sábado, 11 de agosto de 2018

Militância por aplicativo


“Uberização do trabalho: subsunção real da viração” é o título de artigo publicado por Ludmila Costhek Abílio no site Passa Palavra, em 19/02.

O texto é muito interessante e diz respeito ao que a autora chama de “empresas-aplicativo”. O maior exemplo é a Uber, mas há muitas outras surgindo.

Quase todas tentando ocultar atrás do que chamam de “microempreendedorismo” ou de “economia compartilhada”, o que é apenas uma informalização das relações de trabalho.

Por outro lado, “já surgiram novas formas de organização política, que envolvem a criação de sindicatos de aplicativos, greves e manifestações de trabalhadores uberizados”, diz ela.

Em 2016, por exemplo:

...motoristas Uber americanos (atualmente mais de 400 mil) juntaram-se a enfermeiras, trabalhadores do setor hoteleiro, entre outros, na campanha “Fight for US$15”, que demandava o pagamento mínimo de quinze dólares por hora de trabalho.

Motoboys paulistanos que trabalham para o aplicativo Loggi também “organizaram manifestação que interrompeu faixas da Marginal Pinheiros e da Av. Rebouças, contra a nova forma de remuneração por entrega implementada pela empresa”.

Além disso, “ciclistas-entregadores da empresa Foodora organizaram as primeiras greves de trabalhadores por aplicativos na Itália”.

Ainda segundo Ludmila:

...foram criados em 2016 o Sindicato dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo, a Associação dos Motoristas Autônomos por Aplicativos e Sindicato dos Motoristas de Transporte Privado Individual de Passageiros do Estado do Pernambuco.

Ou seja, a luta de classes também chegou ao Uber e a outras modernidades que escondem a velha exploração capitalista.

O problema é que muitos de nós não têm conseguido ir além da militância via aplicativos como Facebook e WhatsApp. Os exploradores curtem.

O que Trotsky diria sobre Bolsonaro e os golpistas?


Trotsky dizia que aprendeu tudo o que precisava saber sobre uma organização revolucionária com cinco trabalhadores.

Um deles sempre foi militante socialista. Um defensor intransigente dos oprimidos, à frente de qualquer luta dos explorados.

Outro era um reacionário nato. Havia nascido e morreria sendo um fura-greve. Depois de morto, se houvesse uma greve no céu, ele a combateria.

Mas os três trabalhadores restantes não eram nem revolucionários nem reacionários. Às vezes, eram influenciados por um, às vezes, por outro. Oscilavam entre os dois, sempre em disputa.

Segundo Trotsky um objetivo importante das organizações revolucionárias seria empurrar os trabalhadores do meio para perto dos militantes socialistas. Afastá-los o máximo possível da influência dos ultraconservadores de direita.

Em palavras simples e didáticas, o grande revolucionário russo estava descrevendo a boa e velha disputa de hegemonia.

Poderíamos usar essa imagem para o quadro eleitoral atual. Muitos dos eleitores declarados de Bolsonaro são reacionários natos. Mas não a maioria.

O mesmo pode ser dito daqueles milhões que foram às ruas pelo impeachment. Uma parte deles é formada por ultraconservadores incuráveis. Mas para a maioria, há alguma esperança.

Se tratarmos a todos como inimigos, estaremos empurrando o conjunto deles para perto dos setores reacionários.

É preciso aprender a dialogar com os “trabalhadores do meio” para disputar sua consciência política. Até porque sem eles, não haverá um processo de transformação envolvendo a grande maioria explorada e humilhada.

Mas, atenção, disputar hegemonia não é igual a participar de eleições. Reduzir a primeira à segunda significa, aí sim, render-se à hegemonia dos que controlam o sistema político dominante. Os mesmos que tornaram Bolsonaro viável.


Celular no modo boteco


O questionário CAGE consiste de quatro perguntas criadas para detectar problemas com alcoolismo. Mas ele pode ser utilizado para outras formas de dependência. Por exemplo:

- Você já tentou diminuir ou cortar ("Cut down") o uso do celular?
- Você já ficou incomodado ou irritado ("Annoyed") com outros porque criticaram seu jeito de lidar com o celular?
- Você já se sentiu culpado ("Guilty") por causa da forma como utiliza o celular?
- Você já teve que recorrer ao celular para aliviar os nervos ou reduzir os efeitos de uma ressaca ("Eye-opener")?

A sugestão inspira-se em entrevista de Catherine Price, autora do livro “Como largar o celular: Manual de Desintoxicação”. No depoimento publicado pelo portal Público, em 30/07/2018, ela fala sobre estratégias para reconquistar “o tempo que se perde ao celular”.

Mas dieta absoluta não adianta, diz a entrevistada. É preciso “criar uma nova relação” com o aparelho.

Certo. Mas, tal como no caso da bebida, a dependência não pode ser tratada apenas em nível individual. A relação que precisa ser renovada não é apenas com certas substâncias ou tecnologias. É com o mundo ao redor.

Segundo Catherine, o primeiro passo para uma vida melhor é “romper a relação amorosa com o celular”.

De novo, ela está correta. Mas os próximos passos deveriam caminhar em direção ao rompimento com outras relações nada amorosas. Principalmente, com as formas de exploração e opressão que, frequentemente, transformam prazeres e facilidades em vício e sofrimento.

Enquanto isso, e como é sexta-feira, que tal começar colocando o celular no “modo boteco” e celebrar com amigos e amores do melhor jeito possível?