sábado, 11 de maio de 2013

O que se esconde atrás do caso Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos

Magali do Nascimento Cunha é jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, professora da Universidade Metodista de São Paulo e autora do livro A Explosão Gospel. Um Olhar das Ciências Humanas sobre o cenário evangélico contemporâneo (Ed. Mauad) publicou um estudo esclarecedor sob o titulo “O Caso Marco Feliciano:um paradigma na relação mídia-religião-polítca”. Ela desvenda, numa análise minuciosa, o jogo político que se esconde atrás da discussão da permanência ou não do Pastor Marco Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal. Este texto ajudará a muitos a entender as causas ocultas da resistência dele e os objetivos políticos presumivelmente almejados pela bancada evangélica na Câmara dos Deputados. O texto pode ser encontrado em:midiareligiaopolitica.blogspot.com.br Lboff

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Marco Feliciano
Nestes meses de março e abril de 2013 temos lido, ouvido e assistido a um episódio sem precedentes no Congresso Nacional, que coloca em evidência a relação religião-política-mídia. Em 5 de março foi anunciada pelo Partido Socialista Cristão (PSC), a indicação do membro de sua bancada o pastor evangélico deputado federal Marco Feliciano (SP) como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal (CDH). Foram imediatas as reações de grupos pela causa dos Direitos Humanos ao nome de Marco Feliciano, com a alegação de que o deputado era conhecido em espaços midiáticos por declarações discriminatórias em relação a pessoas negras e a homossexuais. O PSC se defendeu dizendo que seguiu um protocolo que lhe deu o direito de indicar a presidência dessa comissão, um processo que estava dentro dos trâmites da democracia tal como estabelecida no Parlamento brasileiro. Isto, certamente, é fonte de reflexões, em especial quanto ao porquê da defesa dos Direitos Humanos ser colocada pelos grandes partidos como “moeda de troca barata”, como bem expôs Renato Janine Ribeiro em artigo publicado no Observatório da Imprensa (n. 740, 2/4/2013). Soma-se a isto o fato de o deputado indicado e o seu partido não apresentarem qualquer histórico de envolvimento com a causa dos Direitos Humanos que os qualificassem para o posto.
O que tem chamado a atenção neste caso, e que é objeto desta reflexão, é a “bola de neve” que ele provocou a partir das reações ao nome do deputado, formada por protestos públicos da parte de diversos segmentos da sociedade civil, mais a criação de uma frente parlamentar de oposição à eleição de Feliciano, e pelo estabelecimento de uma guerra religiosa entre evangélicos e ativistas do movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), e entre evangélicos e não-cristãos. E esta bola de neve é produto de fatores que se apresentam para além da CDH, e a expõem como um elemento a mais no complexo quadro da relação entre religião e sociedade no Brasil. Pensemos um pouco sobre estes fatores; vamos elencar quatro.
1. A reconfiguração do lugar dos evangélicos na política
Desde o Congresso Constituinte de 1986 e a formação da primeira Bancada Evangélica e seus desdobramentos, a máxima “crente não se mete em política” construída com base na separação igreja-mundo foi sepultada. A máxima passou a ser “irmão vota em irmão”.
Depois de altos e baixos em termos numéricos, decorrentes de casos de corrupção e fisiologismo, a bancada evangélica se consolidou como força no Congresso Nacional, o que resultou na criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2004, ampliada nas eleições de 2010 para 73 congressistas, de 17 igrejas diferentes, 13 delas pentecostais. Os parlamentares evangélicos não são identificados como conservadores, do ponto de vista sociopolítico e econômico, como o é a Maioria Moral nos Estados Unidos, por exemplo. Seus projetos raramente interferem na ordem social e se revertem em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos, benefícios para templos. Basta conferir o perfil dos partidos aos quais a maioria dos políticos evangélicos está afiliada e os recorrentes casos de fisiologismo.
Mais recentemente é o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da FPE, que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais, valendo-se de alianças até mesmo com parlamentares católicos tradicionalistas, diálogo impensável no campo eclesiástico.
Os números do Censo 2010 são fonte para a demanda de legitimidade social entre os evangélicos, e certamente de conquista de mais espaço de influência. Estudos mostram que desde 2002, período da legislatura em que a FPE foi criada, a cada eleição, o número de evangélicos no Parlamento (Câmara e Senado) aumenta em torno de 30% do total anterior. A estimativa, mantido este índice, é de chegarem a 100 cadeiras em 2014, o que representaria em torno de 20% das 513 do Congresso, refletindo a representatividade dos evangélicos no Brasil revelada pelo Censo 2010. Este é um projeto cada vez mais nítido deste segmento social que certamente visa, como os demais grupos políticos, muito mais do que cadeiras no Congresso, mas também presidências de comissões e de ministérios relevantes (para além do único atual tímido Ministério da Pesca, sob a liderança do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivela).
A polêmica com Marco Feliciano deixa este projeto em evidência, já que não só uma presidência inédita de comissão foi alcançada, mas também maior visibilidade aos evangélicos na política e ao próprio PSC, que tem o nome “Cristão”, mas sempre se caracterizou como um partido de aluguel para quem desejasse candidatura independentemente de confissão de fé. Pelo fato de estar nas manchetes durante semanas, o PSC já prevê que Feliciano, eleito com 212 mil votos por São Paulo em 2010, se tornará um “campeão de votos” nas próximas eleições, podendo atingir um milhão de votos, e ainda alavancará a candidatura do pastor Everaldo Pereira (PSC/SP) a presidente da República. Aliado de Marco Feliciano, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo Silas Malafaia, figura sempre presente nas mídias, declarou: “Se o Feliciano tiver menos de 400 mil votos na próxima eleição, eu estou mudando de nome”.
Mais uma vez, é possível afirmar que a cada novo episódio, a relação evangélicos- política é dinâmica complexa que inclui disputas por poder e hegemonia no campo religioso, ambição dos políticos que veem no pragmatismo dos evangélicos fonte para suas barganhas de campanha, concorrência de grupos que competem por poder sociopolítico e econômico como as empresas de mídia, como veremos adiante.
2. O conservadorismo de Marco Feliciano e de seus “soldados”
A imagem dos “evangélicos” foi construída fundamentalmente com base na identidade de dois grupos de cristãos não-católicos: os protestantes de diferentes confissões que chegaram ao Brasil por meio de missões dos Estados Unidos, a partir da segunda metade do século XIX, e os pentecostais, que aportaram em terras brasileiras na primeira década do século XX, vindos daquele mesmo país. Esta imagem sempre mostrou ao Brasil um segmento cristão predominantemente conservador teologicamente, marcado por um fundamentalismo bíblico, um dualismo que separava a igreja do “mundo”/a sociedade e um anticatolicismo.
Desta forma, não é surpresa que um pastor evangélico, no caso Marco Feliciano, reproduza em seus sermões modernos e de forte apelo emocional, uma abordagem teológica tão antiga como a que embasa a ideologia racista, por meio da leitura fundamentalista de textos do Gênesis que contêm a narrativa da descendência de Noé. Também não é surpresa que Marco Feliciano conduza sua reflexão teológica por meio de bases que justifiquem a existência de um Deus Guerreiro e Belicoso, que tem ao seu redor anjos vingadores, que destrói do Titanic a John Lenon ou aos Mamonas Assassinas, continuando o que já fazia com os povos africanos herdeiros do filho de Noé, e que, nesta linha, certamente fará aos que assumem e apregoam o homossexualismo. Menos surpreendente é ainda que o líder religioso reaja a quem lhe faz oposição ou tenha posição diferente da sua classificando-o como agente do diabo e assim foram sinalizadas a própria formação anterior da Comissão de Direitos Humanos e celebridades como o cantor Caetano Veloso.
Quem se surpreende com o que Feliciano diz e com o apoio que ele recebe de diversos segmentos evangélicos desconhece o DNA deste grupo. Não há nada de novo aqui. O que há é maior visibilidade pela projeção que a mídia religiosa e não-religiosa têm dado a este discurso. Em 2010, por exemplo, o pastor estadunidense Pat Robertson, dono de um canal de televisão, declarou que o trágico terremoto no Haiti naquele ano era consequência de um pacto dos haitianos com o diabo no passado para se tornarem independentes da França. A declaração de Robertson, amplamente veiculada, provocou manifestações contrárias em todo o mundo. As palavras de Marco Feliciano no Brasil de 2013 são apenas o eco da mesma teologia.
Há algo novo, sim, neste processo, relacionado à articulação dos apoios a Feliciano que coloca em evidência o conservadorismo, antes atribuído mais diretamente aos evangélicos, que reflete uma tendência forte na sociedade brasileira de um modo geral.
É nesse contexto que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), suplente da CDH, afirmou que se sente como “irmão” do presidente da comissão. “Como capitão do Exército, sou um soldado do Feliciano”, declarou Bolsonaro, em matérias divulgadas pelas mídias em 27 de março, e acrescentou: “A agenda antes era outra, de uma minoria que não tinha nada a ver. Hoje, representamos as verdadeiras minorias. Acredito no Feliciano, de coração. Até parece que ele é meu irmão de muito tempo. Não sinto mais aquele cheiro esquisito que tinha aqui dentro e aquele peso nas costas. Aqui, era uma comissão que era voltada contra os interesses humanos, contra os interesses das crianças e contra os interesses da família. Agora, essa comissão está no caminho certo. Parabéns, Feliciano”.
O deputado Bolsonaro tem um histórico de posicionamentos racistas e de conflito com ativistas sociais e militantes de movimentos gays. Em novembro de 2011, ele chegou a pedir, da tribuna da Câmara, à presidente Dilma Rousseff para que ela assumisse se gostava de homossexuais. Em março do mesmo ano, respondeu que “não discutiria promiscuidade” ao ser questionado em um programa de TV pela cantora Preta Gil sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra.
No campo das igrejas, o já citado pastor Silas Malafaia, conhecido por polêmicas midiáticas desde a campanha presidencial de 2010, se alistou nas fileiras do deputado Feliciano e se tornou seu árduo defensor e colaborador desde o início da controvérsia da presidência da CDH. Até a Igreja Católica, explícita em suas posições quanto à ampliação de direitos civis de homossexuais, mas clássico “inimigo” dos evangélicos, é colocada por Feliciano na lista de aliados. Em entrevista à TV Folha-UOL (2/4/2013), o deputado explicitou: “Tenho alguns contatos com algumas pessoas da CNBB, mas com os grandes líderes do movimento católico não tive contato até porque quase não tenho tempo. Acredito que, nesse momento, todos eles me conhecem até porque o que eu sofro hoje de perseguição dado ao movimento LGBT, a Igreja Católica sofre isso no mundo todo. Inclusive, o novo papa, o papa Francisco, na Argentina quase foi linchado por esse grupo. Então, nós temos algumas coisas que, acredito, nos fazem pensar igual.(…) Eu fiquei feliz por termos ali um papa que ainda é bem ortodoxo, é bem conservador e que prima por aquilo eu acredito também, que a família é a base da sociedade. Aliás, a família é antes da sociedade”.
Estas alianças estão produzindo efeitos até na qualidade do discurso de Marco Feliciano. Os benefícios proporcionados pela aproximação com lideranças mais experientes ficam evidentes nas mudanças no discurso do deputado como: “Só saio da presidência da CDH morto” para “Só saio da presidência da CDH se os deputados condenados pelo julgamento do mensalão, José Genoíno e João Paulo Cunha, deixarem a Comissão de Constituição e Justiça”. Com isso, Feliciano atraiu para si a simpatia da mídia que se fartou na cobertura do julgamento do Superior Tribunal de Justiça e de segmentos conservadores, que, embora não concordem com seu nome na presidência da CDH, querem “a cabeça” dos condenados. Feliciano usa uma controvérsia ética para justificar a controvérsia de sua própria eleição – a CDH como moeda de troca partidária.
Alianças do religioso com o não-religioso formando exércitos que marcham em defesa da moral e dos bons costumes – em defesa da família – não é algo novo no Brasil, mas é bastante novo no espaço político que envolve os evangélicos e suas conquistas na esfera pública. Em matéria na Folha de São Paulo, de 7/4/2013, o diretor do instituto de pesquisa Datafolha, Mauro Paulino, declarou que o discurso de Feliciano atinge preocupações de parte da população: “Entre os brasileiros, 14% se posicionam na extrema direita. As aparições na imprensa dão esse efeito de conferir notoriedade a ele.” Isto significa que apesar dos tantos slogans divulgados em manifestações presenciais e nas redes sociais – “Feliciano não me representa” – Feliciano, Bolsonaro e tantos outros são eleitos e ganham espaço e legitimidade. Portanto, há quem se sinta representado, sim, não somente do ponto de vista da popularidade mas do peso das articulações ideológicas em curso na sociedade brasileira.
3. Inimigos, um componente do imaginário evangélico
Exércitos precisam de inimigos. A teologia de um Deus Guerreiro e Belicoso sempre esteve presente na formação fundamentalista dos evangélicos brasileiros, compondo o seu imaginário e criando a necessidade da identificação de inimigos a serem combatidos. Historicamente a Igreja Católica Romana sempre foi identificadas como tal e sempre foi combatida no campo simbólico mas também no físico-geográfico. Da mesma forma as religiões afro-brasileiras também ocupam este lugar, especialmente, no imaginário dos grupos pentecostais.
Periodicamente, estes “inimigos” restritos ao campo religioso perdem força quando ou se renovam, como é o caso da Igreja Católica, a partir dos anos de 1960, ou quando aparecem outros que trazem ameaças mais amplas. Assim foram interpretados os comunistas no período da guerra fria no mundo e da ditadura militar. Há também um imperativo imaginário de se atualizar os combates, quando a insistência em determinados grupos leva a um desgaste da guerra. Durante o processo de redemocratização brasileira nos anos 80, o espaço que vinha sendo conquistado pelo Partido dos Trabalhadores, interpretado como nítido representante do perigo comunista, foi reconhecido como ameaça e campanhas evangélicas contra o PT reverberaram de forma religiosa o que se expunha nas trincheiras da política.
Com o enfraquecimento do ideal comunista nos anos 90 e com o PT chegando ao poder nacional com o apoio dos próprios evangélicos, a força das construções ideológicas estadunidenses abriu lugar à atenção à ameaça islâmica e houve algum espaço entre evangélicos no Brasil para discursos de combate ao islam. No entanto, como esta ameaça está bem distante da realidade brasileira – não se configura um inimigo tão perigoso nestas terras -, emerge, mais uma vez, o imperativo de se atualizar os combates. Não mais catolicismo, nem comunismo, não tanto islamismo… quem se configuraria como novo inimigo? Desta vez, um inimigo contra a religião e seus princípios, contra a Bíblia, contra Deus, contra o Brasil e as famílias: o homossexualismo.
Declarações de Marco Feliciano na mídia noticiosa expressam bem este espírito belicoso: “É um assunto tão podre! Toda vez que se fala de sexo entre pessoas do mesmo sexo ninguém quer colocar a mão, porque é podre. Por causa disso, um grupo de 2% da população – os gays – consegue se levantar e oprimir uma nação com 90% de cristãos, entre católicos e evangélicos, e até pessoas que não têm religião, mas que primam pelo bem-estar da família, pelo curso natural das coisas” (Rede Brasil Atual, 1/3/2013). “Existe uma ditadura chamada (…) “gayzista”. Eles querem impor o seu estilo de vida e a sua condição sobre mim. E eles lutam contra a minha liberdade de pensamento e de expressão. Eles lutam pela liberdade sexual deles. Só que antes da liberdade sexual deles, que é secundária, tem que ser permitida a minha liberdade intelectual. A minha liberdade de expressão. Eu posso pensar. Se tirarem o meu poder de pensar, eu não vivo. Eu vegeto e morro”. (TV Folha-UOL, 2/4/2013).
Consequência da eleição de inimigos e do combate a eles é o discurso de que há uma perseguição a quem se faz contrário, promovida pelo maior inimigo de Deus, Satanás. Esta ideia está claramente presente em afirmações de Feliciano como: “Eu morro, mas não abandono minha fé”; “A situação está tomando dimensões muito estranhas. É assustador, estou me sentindo perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez”; “Se é para gritar, tem um povo que sabe o que é grito. [...] Nós (evangélicos) sabemos qual é o poder da nossa fé.”
A insistência da mídia noticiosa em enfatizar a guerra Feliciano-homossexuais, com o lado “inimigo” representado por um deputado, na mesma condição do primeiro, Jean Wyllys (PSOL/RJ), ativista do movimento LGBT, só faz reforçar a reconstrução do imaginário evangélico da guerra aos inimigos e da perseguição consequente. Isso tem gerado manifestações diversas de apoio a Feliciano entre evangélicos dos mais diferentes segmentos e ações como a da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), realizada em Brasília neste abril, que aprovou uma moção de apoio a Feliciano, aprovada em votação simbólica por unanimidade. Feliciano agradeceu o apoio dizendo que “nunca houve uma comissão com tanta oração. Os pastores estão orando pela minha vida e pela comissão. Venceremos esta batalha”.
Há ainda uma explosão de postagens em nas mídias digitais, em especial nas redes sociais. Por exemplo, uma montagem com foto de Marco Feliciano com uma faixa presidencial tem sido veiculada por usuários do Facebook, e, na primeira semana de abril já havia superado a marca de 65 mil compartilhamentos. A campanha pede que favoráveis à candidatura do pastor à presidência da República em 2014 compartilhem a imagem para demonstrar força nas redes sociais: “Campanha urgente: Marco Feliciano presidente do Brasil”, diz o texto.
Uma segunda imagem com comparações entre Marco Feliciano e Jean Wyllys também veiculada no Facebook, já havia superado 100 mil compartilhamentos em meados de abril, registrando mais de 7,5 mil comentários. Na imagem, há dados sobre o número de votos de cada um dos deputados, além de comparações entre as bandeiras políticas defendidas por cada um deles. A imagem quando compartilhada revela declarações pessoais de quem “curtiu” com texto que manifesta apoio ao pastor Feliciano: “Eu sou cristão, a favor da democracia, da vida e da família brasileira. Marco Feliciano me representa”.
A declaração de Silas Malafaia à Folha de São Paulo (7/4/2013) sobre a repercussão do caso entre os evangélicos e simpatizantes reflete bem este espírito: “Quero agradecer ao movimento gay. Quanto mais tempo perderem com o Feliciano, maior será a bancada evangélica em 2014″.
Toda e qualquer análise e ação em torno da presença dos evangélicos nas mídias e na política não pode ignorar esta dimensão do imaginário da necessidade da criação de inimigos e da consequente perseguição. Isto é característico de religiões numericamente não-majoritárias, sendo portanto, fruto, entre outros aspectos, do caráter minoritário da presença evangélica em terras brasileiras.
4. As transformações e as revelações na relação mídia-religião
O histórico da presença evangélicas nas mídias não-religiosas no Brasil revela a hegemonia católica-romana que vem pouco a pouco sendo diminuída por conta do espaço que os evangélicos vêm conquistando na esfera pública. Enquanto católicos sempre apareceram para expressar sua fé nas datas clássicas do calendário religioso e para se manifestar sobre temas amplos, à exceção dos casos controversos inevitáveis como a pedofilia praticada por clérigos, cuidadosamente tratados, evangélicos tinham espaço garantido quando se tratava de escândalos de corrupção ou situações bizarras.
Na última década, a expressiva representatividade dos evangélicos no país com o consequente declínio do catolicismo, e a ampliação de sua presença nas mídias e na política, torna este segmento não só visível mas um alvo mercadológico. As mídias passam a prestar a atenção no segmento e na lucratividade possível, em torno da cultura do consumo vigente.
Um exemplo ilustrativo se dá quando um personagem, por vezes protagonista, por vezes coadjuvante, como o pastor Silas Malafaia, que assume o papel da pessoa controvertida em todo este contexto e constrói sua imagem midiática como “aquele que diz as verdades”, é convidado para uma conversa com o vice-diretor das Organizações Globo, João Roberto Marinho (Pinheiro, Daniela. Vitória em Cristo. Revista Piauí, n. 60, set 2011). Aí é possível identificar o patamar em que se encontra o segmento evangélico nas mídias. Segundo depoimento do pastor depois da conversa, Marinho teria alegado precisar conhecer mais o mundo dos evangélicos já que a emissora teria percebido que Edir Macedo não seria “a voz” dos protestantes no Brasil. O pastor Malafaia ganhou, então, trânsito em um canal destacado de comunicação e teve várias aparições no programa de maior audiência da Rede Globo, o Jornal Nacional.
Além do contato com Malafaia, as Organizações Globo, por meio da gravadora Som Livre, já contrataram grandes nomes do mercado da música evangélica que têm, a partir daí, espaço garantido na programação da Rede Globo. A Globo tirou da Rede Record, em 2011, o evento de premiação dos melhores da música evangélica, tendo criado o Troféu Promessas. A Rede Globo é também, a partir de 2011, patrocinadora de eventos evangélicos como a Marcha para Jesus e de festivais gospel. Noticiário inédito do mundo evangélico tem ganhado espaço na Rede, como por exemplo, a matéria sobre a reeleição de José Wellington Bezerra à presidência da Convenção Geral das Assembleias de Deus veiculada em matéria de 1’44 no Jornal da Globo, de 1’52 na Globo News, em 11 de abril, além de nota na CBN e no portal G1.
Neste contexto, o caso Marco Feliciano tem sido amplamente tratado pela grande mídia. Feliciano já foi entrevistado por todos os grandes veículos de imprensa e já participou dos mais variados programas de entretenimento – de talk-shows a games. Foi tratado com simpatia na entrevista de Veja e defendido pelo jornalista Alexandre Garcia em comentário na Rádio Metrópole (5/4/2013) com o argumento de “liberdade de opinião”. Fica nítido que estes veículos não desprezam a dimensão do escândalo e da bizarrice relacionada ao caso, somada à atraente questão da homossexualidade que mexe com as emoções e paixões humanas e expõe a vida íntima de celebridades, como o caso da cantora Daniela Mercury que veio à tona na trilha desta história.
No entanto, o amplo espaço dado para que Feliciano e seus aliados exponham seus argumentos e sejam exibidos como simpáticos bons sujeitos revela que estas personagens ganham um tratamento bastante afável em comparação à execração imposta a outras em situações críticas da política brasileira, como a que envolveu os parlamentares do PT. Não temos aqui apenas os evangélicos como um segmento de mercado a ser bem tratado, mas, retomando a constatação de que Feliciano, Malafaia e Bolsonaro representam uma parcela conservadora da sociedade brasileira, é possível que haja uma identidade entre estes líderes e quem emite e produz conteúdos das mídias. Afinal, é a mesma mídia que constrói notícias sobre crimes protagonizados por crianças e adolescentes de forma a promover uma “limpeza” das cidades por meio de campanha por redução da maioridade penal no Brasil, ou que veicula programas que trazem enquetes durante um noticiário sobre crimes urbanos que indagam: “Ligue XXX ou YYY para indicar qual pena merece o criminoso? XXX para prisão ou YYY para morte”.
São transformações na relação mídia e religião, com efeitos políticos, que merecem ser monitoradas e esclarecidas, tendo em vista a complexidade das relações sociais, em especial no que diz respeito à religião, e que devem ser potencializadas no ano eleitoral que se aproxima.
Um paradigma
O caso Marco Feliciano pode ser considerado um paradigma pelo fato de ser a primeira vez na história em que os evangélicos se colocam como um bloco organicamente articulado, com projeto temático definido: uma pretensa defesa da família. Com a polarização estimulada pelas mídias entre o deputado Feliciano e ativistas homossexuais foi apagada a discussão de origem quanto à indicação do seu nome em torno das afirmações racistas e de seu total distanciamento da defesa dos direitos humanos.
Torna-se nítida uma articulação política e ideológica conservadora em diferentes espaços sociais – do Congresso Nacional às mídias – que reflete um espírito presente na sociedade brasileira, de reação a avanços sociopolíticos, que dizem respeito não só a direitos civis homossexuais e das mulheres, como também aos direitos de crianças e adolescentes, às ações afirmativas (cotas, por exemplo) e da Comissão da Verdade, e de políticas de inclusão social e cidadania. Nesta articulação a religião passa a ser instrumentalizada, uma porta-voz.
A postagem de um pastor de uma igreja evangélica no Facebook reflete bem este espírito: “Devemos nos unir cada vez mais, já somos milhões de evangélicos no Brasil, fora os simpatizantes. Temos força, é claro que nossa força vem de Deus. Precisamos nos mobilizar contra as forças das trevas, que querem desvirtuar os bons costumes e a moral e, principalmente que querem afetar a honra da família. Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar e orar, não tem capeta que resista”. E as palavras de Marco Feliciano ecoam como profecia: “Graças a Deus permanecemos firmes até aqui. Chegará o tempo que nós, evangélicos, vamos ter voz em outros lugares. O Brasil todo encara o movimento evangélico com outros olhos”.
Nesse sentido é possível afirmar que os grupos políticos e midiáticos conservadores no Brasil descobriram os evangélicos e o seu poder de voz, de voto, de consumo e de reprodução ideológica. A ascensão de Celso Russomano nas eleições municipais de São Paulo, em 2012, já havia sido exemplar: um católico num partido evangélico, apoiado por grupos evangélicos os mais distintos. A eleição da presidência da CDH é paradigmática no campo nacional e ainda deve render muitos dividendos a Feliciano, ao PSC, à Bancada Evangélica e a seus aliados. O projeto político que se desenha, de fato, pouco ou nada tem a ver com a defesa da família… os segmentos da sociedade civil, incluindo setores evangélicos não identificados com o projeto aqui descrito, que defendem um Estado laico e socialmente justo, têm grandes tarefas pela frente.

Mensalão: a história de uma farsa



Alguns livros já foram escritos sobre o mensalão enquanto processo político, outros tanto sobre o julgamento. Entramos agora, porém, numa outra fase bibliográfica, muito mais decisiva. Junto com as últimas defesas dos réus (os embargos), vieram à luz uma série de documentos até então subtraídos à consulta pública. Estes documentos vieram se somar à perplexidade, até hoje não superada, em relação ao sinistro circo que assistimos em 2012, quando juízes da mais alta corte rasgaram os princípios básicos do direito moderno, do bom senso e da própria jurisprudência para chancelarem um justiçamento que interessava a poderosos agentes do conservadorismo político nacional.
A mentira segue o padrão de uma doença. Ela fere o corpo com enorme virulência num primeiro momento; em seguida, o uso dos remédios certos e, sobretudo, a entrada em ação de anticorpos, gera um período de convalescença; por último, o corpo humano pode sair fortalecido. Digo “pode sair”, porque é preciso que tenha, efetivamente, vencido a doença; em caso contrário, poderá sofrer uma reincidência muito mais lesiva, ou mesmo fatal.
O processo político do mensalão caminha por duas vias paralelas, que às vezes se tocam, em outras se afastam, mas desde o início interagindo intensamente. Numa, há o julgamento nas instituições. Noutra, na opinião pública. Nas instituições (STF e, eventualmente, alguma corte internacional), o julgamento se aproxima do fim de um ciclo. Na opinião pública, a última palavra não é dada por nenhum ajuntamento burocrata, doméstico ou estrangeiro, e sim por esta vetusta, calma e irônica senhora chamada História. Neste campo, o julgamento ainda está só começando.
Agora sim, as pessoas têm acesso aos documentos. Não documentos periféricos, referentes a detalhes do processo, mas documentos estratégicos, centrais, que determinam e embasam todas as acusações e todas as defesas.
Agora sim, terminado o ruflar histérico de tambores que testemunhamos em 2012, num julgamento realizado em paralelo a um processo eleitoral, podemos analisar o processo do mensalão com serenidade. Podemos escutar as versões dos réus, ler os documentos, conversar francamente sobre o que realmente aconteceu naquele período.
Temos ainda um mínimo de distanciamento histórico para entender uma série de coisas. Mais importante que tudo: entendemos hoje os resultados profundamente danosas à democracia se não levarmos esse debate às últimas consequências.
É aí voltamos a nos encontrar com o que existe de mais sólido em nós mesmos. Não apenas queremos saber a verdade, a verdade nua e crua: nesse ponto, queremos agir com a seriedade que faltou aos juízes. Queremos ler, reler e analisar os documentos, alguns deles só há pouco disponibilizados ao público. São estes documentos que nos dão base para assumir uma postura bem diferente a partir de agora. Não mais na defensiva. Queremos encetar um contra-ataque político que vise cobrar uma parte, ao menos, do profundo dano moral que as arbitrariedades causaram a milhões de brasileiros e à democracia.
Não temos interesse de eximir o PT dos erros e dos crimes que tenha cometido. Mas a questão já não é o PT. A questão, hoje, é a discussão da verdade, a denúncia do arbítrio, da mentira, e do insuportável risco à democracia que é a conversão do Supremo Tribunal Federal num instrumento político e partidário manipulado por interesses econômicos obscuros.
Os documentos provam que a teoria do mensalão não se sustenta. Podemos admitir, com profunda tristeza, que um STF corrompido pela vaidade e pela chantagem, possa enveredar pelo arbítrio e agir na contramão da ética e da legalidade. Isso nos deixa consternados e preocupados, mas um processo político ainda é algo maior que tudo isso. O que não deixaremos passar, jamais, é a manipulação da história. Os ministros do STF, a mídia, a procuradoria geral da república serão denunciados às futuras gerações como protagonistas de uma vergonhosa página da política brasileira. A Constituição Brasileira não é apenas um punhado de leis. Ela encarna um espírito, uma visão de mundo, um destino. E nisto houve uma traição imperdoável dos juízes aos valores encorpados na Carta Magna.
O PT não é santo. Houve caixa 2 nas campanhas de 2002, 2004, 2006, possivelmente em todas as campanhas petistas. O PT foi o único partido que assumiu francamente a culpa de fazer o que todos faziam: caixa 2.
Mas o STF fez de tudo justamente para derrubar a teoria do caixa 2 e, contra todas as evidências documentais, produziu uma tese fictícia, sustentada sobre declarações vazias, testemunhos contraditórios e ilações descabidas. As maiores lideranças políticas de uma geração foram condenadas sem apresentação de nenhuma prova. A mídia conseguiu derrubar líderes eleitos para glorificar heróis no Ministério Público e no Judiciário – o que não seria exatamente um problema não fosse a quantidade constrangedora de erros crassos, contradições, injustiças, que caracterizaram o julgamento.
Lembrando o ditado popular, é hora da onça beber água. Contra o arbítrio, vamos contrapor o debate democrático, à luz do dia, transparente, feito com serenidade, amparados em documentos. Eu farei a parte que me cabe como jornalista, blogueiro e intelectual: trabalhar duro, escrever, ponderar, analisar. O Paulo Moreira Leite escreveu um excelente livro sobre o tema, mas há um manancial de informações ainda não explorado e, sobretudo, não concatenado num conjunto.
Em suma, durante as próximas semanas, O Cafezinho publicará uma série de artigos diários sobre o mensalão, ancorado em documentos e entrevistas com pessoas que sabem, com relativa precisão, tudo o que, de fato, aconteceu.
O primeiro artigo virá ao ar hoje à noite, sábado, dia 11 de maio de 2013, fruto de uma longa entrevista que realizei por esses dias com Henrique Pizzolato, além de muitos documentos.
Ao cabo de algumas semanas ou meses, possivelmente publicaremos um livro. Felizmente já existe um bom filão no mercado para quem deseja explorar o outro lado das histórias midiáticas, como mostraram as tiragens espetaculares da Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr, e da A Outra História do Mensalão, de Paulo Moreira Leite. A direita platinada publicou uma dezenas de livros com a sua versão sobre o mensalão. A esquerda agora inicia a produção de sua própria bibliografia.
PS: Diante da importância pública do debate, e porque ainda temos esperança de que algumas injustiças sejam corrigidas no julgamento dos embargos, deixarei os posts abertos. Para pagar ao menos parte deste empreendimento, que não será moleza, conto com a sua generosidade naforma de doações (clique aqui) ou assinaturas do blog O Cafezinho(aqui).

Bolsa-estupro: abaixo assinado contra projeto que condena as mulheres


Bolsa estrupo - Estatuto do Nascituro (PL 478/2007). Entre outros absurdos, o projeto prevê que o Estado uma espécie de "bolsa-estupro" às mulheres que engravidarem de um estupro, e dá direito de paternidade ao estuprador.

Bolsa-estupro: abaixo assinado contra projeto que condena as mulheres
Postado em: 10 mai 2013 às 11:57
PL 478/2007
Bolsa-estupro: abaixo assinado contra projeto que condena as mulheres

LANÇADO ABAIXO-ASSINADO CONTRA PL QUE INSTITUI O “BOLSA ESTUPRO”. PROJETO RETROCEDE DIRETOS JÁ CONQUISTADOS, COMO O QUE AUTORIZA O ABORTO PRATICADO POR MÉDICO EM CASOS DE ESTUPRO E DE RISCO DE VIDA PARA A MÃE

O movimento de mulheres lançou uma petiçãona Avaaz.org para mobilizar a sociedade contra a proposta do Estatuto do Nascituro, que concede direitos ao embrião humano logo após a concepção e oferece benefício financeiro mensal às vítimas de estupro que engravidarem e não interromperem a gestação. Já foram reunidas mais de 8 mil assinaturas contra o PL conhecido como Bolsa Estupro.

De acordo com o texto, mesmo o embrião gerado a partir de um estupro não deve sofrer restrição de direitos e discriminação e deverá receber pensão alimentícia do pai, se identificado, ou do Estado. O PL dá o mesmo status jurídico e moral de pessoas nascidas e vivas. Ou seja, o embrião terá mais direitos que a mulher, mesmo quando for resultado de estupro.

Para as organizações feministas, o projeto retrocede diretos já conquistados como o artigo 128 do Código Penal, que autoriza o aborto praticado por médico em casos de estupro e de risco de vida para a mãe. “É preciso muita luta dos movimentos sociais para impedir a aprovação deste projeto que derruba qualquer direito de as mulheres decidirem pela interrupção da gravidez, mesmo em caso de risco de vida da mulher, anomalia grave (como anencefalia) e estupros, já garantidos por lei no Brasil”, diz um trecho de uma nota divulgada recentemente pela União Brasileira de Mulheres (UBM).

“O avanço rumo à aprovação do chamado “Estatuto do Nascituro”, deve ser visto como ameaça aos direitos das mulheres. Nele, estão reunidas as pautas mais retrogradas e de submissão, ostentadas pelo patriarcado e as instituições que o perpetuam, ao longo dos séculos: controle sobre o corpo das mulheres, a institucionalização da violência sexual e o domínio sobre o destino das mulheres”, completa a nota.

Outra conquista recente foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de incluir, nessa lista, os casos de anencefalia. Existe, ainda, uma Norma Técnica para Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes, publicada pelo Ministério da Saúde, em 1998, que orienta os serviços de saúde a oferecerem apoio laboratorial para diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis; prevenção profilática de DST; garantia de atendimento psicológico; coleta e guarda de material para futura identificação do agressor por exame de DNA; administração de anticoncepção de emergência (até 72 horas da agressão); interrupção da gravidez até 20 semanas de idade gestacional; acompanhamento pré-natal, quando a mulher decidir pela não-interrupção.

O projeto estava na pauta de votação da Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados de quarta-feira (8), onde sofreu adequação financeira e orçamentária. De acordo com a página da Comissão, no site da Câmara, o PL não foi votado. Ele deverá ser incluído novamente na pauta entre segunda-feira (13) e sexta (17), quando estão previstas duas reuniões da comissão. Caso seja aprovado na Comissão de Finanças, seguirá para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara.

Para acessar o abaixo-assinado contra o Bolsa Estupro clique aqui.

Para acompanhar a tramitação do projeto na Comissão de Finanças e Tributação da Câmaraclique aqui.


A consultora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), Kauara Rodrigues, lembra de dois casos recentes de estupros. Ela critica o fato de, enquanto o Brasil precisa explicar estupros coletivos como o de uma turista estrangeira em uma van, no Rio de Janeiro, ou o cometido contra um grupo de mulheres em Queimadas, no interior da Paraíba, o Congresso Nacional se ocupa com esse tipo de projeto.

“O PL propõe que o Estado seja cúmplice do crime hediondo de estupro, legitimando a violência sexual no país, ao invés de investir em políticas de segurança pública e de saúde voltadas para as mulheres”, afirma.

O movimento de mulheres defende que o aborto deve ser tratado como caso de saúde pública e alerta para a rede de atendimento e acolhimento de mulheres vítimas de estupro, que ainda é bastante limitada. O número de Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher é de apenas 387. Se incluir os núcleos de atendimento em delegacias comuns, o número sobe para 520, o que não representa nem 10% dos 5.564 municípios brasileiros. São disposnibilizados em todo país 63 serviços, em hospitais públicos, de aborto legal.
Religião

Se for mais além no texto do projeto, apesar de não estar expressa literalmente, a questão religiosa está colocada de alguma forma, tendo em vista que algumas religiões são contrárias ao aborto sob qualquer justificativa. Desse ponto de vista, ele seria inconstitucional por ferir princípios da Constituição Federal, que estabelece um Estado laico (sem religião) e garante direitos fundamentais à liberdade de crença, pensamento e igualdade de todos.

Ainda sob o aspecto religioso, o uso da pílula do dia seguinte, implantada na rede de saúde pública em 2002, é condenado por religiões, como a Católica. No entanto, ela pode contribuir para a redução do número de abortos, principalmente os praticados clandestinamente.

No início de 2012, a Organização das Nações Unidas (ONU) chamou a atenção do país para o grande número de mulheres vítimas de aborto inseguros: 200 mil mulheres ao ano. Segundo pesqusa realizada pela Universidade de Brasília, em parceria com o Instituto Bioética e o Fundo Nacional de Saúde, cerca de 15% da população feminina brasileira, entre 18 e 49 anos, já abortaram.

Projeto inviabiliza pesquisa com células-tronco

Outro ponto questionado do PL é a definição para nascituro e as penas previstas, no artigo 25, para quem “Congelar, manipular ou utilizar nascituro como material de experimentação” o que inviabilizaria as pesquisas com célula-tronco no País, utilizadas em terapias de combate à diversas doenças. O conceito de nascituro, segundo o PL, inclui os seres humanos concebidos “in vitro”, os produzidos através de clonagem ou por outro meio científica e eticamente aceito.

Deborah Moreira, Portal Vermelho

Relatório final do BC mostra fraudes e grampos de um banco que adorava ajudar políticos

Em 2006, os Indio da Costa injetaram oficialmente R$ 500 mil nas campanhas do DEM (então PFL), do PSDB e do PPS. O montante de R$ 100 mil ajudou na eleição para deputado federal de Pedro Indio da C

O esquema montado pelo dono do banco Cruzeiro do Sul, Luis Octavio Azeredo Indio da Costa, gerou um rombo de R$ 2,2 bi. Documentos relevam que o BC foi grampeado pelos banqueiros, que doaram R$ 12 milhões a políticos. O maior beneficiário foi José Serra
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O BANQUEIRO E OS CRIMES
Os auditores do BC encontraram indícios de lavagem de dinheiro e evasão de
divisas no Cruzeiro do Sul, presidido por Luis Octavio Azeredo Indio da Costa
Na última semana, IstoÉ teve acesso a um relatório exclusivo da Comissão de Inquérito do Banco Central com novas revelações sobre a bilionária fraude do Banco Cruzeiro do Sul, que sofreu intervenção em junho do ano passado e foi liquidado três meses depois. O documento de 247 páginas revela que o esquema criminoso montado pelos banqueiros Luis Felippe Indio da Costa e Luis Octavio Azeredo Indio da Costa, pai e filho, foi ainda maior do que a Polícia Federal e o Ministério Público tinham conseguido apurar. O banco contou ainda com a omissão de grandes empresas de consultoria e até com um aparato de arapongagem que garantia acesso a informações privilegiadas.
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Na documentação, obtida com exclusividade por ISTOÉ, pareceres e notas jurídicas revelam a incrível variedade de crimes cometidos e o tamanho do golpe. Segundo o relatório, foram feitas 682 mil operações de empréstimos fictícios – o dobro do que a PF e o Ministério Público imaginavam. Os auditores do BC também concluíram que houve desvio de recursos por triangulação e encontraram indícios veementes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O rombo deixado pela gestão fraudulenta dos Indio da Costa, que era estimado em R$ 1,3 bilhão, ultrapassa os R$ 2,2 bilhões, conforme o relatório do BC. Agora, a Polícia Federal quer saber se o dinheiro da fraude teve como destino paraísos fiscais, contas de laranjas ou campanhas políticas, como a do tucano José Serra. Nas eleições de 2006, 2008 e 2010, o Cruzeiro do Sul doou quase R$ 12 milhões para políticos de diversas legendas. O partido mais beneficiado foi o PSDB. Em 2010, o Cruzeiro do Sul injetou R$ 1,2 milhão na campanha do vice de Serra, Indio da Costa, primo do presidente do banco. Também doou R$ 1,8 milhão diretamente para o diretório nacional do PSDB, principal cofre da campanha serrista. Outro R$ 1,3 milhão foi distribuído para diretórios tucanos empenhados na campanha de Serra. A instituição buscava proteção financiando políticos e mantinha uma boa relação com os tucanos. Ainda não é possível afirmar, no entanto, que o dinheiro que acabou nas campanhas eleitorais tenha vindo direto das operações fraudulentas dos banqueiros. Mas a PF já investiga essa possibilidade.
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DETIDO
Fundador do banco Cruzeiro do Sul, Luis Felippe Indio da
Costa teve prisão decretada em novembro de 2012
Uma cópia da papelada do BC chegou no fim da última semana à mesa da procuradora da República Karen Louise Kahn e será anexada à ação penal. O resultado do inquérito levou a Procuradoria-Geral do BC a pedir ingresso como assistente de acusação contra os ex-controladores e ex-administradores do Cruzeiro do Sul. Na petição recebida por Karen, o procurador-geral Isaac Sidney Ferreira classifica de “gravíssimas” as acusações imputadas aos réus. As irregularidades, de acordo com Ferreira, envolvem a celebração de cessões de direitos creditórios em condições artificiais, a contabilização de operações de créditos inexistentes e o falseamento de demonstrações financeiras. Segundo o procurador-geral do BC, as operações irregulares (saiba no quadro ao lado como os golpes eram aplicados) são indicativos dos crimes de gestão fraudulenta, indução em erro de sócios, depositantes, investidores e o próprio ente fiscalizador e inserção de elementos falsos em demonstrativo contábil. “Não podem ser ignorados os possíveis efeitos deletérios das condutas descritas na denúncia sobre o funcionamento e a credibilidade do Sistema Financeiro Nacional”, escreve Ferreira. O procurador defende a minuciosa apuração dos fatos e punição dos responsáveis. No âmbito das responsabilidades, o relatório do BC apontou para a omissão das auditorias KMG e Ernest&Yong, que acompanhavam a saúde financeira do Cruzeiro do Sul e não identificaram as irregularidades. A prática será investigada agora pelo Ministério Público Federal, que poderá determinar se houve erro de procedimento ou conivência dos auditores. 
A Polícia Federal investigará também o monitoramento telefônico de fiscais do BC por parte da cúpula do Cruzeiro do Sul. Foi justamente essa suspeita que levou o Ministério Público a pedir, no ano passado, a prisão dos banqueiros. Em depoimento ao delegado federal Milton Fornazari e em ofício encaminhado à procuradora Karen, até agora inéditos, o presidente da Comissão de Inquérito do Banco Central, Clovis Vidal Poleto, diz que descobriu o grampo quando examinava os registros telefônicos dos operadores de mesa do Cruzeiro do Sul. Embora essas “gravações de box” (como são chamadas pelos fiscais do BC) sejam obrigatórias pela Comissão de Valores Imobiliários (CVM), Poleto encontrou escutas que não tinham relação com as operações e até telefonemas efetuados pelos membros da Comissão de Inquérito, o que configuraria “quebra de sigilo das operações invetigadas”. Poleto considerou o fato como “de extrema gravidade”, pois as investigações e a apuração das responsabilidades dos administradores poderiam ficar comprometidas. À PF, Poleto disse ainda que fiscais do Banco Central já vinham sendo monitorados havia algum tempo. Ele analisou gravações de conversas entre o então superintendente de operações e contratos de empréstimos, Horácio Martinho Lima, e o presidente do banco Cruzeiro do Sul, Luis Octavio, em que ambos discutiam “o teor de ­e-mail trocado entre analistas do BC que à época estavam dentro das instalações físicas do banco, realizando fiscalização em momento anterior à decretação da intervenção”.
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BENEFICIÁRIOS
O banco fraudulento doou R$ 4 milhões para o PSDB e à campanha de Serra, em 2010,
cujo vice era o deputado Indio da Costa (à dir.), primo do presidente do Cruzeiro do Sul
Apesar de ter conseguido a liberação de seus clientes, o advogado Roberto Podval alega que a acusação de grampo não faz sentido. “Havia um sistema que gravava automaticamente todas as conversas da mesa telefônica. Ou por erro do sistema ou por procedimento automático, conversas de fora da mesa estavam gravadas. Mas elas faziam prova contra o próprio banco”, afirma. Podval reclama também que ainda não teve acesso às informações do Banco Central e alegou desconhecer totalmente o conteúdo do relatório da Comissão de Inquérito do Banco Central. Diante do empenho do BC em investigar o Cruzeiro do Sul, Roberto Podval avalia que seus clientes são alvo de perseguição política. “Não tenho dúvida de que esse tratamento diferenciado é por conta das ligações do banco com a oposição ao governo do PT”, alega Podval. O argumento carece de respaldo, uma vez que a Procuradoria do BC atua hoje como assistente de acusação em 55 ações penais. Dessas, 27 são sobre crimes contra o sistema financeiro e 20 envolvem ex-administradores e ex-controladores de bancos liquidados. Antes do Cruzeiro do Sul, o BC também entrou no recente caso do PanAmericano.
As relações políticas dos banqueiros, porém, chamam a atenção, especialmente a partir de 2006. Naquele ano eleitoral, Luis Octavio Indio da Costa, Marcelo Xandó e Marcio Serra Dreher – indiciados agora junto a 14 executivos do banco – comemoravam o sucesso da Verax Serviços Financeiros, gestora do Cruzeiro do Sul. A empresa, então com apenas três anos de vida, atingia R$ 1 bilhão em recursos administrados. O foco do negócio eram os chamados Fidcs, mais conhecidos como fundos de recebíveis. Os mesmos que foram usados posteriormente para maquiar resultados e engordar dividendos, segundo o BC.
04.jpgosta, primo do banqueiro. Em 2010, quando o esquema de fraudes estava no auge, o banco derramou uma quantia dez vezes maior para a oposição. José Serra, candidato presidencial, chamou Indio da Costa para ser o vice na chapa. A articulação não agradou a todos, mas garantiu doações milionárias à campanha. Mesmo sendo um banco médio, o montante do Cruzeiro do Sul foi equivalente ao doado por gigantes do setor, como Itaú e Bradesco.
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O procurador do BC Issac Ferreira defende a minuciosa
apuração dos fatos e a punição dos responsáveis
Com acesso político a chefes de governos estaduais e gestores de algumas autarquias federais, os diretores do Cruzeiro do Sul firmaram 237 convênios e chegaram a uma carteira de crédito consignado de R$ 500 milhões. Órgãos públicos de Alagoas, Pará, Goiás, Roraima e Tocantins, Estados comandados por governadores do PSDB, permitiram que o banco explorasse até 30% da folha de pagamento de seus servidores. Em 2009, quando o então senador Heráclito Fortes (DEM-PI) ocupava a primeira-secretaria do Senado, o banco firmou convênio para a exploração do crédito consignado dos dez mil servidores.
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Claudio Dantas Sequeira e Josie Jeronimo
No IstoÉ

Atenção: não dê dinheiro aos ricos. Isso os torna vagabundos



Leonardo Sakamoto, Blog do Sakamoto

“Vou voltar a um tema que eu adoro. Considerando que a renda do capital segue estratosfericamente maior que a do trabalho e os recursos usados para o pagamento de juros são bem maiores que os aplicados em programas sociais (em todos os governos, de FHC a Dilma), fico extremamente incomodado quando ouço ou leio pessoas reclamando que “dar dinheiro aos pobres os torna vagabundos”.

É engraçado que ninguém reclama do dinheiro que vai às classes mais abastadas, que investem em fundos baseados na dívida pública federal. Grosso modo, muito vai para poucos e pouco vai para muitos. E, mesmo assim, sou obrigado a ouvir pérolas quase que diariamente, reclamando dos programas de transferência de renda, não no sentido de melhorá-los, mas de extingui-los. É claro que é importante avançar na construção de “portas de saídas” para programas como o Bolsa-Família, gerando autonomia econômica. Mas a raiva com a qual essas iniciativas ainda vêm sendo tratadas por algumas pessoas me surpreende. Pessoal, supera! Não há partido político que vá se eleger com uma plataforma que cancele esses processos de transferência de renda. Isso já é política de Estado e não de governo.”

“Ah, mas minha tia tem uma amiga em que a empregada recebe o bolsa-família e, por isso, desistiu de trabalhar. Quer ficar no bem bom com o dinheiro público.” Quantos já ouviram coisas assim? Primeiro reduzindo todo um programa a uma única história. Segundo, uma história mal contada, pois é difícil imaginar que uma família consiga sobreviver com dignidade com um montante de renda não raro menor que uma garrafa de vinho paga pelo sujeito fino que decretou tal preconceito. Terceiro, para alguém preferir a segurança da mensalidade do programa do que um salário é que a remuneração deve ser baixa demais ou a garantia de permanência no emprego inexistente.
Este post não está criticando ou elogiando ninguém, mas tentando entender o que, além do preconceito, faz com que um cidadão que tenha um pouco mais na conta bancária acredite que pisar no andar de baixo é a solução para galgar ao andar de cima? E crer que o futuro de um país é feito uma Arca de Noé, com espaço para salvar pouca gente de um dilúvio iminente?
Para esse pessoal, é cada um por si e o Sobrenatural – proporcionalmente ao tamanho do dízimo deixado mensalmente – para todos. Fraternidade e solidariedade são palavras que significam “doação de calças velhas para vítimas de enchente”, “brinquedos usados repassados a orfanatos no Natal” ou “um DOC  limpa-consciência feito a alguma ONG”.
Nada sobre um esforço coletivo de buscar a dignidade para todos, com distribuição imediata (e não depois que o bolo crescer) da riqueza gerada no país. Crescimento produzido pelos mesmos trabalhadores que não desfrutam da maior parte de seus resultados. Porque, apenas teoricamente, todos nascem livres e iguais.
E se eu dissesse que “dar dinheiro aos ricos os torna vagabundos?” Por que usar a frase para os pobres é ser um “analista sensato da realidade” e usar a frase aos ricos é ser um “canalha de um comunista safado”?

sexta-feira, 10 de maio de 2013

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Brasil carinhoso sim! Quanto rancor e preconceito D. Martha!



   
Confesso que tentei me calar ao ler a “Carta da D. Martha destinada à presidente Dilma”. Carta carregada de rancor, preconceitos e soluções mágicas para o problema da pobreza nesse país. Mas, ao ver essa carta sendo compartilhada nas redes sociais por pessoas até bem intencionadas, não consegui me calar.

Para entendermos um texto é importante saber quem é o interlocutor e a quem se destina o mesmo, portanto antes de iniciar a resposta à carta propriamente dita, vamos a alguns esclarecimentos: D. Martha é agropecuarista, proprietária da Fazenda Água Limpa, próxima a Uberlândia, que produz milho, soja, melancia e sorgo  (um cereal de origem africana que serve para alimentação animal e para a produção de farinha, amido e álcool). Produto que além de importado para todo Brasil também é exportado para vários países, principalmente, à Argentina. (dados extraídos do site:http://uipi.com.br/noticias/policia/2010/06/15/diversidade-de-fauna-e-flora-na-fazenda-agua-limpa-mg/.) . Também é professora aposentada de MG.

Sua carta está sendo amplamente divulgada no “Blog do Antero”.  Para quem não sabe o Blog pertence ao Sr. Antero Paes de Barros, é jornalista e político, atua no PSDB,  já foi vereador de Cuiabá,  Secretário-chefe da casa civil de Mato Grosso, Secretário  de Comunicação Social do Mato Grosso, deputado federal e senador da República (1999/2006).  

Eu, Mirtes Lessio Castro, 44 anos, professora de História, Pedagoga, especialista em Gestão Educacional, atuo como coordenadora pedagógica numa escola de Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública do Estado de São Paulo.
Bom, vou começar colocando a carta da D. Martha e fazendo algumas colocações pessoais que acho pertinentes à reflexão.
“Bom dia, dona Dilma!
Eu também assisti ao seu pronunciamento risonho e maternal na véspera do Dia das Mães. Como cidadã da classe média, mãe, avó e bisavó, pagadora de impostos escorchantes descontados na fonte no meu contracheque de professora aposentada da rede pública mineira e em cada Nota Fiscal Avulsa de Produtora Rural, fiquei preocupada com o anúncio do BRASIL CARINHOSO.
Brincando de mamãe Noel, dona Dilma? Em ano de eleição municipalista? Faça-me o favor, senhora presidentA! É preciso que o Brasil crie um mecanismo bastante severo de controle dos impulsos eleitoreiros dos seus executivos (presidente da república, governador e prefeito) para que as matracas de fazer voto sejam banidas da História do Brasil. 
Setenta reais per capita para as famílias miseráveis que têm filhos entre 0 a 06 anos foi um gesto bastante generoso que vai estimular o convívio familiar destas pessoas, porque elas irão, com certeza, reunir sob o mesmo teto o maior número de dependentes para engordar sua renda. Por outro lado mulheres e homens miseráveis irão correndo para a cama produzir filhos de cinco em cinco anos. Este é, sem dúvida, um plano quinquenal engenhoso de estímulo à vagabundagem, claramente expresso nas diversas bolsas-esmola do governo do PT.”

D. Martha, é importante lembrar que todos brasileiros pagam impostos, inclusive os pobres. Aqueles que não os tem retido na fonte por não terem empregos formais, pagam ao comprar um pãozinho, um arroz, ou seja lá o que for, até os cidadãos que recebem a bolsa família pagam impostos. Vale lembrar que ao diminuir o imposto pago pelos produtores e empresários dos produtos que compõem a cesta básica esperava-se que preço ao consumidor diminuísse o que não ocorreu. Todos reclamamos de pagar tantos impostos no Brasil, empresários sempre responsabilizam os impostos pelos preços exorbitantes que pagamos nos nossos produtos, quando há qualquer aumento de imposto, no dia seguinte as mercadorias já estão todas remarcadas, mas o mesmo não ocorreu ao vermos os impostos sendo reduzidos. Por que D. Martha? Por que não cobramos que empresários e produtores diminuam suas taxas de lucros para que possamos ter um país mais justo? É mais fácil responsabilizar o governo por todas as mazelas, não é mesmo?
Agora imaginar que setenta reais per capita farão com que os miseráveis corram para produzir mais filhos é um tanto quanto exagerado, não é? Sugiro até que a senhora leia um artigo publicado no site “O Globo” (http://oglobo.globo.com/pais/bolsa-familia-mais-de-16-milhao-de-casas-abriram-mao-do-beneficio-8312947) que destaca o fato de 1 milhão e 690 mil famílias terem aberto mão de receber a bolsa família. Sabemos que há falhas no sistema, mas achar que todos os beneficiados por bolsas tornam-se vagabundos crônicos é de uma falta de conhecimento da realidade da grande maioria do povo brasileiro que é trabalhadora e que quer ter condições mínimas de viver com dignidade sem precisar de esmolas de ninguém. D. Martha, temos que tomar cuidado com generalizações,  vagabundos existem em todas as classes sociais, há pobres vagabundos assim como há ricos vagabundos, ou a senhora não conhece nenhum jovem rico, ganhador da “bolsa herança” que nada faz para  manter o patrimônio da família ou para o bem da sociedade? Muitos não é mesmo? Pois é, vagabundagem não está relacionada à riqueza ou pobreza e sim a caráter. E de uma coisa eu tenho certeza, a maioria da população pobre e miserável desse país tem caráter.

 “É muito fácil dar bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer gracinha, jogar para a plateia. É fácil e é um sintoma evidente de que se trabalha (que se governa, no seu caso) irresponsavelmente. Não falo pelos outros, dona Dilma. Falo por mim. Não votei na senhora. Sou bastante madura, bastante politizada, sobrevivente da ditadura militar e radicalmente nacionalista. Eu jamais votei nem votarei num petista, simplesmente porque a cartilha doutrinária do PT é raivosa e burra. E o governo é paternalista, provedor, pragmático no mau sentido, e delirante. Vocês são adeptos do quanto pior, melhor. São discricionários, praticantes do bullying mais indecente da História do Brasil. Em 1988 a Assembleia Nacional Constituinte, numa queda-de-braço espetacular, legou ao Brasil uma Carta Magna bastante democrática e moderna. No seu Art. 5º está escrito que todos são iguais perante a lei*. Aí, quando o PT foi ao paraíso, ele completou esta disposição, enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras de imposto seu modus governandi a partir do qual todos são iguais perante a lei, menos os que são diferentes: os beneficiários das cotas e das bolsas-esmola. A partir de vocês. Sr. Luís Inácio e dona Dilma, negro é negro, pobre é pobre e miserável é miserável. E a Constituição que vá para a pqp.”

É D. Martha, lendo seu texto, dá para perceber que a senhora não votou na Dilma, nem no Lula, nem em qualquer político ligado ao PT, ideologias políticas de cada cidadão tem muito a ver com a realidade de vida de cada um. E isso deve ser respeitado, afinal esse é um dos benefícios da democracia, a existência e respeito à diversidade de idéias e posições políticas.  Só não entendo esse discurso raivoso, sim raivoso é seu discurso e não a política implantada pelo PT . Aconselho a senhora a abrir os olhos para enxergar além dos seus acres de terra . Leia este artigo “Brasil atinge menor nível de desigualdade social desde 1960” -http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,brasil-atinge-menor-nivel-de-desigualdade-social-desde-1960,105210,0.htm.  Que mostra resultados da pesquisa realizada pela FGV , nas quais constatou-se a melhora das condições de vida de grande parte da população brasileira  e ressalta também  que apesar disso ainda estamos entre os 12 piores países no que se trata de desigualdade social, portanto D. Martha, ainda há muito o que ser feito. Outro dado importante dessa pesquisa é que  “na última década a renda dos 50% mais pobres do Brasil cresceu 68%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu apenas 10%. ” Deu para entender a lógica desses dados, não é D.Martha? Lhe pergunto, será que é por isso que há uma elite tão raivosa contra esse governo?
Sim, D.Martha, a Constituição de 1988 tem como um de seus princípios a igualdade de todos perante a lei, mas não foi o Lula ou a Dilma que rasgaram a Constituição e sim a realidade aviltante em que vivem milhões de brasileiros. Em que país a senhora vive? A Senhora realmente acredita que todos são iguais de fato perante a lei? Faça uma visitinha aos presídios, aos prostíbulos, às favelas, aos hospitais do SUS, abra os olhos e veja que “uns são mais iguais que outros” perante a lei, principalmente aqueles que detem o poder econômico. E mais uma vez, D.Martha a senhora fala dos beneficiários das cotas e bolsas como seres desprezíveis que estariam “mamando nas tetas” do governo com dinheiro pago pelas camadas pagadoras de impostos , não sei se é para rir ou chorar, afinal como já expus acima todos pagamos impostos, até mesmo os beneficiários das bolsas. 
“Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras, colocaram-nos no tronco, como eu faço com o meu gado, e os marcaram com ferro quente, para não deixar dúvida d e que são mal-nascidos. Não fizeram propriamente uma exclusão, mas fizeram, com certeza, publicamente, uma apartação étnica e social. E o PROUNI se transformou num balcão de empréstimo pró escolas superiores particulares de qualidade bem duvidosa, convalidadas pelo Ministério de Educação. Faculdades capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam ter sido fechadas a bem da moralidade, da ética e da saúde intelectual, empresarial, cultural e política do País. A Câmara Federal endoidou?
O Senado endoidou? O STJ endoidou? O ex-presidente e a atual presidentA endoidaram? Na década de 60 e 70 a gente lutou por uma escola de qualidade, laica, gratuita e democrática. A senhora disse que estava lá, nesta trincheira, se esqueceu disto, dona Dilma? Oi, por favor, alguém pare o trem que eu quero descer!
Uma escola pública decente, realista, sintonizada com um País empreendedor, com uma grade curricular objetiva, com professores bem remunerados, bem preparados, orgulhosos da carreira, felizes, é disto que o Brasil precisa. Para ontem. De ensino técnico, profissionalizante.
Para ontem. Nossa grade curricular é tão superficial e supérflua, que o aluno chega ao final do ensino médio incapaz de conjugar um verbo, incapaz de localizar a oração principal de um período composto por coordenação. Não sabe tabuada. Não sabe regra de três. Não sabe calcular juros. Não sabe o nome dos Estados nem de suas capitais. Em casa não sabe consertar o ferro de passar roupa. Não é capaz de
fritar um ovo. O estudante e a estudantA brasileiros só servem para prestar vestibular, para mais nada. E tomar bomba, o que é mais triste. Nossos meninos e jovens leem (quando leem), mas não compreendem o que leram. Estamos na rabeira do mundo, dona Dilma. Acorde! Digo isto com conhecimento de causa porque domino o assunto. Fui a vida toda professora regente da escola pública mineira, por opção política
e ideológica, apesar da humilhação a que Minas submete seus professores. A educação de Minas é uma vergonha, a senhora é mineira (é?), sabe disto tanto quanto eu. Meu contracheque confirma o que estou informando.”


 D.Martha, não há necessidade de ferro quente a marcar os mal-nascidos nesse país. A labuta do dia a dia dessas pessoas já deixa marcas profundas no corpo e na alma dos mesmos. Sobre a proliferação de cursos superiores de qualidade duvidosa, me lembro muito bem que se iniciou na gestão do Ministro da Educação Paulo Renato de Souza, no governo FHC, com um projeto de ampliar a oferta do Ensino Superior, e concordo que ainda é um problema afinal a cada dia vemos uma “faculdade” de qualidade duvidosa  abrindo as portas. Mas, tenho que ressaltar que em 8 anos de governo Lula foram abertas 14 Universidades Federais no Brasil (nos 8 anos de FHC esse número é zero). E em relação ao Prouni, vale destacar que essas “faculdadezinhas” que abrem em cada esquina não oferecem bolsas do Prouni, a Universidade para ter direito de oferecer essa bolsa deve contemplar uma série de requisitos impostos pelo MEC, entre eles o número de professores mestres e doutores, nota mínima no ENAD etc. Além disso, posso falar com conhecimento de causa, pois trabalho em escola pública em que 80% dos concluintes de Ensino Médio vão para Universidade graças ao PROUNI, se não fosse essa bolsa  milhares de jovens encerrariam seus estudos no Ensino Médio.
Uma escola pública decente é o que todos nós queremos. Que um dia não haja necessidade de cotas e bolsas é que todos nós queremos. Mas o que fazer com essas gerações de jovens e crianças que enfrentam a realidade de um sistema educacional que continua excludente?  Deixá-los à própria sorte e responsabilizá-los pelo possível fracasso profissional?
Defendes o Ensino Técnico e profissionalizante para todos, não é? Para pobres e ricos? Ou Ensino técnico e profissionalizante para os pobres e meios acadêmicos/universitários para os filhos das classes mais abastadas? Só para refletir!
Sobre a questão da valorização do magistério e humilhação que nós professores enfrentamos no nosso dia a dia compartilho de vossa indignação, mas nossa luta tem que ser voltada para os gestores da educação nos estados, essa é uma prerrogativa de uma república federativa, os estados da federação  gerem, segundo suas próprias normas (sem ferir a LDB 9394/96)  a educação, criam suas normas e planos de carreiras e pelo que bem sei, tanto Minas quanto São Paulo são governados pelo PSDB há bastante tempo.

Seu presente para as mães miseráveis seria muito mais aplaudido se anunciasse apenas duas decisões: um programa nacional de planejamento familiar a partir do seu exemplo, como mãe de uma única filha, e uma escola de um turno só, de doze horas. Não sabe como fazer isto? Eu ajudo. Releia Josué de Castro, A GEOGRAFIA DA FOME. Releia Anísio Teixeira. Releia tudo de Darcy Ribeiro. Revisite os governos gaúcho e
fluminense de seu meio-conterrâneo e companheiro de PDT, Leonel Brizola. Convide o senador Cristovam Buarque para um café-amigo, mesmo que a Casa Civil torça o nariz. Ele tem o mapa da mina. A senhora se lembra dos CIEPs? É disto que o Brasil precisa. De escola em tempo integral, igual para as crianças e adolescentes de todas as camadas, miseráveis ou milionárias. Escola com quatro refeições
diárias, escova de dente e banho. E aulas objetivas, evidentemente. Com biblioteca, auditório e natação. Com um jardim bem cuidado, sombreado, prazeroso. Com uma baita horta, para aprendizado dos alunos e abastecimento da cantina. Escola adequada para os de zero a seis, para estudantes de ensino fundamental e para os de ensino médio, em instalações individuais para um máximo de quinhentos alunos por prédio. Escola no bairro, virando a esquina de casa. De zero a dezessete anos. Dê um pulinho na Finlândia,
dona Dilma. No aero lula dá pra chegar num piscar de olhos. Vá até lá ver como se gerencia a educação pública com responsabilidade e resultado. Enquanto os finlandeses amam a escola, os brasileiros a depredam. Lá eles permanecem. Aqui a evasão é exorbitante.
Educação custa caro? Depende do ponto de vista de quem analisa. Só que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser feita por qualquer gestor minimamente sério e minimamente inteligente. Povo educado ganha mais, consome mais, come mais corretamente, adoece menos e recolhe mais imposto para as burras dos governos. Vale à pena investir mais em educação do que em caridade, pelo
menos assim penso eu, materialista convicta.´


Sim, D. Martha. Uma política de planejamento familiar é uma boa, as políticas públicas de vários municípios que fazem atendimento em domicílios juntamente com os postos de saúde devem ter essa preocupação de orientação e ajuda às famílias no que se trata de planejamento familiar. Mais uma vez devemos cobrar daqueles que devem ser cobrados, a senhora já participou de alguma reunião dos Conselhos Municipais de Saúde do seu Município? Aqui em Ubatuba (SP) na atual gestão,  que é do PT, conselhos são formados e a população é chamada para debater e opinar e também cobrar, por que não, políticas públicas de seu interesse.
Sim, mais uma vez voltamos no que trata a questão da educação que nos é tão carente. O projeto dos CIEP’s do Sr. Leonel Brizola foi duramente criticado como proposta populista pelos opositores do mesmo, que aliás são os mesmos que hoje gostam de “bater” em Lula. Os CEU’s implantados em São Paulo na gestão Marta Suplicy tinham esse mesmo formato, esse mesmo projeto que a senhora tão bem defende no seu texto. Mas, também sofreu forte oposição daqueles que perceberam que o sucesso desse projeto significaria a permanência dela no poder. Então, percebemos que infelizmente, nesse nosso Brasil, muitos políticos fazem apenas politicagem, lutam apenas pela manutenção do poder e não pelo interesse da população. Por isso, é tão urgente uma reforma política nesse país, reforma esta que já havia sido prometida por João Goulart antes do Golpe e que ficou engavetada até o governo Lula que ao tentar  retomar essa pauta de discussão  foi rejeitada  pelos nobres congressistas.
Ah! D. Martha, comparar o Brasil com a Finlândia é covardia, não é? A Finlândia tem 5,5 milhões de habitantes, nós temos mais de 200 milhões. A Finlândia possui um dos mais altos índices de IDH (índice de desenvolvimento humano) do mundo, a renda per capita é de 35.400 dólares, nossa média de renda per capita é de 10.300 dólares.  A educação na Finlândia é pública, embora não sejam proibidas as escolas particulares lá não conseguem se sustentar, pois as escolas públicas são de qualidade extrema, inclusive todas as 20 (!!) universidades do país são públicas. Sugestão a todos que pesquisem a política social na Finlândia antes de compará-la ao Brasil . É uma comparação tão desproposital. Fica a sugestão de pesquisa:    http://www.europarl.europa.eu/workingpapers/soci/w9/default_pt.htm.   D. Martha tenho certeza que a presidente Dilma também sabe da importância de se investir em educação, aliás, é dela o projeto para que o dinheiro dos Royalties do petróleo sejam todos investidos em educação, o que nosso congresso também está barrando. Mas, um cidadão sem comida no prato,  não consegue estudar, não consegue trabalhar, não consegue nada. A senhora sabe o que é fome? Eu nunca senti, no máximo tive apetite, mas fome de não ter o que comer, de ir para escola somente para comer merenda como vejo muitos de meus alunos fazerem, isso nunca senti, e acredito que a senhora também não. Gosto daquele ditado popular “é preciso ensinar a pescar e não dar o peixe” com o qual concordo, mas temos que levar em conta que uma pessoa em estado de miséria não tem forças para pescar, primeiro tem que saciar a fome e depois dar as condições para que ela pesque seu peixe sozinha, esse é o cerne das políticas assistencialistas tão criticadas pela senhora.

Senhora PresidentA, mesmo não tendo votado na senhora, torço pelo sucesso do seu governo como mulher e como cidadã. Mas a maior torcida é para que não lhe falte discernimento, saúde nem coragem para empunhar o chicote e bater forte, se for preciso.
A primeira chibatada é o seu veto a este Código Florestal, que ainda está muito ruim, precisado de muito amadurecimento e aprendizado. O planeta terra é muito mais importante do que o lucro do agronegócio e a histeria da reforma agrária fajuta que vocês estão promovendo.
Sou fazendeira e ao mesmo tempo educadora ambiental. Exatamente por isto não perco a sensatez. Deixe o Congresso pensar um pouco mais, afinal, pensar não dói e eles estão em Brasília, bem instalados e bem remunerados, para isto mesmo. E acautele-se durante o processo eleitoral que se aproxima. Pega mal quando um político usa a máquina para beneficiar seu partido e sua base aliada.
Outros usaram? E daí? A senhora não é os outros. A senhora á a senhora, eleita pelo povo brasileiro para ser a presidentA do Brasil, e não a presidentA de um partidinho de aluguel, qualquer. Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Sei disto, é claro.
Assim mesmo vou aconselhá-la a pedir desculpas às outras mães excluídas do seu presente: as mães da classe média baixa, da classe média média, da classe média alta, e da classe dominante, sabe por quê? Porque somos nós, com marido ou sem marido, que, junto com os homens produtivos, geradores de empregos, pagadores de impostos, sustentamos a carruagem milionária e a corte
perdulária do seu governo tendencioso, refém do PT e da base aliada oportunista e voraz. 
A senhora, confinada no seu palácio, conhece ao vivo os beneficiários da Bolsa-família? Os muitos que eu conheço se recusam a aceitar qualquer trabalho de carteira assinada, por medo de perder o benefício. Estou firmemente convencida de que este novo programa, BRASIL CARINHOSO, além de não solucionar o problema de ninguém, ainda tem o condão de produzir uma casta inoperante, parasita social, sem qualificação profissional, que não levará nosso País a lugar nenhum. E, o que é mais grave, com o excesso de propaganda institucional feita incessantemente pelo governo petista na última década, o Brasil está na mira dos desempregados do mundo inteiro, a maioria qualificada, que entrarão por todas as portas e ocuparão todos os empregos disponíveis, se contentando até mesmo com a informalidade. E aí os brasileiros e brasileira vão ficar chupando prego, entregues ao deus-dará, na ociosidade que os levará à delinquência e às drogas.”

D. Martha, sobre o veto ao código florestal, concordo que deve haver mais esclarecimento e debate sobre o assunto.
Peço licença para  chamar-lhe a atenção D. Martha, mas a senhora fez uma alusão em sua carta que a nossa presidente governa para um “partidinho de aluguel”, esse é discurso amargurado de quem não tem argumentos para defender suas teorias. Não precisa gostar das propostas do PT, pode discordar e debater seus projetos de governo, aliás, é  na diversidade que aprendemos, que crescemos, mas chamar um dos maiores e mais importantes partidos de nossa história de “partidinho de aluguel” mostra todo o preconceito arraigado na senhora em relação ao partido. Preconceito nunca é positivo. Coisa Feia!
Não me senti excluída do presente do dia das mães, confesso que fiquei emocionada com o discurso de nossa presidente, senti que ali havia uma grande estadista e grande mulher que olha com carinho e discernimento necessário para aqueles que mais sofrem nesse país. E confesso que, como assalariada que sou, fiquei esperançosa de ver os preços da cesta básica caírem, isso faria uma grande diferença no meu orçamento familiar, mas como já relatei acima isso não aconteceu e não foi por má vontade do governo, não é?
Ah! D. Martha, mais uma vez o ataque voraz aos programas sociais do governo. Eu particularmente conheço muitos beneficiados do bolsa-família, são pais e mães de meus alunos, e são trabalhadores, pessoas honestas e batalhadoras, mas que ainda precisam da ajuda do bolsa-família para dar uma vida um pouco mais digna a seus filhos. Mas , para ajudá-la a refletir sobre os projetos sociais do governo, com base em dados concretos e não em visões preconceituosas ou maniqueístas sugiro a leitura deste artigo produzido após relatório da ONU que elogia as ações sociais brasileiras e sugerem que elas sejam seguidas por outros países em igual ou pior situação de miséria. Entenda D. Martha, que não são para Finlândia.http://www.valor.com.br/brasil/3045518/acoes-sociais-fazem-relevancia-do-brasil-crescer-no-exterior-diz-onu


“Quem cala, consente. Eu não me calo. Aos setenta e quatro anos, o que eu mais queria era poder envelhecer despreocupada, apesar da pancadaria de 1964. Isto não está sendo possível. Apesar de ter lutado a vida toda para criar meus cinco filhos, de ter educado milhares de alunos na rede pública, o País que eu vou legar aos meus descendentes ainda está na estaca zero, com uma legislação
que deu a todos a obrigação de votar e o direito de votar e ser votado, mas gostou da sacanagem de manter a maioria silenciosa no ostracismo social, alienada e desinteressada de enfrentar o desafio de lutar por um lugar ao sol, de ganhar o pão com o suor do seu rosto. Sem dignidade, mas com um título de eleitor na mão, pronto para depositar um voto na urna, a favor do político paizão/mãezona que lhe dá alguma coisa. Dar o peixe, ao invés de ensinar a pescar, est a foi a escolha de vocês. 
A senhora não pediu minha opinião, mas vai mandar a fatura para eu pagar. Vai. Tomou esta decisão sem me consultar. Num país com taxa de crescimento industrial abaixo de zero, eu, agropecuarista, burro-de-carga brasileiro, me dou o direito de pensar em voz alta e o dever de me colocar publicamente contra este cafuné na cabeça dos miseráveis. Vocês não chegaram ao poder agora. Já faz nove anos, pense bem! Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola, o bolsa-família, o vale-gás, as ONGs fajutas e outras esmolas que tais. Esta sangria nos cofres públicos não salvou ninguém? Não refrescou niente? Gostaria que a senhora me mandasse o mapeamento do Brasil miserável e uma cópia dos estudos feitos para avaliar o quantitativo de miseráveis apurado pelo Palácio do Planalto antes do anúncio do BRASIL CARINHOSO. Quero fazer uma continha de multiplicar e outra de dividir, só para saber qual a parte que me toca nesta chamada de capital. Democracia é isto, minha cara. Transparência.   Não ofende. Não dói.”

Mais do mesmo, não é D. Martha? Novamente um discurso raivoso, preconceituoso e baseado no achismo e senso comum de uma elite que vive longe dos rincões desse país. Não vou cometer o mesmo erro e usar os mesmos argumentos já apresentados anteriormente. Só quero ressaltar que há uma crise mundial e o Brasil tem conseguido enfrentá-la muito bem, aliás, não foi à toa a escolha de um brasileiro para presidir a OMC, fato inédito na história dessa instituição. As taxas de crescimento do país e da produção industrial apresentam boas perspectivas, veja as projeções feitas a partir dos índices apresentados até o momento no sitehttp://economia.estadao.com.br/noticias/economia-brasil,analistas-mantem-projecao-para-crescimento-em-2013,149035,0.htm.

 Ah, antes que eu me esqueça, a palavra certa é PRESIDENTE. Não sou impertinente nem desrespeitosa, sou apenas professora de latim, francês e português. Por favor, corrija esta informação. Se eu mandar esta correspondência pelo correio, talvez ela pare na Casa Civil ou nas mãos de algum assessor censor e a senhora nunca saberá que desagradou alguém em algum lugar. Então vai pela internet. Com pessoas públicas a gente fala publicamente para que alguém, ciente, discorde ou concorde. O contraditório é muito saudável. Não gostei e desaprovo o BRASIL CARINHOSO. Até o nome me incomoda. R$2,00 (dois reais) por dia para cada familiar de quem tem em casa uma criança de zero a seis anos, é uma esmolinha bem insignificante, bem insultuosa, não é não, dona Dilma? Carinho de presidentA da república do Brasil neste momento, no meu conceito, é uma campanha institucional a favor da vasectomia e da laqueadura em quem já produziu dois filhos. É mais creche institucional e laica. Mais escola pública e laica em tempo integral com quatro refeições diárias. É professor dentro da sala de aula, do laboratório, competente e bem remunerado. É ensino profissionalizante e gente capacitada para o mercado de trabalho.”


D. Martha, a senhora tem toda razão, o correto é PRESIDENTE e não Presidenta, mas peço liberdade poética para a senhora e para outros doutos da Língua Portuguesa para chamar minha presidente de Presidenta, ela merece esse carinho meu.
Campanha Institucional a favor da vasectomia e laqueadura? Em todos os lares ou só nos dos pobres? A senhora teve cinco filhos, não é mesmo? Minha mãe também, aliás,  sou a 4ª filha, se isso já existisse em 1969 eu não estaria te respondendo essa carta, seria uma alívio para muitos não? Tudo bem,  acho que compreendi que a senhora se refere ao projeto de planejamento familiar, não é mesmo? Nisso ambas concordamos, é necessária política pública séria nesse sentido, mas propor vasectomia e laqueadura me remete a soluções fascistas para resolver questões sociais.
Mais creches, mais escolas, todas públicas, laicas e com qualidade é o que todos queremos. Concordo com a senhora!

Eu podia vociferar contra os descalabros do poder público, fazer da corrupção escandalosa o meu assunto para esta catilinária. Mas não. Prefiro me ocupar de algo mais grave, muitíssimo mais grave, que é um desvio de conduta de líderes políticos desonestos chamado populismo, utilizado para destruir a dignidade da massa ignara. Aliciar as classes sociais menos favorecidas é indecente e profundamente desonesto. Eles são ingênuos, pobres de espírito, analfabetos, excluídos? Os miseráveis são. Mas votam, como
qualquer cidadão produtivo, pagador de impostos. Esta é a jogada. Suja. 
A televisão mostra ininterruptamente imagens de desespero social. Neste momento em todos os países, pobres, emergentes ou ricos, a população luta, grita, protesta, mata, morre, reivindicando oportunidade de trabalho. Enquanto isto, aqui no País das Maravilhas, a presidente risonha e ricamente produzida anuncia um programa de estímulo à vagabundagem. Estamos na contramão da História, dona Dilma!
Pode ter certeza de que a senhora conseguiu agredir a inteligência da minoria de brasileiros e brasileiras que mourejam dia após dia para sustentar a máquina extraviada do governo petista.
Último lembrete: a pobreza é uma consequência da esmola. Corta a esmola que a pobreza acaba, como dois mais dois são quatro. Não me leve a mal por este protesto público. Tenho obrigação de protestar, sabe por quê? Porque, de cada delírio seu, quem paga a conta sou eu.”

Esta catilinária deveria sim ser para denunciar a corrupção desse país que é uma das maiores do mundo. Mas não! A senhora prefere responsabilizar os projetos de inclusão social como a verdadeira mazela desse país. Minha senhora, seu discurso todo culpa o pobre pela pobreza, culpa a esmola pela pobreza. Desculpe-me, com todo o respeito pela sua idade e sua trajetória de vida, sinto lhe dizer que, ou a senhora é mal intencionada, o que não quero acreditar, ou falta-lhe visão de mundo e conhecimento histórico. Sua frase “corta a esmola que a pobreza acaba” me fez rir, afinal há 500 anos o Brasil tem pobreza, desde o início de nossa colonização já se formaram os grupos sociais bem nítidos de exploradores e explorados o que só tendeu a crescer no decorrer dos séculos. A pobreza no Brasil não é fruto do Lula ou da Dilma, nem do FHC, é histórica e deve ser combatida com políticas sérias de inclusão social e um primeiro passo, que deverá vir acompanhado de investimentos em educação, saúde, cultura etc., são as políticas assistencialistas, é emergencial. Aliás, proponho uma reflexão em sua frase: se é a esmola que gera a pobreza, alguns países da África, ou o Haiti,  são como são por que recebem esmolas?
Pesquise mais sobre o assunto, fica a dica!
 Hoje li um artigo num blog sobre a questão da desigualdade social na  Holanda e a questão da violência que sugiro que a senhora leia, vale a penahttp://blog.daniduc.net/2009/09/14/da-relacao-direta-entre-ter-de-limpar-seu-banheiro-voce-mesmo-e-poder-abrir-sem-medo-um-mac-book-no-onibus/
D. Martha, não leve a mal minha resposta pública. Sei que sua carta não é endereçada a mim, mas ao partilhá-la na internet ela se torna um documento público, portanto passível de contestação.


Professora Mirtes L. Castro