmografia no Brasil. Abre caminho para outros documentaristas.
Mas faço reparos.
Em primeiro lugar, o documentário passa a impressão de que os militares e seus associados civis apenas reagiram ao risco de comunização do Brasil. Acho que esse debate ficou frouxo no filme. Havia mesmo esse risco?
O segundo reparo é que o documentário diz, sim, que os industriais brasileiros tinham muito a perder em um regime "revolucionário" ou "comunista", partindo do pressuposto de que havia mesmo esse risco. Perderiam o investimento feito, os bons negócios. Mas -- e o arrocho salarial?
Assim como aconteceu no Chile, com Pinochet, no Brasil o princípio foi o mesmo: os militares assumiram o poder para fazer a "modernização" brasileira na marra, dentro de um modelo econômico satisfatório para Washington, com a supressão da organização popular e sindical. Um dos objetivos centrais era promover o arrocho salarial.
Ora, porque é que a FIESP fechou com os militares? Porque é que o então ministro Delfim passeava com o Boilesen? Porque é que os empresários estrangeiros, como o próprio Boilesen, apoiavam os militares e a tortura? A Operação Bandeirantes? Não era apenas porque os empresários "tinham medo do comunismo": os empresários tinham medo é dos movimentos sociais, dos sindicatos e das organizações populares que lutavam pelo aumento do salário mínimo, por melhores condições de vida, contra a "carestia" (a inflação que transferia renda dos pobres para os mais ricos) e em defesa de direitos adquiridos anteriormente, inclusive sob João Goulart.
Ao se fixar na personalidade de Boilesen, tentando inclusive estabelecer uma relação bizarra entre um episódio da infância do empresário na Dinamarca e a presença dele nas salas de tortura da OBAN -- ao tentar "psicologizar" Boilesen, o documentário passa a impressão de que ele era uma "maçã podre" em um cesto de maçãs, os empresários brasileiros. Em minha opinião, isso desvia o foco da questão essencial: aos empresários o regime servia por promover o arrocho salarial, a cartelização do mercado brasileiro e os "favores" que fizeram muitos grupos empresariais florescer.
O golpe, assim, não foi apenas "anticomunista", mas, no plano não ideológico, também foi "anticapitalista": promovia o interesse de alguns capitalistas em detrimento de outros. Basta ver o que aconteceu com os empresários identificados com o governo de João Goulart, como Mário Wallace Simonsen.
Sim, sim, sei que o foco do documentário era Boilesen. Mas se as informações acima não ficam claras para os espectadores, fica a impressão de que Boilesen, um homem mau, foi "justiçado" por "terroristas" por ir além do papel que se esperava dele, de mero financiador da OBAN.
Está tudo lá, no livro 1964: A Conquista do Estado, de Rene Armand Dreifuss. O golpe marcou a conquista do Estado por um grupo de empresários nacionais e estrangeiros, aliados aos militares e a Washington, cujo principal resultado foi a supressão de direitos políticos e econômicos já conquistados, a supressão das ferramentas que poderiam ser utilizadas para novas conquistas e o arrocho salarial.
Ao definir a tortura como reação apenas a "terroristas" ou a um suposto "perigo vermelho", o documentário -- em minha opinião -- erra o foco. A tortura foi um instrumento extremo de um regime que suprimiu os direitos e a liberdade de todos os brasileiros, não só dos militantes de esquerda armados; quem não apanhou foi violentado cotidianamente em seus direitos, das reivindicações salariais à liberdade de expressão.
Havia, sim, dois grupos: de um lado os militares, seus aliados civis e estrangeiros e os torturadores. De outro, o Brasil quase inteiro. Os "terroristas" eram uma ínfima parte das vítimas: eles não aceitavam apanhar calados.
Minha principal crítica ao documentário é essa: cadê o povo brasileiro?
Aos empresários que cresceram durante o regime militar, tirando proveito do arrocho salarial e de outras benesses, interessa agora promover um certo revisionismo histórico -- contam para isso com muitos porta-vozes na mídia. Feito as "armas de destruição" do Iraque, eles logo vão descobrir que o MRT tinha um petardo atômico pronto para promover a comunização do Brasil. Assim como aos militares, naquela época, interessava "bombar" o poder de organizações minúsculas e inexpressivas, agora o discurso está de volta: vão tentar convencer você que a ALN (Aliança Libertadora Nacional) foi pior que a Al Qaeda.
Mas, repito: o documentário é importante, tem muitas informações e depoimentos relevantes e serve para fomentar o debate que nunca tivemos sobre o regime militar.
PS: Como escreveu recentemente Alípio Freire em uma carta endereçada ao ministro Paulo Vannuchi, em breve chega aos cinemas outro documentário, Reparação, que parece ser um esforço explícito de provocar um debate nos termos que interessam ao mesmo grupo que lucrou com o golpe e que quer, a qualquer custo, reconquistar o estado.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Ainda sobre a ressaca da virada de ano
Alexandre Trevizzano, combativo advogado das causas populares, retribuiu o divertido “monólogo” do Barão de Itararé com um belo pensamento do poeta francês Charles Pierre Baudelaire (1821-1867). Vale reproduzi-lo:
EMBRIAGAI-VOS
É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem cessar.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio,
na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai-lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder:
É hora de se embriagar!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.
PARA CURAR A RESSACA DA VIRADA DO ANO
“Monólogo” – Barão de Itararé (Apparício Torelly)
- Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não...
- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente.
E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
- Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi.
- Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei.
- Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei.
- Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
- Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
- Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
- Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.
- Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.
- Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.
- Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca!
EMBRIAGAI-VOS
É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem cessar.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio,
na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai-lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder:
É hora de se embriagar!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.
PARA CURAR A RESSACA DA VIRADA DO ANO
“Monólogo” – Barão de Itararé (Apparício Torelly)
- Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não...
- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente.
E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
- Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi.
- Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei.
- Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei.
- Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
- Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
- Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
- Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.
- Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.
- Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.
- Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca!
A experiência de 2009 e os desafios de 2010
Bem, como o dia de hoje convida à reflexão e a rememoramos os fatos do ano que termina, quero lembrar um pouco das coisas que se passaram em 2009.
Um ano que começou sob a sombra de uma crise mundial que sepultou os mitos neoliberais. O “divino” capital teve de se pendurar no arcaico Estado para sobreviver.
Os pretensiosos distribuidores de regras e “notas” para nós, pobres e subdesenvolvidos, viram-se, de uma hora para outra, reprovados pelos seus próprios critérios.
Pra falar a verdade, acho que a maioria de nós gelou a espinha quando Lula vei com aquela história de que esta crise, no Brasil, seria uma “marolinha”.
Tínhamos na memória o que crises localizadas, em pequenos e distantes países, tinham feito aqui com nossa economia.
Por mais simpatia e boa-vontade que pudéssemos ter com as alterações de curso que o Governo Lula, poucos acreditavam que poderia haver uma guinada como a que houve.
Que fossemos recusar as eternas medidas de arrocho da população, que sempre acompanharam as crises.
Que fossemos apostar no vigor do povo brasileiro, aumentar salários, estimular o consumo, baratear o crédito.
Que, mesmo mantendo Henrique Meirelles. Lula fosse defenestrar a diretoria do Banco do Brasil e usá-lo para forçar uma queda nos juros cobrados no mercado. Ou comprar – justamente de Serra – a Nossa Caixa, evitando sua privatização e ampliando fortemente a presença do BB no mercado-chave do país.
Ou que fosse suspender os lesivos leilões do nosso petróleo, que seu próprio Governo já fizera, mais de uma vez.
Muito menos que fosse nacionalizar, da maneira possível, as jazidas do pré-sal.
E que fosse assumir um discurso nacionalista como há décadas não vimos um presidente assumir, malgrado todas as contradições de seu governo.
Muita coisa aconteceu em 2009. Inclusive com cada um de nós.
Percebemos com clareza que há um processo em marcha, que mesmo que não fosse um plano pessoal de Lula, a Lula fundiu-se.
Que o Governo Lula merece dúzias de críticas, é a mais pura verdade. Mas que o Governo Lula mereça oposição de nossa parte, nacionalistas, progressistas, da esquerda brasileira, é algo que só os rancores ou a sincera, mas danosa, falta de visão histórica pode explicar.
Mas, mesmo entre os que a fazem, por estas razões,a força do sentimento popular os acabará por convencer, quase todos.
Começa 2010 sob a égide de seus últimos meses, quando ocorrerão as eleições presidenciais.
O convite que faço a todos é que percebam que vamos fazer mais que escolher um presidente.
Vamos escolher um caminho.
Conseguir trilhá-lo é algo que depende não de nossa vontade, mas dos sentimentos de nosso povo.
A solidão, por mais justos e puros que sejam seus motivos, nunca é boa para a vida humana, se não é em nome de um resgate.
Mas não há resgate a fazer, senão em nossa memória histórica.
Os líderes nacionalistas do pré-64, como meu avô, Jango, Arraes, Getúlio, se foram para um exílio numa Itu que não tem volta.
Cabe-nos seguir sua luta,e isso exigirá o melhor de nós.
Precisamos vencer a eleição. Mas não apenas isso. Precisamos da polêmica que esclarece a população.
Precisamos destes novos e maravilhos meios que já não nos deixam reféns da “opinião que se publica”.
Precisamos de nós mesmos, de nossa grandeza como seres humanos, grandeza que é capaz de vencer os preconceitos, as conveniências, o marasmo.
Precisamos da coragem para enfrentar o status-quo e da sabedoria de fazê-lo de forma a sermos compreendidos e apoiados.
Que todos nós estejamos à altura deste ano novo, deste tempo novo para o Brasil.
Fonte: Brizola Neto
Quem nasce pobre no Brasil já não está condenado a morrer na pobreza
Booming economy, government programs help Brazil expand its middle class
By Juan Forero
Washington Post Foreign Service
Sunday, January 3, 2010; A06
RIO DE JANEIRO --Teresinha Lopes Vieira da Silva vende pimentas e temperos numa banca de rua, mas o negócio dela não é improvisado.
Ela vende para os restaurantes mais chiques do Rio e vê seu sucesso refletido nas duas casas que comprou. Em vez de sobreviver, ela se juntou à classe média de um Brasil crescentemente afluente, suas conquistas tornadas possíveis por empréstimos do governo e uma economia em crescimento.
"Agora vivo em uma casa com seis cômodos", diz Vieira da Silva, 62, falando em sua casa na Rocinha, um distrito pobre mas movimentado por um grande número de empreendedores. "Não tem uma piscina ainda, mas estou planejando construir uma".
Um dia afetado pela alta inflação e perenemente suscetível às crises mundiais, o Brasil agora tem um mercado consumidor vibrante, grau de investimento para sua dívida soberana, vastas reservas de moeda e um setor agrícola que está tentando suplantar o dos Estados Unidos como o mais produtivo do mundo.
A economia de U$ 1,3 trilhão é maior que as da Índia e Rússia e a renda per capita é quase o dobro da renda per capita da China. Recentes descobertas feitas pela companhia estatal de petróleo vão tornar o Brasil um dos maiores produtores mundiais de petróleo. Uma burocracia invencível não atrapalhou o investimento estrangeiro, que foi de 45 bilhões de dólares em 2008, três vezes mais que uma década antes.
Economistas e cientistas sociais daqui dizem que uma economia voltada para o comércio mundial e programas governamentais inovadores estão tirando milhões da pobreza e acabando com o que antes era uma certeza: que uma pessoa nascida pobre no Brasil morreria pobre.
Progresso sólido, tangível
Desde 2003, mais de 32 milhões de pessoas neste país de 198 milhões entraram na classe média, e cerca de 20 milhões sairam da pobreza, de acordo com o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, um grupo do Rio que faz estudos socioeconômicos.
"Podemos gerar crescimento com inclusão como nenhum outro país pode, dado o tamanho do país e os níveis de desigualdade", diz Marcelo Neri, economista-chefe do centro. "O Brasil está seguindo o que você pode chamar de caminho do meio. Estamos respeitando as leis do mercado e, ao mesmo tempo, estamos fazendo uma política social muito ativa".
Desde 2002, um boom das commodities promoveu o crescimento forte e diminuiu a pobreza em toda a América Latina. Mas o progresso do Brasil é talvez o mais notável porque o país tem mais gente pobre que qualquer outro país da América do Sul e por muito tempo esteve entre as sociedades mais desiguais do mundo.
Neri diz que o Brasil fez progresso sólido criando 8,5 milhões de empregos desde 2003, e instituindo programas como assistência de alimentação para famílias pobres e crédito de baixo custo para compradores de casas e donos de pequenos negócios.
A mudança foi tangível para gente como Thiago Firmino, 28, um professor. Ele vive em um lugar pobre por toda sua vida, mas tem um automóvel e um computador e diz que a vida do filho dele será mais fácil.
"Muita gente melhorou de vida", ele disse. "Não é que tenham construído um castelo mas, você sabe, deram pequenos passos e melhoraram".
A fundação para o sucesso de hoje foi assentada no governo de Fernando Henrique Cardoso, um acadêmico-tornado-político mais conhecido por controlar a inflação na metade dos anos 90. O homem que ficou com a maior parte do crédito foi seu sucessor, o presidente Luis Inácio Lula da Silva, que como líder sindical um dia combateu a globalização.
A eleição de Lula para a presidência em 2002 causou arrepios na elite econômica do Brasil, que se preocupou que um ex-ativista poderia levar o país por um caminho populista, anticapitalista, como Hugo Chávez fez na Venezuela.
Lula acabou fazendo do fim da pobreza sua prioridade, mas ele também se mostrou um líder amigável ao mercado e hoje é popular na comunidade de negócios do Brasil.
Com a Ásia faminta por soja, carne e minério de ferro, o crescimento econômico do Brasil foi em média de 4,2% entre 2003 e 2008, um ano em que o investimento estrangeiro no país teve um aumento de 30% em relação a 2007, de acordo com a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe. A crise econômica mundial causou uma breve queda aqui, mas economistas dizem que o Brasil terá crescimento de 5% em 2010.
Na Sul América Investimentos, em São Paulo, Marcelo Mello, vice-presidente de asset management, disse que no passado os investidores se preocupavam com a inflação e os juros altos.
Agora, impulsionada por investidores brasileiros, a Sul América gerencia 9 bilhões de dólares, três vezes mais que cinco anos atrás. "Nos últimos dez anos, vimos um grande movimento em nossos fundos industriais e nos mercados brasileiros", ele disse.
O mercado de ações está produzindo um número recorde de bilionários e a riqueza no Brasil é palpável. Apartamentos luxuosos estão crescendo em bairros da moda e as lojas mais exclusivas do mundo, da Tiffany's à Gucci, consideram os mercados de Rio e São Paulo férteis.
Entusiasmados com o futuro
Naturalmente, a maioria dos brasileiros está longe de ser rica. Nas vastas comunidades urbanas pobres muitos jovens se voltam para as drogas, a qualidade das escolas públicas é baixa e os serviços básicos como a saúde são cronicamente mal financiados, dizem os moradores.
"Você acredita que isso serve a 150 mil pessoas?", diz Flavio Wittlin, que organiza um grupo que ajuda a tirar gente jovem das ruas no momento em que passava por um pequeno centro médico na Rocinha. Ele disse que vários serviços no bairros, da coleta de lixo ao policiamento, estão abaixo do desejável.
Ainda assim, a Rocinha está cheia de oficinas e pequenas lojas, muitas delas existentes graças a empréstimos governamentais.
Embora os grupos industriais gigantes do Brasil, como a fabricante de aviões Embraer e a mineradora Vale atraem investidores e manchetes, o futuro também tem raiz em negócios como a loja de costura do Alan Roberto Lima.
A loja, no segundo andar de sua casa em uma vizinhança de um bairro da periferia do Rio, tem apenas meia dúzia de máquinas. Mas Lima, 34, descobriu em alguns anos descobriu que as lojas e boutiques chiques do Rio poderiam vender as saias e blusas que ele produz.
Agora ele já fala em lançar sua própria linha de roupas e, se ela for um sucesso, em abrir uma loja.
"De preferência", acrescentou, "perto da praia".
Fonte: blog Vi o Mundo
Assinar:
Postagens (Atom)