Comprometimento do PSD com o governo, representado pela ida do vice-governador paulista para a administração federal, aumenta poderio do rolo compressor dilmista no Congresso; pavimentação de caminho suave para 2014 tem vetores em todos os Estados; tucanos de São Paulo saem perdendo com manobra da presidente; ao tornar Guilherme Afif ministro, Dilma marcou um golaço contra seus adversários mais temidos; justo ela que, dizem em Brasília, mal sabe fazer política
É voz corrente: a presidente Dilma não dialoga, não articula, não sabe fazer política.
Mas será que é assim mesmo?
Ao iniciar a primeira semana completa do mês de maio com uma aquisição de peso, conquistada no campo conservador, para seu governo com viés de esquerda, Dilma mostrou que, de ingênua ou refratária às confabulações políticas, não tem mais nada – se é que algum dia teve.
A chegada do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, à administração federal, significa para a presidente uma cunha instalada bem no meio do mais importante bastião de poder dos tucanos do PSDB, apontando para o fortalecimento dos planos da própria Dilma em relação não apenas à sucessão estadual paulista, mas também à nacional. De quebra, a presidente atrai para sua equipe um político experimentado, capaz de produzir ideias de repercussão, ainda que, muitas vezes, ornamentais.
Afif, levado ao governo pela mão do ex-prefeito Gilberto Kassab, representa a reafirmação do PSD de 55 deputados federais na base de sustentação do governo Dilma no Congresso. Cincoenta e cinco parlamentares que se juntam aos 94 do PT, 85 do PMDB, 31 do PDT, 27 do PSB, 18 do PTB, 13 do PC do B e mais um punhado de outros alocados em legendas, digamos, amigas da presidente. Um rolo compressor pesado e mortal, capaz de esmagar, pela maioria e pelo voto, toda e qualquer oposição parlamentar.
Construção de soluções
A um ano e cinco meses das eleições presidenciais, Dilma poderá vir a ter problemas em várias áreas – na politização crescente do STF, na falta de entendimento dos poderes Legislativo e Judiciário, nos resultados da economia, nas distorções factuais promovidas pela mídia tradicional, na diplomacia global, enfim, em muito setores poderão ocorrer problemas --, mas na po-lí-ti-ca, assim dita destacadamente, a presidente vai abrindo uma distância inalcançável em relação aos principais adversários. É onde ela superou os problemas e construiu soluções. Ninguém tem mais aliados do que a presidente. Com tantos ao seu lado, vai provocando uma verdadeira asfixia na oposição. Dentro, absolutamente dentro das regras democráticas, entre as quais a de que o choro aos derrotados é livre.
A um ano e cinco meses das eleições presidenciais, Dilma poderá vir a ter problemas em várias áreas – na politização crescente do STF, na falta de entendimento dos poderes Legislativo e Judiciário, nos resultados da economia, nas distorções factuais promovidas pela mídia tradicional, na diplomacia global, enfim, em muito setores poderão ocorrer problemas --, mas na po-lí-ti-ca, assim dita destacadamente, a presidente vai abrindo uma distância inalcançável em relação aos principais adversários. É onde ela superou os problemas e construiu soluções. Ninguém tem mais aliados do que a presidente. Com tantos ao seu lado, vai provocando uma verdadeira asfixia na oposição. Dentro, absolutamente dentro das regras democráticas, entre as quais a de que o choro aos derrotados é livre.
O trator, como se queira, parlamentar de Dilma, formado em grande parte pela oferta de cargos a aliados – de resto, pratica exatamente tal e qual a tradição republicana do Brasil, acentuada nas administrações dos presidentes pós-ditadura militar José Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula (a exceção foi Fernando Collor, derrubado por impeachment) --, além da identidade ideológica de alguns, permite à primeira mandatária arar um caminho suave também nos Estados. Os palanques da candidata à reeleição estarão cheios de lideranças locais, enquanto os adversários de outros partidos terão dificuldades, em muitas unidades da Federação, até mesmo para ter candidatos competitivos a governador.
Completando um arco de alianças que vai de Afif e Kassab, na direita, ou melhor, que começa no primeiro mentor deles, o deputado Paulo Maluf, chefão do PP, aos comunistas do PC do B, no outro extrema, tendo ao centro o colchão de segurança representando pelo PMDB que passou a ter os presidentes da Câmara, Henrique Alves, e do Senado, Renan Calheiros, Dilma detém uma maioria que só é arranhada pela grita da minoria amplificada pela mídia – o que é democrático até o limite de incursões de corte golpistas aqui e ali.
Tucanos em saia justa
A situação, após a conquista do PSD pela presidente, ficou especialmente delicada para os tucanos paulistas. O cargo pode ser quase simbólico, mas o fato é que Afif é, goste-se ou não, o vice-governador de São Paulo, Estado mais poderoso da Federação. Chegou lá apoiado numa aliança dos tucanos com seus quase iguais do PSD, que agora se rompe. A partir da entrada de Afif no governo, o que vai se dar formalmente na quinta-feira 9, estará automaticamente nas ruas a campanha do ex-prefeito Gilberto Kassab ao governo paulista. Como sabia o presidente Jânio Quadros, que fez sua carreira em São Paulo, Kassab também é da opinião que é ótimo ser candidato. Se ganhar, melhor ainda. Se perder em primeiro turno, porém, já terá tirado votos da base do governador Alckmin no Estado, à medida em que lhe fará sombra no mesmo campo ideológico.
A situação, após a conquista do PSD pela presidente, ficou especialmente delicada para os tucanos paulistas. O cargo pode ser quase simbólico, mas o fato é que Afif é, goste-se ou não, o vice-governador de São Paulo, Estado mais poderoso da Federação. Chegou lá apoiado numa aliança dos tucanos com seus quase iguais do PSD, que agora se rompe. A partir da entrada de Afif no governo, o que vai se dar formalmente na quinta-feira 9, estará automaticamente nas ruas a campanha do ex-prefeito Gilberto Kassab ao governo paulista. Como sabia o presidente Jânio Quadros, que fez sua carreira em São Paulo, Kassab também é da opinião que é ótimo ser candidato. Se ganhar, melhor ainda. Se perder em primeiro turno, porém, já terá tirado votos da base do governador Alckmin no Estado, à medida em que lhe fará sombra no mesmo campo ideológico.
Saiba-se que faz parte do acordo com Dilma para fazer de Afif seU ministro o apoio de Kassab ao candidato petista que, imagina-se, chegue ao segundo turno contra, igualmente projeta-se, o governador Alckmin que tentará a reeleição. Sem seus úteis aliados do PSD, é claro que, hoje, os tucanos paulistas estão mais fracos do que estavam ontem. E tem mais: poderá Alckmin criticar a ida de Afif para o ministério, ele que tem no ex-presidente da Associação Comercial de São Paulo seu vice-governador e ex-secretário de Energia? A essa situação a que o governador foi instalado se chama de saia justa.
Cooptação altera cenário
Vai-se criticar Dilma, como já se lê pelos comentaristas de 247, por ter ido tão à direita completar seu ministério – que a revista Veja, um a um, vai contando até chegar a 40. Mas, na prática, não há estratégia melhor para a presidente, que quer vencer em 2014, como é natural, apesar da estranheza oposicionista. Nada mais pragmático, para quem não quer se isolar na esquerda, do que abrir as portas da administração para os quadros do centro e até da direita, desde que democráticos. Quando não há hegemonia, esse movimento está previsto na cartilha de qualquer político de esquerda. Hoje, afinal, os adversários de Dilma, que estão quase virando inimigos, lhe aparecem pela direita de seu retrovisor. E é ali mesmo que a presidente, manobrando politicamente, se defende, cooptando quadros para que sirvam de escudo contra seus iguais. A decisão, reconheça-se, é inteligente, tanto mais para uma representante de um partido famoso por seu exclusivismo, o canhoto PT.
Vai-se criticar Dilma, como já se lê pelos comentaristas de 247, por ter ido tão à direita completar seu ministério – que a revista Veja, um a um, vai contando até chegar a 40. Mas, na prática, não há estratégia melhor para a presidente, que quer vencer em 2014, como é natural, apesar da estranheza oposicionista. Nada mais pragmático, para quem não quer se isolar na esquerda, do que abrir as portas da administração para os quadros do centro e até da direita, desde que democráticos. Quando não há hegemonia, esse movimento está previsto na cartilha de qualquer político de esquerda. Hoje, afinal, os adversários de Dilma, que estão quase virando inimigos, lhe aparecem pela direita de seu retrovisor. E é ali mesmo que a presidente, manobrando politicamente, se defende, cooptando quadros para que sirvam de escudo contra seus iguais. A decisão, reconheça-se, é inteligente, tanto mais para uma representante de um partido famoso por seu exclusivismo, o canhoto PT.
À medida em que aumenta seu governo, arregimenta partidos e ganha apoio parlamentar, a presidente retira oxigênio da oposição. Nada muito diferente do que fizeram Sarney e FHC. Ou eles, por acaso, jogaram, no seus turnos, para que seus adversários crescessem e aparecessem?
Tudo o que os adversários de Dilma querem, para 2014, em condições normais de temperatura e pressão institucionais, é um quadro com muitos candidatos, para que o eleitorado se divida e surja o segundo turno, onde tudo pode acontecer contra a favorita de hoje. Adiantando-se ao cenário e procurando defini-lo ao seu feitio, estreitando a área de atuação oposicionista, a presidente mostra que sabe jogar o jogo que dizem que ela não sabe jogar. Mais que herdeira do craque Lula, Dilma demonstra que também dá seus dribles e marca seus próprios gols. Este último, um golaço.
No 247
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