sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

O MAR DE LAMA, DE OBSCURANTISMO, DE CORRUPÇÃO MESQUINHA E DE VIOLÊNCIA CRIMINOSA QUE NOS INUNDA


Em nosso país não há invasão do mar ou terremotos à vista. No entanto, vivemos uma situação trágica, motivada mais diretamente pela ação desumana de seres humanos.

O que era uma quadrilha de milicianos de quinta, que vivia de extorsão dos miseráveis dos bairros pobres do Rio e de pixulés arrancados de funcionários fantasmas e candidatos-laranjas, virou o governo. 

Marginais da ralé, aplaudidos pelos cúmplices que os homenageavam nas Câmaras de vereadores e deputados, integram uma quadrilha fascista com enorme poder destruidor.

Agora, além de depenar dinheiro público como já faziam às migalhas, pilotam um processo de destruição de direitos trabalhistas e previdenciários de milhões, enquanto vão soterrando a dignidade civilizatória das conquistas democráticas em todas as áreas, da sobrevivência das minorias à educação e a cultura.

O que fazer diante dessa tragédia? No terremoto da ditadura militar imperava o medo, não a alegria de viver; mas, ainda assim, houve resistência política e ímpetos de criação artística fora do controle oficial.

Mas foram 21 anos. Parece tempo demais para que o país sobreviva à atual corrida para o passado. Serão preciso diques fortes para segurar este mar —de lama, de obscurantismo, de corrupção mesquinha, de violência criminosa— que passou a nos inundar.
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(parágrafos finais do artigo A tragédia mora ao lado, de Josimar Melo, que discorre inicialmente sobre a paradoxal alegria de viver em cidades ameaçadas de sofrerem catástrofes naturais — Amsterdã e San Francisco — e encerra com a perda da alegria de viver num país devastado pelo fascismo dos desumanos)


Juiz bloqueia os bens de prefeito de Ubatuba em ação que investiga fraude em licitação de empresa de tecnologia

A medida foi expedida pelo juiz Diogo Volpe Gonçalves Soares, da 2ª Vara da Comarca de Ubatuba, que bloqueou os bens do prefeito por suspeita de fraude e superfaturamento em licitação.



O prefeito Délcio Jose Sato, juntamente com o secretário de Finanças e o ex-secretário de Administração, tiveram seus bens bloqueados liminarmente em medida que investiga fraudes e superfaturamento de contrato firmado com a empresa Prescon Ltda.
O Juiz Diogo Volpe Gonçalves Soares, da 2ª Vara da Comarca de Ubatuba, expediu na última sexta-feira, 29 de novembro, mandado liminar para bloquear os bens dos agentes públicos por suspeita de fraudar o pregão de número 92/2017, também investigado pelo procedimento do Tribunal de Contas. 
Deferindo a liminar Ação Civil Pública de n.1004677-12.2018.8.26.0642 e como medida de proteger o patrimônio público, os bens dos agentes públicos foram bloqueados.
O contrato, no valor de R$ 1.638,000 (Um milhão, seiscentos e trinta e oito mil reais) foi celebrado pela prefeitura e diversas vezes aditado nos anos subsequentes.
Com base no interesse público, o juiz determinou o bloqueio de bens dos réu e a sentença da ação, com base na lei de improbidade administrativa, pode culminar em cassação dos direitos políticos, perda da função pública e ressarcimento ao erário.
A mesma empresa está sendo investigada em outras 26 cidades da região pelo Ministério Público através do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado - GAECO. A suspeita do órgão é de superfaturamento na prestação de serviços de informática.
Segundo o GAECO, empresas de um mesmo grupo familiar, em conluio com outras empresas, fraudam licitações para o fornecimento de sistemas de informática para prefeituras e câmaras no Estado. Além do superfaturamento, as empresas também eram contratadas por serviços que não eram prestados.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

GASPARI SUGERE QUE MATANÇAS POLICIAIS POSSAM SER PROVOCAÇÕES GOLPISTAS


 
elio gaspari
O MUNDO IRREAL DE DORIA E GUEDES
Exatamente uma semana depois de a PM de Wilson Witzel ter sujado a festa do Flamengo, o governador João Doria disse no domingo (1º) que “São Paulo tem uma polícia preparada, equipada e bem informada”. 

Naquela hora, os corpos de nove jovens estavam no necrotério, pisoteados depois de uma entrada truculenta de sua PM num pancadão de Paraisópolis. Nas bancas e na rede, nesse mesmo domingo, estava também a entrevista do ministro Paulo Guedes à repórter Ana Clara Costa, na qual ele explicava o timing de suas reformas:
"Você dá pretexto para os outros fazerem bagunça. (...)  Chamar pra rua manifestação ordeira e pacífica, como a que fazem quase todo fim de semana, problema nenhum. Agora, chamar para a rua para fazer igual no Chile e quebrar tudo foi uma insanidade, irresponsabilidade"
Há algumas semanas o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, acompanhando uma ameaça vinda de um filho do presidente, havia cantado a pedra do perigo chileno como justificativa para um surto ditatorial: 
"Acho que, se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter".
É irresponsabilidade (ou desejo) trazer o espantalho chileno para a situação brasileira, e a tragédia de Paraisópolis, bem como a pancadaria da festa do Flamengo, mostram que nos dois casos a insanidade saiu da PM. Não é de hoje que isso acontece.

Em outubro do ano passado, durante a gestão do governador Márcio França, a PM entrou num pancadão de Guarulhos e três pessoas morreram em situação semelhante à de Paraisópolis. Doutor Dória poderia examinar a investigação do episódio de Guarulhos. Com uma polícia preparada, equipada e bem informada, deu em nada. 

Um morador de Paraisópolis contou que a PM “chegou jogando bombas de efeito moral”. Pode ser que não tenha sido assim, mas na noite de 13 de junho de 2013 a PM paulista bloqueou uma passeata que protestava contra o reajuste dos ônibus na esquina da rua da Consolação com a Maria Antonia. Quem estava lá viu que uns vinte policiais vieram do nada, jogando bombas de efeito moral. Aquela passeata era ordeira, convocada pelo Movimento Passe Livre e povoada por gente de tênis baratos e camisetas. 

Começavam as jornadas de 2013. Anos depois, as manifestações transmutaram-se e a presidente Dilma Rousseff foi deposta. [Vale lembrar que o governador tucano Geraldo Alckmin e o prefeito petista Fernando Haddad, do PT, que haviam reajustado as tarifas, estavam num evento em Paris, onde cantaram Trem das onze durante um jantar.]
Guedes teme que apareça gente quebrando tudo, mas, até agora, quem apareceu quebrando os outros foram policiais, em São Paulo e no Rio. Esse comportamento persiste pela garantia da impunidade.

Nas divagações chilenas de Guedes e do general Heleno insinuam-se paralelos de incitação política. Já que é assim, pode-se temer também que a incitação política venha de outro lado. 

Em 1968, ela vinha de um maluco chamado Aladino Félix. Antes que terroristas de esquerda começassem a assaltar bancos e a matar gente (naquele ano), ele roubava dinamite e armas. Assaltou pelo menos um banco, explodiu uma bomba na Bolsa e outra num oleoduto. 

Como era doido, não se pode acreditar na sua palavra quando dizia que estava ligado a um general da reserva que, por sua vez, teria conexões com o governo. Uma coisa é certa: no seu grupo estavam 14 soldados e sargentos da Força Pública de São Paulo, mais tarde transformada numa Polícia Militar.

Naqueles dias o governador de São Paulo, Abreu Sodré, denunciava uma conspiração nos "subúrbios do poder". (por Elio Gaspari)
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TOQUE DO EDITOR  Para quem não tiver entendido direito o que Elio Gaspari está insinuando, vou dar uma aclarada.

Em 1968 havia uma disputa acirrada nos bastidores do poder entre os militares que haviam dado o golpe (a corrente castellista, que pretendia devolver o poder, saneado, para os civis) e a linha dura (que queria continuar usufruindo as muitas vantagens obtidas por seus membros desde a instalação do arbítrio).

Então, paralelamente ao surgimento das primeiras ações de guerrilha urbana da esquerda, muito mais na linha da propaganda armada sem vítimas que da de "matar gente" (Gaspari sempre fez abordagens preconceituosas a tal respeito), entrou na história um guru picareta de extrema-direita, muito parecido com outro da atualidade.

A diferença é que o espertalhão daquele tempo saía na chuva para se molhar, ao contrário do atual, que delega a outros o serviço sujo e se mantém em total segurança no além-mar.

O charlatão anterior foi convencido pela linha dura a realizar atentados para criar o alarmismo propício à radicalização do regime; Gaspari sugere que matanças como a de Paraisópolis  têm exatamente a mesma finalidade.

Eis como evoquei a saga do guru picareta anterior num artigo de 2011:.

"...já houve um bizarro episódio histórico no Brasil envolvendo um debiloide obcecado por discos voadores e a extrema-direita.

Em 1968, os militares da chamada  linha dura  estavam empenhados em radicalizar ainda mais o regime, promovendo o fechamento total (que acabaria vindo com o AI-5). 

Então, incentivaram um lunático chamado Aladino Félix (foto ao lado), vulgo Sábado Dinotos, a efetuar ações armadas, espalhando para 
que elas fossem imputadas à esquerda. Uma versão tupiniquim do incêndio do Reichstag, enfim.

Liderando um bando de soldados e sargentos da Força Pública, a Polícia Militar da época, Félix foi responsável por 12 explosões de bombas e um assalto a banco. 

A ação mais espetaculosa: mandar pelos ares alguns carros do estacionamento localizado diante do prédio do Deops.

Os aprendizes de feiticeiro eram descuidados: uma unidade policial alheia ao esquema de acobertamento prendeu o guru.

E este, ao ser torturado, confessou que agira sob orientação do general Jayme Portela, chefe da Casa Militar da Presidência da República...
(por Celso Lungaretti)