A Folha de São Paulo deve estar se mordendo de inveja da entrevista que Lula concedeu ao jornal que lhe faz uma oposição muito mais cerrada e que, à diferença do diário da Barão de Limeira, assume-se como corporativo que é ao praticamente não dar espaço em suas páginas aos seus “adversários” intelectuais na política, sejam dos partidos ou meros leitores.
A esta altura, todos já leram ou ouviram a entrevista que o presidente deu ao Estadão.
Quem só leu o material, porém, perdeu muito, porque a transcrição não foi integral e assim, até por conta da entonação das palavras, não poderá captar o tom do que aconteceu no que, a meu ver, não foi uma entrevista, mas um debate, de maneira que não irei me ater tanto ao conteúdo desse debate, mas ao fato político em si.
E o fato político é o seguinte: cinco jornalistas “cobras-criadas” não conseguiram encurralar o presidente nem uma só vez, sem falar que ele lhes deu várias aulas sobre vários assuntos e um certo número de lições de moral.
Mas, para não dizerem que não falei de flores, querem saber qual foi a resposta que mais gostei entre as muitas que o presidente da República deu ao jornalão paulista do alto de todo o brilhantismo de seu enorme português coloquial? Foi esta:
Estadão – Há quem tenha ficado assustado com a foto do sr. abraçando o Collor, depois de tudo o que passou na campanha de 1989.
Lula – O exercício da democracia exige que você faça política em função da realidade que vive. O Collor foi eleito senador pelo voto livre e direto do povo de Alagoas, tanto quanto foi eleito qualquer outro parlamentar. Ele está exercendo uma função institucional e merece da minha parte o mesmo respeito que eu dou ao Pedro Simon, que de vez em quando faz oposição, ao Jarbas Vasconcelos, que faz oposição. Se o Lula for convidado para determinadas coisas, não irá. Mas o presidente tem função institucional. Portanto, cumpre essa função para o bem do País e, até agora, tem dado certo.
De resto, mesmo que não deixassem Lula concluir suas idéias sem interrupção, que debatessem com ele em vez de perguntar, ele os calava com a propriedade de suas palavras várias e várias vezes. Quando tentavam rir das ironias que acreditavam estar fazendo, o presidente os acuava com assuntos nos quais têm que usar luvas brancas, como FHC ou as privatizações.
Lula disse tudo. Levou o “bambambam” Ricardo Gandour à loucura ao dizer na cara dele que o Estadão não tinha sustentação jurídica para suas acusações a Sarney e que não havia censura nenhuma. O homem não parava de gaguejar.
O presidente ainda me esbanja tranqüilidade e confiança ao minimizar a culpa de Serra e de Kassab quanto às enchentes justo no momento em que os dois estão perdendo popularidade por conta do caos em São Paulo
Lula, meus caros, recusou-se a chutar adversários caídos, adversários que usam capangas para agredi-lo com virulência, fazendo até acusações como a daquele “filho do Brasil” lá da Folha, uma acusação que me fez colocar uma centena de pessoas diante do jornal no fim do ano passado para dizer umas poucas e boas àquela gente pelo desrespeito ao mínimo de ética no debate político.
Enfim, quero lhes dizer que em um dia em que andava meio desanimado, o show que Lula deu nesse debate (ou seria bate-boca?) com o Estadão me fez lembrar o por que de eu ter criado este blog, ou seja, por Lula ter me mostrado que um homem comum pode, sim, vencer barreiras supostamente intransponíveis e fazer a diferença.
Claro que jamais chegarei à sola do sapato de alguém como Lula, mas ele mostrou a todos os homens simples do povo que qualquer um tem o dever de tentar porque qualquer um pode vencer. No fim, tudo se resume àquela receita que Dona Lindu deu ao filho e que o filme sobre a vida desse fenômeno político mostrou recentemente: há que “teimar”.
Escrito por Eduardo Guimarães
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Lula em MS: nós vamos utilizar a Telebras para fazer banda larga
Na entrevista coletiva concedida pelo presidente Lula em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, ficou evidente a tentativa da imprensa em procurar pelo em ôvo, nas eternas tentativas de forjar escândalos.
As notícias que tem saído do governo sobre a Telebrás são estudos de cenários, que qualquer um pode fazer, e não informações confidenciais. Se tem gente especulando em Bolsa de Valores, é porque está correndo risco por conta própria, apostando no que pode acontecer ou não.
As ações valiam zero (1 centavo para ser exato, sem que ninguém comprasse), se voltaram a despertar interesse, é porque a empresa estava como uma obra parada que está sendo retomada. Mas não existe informação, nem confidencial, nem pública, sendo veiculada que possa garantir que as ações da empresa serão um bom negócio a determinado preço.
Se alguém está plantando boatos e ganhando dinheiro com especulação, cabe à CVM descobrir quem é. Em geral são os mesmos de sempre: gente como Daniel Dantas, Naji Nahas, e outros especuladores do mercado financeiro e dos bancos, velhos conhecidos dos demo-tucanos.
O objetivo do Plano Nacional de Banda Larga é levar internet barata ao cidadão e em regiões deficitárias, onde as teles não se interessam por não considerarem lucrativo. Isso não é um quadro de uma empresa que dará alta lucratividade. Pelo contrário, o papel da Telebrás estará mais voltado à curto prazo em atender ao interesse público e social, em vez de buscar lucro para acionistas.
Segue o trecho da entrevista, com a pergunta com base na tentativa da Folha de José Serra (jornal Folha de São Paulo) forjar um falso escândalo, sobre a valorização de ações da Telebras:
Jornalista: ... a valorização da Telebrás, as ações da Telebrás em seu governo foram excessivas, baseadas em informações que saíram de dentro do governo? Qual a sua avaliação, Presidente?
Presidente: Olha, primeiro não saiu informação de dentro do governo. No meu governo as ações de todas as empresas cresceram. Se o jornal que você trabalha, se o jornal que você trabalha tiver ações na bolsa, pode ficar certa de que ela cresceu muito também. Ou seja, cresceu...Se a CVM entende que houve o vazamento e por isso alguém foi privilegiado aí cabe a investigação.
Jornalista: O senhor não acha...
Presidente: Cabe a investigação.
Jornalista: ... o senhor tinha uma companhia ... que está inativa
Presidente: Não, veja. Primeiro se ela cresceu 35% para mim é novidade. Agora que ela vai crescer, vai. Porque nós vamos recuperar a Telebrás.
Jornalista: Presidente... como?
Presidente: ...porque nós vamos utilizar ela para fazer banda larga nesse país.
fonte: blog A P L
As notícias que tem saído do governo sobre a Telebrás são estudos de cenários, que qualquer um pode fazer, e não informações confidenciais. Se tem gente especulando em Bolsa de Valores, é porque está correndo risco por conta própria, apostando no que pode acontecer ou não.
As ações valiam zero (1 centavo para ser exato, sem que ninguém comprasse), se voltaram a despertar interesse, é porque a empresa estava como uma obra parada que está sendo retomada. Mas não existe informação, nem confidencial, nem pública, sendo veiculada que possa garantir que as ações da empresa serão um bom negócio a determinado preço.
Se alguém está plantando boatos e ganhando dinheiro com especulação, cabe à CVM descobrir quem é. Em geral são os mesmos de sempre: gente como Daniel Dantas, Naji Nahas, e outros especuladores do mercado financeiro e dos bancos, velhos conhecidos dos demo-tucanos.
O objetivo do Plano Nacional de Banda Larga é levar internet barata ao cidadão e em regiões deficitárias, onde as teles não se interessam por não considerarem lucrativo. Isso não é um quadro de uma empresa que dará alta lucratividade. Pelo contrário, o papel da Telebrás estará mais voltado à curto prazo em atender ao interesse público e social, em vez de buscar lucro para acionistas.
Segue o trecho da entrevista, com a pergunta com base na tentativa da Folha de José Serra (jornal Folha de São Paulo) forjar um falso escândalo, sobre a valorização de ações da Telebras:
Jornalista: ... a valorização da Telebrás, as ações da Telebrás em seu governo foram excessivas, baseadas em informações que saíram de dentro do governo? Qual a sua avaliação, Presidente?
Presidente: Olha, primeiro não saiu informação de dentro do governo. No meu governo as ações de todas as empresas cresceram. Se o jornal que você trabalha, se o jornal que você trabalha tiver ações na bolsa, pode ficar certa de que ela cresceu muito também. Ou seja, cresceu...Se a CVM entende que houve o vazamento e por isso alguém foi privilegiado aí cabe a investigação.
Jornalista: O senhor não acha...
Presidente: Cabe a investigação.
Jornalista: ... o senhor tinha uma companhia ... que está inativa
Presidente: Não, veja. Primeiro se ela cresceu 35% para mim é novidade. Agora que ela vai crescer, vai. Porque nós vamos recuperar a Telebrás.
Jornalista: Presidente... como?
Presidente: ...porque nós vamos utilizar ela para fazer banda larga nesse país.
fonte: blog A P L
Carcará nos Bandeirantes
por Sérgio Malbergier, na Folha Online
O maior erro da oposição venezuelana, e a concorrência ao título é enorme, foi o boicote às eleições de 2005. O resultado foi um controle total do Legislativo, armação perfeita para o golpe constitucional chavista.
Oposição fraca geralmente significa democracia fraca. No cenário mais extremo, a oposição no Brasil pode virar residual em 2011 se José Serra não concorrer à Presidência.
As coisas já estão pela hora da morte. A prisão de José Arruda é outro prego no caixão do DEM, que um dia sonhou ser a direita renovada de que o país precisa.
O PSDB é um bloco de vaidosos desunidos, sãopaulocêntricos, indefiníveis (direitistas de esquerda ou esquerdistas de direita?), sem pose e sem discurso diante do sucesso estrondoso de Lula.
Mas o PSDB tem um candidato presidencial forte, José Serra, que, por recall, méritos ou algo que não sabemos, ainda lidera as pesquisas, mesmo fugindo da campanha e enfrentando uma máquina federal com força nunca antes empregada nesta nova República.
Estrategista, cerebral, Serra calcula que não precisa entrar na chuva para se molhar agora, com Lula e Dilma loucos por briga até para que a neopetista apareça e cresça.
Serra hesita, cheio de razões: a megapopularidade de Lula, a economia virtuosa, a fraqueza da oposição, a supermáquina federal.
A decisão é difícil para quem tem como quase certo mais quatro anos no Palácio dos Bandeirantes, a segunda cadeira mais importante do país.
A desistência de Serra transforma Dilma em favorita máxima, se já não o é. Abre também caminho para um segundo turno Dilma-Ciro e outras conseqüências sísmicas --uma Venezuela 2005 à brasileira, com a oposição, se não sumida como lá, pequena o suficiente para dar a PT e aliados maioria mais do que qualificada, capaz de desviar o país do consenso atual, tão tardio quanto essencial.
Pousou carcará no Palácio dos Bandeirantes. Se correr, o bicho pega, se ficar, ele come.
* Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo.
O maior erro da oposição venezuelana, e a concorrência ao título é enorme, foi o boicote às eleições de 2005. O resultado foi um controle total do Legislativo, armação perfeita para o golpe constitucional chavista.
Oposição fraca geralmente significa democracia fraca. No cenário mais extremo, a oposição no Brasil pode virar residual em 2011 se José Serra não concorrer à Presidência.
As coisas já estão pela hora da morte. A prisão de José Arruda é outro prego no caixão do DEM, que um dia sonhou ser a direita renovada de que o país precisa.
O PSDB é um bloco de vaidosos desunidos, sãopaulocêntricos, indefiníveis (direitistas de esquerda ou esquerdistas de direita?), sem pose e sem discurso diante do sucesso estrondoso de Lula.
Mas o PSDB tem um candidato presidencial forte, José Serra, que, por recall, méritos ou algo que não sabemos, ainda lidera as pesquisas, mesmo fugindo da campanha e enfrentando uma máquina federal com força nunca antes empregada nesta nova República.
Estrategista, cerebral, Serra calcula que não precisa entrar na chuva para se molhar agora, com Lula e Dilma loucos por briga até para que a neopetista apareça e cresça.
Serra hesita, cheio de razões: a megapopularidade de Lula, a economia virtuosa, a fraqueza da oposição, a supermáquina federal.
A decisão é difícil para quem tem como quase certo mais quatro anos no Palácio dos Bandeirantes, a segunda cadeira mais importante do país.
A desistência de Serra transforma Dilma em favorita máxima, se já não o é. Abre também caminho para um segundo turno Dilma-Ciro e outras conseqüências sísmicas --uma Venezuela 2005 à brasileira, com a oposição, se não sumida como lá, pequena o suficiente para dar a PT e aliados maioria mais do que qualificada, capaz de desviar o país do consenso atual, tão tardio quanto essencial.
Pousou carcará no Palácio dos Bandeirantes. Se correr, o bicho pega, se ficar, ele come.
* Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo.
Estadão dá sumiço em manchete e Folha esconde que Dilma subiu 8 pontos
A manchete do Estadão online, que dizia que Dilma está "estagnada", sumiu da capa. Junto com o assunto. Nas internas, sim, o jornal dá a notícia corretamente.
Já a Folha simplesmente esconde que Dilma subiu 8 pontos: "esquece" de comparar a pesquisa com os números anteriores do próprio Ibope.
E olha que estamos falando em números do sr. Montenegro, aquele que acha que José Serra está eleito.
Fonte: viomundo
Lula para a imprensa: quando vocês estabelecem uma tese, vocês não querem mudar
Apesar de desmentido pelos dois lados, a imprensa não se cansa de insistir nos testes de hipóteses.
Na entrevista coletiva concedida em Três Lagoas (MS), o presidente Lula teve que ter a paciência de responder de novo:
Jornalista: ... o senhor disse para o governador Paulo Octávio continuar no cargo?
Presidente: Não. Até porque, até porque ele não atribuiu, ele fez uma nota desmentindo. O problema é que quando vocês estabelecem uma tese, vocês não querem mudar. Ele fez uma nota ontem à noite dizendo a única coisa que eu disse para ele, sabe. Que o governo federal não podia tomar nenhuma decisão enquanto a Suprema Corte não decidisse o que vai acontecer com Brasília. Até porque é essa a lógica, a Suprema Corte é que está com a autoridade de daqui a dez, quinze ou vinte dias, de dizer o seguinte: vai ter intervenção ou não vai ter, se vai ser só no governo do Distrito Federal, se vai ser no Poder Legislativo. É só a Suprema Corte que pode decidir. Por conta disso, o Presidente da República não pode dar palpites. Apenas por isso, apenas por isso.
fonte: blog A P L
Na entrevista coletiva concedida em Três Lagoas (MS), o presidente Lula teve que ter a paciência de responder de novo:
Jornalista: ... o senhor disse para o governador Paulo Octávio continuar no cargo?
Presidente: Não. Até porque, até porque ele não atribuiu, ele fez uma nota desmentindo. O problema é que quando vocês estabelecem uma tese, vocês não querem mudar. Ele fez uma nota ontem à noite dizendo a única coisa que eu disse para ele, sabe. Que o governo federal não podia tomar nenhuma decisão enquanto a Suprema Corte não decidisse o que vai acontecer com Brasília. Até porque é essa a lógica, a Suprema Corte é que está com a autoridade de daqui a dez, quinze ou vinte dias, de dizer o seguinte: vai ter intervenção ou não vai ter, se vai ser só no governo do Distrito Federal, se vai ser no Poder Legislativo. É só a Suprema Corte que pode decidir. Por conta disso, o Presidente da República não pode dar palpites. Apenas por isso, apenas por isso.
fonte: blog A P L
Lula ao Estadão: "Dilma tem potencial político extraordinário"
por Vera Rosa, Tânia Monteiro, Rui Nogueira, João Bosco Rabello e Ricardo Gandour , em O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Na véspera de participar do 4.° Congresso Nacional do PT, que amanhã sacramentará a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sua sucessão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que a herdeira do espólio petista, se eleita, deverá ficar dois mandatos no cargo. Em entrevista ao Estado, Lula negou que tenha escolhido Dilma com planos de voltar ao poder lá na frente, disputando as eleições de 2014.
"Ninguém aceita ser vaca de presépio e muito menos eu iria escolher uma pessoa para ser vaca de presépio", afirmou o presidente. "Todo político que tentou eleger alguém manipulado quebrou a cara." A dez meses da despedida no Palácio do Planalto, Lula disse que o ideal é deixar as "corredeiras da política" seguirem o seu caminho. "Quem foi eleito presidente tem o direito legítimo de ser candidato à reeleição", insistiu. "Eu tive a graça de Deus de governar este país oito anos."
Uma eventual gestão Dilma, no seu diagnóstico, não será mais à esquerda do que seu governo. Ele admite, no entanto, que, no governo, ela vai imprimir "o ritmo dela, o estilo dela". Na sua avaliação, porém, diretrizes do programa de governo de Dilma, que o PT aprovará nesta sexta-feira, 19, podem conter um tom mais teórico do que prático.
"Não há nenhum crime ou equívoco no fato de um partido ter um programa mais progressista do que o governo", argumentou. "O partido, muitas vezes, defende princípios e coisas que o governo não pode defender." Questionado se concorda com a ampliação do papel do Estado na economia, proposta na plataforma de Dilma, Lula abriu um sorriso. "Vou fazer uma brincadeira: o único Estado forte que eu quero é o Estadão", disse, numa referência ao jornal. Mais tarde, no entanto, destacou a importância de investimentos estratégicos por parte do Estado. "Quero criar uma megaempresa de energia no País."
O presidente manifestou preocupação com a divisão da base aliada em Estados como Minas, onde o PT e o PMDB até agora não conseguiram selar uma aliança. "Imaginar que Dilma possa subir em dois palanques é impossível", comentou. "O que vai acontecer é que em alguns Estados ela não vai poder ir."
Bem-humorado, Lula tomou uma xícara pequena de café e afirmou que Dilma não vai sentir sua falta como cabo eleitoral quando deixar o governo, em março. "Eu estarei espiritualmente com ela", brincou. Ele defendeu o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deu estocadas no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, falou da chuva em São Paulo, mas poupou o governador José Serra (PSDB), provável adversário de Dilma.
Nem mesmo a língua afiada do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), porém, fez Lula desistir de convencer o antigo aliado a não concorrer à Presidência. "É preciso provar que o santo Lula está errado", provocou.
Na entrevista ao Estado, em agosto de 2007, perguntamos se o sr. já pensava em lançar uma mulher como candidata à sua sucessão. Sua resposta foi: ‘No momento em que eu disser isso, uma flecha estará apontada para esse nome, seja ele qual for.’ Naquela época, o sr. já tinha decidido que seria a ministra Dilma? Quando o sr. decidiu?
Quando aconteceram todos os problemas que levaram o companheiro José Dirceu a sair do governo, eu não tinha dúvida de que a Dilma tinha o perfil para assumir a Casa Civil e ajudar a governar o País. Na Casa Civil ela se transformou na grande coordenadora das políticas do governo. Foi quase uma coisa natural a indicação da Dilma. A dedicação, a capacidade de trabalho e de aprender com facilidade as coisas foram me convencendo que estava nascendo ali mais do que uma simples tecnocrata. Estava nascendo ali uma pessoa com potencial político extraordinário, até porque a vida dela foi uma vida política importante.
Mas a escolha da ministra só ocorreu porque houve um "vazio" no PT, como disse o ex-ministro Tarso Genro, com os principais candidatos à sua cadeira dizimados pela crise do mensalão, não?
Não concordo. Não tinha essa coisa de ‘principais candidatos’. Isso é coisa que alguém inventou.
José Dirceu, Palocci...
Na minha cabeça não tinha "principais candidatos". Estou absolutamente convencido de que ela é hoje a pessoa mais preparada, tanto do ponto de vista de conhecimento do governo quanto da capacidade de gerenciamento do Brasil.
Naquele momento em que sr. chamou a ministra de "mãe do PAC", na Favela da Rocinha (Rio), ali não foi apresentada a vontade prévia para fazer de Dilma a candidata?
Se foi, foi sem querer. Eu iria lançar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na verdade, antes da eleição (de 2006). Mas fui orientado a não utilizar o PAC em campanha porque a gente não precisaria dele para ganhar as eleições. Olha o otimismo que reinava no governo! E o PAC surgiu também pelo fato de que eu tinha muito medo do segundo mandato.
Por quê?
Quem me conhece há mais tempo sabe que eu nunca gostei de um segundo mandato. Eu sempre achei que o segundo mandato poderia ser um desastre. Então, eu ficava pensando: se no segundo mandato o presidente não tiver vontade, não tiver disposição, garra e ficar naquela mesmice que foi no primeiro mandato, vai ser uma coisa tão desagradável que é melhor que não tenha.
O sr. está enfrentando isso?
Não porque temos coisas para fazer ainda, de forma excepcional, e acho que o PAC foi a grande obra motivadora do segundo mandato.
O sr. não está desrespeitando a Lei Eleitoral, antecipando a campanha?
Não há nenhum desrespeito à Lei Eleitoral. Agora, o que as pessoas não podem é proibir que um presidente da República inaugure as obras que fez. Ora, qual é o papel da oposição? É criticar as coisas que nós não fizemos. Qual é o nosso papel? Mostrar coisas que nós fizemos e inaugurar.
Mas quem partilha dessa tese diz que o sr. praticamente pede votos para Dilma nas inaugurações...
Eu dizer que vou fazer meu sucessor é o mínimo que espero de mim. A grande obra de um governo é ele fazer seu sucessor. Não faz seu sucessor quem está pensando em voltar quatro anos depois. Aí prefere que ganhe o adversário, o que não é o meu caso.
Há quem diga que o sr. só escolheu a ministra Dilma, cristã nova no PT, com apenas nove anos de filiação ao partido, porque, se eleita, ela será fiel a seu criador. Isso deixaria a porta aberta para o sr. voltar em 2014. O sr. planeja concorrer novamente?
Olha, somente quem não conhece o comportamento das mulheres e somente quem não conhece a Dilma pode falar uma heresia dessas. Ninguém aceita ser vaca de presépio e muito menos eu iria escolher uma pessoa para ser vaca de presépio. Não faz parte da minha vida nem no PT nem na CUT. Eu já tive a graça de Deus de governar este país oito anos. Minha tese é a seguinte: rei morto, rei posto. A Dilma tem de criar o estilo dela, a cara dela e fazer as coisas dela. E a mim cabe, como torcedor da arquibancada, ficar batendo palmas para os acertos dela. E torcendo para que dê certo e faça o melhor. Não existe essa hipótese .
O sr. não pensa mesmo em voltar à Presidência?
Não penso. Quem foi eleito presidente tem o direito legítimo de ser candidato à reeleição. Ponto pacífico. Essa é a prioridade número 1.
O sr. não vai defender a mudança dessa regra, de fim da reeleição com mandato de cinco anos?
Não vou porque quando quis defender ninguém quis. Eu fui defensor da ideia de cinco anos sem reeleição. Hoje, com a minha experiência de presidente, eu queria dizer uma coisa para vocês: ninguém, nenhum presidente da República, num mandato de quatro anos, concluirá uma única obra estruturante no País.
Então o sr. mudou de ideia...
Mudei de ideia. Veja quanto tempo os tucanos estão governando São Paulo e o Rio Tietê continua do mesmo jeito. É draga dali, tira terra, põe terra. Eu lembro do entusiasmo do Jornal da Tarde quando, em 1982, o banco japonês ofereceu US$ 500 milhões para resolver aquilo. A verdade é que, para desgraça do povo de São Paulo, as enchentes continuam. Eu até mandei o Franklin ( Martins) fazer um levantamento para ver o que diziam das enchentes quando a Marta era prefeita, quando a Erundina era prefeita e o que falam agora para fazer uma comparação com o comportamento... [grifo nosso; parte que o Estadão omitiu na transcrição] Eu não culpo o Serra, não culpo o Kassab e nenhum governante. Eu acho que a chuva é demais. No meu apartamento, em São Bernardo, está caindo mais água dentro do que fora. Choveu tanto que vazou. Há dias o meu filho me ligou, às duas horas da manhã, e disse: "Pai, estou com dois baldes de água cheios." Eu fui a São Paulo no dia do aniversário da cidade e disse que o governo federal está disposto a sentar com o governo do Estado, com o prefeito, e discutir uma saída para ver se consegue resolver o problema, que é gravíssimo. Não queremos ficar dizendo: "Ah, é meu adversário, deu enchente, que ótimo". Quem está falando isso para vocês viveu muitas enchentes dentro de casa".
‘Quero criar no País uma megaempresa de energia’
Pelas diretrizes do programa do PT, um eventual governo Dilma Rousseff parece que será mais à esquerda que o seu...
Eu ainda não vi o programa, eu sei que tem discussão. Mas conheço bem a Dilma e, como acho que ela deve imprimir o ritmo dela, se ela tomar uma decisão mais à esquerda do que eu, eu tenho que encarar com normalidade. E, se tomar uma posição mais à direita do que eu, tenho que encarar com normalidade. Tenho total confiança na Dilma, de que ela saberá fazer as coisas corretas para este país. Uma mulher que passou a vida que a Dilma passou - e é sem ranço, sem mágoa, sem preconceito - venceu o pior obstáculo.
A experiência de poder distanciou o sr. do pensamento mais utópico do PT, não?
Veja, o PT que chegou ao poder comigo, em 2002, não era mais o PT de 1980, de 1982.
Não era porque houve a Carta ao Povo Brasileiro...
Não é verdade. Num Congresso do PT aparecem 20 teses. Tem gosto para todo mundo. É que nem uma feira de produtos ideológicos. As pessoas compram o que querem e vendem o que querem. O PT, quando chegou à Presidência, tinha aprendido com dezenas de prefeituras, já tínhamos as experiências do governo do Acre, do Rio Grande do Sul, de Mato Grosso do Sul... O PT que chegou ao governo foi o PT maduro. De vez em quando, acho que foi obra de Deus não permitir que eu ganhasse em 1989. Se eu chego em 1989 com a cabeça do jeito que eu pensava, ou eu tinha feito uma revolução no País ou tinha caído no dia seguinte. Acho que Deus disse assim: "Olha, baixinho, você vai perder várias eleições, mas, quando chegar, vai chegar sabendo o que é tango, samba, bolero." O PCI italiano passou três décadas sendo o maior partido comunista do mundo ocidental, mas não passava de 30%. Eu não tinha vocação para isso. E onde eu fui encontrar (a solução)? Na Carta ao Povo Brasileiro e no Zé Alencar. Essa mistura de um sindicalista com um grande empresário e um documento que fosse factível e compreensível pela esquerda e pela direita, pelos ricos e pelos pobres, é que garantiu a minha chegada à Presidência.
Mesmo assim, o sr. teve de funcionar como fator moderador do seu governo em relação ao partido...
E vou continuar sendo. Eu não morri.
Mas a Dilma poderá fazer isso?
Ah, muito. Hipoteticamente, vocês acham que o PSTU ganhará eleição com o discurso dele? Vamos supor que ganhe, acham que governa? Não governa.
As diretrizes do PT, que pregam o fortalecimento do Estado na economia, não atrapalham?
Quero crer que a sabedoria do PT é tão grande que o partido não vai jogar fora a experiência acumulada de ter um governo aprovado por 72% na opinião pública depois de sete anos no poder. Isso é riqueza que nem o mais nervoso trotskista seria capaz de perder.
Os críticos do programa do PT dizem que o Estado precisa ter limites como empreendedor. Por que mais Estado na economia?
Vou fazer uma brincadeira: o único Estado forte que eu quero é o Estadão (risos). Não existe hipótese, na minha cabeça, de você ter um governo que vire um governo gerenciador. O governo tem dois papéis e a crise reforçou a descoberta deste papel. O governo tem, de um lado, de ser o regulador e o fiscalizador; do outro lado, tem de ser o indutor, o provocador do investimento, que discute com o empresário e pergunta por que ele não investe em tal setor.
Por que é preciso ressuscitar empresas estatais para fazer programas como a universalização da banda larga? O governo toca o Luz Para Todos com uma política pública que contrata serviços junto às distribuidoras e não ressuscita a Eletrobrás.
Mas nós estamos ressuscitando a Eletrobrás. O Luz Para Todos só deu certo porque o Estado assumiu. As empresas privadas executam sob a supervisão do governo, que é quem paga.
Não pode fazer a mesma coisa com a banda larga?
Pode. Não temos nenhum problema com a empresa privada que cumpre as metas. Mas tem empresa privada que faz menos do que deveria. Então, eu quero, sim, criar uma megaempresa de energia no País. Quero empresa que seja multinacional, que tenha capacidade de assumir empréstimos lá fora, de fazer obras lá fora e fazer aqui dentro. Se a gente não tiver uma empresa que tenha cacife de dizer "se vocês não forem, eu vou", a gente fica refém das manipulações das poucas empresas que querem disputar o mercado. Então, nós queremos uma Eletrobrás forte, para construir parceria com outras empresas. Não queremos ser donos de nada.
A banda larga precisa de uma Telebrás?
Se as empresas privadas que estão no mercado puderem oferecer banda larga de qualidade nos lugares mais longínquos, a preço acessível, por que não?
Mas precisa de uma Telebrás?
Depende. O governo só vai conseguir fazer uma proposta para a sociedade se tiver um instrumento. Não quero uma nova Telebrás com 3 ou 4 mil funcionários. Quero uma empresa enxuta, que possa propor projetos para o governo. Nosso programa está quase fechado, mais uns 15 dias e posso dizer que tenho um programa de banda larga. Vou chamar todos e quero saber quem vai colocar a última milha ao preço mais baixo. Quem fizer, ganha; quem não fizer, tá fora. Para isso o Estado tem de ter capacidade de barganhar.
O sr. teme que o PSDB venha na campanha com o discurso de gastança, de inchaço da máquina, que o seu governo contratou 100 mil novos servidores?
Vou dar um número, pode anotar aí: cargos comissionados no governo federal, para uma população de 191 milhões de habitantes. Por cada 100 mil habitantes, o governo tem 11 cargos comissionados. O governo de São Paulo tem 31 e a Prefeitura de São Paulo tem 45.
Deixar o governo de Minas para o PMDB de Hélio Costa facilita a vida de Dilma junto à base aliada?
A aliança com o PMDB de Minas independe da candidatura ao governo de Estado. O Hélio Costa tem me dito publicamente que a candidatura dele não é problema. Ele propõe o óbvio, que se faça no momento certo um estudo e veja quem tem mais condições e se apoie esse candidato. Acho que os companheiros de Minas, tanto o Patrus Ananias quanto o Fernando Pimentel se meteram em uma enrascada. Estava tudo indo muito bem até que eles transformaram a disputa entre eles em uma fissura muito ruim para o PT. Como a política é a arte do impossível, quem sabe até março eles conseguem resolver o problema deles.
A desistência da pré-candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) facilitaria a vida de Dilma?
O Ciro é um companheiro por quem tenho o mais profundo respeito. Eu já gostava do Ciro e aprendi a respeitá-lo. Um político com caráter. E, portanto, eu não farei nada que possa prejudicar o companheiro Ciro Gomes. Eu pretendo conversar com ele, ver se chegamos à conclusão sobre o melhor caminho.
Ele diz que o "santo Lula" está errado.
É preciso provar que o santo está errado. É por isso que eu quero discutir.
O sr. ainda quer que ele seja candidato ao governo de São Paulo?
Se eu disser agora, a minha conversa ficará prejudicada.
O senador Mercadante pode ser o plano B?
Não sei. Alguém terá de ser candidato.
O Ciro tem dito que a aliança da ministra Dilma com o PMDB é marcada pela frouxidão moral.
Todo mundo conhece o Ciro por essas coisas. Mas acho que ele não disse nada que impeça uma conversa com o presidente.
O que se teme no Temer? Ele é o nome para vice?
O Michel Temer, neste período todo que temos convivido com ele, que ele resolveu ficar na base e foi eleito presidente da Câmara, tem sido um companheiro inestimável. A questão da vice é uma questão a ser tratada entre o PT, a Dilma e o PMDB.
O sr. não teme que Dilma caia nas pesquisas após sair do governo?
Ela vai crescer.
Mas sozinha?
Ela nunca estará sozinha. Eu estarei espiritualmente ao lado dela (risos).
Há quem tenha ficado assustado com a foto do sr. abraçando o Collor, depois de tudo o que passou na campanha de 1989.
O exercício da democracia exige que você faça política em função da realidade que vive. O Collor foi eleito senador pelo voto livre e direto do povo de Alagoas, tanto quanto foi eleito qualquer outro parlamentar. Ele está exercendo uma função institucional e merece da minha parte o mesmo respeito que eu dou ao Pedro Simon, que de vez em quando faz oposição, ao Jarbas Vasconcelos, que faz oposição. Se o Lula for convidado para determinadas coisas, não irá. Mas o presidente tem função institucional. Portanto, cumpre essa função para o bem do País e, até agora, tem dado certo. Fui em uma reunião com a bancada do PT em que eles queriam cassar o Sarney. Eu disse: muito bem, vocês cassam o Sarney e quem vem para o lugar?
O sr. acha que o eleitor entende?
O eleitor entende, pode entender mais. Agora, quem governa é que sabe o tamanho do calo que está no seu pé quando quer aprovar uma coisa no Senado.
O governo depende do Sarney no Senado? O único punido até agora foi o Estado, que está sob censura.
O Sarney foi um homem de uma postura muito digna em todo esse episódio. Das acusações que vocês (o jornal) fizeram contra o Sarney, nenhuma se sustenta juridicamente e o tempo vai provar. O exercício da democracia não permite que a verdade seja absoluta para um lado e toda negativa para o outro lado. Perguntam: você é contra a censura? Eu nasci na política brigando contra a censura. Exerço um governo em que eu duvido que alguém tenha algum resquício de censura. Mas eu não posso censurar que os Poderes exerçam suas funções. Eu não posso censurar a imprensa por exercer a sua função de publicar as coisas, nem posso censurar um tribunal ou uma Justiça por dar uma decisão contrária. Deve ter instância superior, deve ter um órgão para recorrer.
O sr. e o PT lideraram o processo de impeachment de Collor e nada, então, se sustentou juridicamente porque o STF absolveu o ex-presidente. O sr. está dizendo que o jornal não deveria publicar as notícias porque não se sustentariam juridicamente? Os jornais publicam fatos...
Não quero que vocês deixem de publicar nada. Minha crítica é esta: uma coisa é publicar a informação, outra coisa é prejulgar. Muitas vezes as pessoas são prejulgadas. Todos os casos que eu vi do Sarney, de emprego para a neta, daquela coisa, eu ficava lendo e a gente percebia que eram coisas muito frágeis. Você vai tirar um presidente do Senado porque a neta dele ligou para ele pedindo um emprego?
O caso da neta é o corporativismo, o fisiologismo, os atos secretos...
O que eu acho é o seguinte: o DEM governou aquela Casa durante 14 anos e a maioria dos atos secretos era deles. E eles esconderam isso para pedir investigação do outro lado. É uma coisa inusitada na política.
O sr. acha que os fatos do "mensalão do DEM", no Distrito Federal, são fatos inverídicos também?
No DEM tem um agravante: tem gravação, chegaram a gravar gente cheirando dinheiro.
No mensalão do PT tinha uma lista na porta do banco com o registro dos políticos indo pegar a mesada...
Vamos pegar aquela denúncia contra o companheiro Silas Rondeau, que foi ministro das Minas e Energia. De onde se sustenta aquela reportagem dizendo que tinha dinheiro dentro daquele envelope? Como se pode condenar um cara por uma coisa que não era possível provar?
O sr. tem dito, em conversas reservadas, que quando terminar o governo, vai passar a limpo a história do mensalão. O que o sr. quer dizer?
Não é que vou passar a limpo, é que eu acho que tem coisa que tem de investigar. E eu quero investigar. Eu só não vou fazer isso enquanto eu for presidente da República. Mas, quando eu deixar a Presidência, eu quero saber de algumas coisas que eu não sei e que me pareceram muito estranhas ao longo do todo o processo.
Quem o traiu?
Quando eu deixar a Presidência, eu posso falar.
Por que é que o seu governo intercede em favor do governo do Irã?
Porque eu acho que essa coisa está mal resolvida. E o Irã não é o Iraque e todos nós sabemos que a guerra do Iraque foi uma mentira montada em cima de um país que não tinha as armas químicas que diziam que ele tinha. A gente se esqueceu que o cara que fiscalizava as armas químicas era um brasileiro, o embaixador Maurício Bustani, que foi decapitado a pedido do governo americano, para que não dissesse que não havia armas químicas no Iraque.
O sr. continua achando que a Venezuela é uma democracia?
Eu acho que a Venezuela é uma democracia.
E o seu governo aqui é o quê?
É uma hiper-democracia. O meu governo é a essência da democracia.
Nota do Viomundo: O Estadão não fez a transcrição da entrevista na íntegra. Dani Tristão foi quem alertou e sugeriu que ouçamos o áudio
BRASÍLIA - Na véspera de participar do 4.° Congresso Nacional do PT, que amanhã sacramentará a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sua sucessão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que a herdeira do espólio petista, se eleita, deverá ficar dois mandatos no cargo. Em entrevista ao Estado, Lula negou que tenha escolhido Dilma com planos de voltar ao poder lá na frente, disputando as eleições de 2014.
"Ninguém aceita ser vaca de presépio e muito menos eu iria escolher uma pessoa para ser vaca de presépio", afirmou o presidente. "Todo político que tentou eleger alguém manipulado quebrou a cara." A dez meses da despedida no Palácio do Planalto, Lula disse que o ideal é deixar as "corredeiras da política" seguirem o seu caminho. "Quem foi eleito presidente tem o direito legítimo de ser candidato à reeleição", insistiu. "Eu tive a graça de Deus de governar este país oito anos."
Uma eventual gestão Dilma, no seu diagnóstico, não será mais à esquerda do que seu governo. Ele admite, no entanto, que, no governo, ela vai imprimir "o ritmo dela, o estilo dela". Na sua avaliação, porém, diretrizes do programa de governo de Dilma, que o PT aprovará nesta sexta-feira, 19, podem conter um tom mais teórico do que prático.
"Não há nenhum crime ou equívoco no fato de um partido ter um programa mais progressista do que o governo", argumentou. "O partido, muitas vezes, defende princípios e coisas que o governo não pode defender." Questionado se concorda com a ampliação do papel do Estado na economia, proposta na plataforma de Dilma, Lula abriu um sorriso. "Vou fazer uma brincadeira: o único Estado forte que eu quero é o Estadão", disse, numa referência ao jornal. Mais tarde, no entanto, destacou a importância de investimentos estratégicos por parte do Estado. "Quero criar uma megaempresa de energia no País."
O presidente manifestou preocupação com a divisão da base aliada em Estados como Minas, onde o PT e o PMDB até agora não conseguiram selar uma aliança. "Imaginar que Dilma possa subir em dois palanques é impossível", comentou. "O que vai acontecer é que em alguns Estados ela não vai poder ir."
Bem-humorado, Lula tomou uma xícara pequena de café e afirmou que Dilma não vai sentir sua falta como cabo eleitoral quando deixar o governo, em março. "Eu estarei espiritualmente com ela", brincou. Ele defendeu o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deu estocadas no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, falou da chuva em São Paulo, mas poupou o governador José Serra (PSDB), provável adversário de Dilma.
Nem mesmo a língua afiada do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), porém, fez Lula desistir de convencer o antigo aliado a não concorrer à Presidência. "É preciso provar que o santo Lula está errado", provocou.
Na entrevista ao Estado, em agosto de 2007, perguntamos se o sr. já pensava em lançar uma mulher como candidata à sua sucessão. Sua resposta foi: ‘No momento em que eu disser isso, uma flecha estará apontada para esse nome, seja ele qual for.’ Naquela época, o sr. já tinha decidido que seria a ministra Dilma? Quando o sr. decidiu?
Quando aconteceram todos os problemas que levaram o companheiro José Dirceu a sair do governo, eu não tinha dúvida de que a Dilma tinha o perfil para assumir a Casa Civil e ajudar a governar o País. Na Casa Civil ela se transformou na grande coordenadora das políticas do governo. Foi quase uma coisa natural a indicação da Dilma. A dedicação, a capacidade de trabalho e de aprender com facilidade as coisas foram me convencendo que estava nascendo ali mais do que uma simples tecnocrata. Estava nascendo ali uma pessoa com potencial político extraordinário, até porque a vida dela foi uma vida política importante.
Mas a escolha da ministra só ocorreu porque houve um "vazio" no PT, como disse o ex-ministro Tarso Genro, com os principais candidatos à sua cadeira dizimados pela crise do mensalão, não?
Não concordo. Não tinha essa coisa de ‘principais candidatos’. Isso é coisa que alguém inventou.
José Dirceu, Palocci...
Na minha cabeça não tinha "principais candidatos". Estou absolutamente convencido de que ela é hoje a pessoa mais preparada, tanto do ponto de vista de conhecimento do governo quanto da capacidade de gerenciamento do Brasil.
Naquele momento em que sr. chamou a ministra de "mãe do PAC", na Favela da Rocinha (Rio), ali não foi apresentada a vontade prévia para fazer de Dilma a candidata?
Se foi, foi sem querer. Eu iria lançar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na verdade, antes da eleição (de 2006). Mas fui orientado a não utilizar o PAC em campanha porque a gente não precisaria dele para ganhar as eleições. Olha o otimismo que reinava no governo! E o PAC surgiu também pelo fato de que eu tinha muito medo do segundo mandato.
Por quê?
Quem me conhece há mais tempo sabe que eu nunca gostei de um segundo mandato. Eu sempre achei que o segundo mandato poderia ser um desastre. Então, eu ficava pensando: se no segundo mandato o presidente não tiver vontade, não tiver disposição, garra e ficar naquela mesmice que foi no primeiro mandato, vai ser uma coisa tão desagradável que é melhor que não tenha.
O sr. está enfrentando isso?
Não porque temos coisas para fazer ainda, de forma excepcional, e acho que o PAC foi a grande obra motivadora do segundo mandato.
O sr. não está desrespeitando a Lei Eleitoral, antecipando a campanha?
Não há nenhum desrespeito à Lei Eleitoral. Agora, o que as pessoas não podem é proibir que um presidente da República inaugure as obras que fez. Ora, qual é o papel da oposição? É criticar as coisas que nós não fizemos. Qual é o nosso papel? Mostrar coisas que nós fizemos e inaugurar.
Mas quem partilha dessa tese diz que o sr. praticamente pede votos para Dilma nas inaugurações...
Eu dizer que vou fazer meu sucessor é o mínimo que espero de mim. A grande obra de um governo é ele fazer seu sucessor. Não faz seu sucessor quem está pensando em voltar quatro anos depois. Aí prefere que ganhe o adversário, o que não é o meu caso.
Há quem diga que o sr. só escolheu a ministra Dilma, cristã nova no PT, com apenas nove anos de filiação ao partido, porque, se eleita, ela será fiel a seu criador. Isso deixaria a porta aberta para o sr. voltar em 2014. O sr. planeja concorrer novamente?
Olha, somente quem não conhece o comportamento das mulheres e somente quem não conhece a Dilma pode falar uma heresia dessas. Ninguém aceita ser vaca de presépio e muito menos eu iria escolher uma pessoa para ser vaca de presépio. Não faz parte da minha vida nem no PT nem na CUT. Eu já tive a graça de Deus de governar este país oito anos. Minha tese é a seguinte: rei morto, rei posto. A Dilma tem de criar o estilo dela, a cara dela e fazer as coisas dela. E a mim cabe, como torcedor da arquibancada, ficar batendo palmas para os acertos dela. E torcendo para que dê certo e faça o melhor. Não existe essa hipótese .
O sr. não pensa mesmo em voltar à Presidência?
Não penso. Quem foi eleito presidente tem o direito legítimo de ser candidato à reeleição. Ponto pacífico. Essa é a prioridade número 1.
O sr. não vai defender a mudança dessa regra, de fim da reeleição com mandato de cinco anos?
Não vou porque quando quis defender ninguém quis. Eu fui defensor da ideia de cinco anos sem reeleição. Hoje, com a minha experiência de presidente, eu queria dizer uma coisa para vocês: ninguém, nenhum presidente da República, num mandato de quatro anos, concluirá uma única obra estruturante no País.
Então o sr. mudou de ideia...
Mudei de ideia. Veja quanto tempo os tucanos estão governando São Paulo e o Rio Tietê continua do mesmo jeito. É draga dali, tira terra, põe terra. Eu lembro do entusiasmo do Jornal da Tarde quando, em 1982, o banco japonês ofereceu US$ 500 milhões para resolver aquilo. A verdade é que, para desgraça do povo de São Paulo, as enchentes continuam. Eu até mandei o Franklin ( Martins) fazer um levantamento para ver o que diziam das enchentes quando a Marta era prefeita, quando a Erundina era prefeita e o que falam agora para fazer uma comparação com o comportamento... [grifo nosso; parte que o Estadão omitiu na transcrição] Eu não culpo o Serra, não culpo o Kassab e nenhum governante. Eu acho que a chuva é demais. No meu apartamento, em São Bernardo, está caindo mais água dentro do que fora. Choveu tanto que vazou. Há dias o meu filho me ligou, às duas horas da manhã, e disse: "Pai, estou com dois baldes de água cheios." Eu fui a São Paulo no dia do aniversário da cidade e disse que o governo federal está disposto a sentar com o governo do Estado, com o prefeito, e discutir uma saída para ver se consegue resolver o problema, que é gravíssimo. Não queremos ficar dizendo: "Ah, é meu adversário, deu enchente, que ótimo". Quem está falando isso para vocês viveu muitas enchentes dentro de casa".
‘Quero criar no País uma megaempresa de energia’
Pelas diretrizes do programa do PT, um eventual governo Dilma Rousseff parece que será mais à esquerda que o seu...
Eu ainda não vi o programa, eu sei que tem discussão. Mas conheço bem a Dilma e, como acho que ela deve imprimir o ritmo dela, se ela tomar uma decisão mais à esquerda do que eu, eu tenho que encarar com normalidade. E, se tomar uma posição mais à direita do que eu, tenho que encarar com normalidade. Tenho total confiança na Dilma, de que ela saberá fazer as coisas corretas para este país. Uma mulher que passou a vida que a Dilma passou - e é sem ranço, sem mágoa, sem preconceito - venceu o pior obstáculo.
A experiência de poder distanciou o sr. do pensamento mais utópico do PT, não?
Veja, o PT que chegou ao poder comigo, em 2002, não era mais o PT de 1980, de 1982.
Não era porque houve a Carta ao Povo Brasileiro...
Não é verdade. Num Congresso do PT aparecem 20 teses. Tem gosto para todo mundo. É que nem uma feira de produtos ideológicos. As pessoas compram o que querem e vendem o que querem. O PT, quando chegou à Presidência, tinha aprendido com dezenas de prefeituras, já tínhamos as experiências do governo do Acre, do Rio Grande do Sul, de Mato Grosso do Sul... O PT que chegou ao governo foi o PT maduro. De vez em quando, acho que foi obra de Deus não permitir que eu ganhasse em 1989. Se eu chego em 1989 com a cabeça do jeito que eu pensava, ou eu tinha feito uma revolução no País ou tinha caído no dia seguinte. Acho que Deus disse assim: "Olha, baixinho, você vai perder várias eleições, mas, quando chegar, vai chegar sabendo o que é tango, samba, bolero." O PCI italiano passou três décadas sendo o maior partido comunista do mundo ocidental, mas não passava de 30%. Eu não tinha vocação para isso. E onde eu fui encontrar (a solução)? Na Carta ao Povo Brasileiro e no Zé Alencar. Essa mistura de um sindicalista com um grande empresário e um documento que fosse factível e compreensível pela esquerda e pela direita, pelos ricos e pelos pobres, é que garantiu a minha chegada à Presidência.
Mesmo assim, o sr. teve de funcionar como fator moderador do seu governo em relação ao partido...
E vou continuar sendo. Eu não morri.
Mas a Dilma poderá fazer isso?
Ah, muito. Hipoteticamente, vocês acham que o PSTU ganhará eleição com o discurso dele? Vamos supor que ganhe, acham que governa? Não governa.
As diretrizes do PT, que pregam o fortalecimento do Estado na economia, não atrapalham?
Quero crer que a sabedoria do PT é tão grande que o partido não vai jogar fora a experiência acumulada de ter um governo aprovado por 72% na opinião pública depois de sete anos no poder. Isso é riqueza que nem o mais nervoso trotskista seria capaz de perder.
Os críticos do programa do PT dizem que o Estado precisa ter limites como empreendedor. Por que mais Estado na economia?
Vou fazer uma brincadeira: o único Estado forte que eu quero é o Estadão (risos). Não existe hipótese, na minha cabeça, de você ter um governo que vire um governo gerenciador. O governo tem dois papéis e a crise reforçou a descoberta deste papel. O governo tem, de um lado, de ser o regulador e o fiscalizador; do outro lado, tem de ser o indutor, o provocador do investimento, que discute com o empresário e pergunta por que ele não investe em tal setor.
Por que é preciso ressuscitar empresas estatais para fazer programas como a universalização da banda larga? O governo toca o Luz Para Todos com uma política pública que contrata serviços junto às distribuidoras e não ressuscita a Eletrobrás.
Mas nós estamos ressuscitando a Eletrobrás. O Luz Para Todos só deu certo porque o Estado assumiu. As empresas privadas executam sob a supervisão do governo, que é quem paga.
Não pode fazer a mesma coisa com a banda larga?
Pode. Não temos nenhum problema com a empresa privada que cumpre as metas. Mas tem empresa privada que faz menos do que deveria. Então, eu quero, sim, criar uma megaempresa de energia no País. Quero empresa que seja multinacional, que tenha capacidade de assumir empréstimos lá fora, de fazer obras lá fora e fazer aqui dentro. Se a gente não tiver uma empresa que tenha cacife de dizer "se vocês não forem, eu vou", a gente fica refém das manipulações das poucas empresas que querem disputar o mercado. Então, nós queremos uma Eletrobrás forte, para construir parceria com outras empresas. Não queremos ser donos de nada.
A banda larga precisa de uma Telebrás?
Se as empresas privadas que estão no mercado puderem oferecer banda larga de qualidade nos lugares mais longínquos, a preço acessível, por que não?
Mas precisa de uma Telebrás?
Depende. O governo só vai conseguir fazer uma proposta para a sociedade se tiver um instrumento. Não quero uma nova Telebrás com 3 ou 4 mil funcionários. Quero uma empresa enxuta, que possa propor projetos para o governo. Nosso programa está quase fechado, mais uns 15 dias e posso dizer que tenho um programa de banda larga. Vou chamar todos e quero saber quem vai colocar a última milha ao preço mais baixo. Quem fizer, ganha; quem não fizer, tá fora. Para isso o Estado tem de ter capacidade de barganhar.
O sr. teme que o PSDB venha na campanha com o discurso de gastança, de inchaço da máquina, que o seu governo contratou 100 mil novos servidores?
Vou dar um número, pode anotar aí: cargos comissionados no governo federal, para uma população de 191 milhões de habitantes. Por cada 100 mil habitantes, o governo tem 11 cargos comissionados. O governo de São Paulo tem 31 e a Prefeitura de São Paulo tem 45.
Deixar o governo de Minas para o PMDB de Hélio Costa facilita a vida de Dilma junto à base aliada?
A aliança com o PMDB de Minas independe da candidatura ao governo de Estado. O Hélio Costa tem me dito publicamente que a candidatura dele não é problema. Ele propõe o óbvio, que se faça no momento certo um estudo e veja quem tem mais condições e se apoie esse candidato. Acho que os companheiros de Minas, tanto o Patrus Ananias quanto o Fernando Pimentel se meteram em uma enrascada. Estava tudo indo muito bem até que eles transformaram a disputa entre eles em uma fissura muito ruim para o PT. Como a política é a arte do impossível, quem sabe até março eles conseguem resolver o problema deles.
A desistência da pré-candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) facilitaria a vida de Dilma?
O Ciro é um companheiro por quem tenho o mais profundo respeito. Eu já gostava do Ciro e aprendi a respeitá-lo. Um político com caráter. E, portanto, eu não farei nada que possa prejudicar o companheiro Ciro Gomes. Eu pretendo conversar com ele, ver se chegamos à conclusão sobre o melhor caminho.
Ele diz que o "santo Lula" está errado.
É preciso provar que o santo está errado. É por isso que eu quero discutir.
O sr. ainda quer que ele seja candidato ao governo de São Paulo?
Se eu disser agora, a minha conversa ficará prejudicada.
O senador Mercadante pode ser o plano B?
Não sei. Alguém terá de ser candidato.
O Ciro tem dito que a aliança da ministra Dilma com o PMDB é marcada pela frouxidão moral.
Todo mundo conhece o Ciro por essas coisas. Mas acho que ele não disse nada que impeça uma conversa com o presidente.
O que se teme no Temer? Ele é o nome para vice?
O Michel Temer, neste período todo que temos convivido com ele, que ele resolveu ficar na base e foi eleito presidente da Câmara, tem sido um companheiro inestimável. A questão da vice é uma questão a ser tratada entre o PT, a Dilma e o PMDB.
O sr. não teme que Dilma caia nas pesquisas após sair do governo?
Ela vai crescer.
Mas sozinha?
Ela nunca estará sozinha. Eu estarei espiritualmente ao lado dela (risos).
Há quem tenha ficado assustado com a foto do sr. abraçando o Collor, depois de tudo o que passou na campanha de 1989.
O exercício da democracia exige que você faça política em função da realidade que vive. O Collor foi eleito senador pelo voto livre e direto do povo de Alagoas, tanto quanto foi eleito qualquer outro parlamentar. Ele está exercendo uma função institucional e merece da minha parte o mesmo respeito que eu dou ao Pedro Simon, que de vez em quando faz oposição, ao Jarbas Vasconcelos, que faz oposição. Se o Lula for convidado para determinadas coisas, não irá. Mas o presidente tem função institucional. Portanto, cumpre essa função para o bem do País e, até agora, tem dado certo. Fui em uma reunião com a bancada do PT em que eles queriam cassar o Sarney. Eu disse: muito bem, vocês cassam o Sarney e quem vem para o lugar?
O sr. acha que o eleitor entende?
O eleitor entende, pode entender mais. Agora, quem governa é que sabe o tamanho do calo que está no seu pé quando quer aprovar uma coisa no Senado.
O governo depende do Sarney no Senado? O único punido até agora foi o Estado, que está sob censura.
O Sarney foi um homem de uma postura muito digna em todo esse episódio. Das acusações que vocês (o jornal) fizeram contra o Sarney, nenhuma se sustenta juridicamente e o tempo vai provar. O exercício da democracia não permite que a verdade seja absoluta para um lado e toda negativa para o outro lado. Perguntam: você é contra a censura? Eu nasci na política brigando contra a censura. Exerço um governo em que eu duvido que alguém tenha algum resquício de censura. Mas eu não posso censurar que os Poderes exerçam suas funções. Eu não posso censurar a imprensa por exercer a sua função de publicar as coisas, nem posso censurar um tribunal ou uma Justiça por dar uma decisão contrária. Deve ter instância superior, deve ter um órgão para recorrer.
O sr. e o PT lideraram o processo de impeachment de Collor e nada, então, se sustentou juridicamente porque o STF absolveu o ex-presidente. O sr. está dizendo que o jornal não deveria publicar as notícias porque não se sustentariam juridicamente? Os jornais publicam fatos...
Não quero que vocês deixem de publicar nada. Minha crítica é esta: uma coisa é publicar a informação, outra coisa é prejulgar. Muitas vezes as pessoas são prejulgadas. Todos os casos que eu vi do Sarney, de emprego para a neta, daquela coisa, eu ficava lendo e a gente percebia que eram coisas muito frágeis. Você vai tirar um presidente do Senado porque a neta dele ligou para ele pedindo um emprego?
O caso da neta é o corporativismo, o fisiologismo, os atos secretos...
O que eu acho é o seguinte: o DEM governou aquela Casa durante 14 anos e a maioria dos atos secretos era deles. E eles esconderam isso para pedir investigação do outro lado. É uma coisa inusitada na política.
O sr. acha que os fatos do "mensalão do DEM", no Distrito Federal, são fatos inverídicos também?
No DEM tem um agravante: tem gravação, chegaram a gravar gente cheirando dinheiro.
No mensalão do PT tinha uma lista na porta do banco com o registro dos políticos indo pegar a mesada...
Vamos pegar aquela denúncia contra o companheiro Silas Rondeau, que foi ministro das Minas e Energia. De onde se sustenta aquela reportagem dizendo que tinha dinheiro dentro daquele envelope? Como se pode condenar um cara por uma coisa que não era possível provar?
O sr. tem dito, em conversas reservadas, que quando terminar o governo, vai passar a limpo a história do mensalão. O que o sr. quer dizer?
Não é que vou passar a limpo, é que eu acho que tem coisa que tem de investigar. E eu quero investigar. Eu só não vou fazer isso enquanto eu for presidente da República. Mas, quando eu deixar a Presidência, eu quero saber de algumas coisas que eu não sei e que me pareceram muito estranhas ao longo do todo o processo.
Quem o traiu?
Quando eu deixar a Presidência, eu posso falar.
Por que é que o seu governo intercede em favor do governo do Irã?
Porque eu acho que essa coisa está mal resolvida. E o Irã não é o Iraque e todos nós sabemos que a guerra do Iraque foi uma mentira montada em cima de um país que não tinha as armas químicas que diziam que ele tinha. A gente se esqueceu que o cara que fiscalizava as armas químicas era um brasileiro, o embaixador Maurício Bustani, que foi decapitado a pedido do governo americano, para que não dissesse que não havia armas químicas no Iraque.
O sr. continua achando que a Venezuela é uma democracia?
Eu acho que a Venezuela é uma democracia.
E o seu governo aqui é o quê?
É uma hiper-democracia. O meu governo é a essência da democracia.
Nota do Viomundo: O Estadão não fez a transcrição da entrevista na íntegra. Dani Tristão foi quem alertou e sugeriu que ouçamos o áudio
Ibope: Dilma passou Serra no Nordeste e no Norte
Entre dezembro último e este mês, a presidenciável Dilma Rousseff, do PT, ultrapassou José Serra, do PSDB, tanto do Nordeste como no Norte/Centro-Oeste, conforme a pesquisa Ibope/Diário do Comércio divulgada nesta quinta-feira (18). A informação não foi dada nem pelo diário que promoveu a pesquisa e nem pela grande mídia que a comentou. Mas está disponível no relatório do Ibope e você pode conferi-la no mapa que ilustra esta matéria.
por Bernardo Joffily, no Vermelho
Os dados regionais – e os sociais – ajudam a entender a pesquisa. Olhe o mapa abaixo. Ele mostra aonde Dilma foi buscar sua alta de oito pontos nacionalmente, bem acima da margem de erro, de dois pontos para cima ou para baixo; e aonde Serra perdeu dois pontos, dentro da margem de erro.
Os cenários regionais
Nem tudo são boas notícias para Dilma, que o PT deve lançar oficialmente como sua candidata no sábado. No Sul, a candidata do presidente Lula perdeu um ponto e seu adversário ganhou dois – ambos dentro da margem de erro. A vantagem de Serra, que já era de 17 pontos, aumentou para 20.
O resto foram boas notícias. No Sudeste, maior colégio eleitoral do país, a vantagem de Serra permanece grande, 22 pontos, mas caíu seis pontos.
Já no Nordeste e no Norte/Centro-Oeste ocorreu uma virada, segundo o Ibope. No fim do ano passado, segundo o Ibope, Serra tinha 16 pontos de vantagem no Nordeste e 11 pontos no Norte/Centro-Oeste. Agora está perdendo por cinco pontos numa região e por dois na outra.
Ciro Gomes, presidenciável do PSB – veja o mapa – segurou-se bem no Nordeste e até cresceu no Sul. Oscilou para baixo na contagem nacional devido essencialmente aos quatro pontos que perdeu no populoso Sudeste. Já Marina Silva, do PV, oscilou positivamente em todas as regiões, dentro da margem de erro. Seu melhor desempenho é no Norte, onde chegou a 11%.
Dilma caíu nos mais ricos... e subiu no resto
O relatório do Ibope também traz outras informações. Dilma subiu das capitais, de 18% para 27%, na periferia, de 16% para 23%, e no interior, de 17% para 25%. Avançou nas pequenas, médias e grandes cidades.
A petista perdeu dois pontos percentuais, de 25% para 23%, na faixa que ganha mais de dez salários mínimos por mês (que segundo o Ibope equivale a 3,6% do eleitorado brasileiro). Mas ganhou oito (de 21% para 29%) na camada seguinte, de cinco a dez mínimos. Outros oito na de dois a cinco. Ganhou seis pontos na de um a dois mínimos (a mais numerosa). E subiu 14 pontos, de 11% para 25%, na camada que ganha menos de um mínimo, a "faixa do Bolsa Família".
Ainda assim, o desempenho de Dilma nesta faixa repete a sua média: 25%. O que indica que há muito para crescer aí quando começar a campanha, já que é nas faixas mais pobres que a popularidade de Lula é maior.
José Serra, o virtual candidato da oposição conservadora (embora não tenha ainda assumido a candidatura), descreveu uma trajetória inversa. Consolidou-se na camada mais rica, passando de 43% para 44%. Mas teve seu maior tombo na faixa seguinte, de cinco a dez mínimos: uma perda de oito pontos, de 42% para 34%.
Por que Ciro sair é bom para Dilma
A pesquisa testou apenas dois cenários: um com Ciro – que comentamos até aqui – e outro sem Ciro. Neste último, Serra aparece com cinco ponto a mais (41%) e Dilma com três a mais (28%).
Dez entre dez analistas e jornalistas da grande mídia que comentaram estes números concluiram que, portanto, uma retirada de Ciro favoreceria Serra. Um dos mais enfáticos foi Sergio Kapustan, do próprio Diário do Comércio. "A retirada da candidatura de Ciro Gomes causaria um efeito exatamente oposto ao que espera o presidente Luiz Inácio Lula da Silva", escreveu Kapustan.
Divirjo humildemente dessa impressionante unanimidade e fico com Lula. Esta é uma análise que não pode se contentar com os dados quantitativos globais, tem que entrar no detalhe.
Primeiro, porque o reduto de Ciro é no Nordeste, e é no Nordeste (por exemplo no Ceará, que elegeu o deputado do PSB com retumbante votação) que a avenida para o crescimento de Dilma está mais desimpedida: apenas um governador, o de Alagoas, está no palanque de Serra.
Segundo, porque durante a campanha Ciro teria que se diferenciar para crescer além dos 11% que o Ibope lhe atribui. E não poderia faze-lo com elogios ao governo Lula, que só ajudariam Dilma, e sim com críticas e/ou ataques.
Terceiro, porque os eleitores que não escolheram candidatos segundo o Ibope (disseram que votariam em branco, nulo ou não souberam escolher um candidato) somaram 20% no primeiro cenário (chegando a 23% na camada mais pobre) e 21% no segundo (25% na mais pobre). Estes indecisos, que possivelmente decidirão a eleição presidencial tendem a ser os mais disponíveis para ouvir o pedido de voto de Lula, cuja popularidade o Ibope confirmou, em um cenário polarizado; mas é mais fácil que dispersem suas escolhas em um quadro menos nítido.
Seria ingênuo acreditar que Luiz Inácio – um reconhecido prodígio em matéria eleitoral – esteja redondamente enganado em uma questão como esta. E mais ingênuo ainda supor que a cabala do "fica Ciro" tomou conta da mídia hegemônica com o intuito de ajudar Dilma.
Isto, mais até que os dois pontos perdidos desde dezembro e os seis desde setembro, deve estar frequentando as reflexões de Ciro Gomes depois deste Ibope. E também os de seu partido, que ele promete obedecer "docilmente".
Na espontânea, empate: 9% a 10%
Os números da pesquisa espontânea també merecem um comentário. Há empate técnico entre Serra (10%) e Dilma (9%), seguidos de longe pelo Tucano Aécio Neves (3%), enquanto os outros presidenciáveis não passam de 1%. Porém Lula lidera a espontânea, com 23%. E os que não escolheram ninguém chegam a 52% no Brasil e 63% na Região Sul, onde são mais numerosos.
Na espontânea Dilma tem seu pico nos homens (11%), na faixa entre 30 e 39 anos (11%), e sobe de 6% na faixa com escolaridade até a quarta série para 14% na de nível superior. Oscila entre 7% no Sul e 10% no Nordeste e Norte/Centro-Oeste.
Serra vai melhor nos homens (12%), nas faixas com mais de 40 e de 50 anos (11%), e também melhora de preformance conforme a escolaridade, de 8% para 15%. Vai de 5% no Nordeste a 12% no Sudeste e Norte/Centro-Oeste.
Quanto à renda, Dilma na espontânea tem seu pico nas faixas de mais de 10 salários mínimos (13%) e em especial de cinco a dez (14%), caindo para 10% e 8%, até chegar a 6% na faixa de até um salário mínimo. Serra alcança espetaculares 24% na votação espontânea dos que têm renda acima de dez salários mínimos; depois decresce escalonadamente, até chegar a 7% na vaixa que ganha menos de um mínimo.
E Lula, o campeão da espontânea? Ele segue o caminho inverso de Serra... e também de Dilma. Tem 13% na faixa de mais de dez mínimos, e sobe para 15%, 21%, 26%, até chegar a 29% na "faixa do Bolsa Família". O que confirma que, conforme os analistas já estão reconhecendo, não existe a mais ínfima base para profetizar que Dilma Rousseff "bateu no seu teto".
A pesquisa foi realizada com 2.002 eleitores a partir dos 16 anos entre os dias 6 a 9 de fevereiro, em 144 municípios de todo o Brasil. O intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Esta pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral, sob o protocolo nº 3196/2010
Por que o Irã?
por Emir Sader, no seu blog em Carta Maior
O Irã continua a ser o país privilegiado do “eixo do mal”, extinto formal, mas não realmente, pelos EUA. Está acompanhado pela Venezuela, pela Bolívia, pelo Equador, além da Coréia do Norte, entre outros.
Por que o Irã? Pelos critérios mencionados por Hillary Clinton, não dá para entender. Risco de possuir condições de fabricar armamentos nucleares? Israel assume abertamente que possui esses armamentos e ameaça, semanalmente, bombardear justamente o Irã.
Risco de se tornar uma ditadura? E o que são países como a Arábia Saudita ou o Egito, senão ditaduras?
De que o Irã representaria um risco para seus vizinhos? O Irã não invadiu nenhum outro país, nem ocupa algum território estrangeiro. Já Israel ocupa territórios palestinos há mais de quatro décadas e comprovadamente possui armamento nuclear.
O Irã é um Estado religioso, islâmico, que privilegia os xiitas. Mas Israel é um Estado judeu, sem constituição, mas que privilegia os judeus e faz dos palestinos (1/4) da população, cidadãos de segunda classe.
Por que dois pesos e duas medidas? Simplesmente porque Israel é o aliado privilegiado dos EUA na região – o país que recebe a maior ajuda dos EUA no mundo -, enquanto o Irã é opositor aos EUA. Simplesmente isso. Para confirmar, por que Hillary não critica a ditadura existente na Arábia Saudita ou no Egito – este, o segundo em ajuda militar norteamericana? Porque são aliados fiéis aos EUA.
O que significa o Tratado das armas nucleares? Não um Tratado de desnuclearização, mas de não proliferação de armas nucleares. Isto é, os que têm armas nucleares, tratam de impedir que outros as tenham. A China arrombou essa porta e ingressou imediatamente ao Conselho de Segurança, quando fabricou armamentos nucleares. É evidente que o Paquistão, a Índia, Israel, possuem armamento nuclear. Os EUA não apenas têm uma atitude completamente diferente da que têm em relação a Israel, como apóiam militarmente – inclusive em termos nucleares – esses países.
A luta tem que ser pela desnuclearização. Para que um país necessita ter armas nucleares? Com que objetivo?
A não proliferação busca proteger o poderio nuclear das grandes potências, as que estão mais envolvidas em guerras e em fabricação de armamentos. A desnuclearização luta pelo fim das armas nucleares. A começar pelos que detêm os maiores arsenais do mundo.
O Irã continua a ser o país privilegiado do “eixo do mal”, extinto formal, mas não realmente, pelos EUA. Está acompanhado pela Venezuela, pela Bolívia, pelo Equador, além da Coréia do Norte, entre outros.
Por que o Irã? Pelos critérios mencionados por Hillary Clinton, não dá para entender. Risco de possuir condições de fabricar armamentos nucleares? Israel assume abertamente que possui esses armamentos e ameaça, semanalmente, bombardear justamente o Irã.
Risco de se tornar uma ditadura? E o que são países como a Arábia Saudita ou o Egito, senão ditaduras?
De que o Irã representaria um risco para seus vizinhos? O Irã não invadiu nenhum outro país, nem ocupa algum território estrangeiro. Já Israel ocupa territórios palestinos há mais de quatro décadas e comprovadamente possui armamento nuclear.
O Irã é um Estado religioso, islâmico, que privilegia os xiitas. Mas Israel é um Estado judeu, sem constituição, mas que privilegia os judeus e faz dos palestinos (1/4) da população, cidadãos de segunda classe.
Por que dois pesos e duas medidas? Simplesmente porque Israel é o aliado privilegiado dos EUA na região – o país que recebe a maior ajuda dos EUA no mundo -, enquanto o Irã é opositor aos EUA. Simplesmente isso. Para confirmar, por que Hillary não critica a ditadura existente na Arábia Saudita ou no Egito – este, o segundo em ajuda militar norteamericana? Porque são aliados fiéis aos EUA.
O que significa o Tratado das armas nucleares? Não um Tratado de desnuclearização, mas de não proliferação de armas nucleares. Isto é, os que têm armas nucleares, tratam de impedir que outros as tenham. A China arrombou essa porta e ingressou imediatamente ao Conselho de Segurança, quando fabricou armamentos nucleares. É evidente que o Paquistão, a Índia, Israel, possuem armamento nuclear. Os EUA não apenas têm uma atitude completamente diferente da que têm em relação a Israel, como apóiam militarmente – inclusive em termos nucleares – esses países.
A luta tem que ser pela desnuclearização. Para que um país necessita ter armas nucleares? Com que objetivo?
A não proliferação busca proteger o poderio nuclear das grandes potências, as que estão mais envolvidas em guerras e em fabricação de armamentos. A desnuclearização luta pelo fim das armas nucleares. A começar pelos que detêm os maiores arsenais do mundo.
O tempo e a esperança
por Mino Carta, em Carta Capital
Anos atrás, uma jovem estagiária de CartaCapital às vésperas de um fim de semana longo, destes que englobam prazerosamente sexta, ou segunda, observou: “É agora que os brasileiros pegam seus carros e vão para a praia”. Ergueram-se das mesas de trabalho expressões entre atônitas e perplexas. A estagiária de família burguesa cogitava da sua turma. Embora os índices de pobreza tenham diminuído durante os mandatos de Lula, 5% apenas da população ganha de 800 reais para cima. Nesta fatia exígua, cabem nababos, burguesotes e remediados.
A diferença econômica e social entre uns e outros é um abismo, com todas as consequências, da miséria à ignorância, do oblívio na inconsciência da cidadania às altas taxas de criminalidade. Não é esta a plateia para o espetáculo oferecido por eventos e atores da cena política. No momento, como sabemos, a ribalta fica em Brasília. Mas a maioria está longe do enredo, mentalmente antes que fisicamente, tolhida em seus limites, muitos nem sequer o percebem.
Leio no diário La Repubblica um artigo de Ilvo Diamanti, pensador agudo. Refere-se a mais um escândalo eclodido na Itália à sombra da organização do G-8, inicialmente previsto para a Ilha da Maddalena e depois transferido para L’Aquila, a cidade semidestruída pelo recente terremoto dos Abruzos. É uma história de propinas, festanças e moçoilas dadivosas, a envolver graúdos funcionários governistas e empreiteiras, tudo dentro dos padrões consagrados. Trata-se, escreve Diamanti, “de uma encenação francamente amoral, na qual a dor mistura-se com a especulação, a tragédia com a corrupção”.
Diamanti encara a plateia indiferente, no sentido de que não há diferença “entre justo e injusto, juízes e malfeitores, espertalhões e honestos, bons e maus. Porque maus, espertalhões e malfeitores garantem ibope”. A análise é implacável: à meia-voz, os espectadores se queixam e declaram sua desconfiança em relação aos políticos, “especialmente os de esquerda, porque, antes e mais que os demais, levantaram a questão moral”. Para ficar eles próprios, ao cabo, enredados.
“Daí o risco – prossegue Diamanti – de tão acostumados com o escândalo que, desta forma, deixa de ser escândalo. E leva mesmo a olhar com suspeita quem se escandaliza, para tratá-lo, com ácida ironia, como profissional da indignação.” E mais adiante: “Por trás disso tudo, do difuso desencanto do nosso tempo, verifica-se a mutação da relação entre sociedade e política”. A interferência da mídia é imediata e imediatista, faltam-lhe condição e tempo para mediar e a política e os líderes encontram-se frente a frente com os eleitores, “de maneira assimétrica e desequilibrada”.
A terrível reflexão de Diamanti não vale somente para a Itália berlusconiana, mas também para um vasto pedaço de mundo, em primeiro lugar Europa e Estados Unidos. Vale também, em boa parte, para a minoria dos brasileiros confiantes em uma mídia que não media, por razões diversas daquelas verificáveis em outros cantos. Até os comunicadores nativos não conseguem dar-se conta do que ocorre, na convicção de serem lidos, ouvidos, vistos. Acreditam, portanto, estar habilitados, ainda e sempre, a ditar regras e orientar escolhas, eleitorais inclusive. Acreditam? Assim parece, a julgar pelo ímpeto com que atuam.
Enganam-se, creio eu. Desde 2002, desde quando um ex-operário foi eleito presidente. E tal é o fato mais importante, decisivo mesmo, da história recente, mais significativo do que o próprio governo Lula. A maioria identificou-se finalmente com um igual em lugar do costumeiro engravatado, sem falar dos ditadores. Os brasileiros que pegam seus carros e vão para a praia não gostam daquilo que daí decorre. Não podem, porém, dobrar o destino à sua vontade.
Pelos séculos, cuidaram de dilapidar o patrimônio Brasil, ou não souberam aproveitá-lo a bem do País. Patrimônio extraordinário, sacrificado em nome dos seus interesses individuais e de classe, conquanto a natureza continuasse a se mostrar generosa. Penso nas palavras de Diamanti e concluo que não se aplicam à maioria da nação brasileira. Eis aí mais uma vantagem que o Brasil leva em um jogo que, para nós, está no começo. Inclusive, pela transparente impossibilidade de comunicação entre a mídia e quem não lê porque não foi equipado para tanto e quem não procura a Globo para ver o Jornal Nacional, prefere-lhe a novela e o Faustão.
Alguns enxergam nesse campo as carências do Brasil contemporâneo, as dificuldades de um país que engatinha. Vejo o contrário, já que tanto há ainda por fazer. O tempo trabalha a favor da esperança.
Anos atrás, uma jovem estagiária de CartaCapital às vésperas de um fim de semana longo, destes que englobam prazerosamente sexta, ou segunda, observou: “É agora que os brasileiros pegam seus carros e vão para a praia”. Ergueram-se das mesas de trabalho expressões entre atônitas e perplexas. A estagiária de família burguesa cogitava da sua turma. Embora os índices de pobreza tenham diminuído durante os mandatos de Lula, 5% apenas da população ganha de 800 reais para cima. Nesta fatia exígua, cabem nababos, burguesotes e remediados.
A diferença econômica e social entre uns e outros é um abismo, com todas as consequências, da miséria à ignorância, do oblívio na inconsciência da cidadania às altas taxas de criminalidade. Não é esta a plateia para o espetáculo oferecido por eventos e atores da cena política. No momento, como sabemos, a ribalta fica em Brasília. Mas a maioria está longe do enredo, mentalmente antes que fisicamente, tolhida em seus limites, muitos nem sequer o percebem.
Leio no diário La Repubblica um artigo de Ilvo Diamanti, pensador agudo. Refere-se a mais um escândalo eclodido na Itália à sombra da organização do G-8, inicialmente previsto para a Ilha da Maddalena e depois transferido para L’Aquila, a cidade semidestruída pelo recente terremoto dos Abruzos. É uma história de propinas, festanças e moçoilas dadivosas, a envolver graúdos funcionários governistas e empreiteiras, tudo dentro dos padrões consagrados. Trata-se, escreve Diamanti, “de uma encenação francamente amoral, na qual a dor mistura-se com a especulação, a tragédia com a corrupção”.
Diamanti encara a plateia indiferente, no sentido de que não há diferença “entre justo e injusto, juízes e malfeitores, espertalhões e honestos, bons e maus. Porque maus, espertalhões e malfeitores garantem ibope”. A análise é implacável: à meia-voz, os espectadores se queixam e declaram sua desconfiança em relação aos políticos, “especialmente os de esquerda, porque, antes e mais que os demais, levantaram a questão moral”. Para ficar eles próprios, ao cabo, enredados.
“Daí o risco – prossegue Diamanti – de tão acostumados com o escândalo que, desta forma, deixa de ser escândalo. E leva mesmo a olhar com suspeita quem se escandaliza, para tratá-lo, com ácida ironia, como profissional da indignação.” E mais adiante: “Por trás disso tudo, do difuso desencanto do nosso tempo, verifica-se a mutação da relação entre sociedade e política”. A interferência da mídia é imediata e imediatista, faltam-lhe condição e tempo para mediar e a política e os líderes encontram-se frente a frente com os eleitores, “de maneira assimétrica e desequilibrada”.
A terrível reflexão de Diamanti não vale somente para a Itália berlusconiana, mas também para um vasto pedaço de mundo, em primeiro lugar Europa e Estados Unidos. Vale também, em boa parte, para a minoria dos brasileiros confiantes em uma mídia que não media, por razões diversas daquelas verificáveis em outros cantos. Até os comunicadores nativos não conseguem dar-se conta do que ocorre, na convicção de serem lidos, ouvidos, vistos. Acreditam, portanto, estar habilitados, ainda e sempre, a ditar regras e orientar escolhas, eleitorais inclusive. Acreditam? Assim parece, a julgar pelo ímpeto com que atuam.
Enganam-se, creio eu. Desde 2002, desde quando um ex-operário foi eleito presidente. E tal é o fato mais importante, decisivo mesmo, da história recente, mais significativo do que o próprio governo Lula. A maioria identificou-se finalmente com um igual em lugar do costumeiro engravatado, sem falar dos ditadores. Os brasileiros que pegam seus carros e vão para a praia não gostam daquilo que daí decorre. Não podem, porém, dobrar o destino à sua vontade.
Pelos séculos, cuidaram de dilapidar o patrimônio Brasil, ou não souberam aproveitá-lo a bem do País. Patrimônio extraordinário, sacrificado em nome dos seus interesses individuais e de classe, conquanto a natureza continuasse a se mostrar generosa. Penso nas palavras de Diamanti e concluo que não se aplicam à maioria da nação brasileira. Eis aí mais uma vantagem que o Brasil leva em um jogo que, para nós, está no começo. Inclusive, pela transparente impossibilidade de comunicação entre a mídia e quem não lê porque não foi equipado para tanto e quem não procura a Globo para ver o Jornal Nacional, prefere-lhe a novela e o Faustão.
Alguns enxergam nesse campo as carências do Brasil contemporâneo, as dificuldades de um país que engatinha. Vejo o contrário, já que tanto há ainda por fazer. O tempo trabalha a favor da esperança.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
CARNAVAL DE UBATUBA: FAIXA DE GAZA OU A VOLTA DO REGIME MILITAR
Foi horrível a cena de carnaval da Avenida Iperoig, nesta terça feira, 16/02. Os policiais não souberam administrar o conflito que eles mesmos causaram ao pedir para que desligassem o som do carro, perdendo o controle da situação.
Policiais, sem as mínimas condições de fazer uso de armas de fogo, ficaram a madrugada inteira atirando bombas de gás lacrimogenio e de efeito moral, correndo atrás das pessoas como se fossem gangsters. Mais parecia cenas dos conflitos entre Israel e Palestina.
Demonstraram um despreparo total, do ponto de vista da segurança da população. Agiam com grosseria, violência, gritando contra qualquer cidadão que até aquele momento achava que dava para curtir carnaval em Ubatuba. Não respeitaram ninguém. Mulheres, crianças, idosos e até gestantes foram alvos dessa agressão. Várias pessoas foram encaminhadas a Santa Casa local. Comerciantes eram obrigados a fechar seus estabelecimentos e seus clientes eram obrigados a sair à força. Muitos não pagaram a conta, o que trouxe prejuízos a quem sonhava com os poucos dias do carnaval para livrar-se das contas do IPTU e demais impostos a pagar.
Muita gente ficou indignada com essa situação pois os policiais são pagos pela população para defendê-la e não para agredi-la. Também causou indignação falta de organização por parte da Prefeitura, que mais uma vez deixou a desejar.
O encerramento da festa antes de terminar revela a incompetência daqueles que foram eleitos para garantir melhores condições para o turismo e o comércio local. À população não foi dado o direito de tentar suprir essa incompetência e encontrar alternativas para a continuidade da festa, deixando-a pasma e sem reação.
Na prática, essa situação mostra que para a Polícia Militar ser um instrumento de apoio e segurança e não uma ameaça à populaçã é necessário: a) investimento em formação desses policiais para que saibam enfrentar melhor as diferentes situações; b) melhores salários e equipamentos adequados.
Do outro lado, começamos a sentir os reflexos de uma população analfabetizada pela incompetência de se levar a frente o modelo de educação adotado pelos tucanos nestes últimos 15 anos. Aqueles que se rebelaram contra a policia, atirando pedras e desrespeitando as autoridades fazem parte dessa juventude que passa de ano sem nada saber, e tem dificuldade de viver em coletividade.
O público que foi lesado pela insensatez daqueles policiais em suas ações merece resposta a essas questões:
. Por que a Policia Militar agiu de tal forma?
. Até quando isso vai continuar acontecendo?
. Qual é a garantia de responsabilidade e atribuição do Estado quanto à segurança da sociedade?
É preciso atitude e apuração dos fatos por parte das autoridades, seja ela política, jurídica ou administrativa, para que, diante da fraqueza do Estado, não tenhamos que nos valer da segurança privada , como já ocorre com as classes A e B.
Gerson Florindo de Souza
Vice Presidente do PT de Ubatuba, Sindicalista dos Bancários da CUT e Coordenador da ONG CIDADE & CIDADÃO em Ubatuba.
Policiais, sem as mínimas condições de fazer uso de armas de fogo, ficaram a madrugada inteira atirando bombas de gás lacrimogenio e de efeito moral, correndo atrás das pessoas como se fossem gangsters. Mais parecia cenas dos conflitos entre Israel e Palestina.
Demonstraram um despreparo total, do ponto de vista da segurança da população. Agiam com grosseria, violência, gritando contra qualquer cidadão que até aquele momento achava que dava para curtir carnaval em Ubatuba. Não respeitaram ninguém. Mulheres, crianças, idosos e até gestantes foram alvos dessa agressão. Várias pessoas foram encaminhadas a Santa Casa local. Comerciantes eram obrigados a fechar seus estabelecimentos e seus clientes eram obrigados a sair à força. Muitos não pagaram a conta, o que trouxe prejuízos a quem sonhava com os poucos dias do carnaval para livrar-se das contas do IPTU e demais impostos a pagar.
Muita gente ficou indignada com essa situação pois os policiais são pagos pela população para defendê-la e não para agredi-la. Também causou indignação falta de organização por parte da Prefeitura, que mais uma vez deixou a desejar.
O encerramento da festa antes de terminar revela a incompetência daqueles que foram eleitos para garantir melhores condições para o turismo e o comércio local. À população não foi dado o direito de tentar suprir essa incompetência e encontrar alternativas para a continuidade da festa, deixando-a pasma e sem reação.
Na prática, essa situação mostra que para a Polícia Militar ser um instrumento de apoio e segurança e não uma ameaça à populaçã é necessário: a) investimento em formação desses policiais para que saibam enfrentar melhor as diferentes situações; b) melhores salários e equipamentos adequados.
Do outro lado, começamos a sentir os reflexos de uma população analfabetizada pela incompetência de se levar a frente o modelo de educação adotado pelos tucanos nestes últimos 15 anos. Aqueles que se rebelaram contra a policia, atirando pedras e desrespeitando as autoridades fazem parte dessa juventude que passa de ano sem nada saber, e tem dificuldade de viver em coletividade.
O público que foi lesado pela insensatez daqueles policiais em suas ações merece resposta a essas questões:
. Por que a Policia Militar agiu de tal forma?
. Até quando isso vai continuar acontecendo?
. Qual é a garantia de responsabilidade e atribuição do Estado quanto à segurança da sociedade?
É preciso atitude e apuração dos fatos por parte das autoridades, seja ela política, jurídica ou administrativa, para que, diante da fraqueza do Estado, não tenhamos que nos valer da segurança privada , como já ocorre com as classes A e B.
Gerson Florindo de Souza
Vice Presidente do PT de Ubatuba, Sindicalista dos Bancários da CUT e Coordenador da ONG CIDADE & CIDADÃO em Ubatuba.
País tem o melhor janeiro da história na criação de empregos
Dados do Caged superaram previsões e apontaram geração de 181 mil postos formais de trabalho
Confirmando as expectativas já anunciadas pelo próprio presidente Lula, o país fechou o mês de janeiro com geração de 181.419 postos de trabalho. Segundo o ministro do Trabalho Luiz Carlos Lupi, trata-se do maior volume de criação de postos formais para meses de janeiro da história.
O número consta do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foi divulgado nesta manhã. O dado superou a estimativa de Lupi, de 142 mil empregos no primeiro mês do ano.
Ainda em janeiro, o Caged registrou um total de 1.410.462 pessoas admitidas em postos formais de emprego e 1.229.043 demissões. Com isso, o saldo líquido do Caged ficou positivo em 181.419 vagas com carteira assinada. O número foi bem acima do recorde de 142 mil empregos de janeiro de 2008.
Meta para 2010
O ministro do Trabalho reforçou durante a divulgação do Caged de janeiro a meta do governo de gerar 2 milhões de empregos formais em 2010. Ele disse que um eventual aumento na taxa de juros não vai comprometer a geração das vagas. O ministro disse também que é contra o aumento de juros. "Não vejo necessidade nenhuma de aumentar a taxa de juros, o aumento só favorece quem especula. Sou a favor de taxas mais baixas possíveis para alimentar o aquecimento da economia", disse.
De acordo com o ministro, "se tiver algum aumento da taxa de juros, para o qual eu trabalho contra e torço para que não tenha, será muito pequeno. Não há bolha inflacionária, a inflação está sob controle e por isso, se houver o aumento será muito pequeno e não influenciará a geração de empregos", afirmou. Lupi disse prever uma taxa de desemprego (medida pelo IBGE) de 7,3% a 7,4% em 2010.
(Com Jacqueline Farid, da Agência Estado)
Confirmando as expectativas já anunciadas pelo próprio presidente Lula, o país fechou o mês de janeiro com geração de 181.419 postos de trabalho. Segundo o ministro do Trabalho Luiz Carlos Lupi, trata-se do maior volume de criação de postos formais para meses de janeiro da história.
O número consta do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foi divulgado nesta manhã. O dado superou a estimativa de Lupi, de 142 mil empregos no primeiro mês do ano.
Ainda em janeiro, o Caged registrou um total de 1.410.462 pessoas admitidas em postos formais de emprego e 1.229.043 demissões. Com isso, o saldo líquido do Caged ficou positivo em 181.419 vagas com carteira assinada. O número foi bem acima do recorde de 142 mil empregos de janeiro de 2008.
Meta para 2010
O ministro do Trabalho reforçou durante a divulgação do Caged de janeiro a meta do governo de gerar 2 milhões de empregos formais em 2010. Ele disse que um eventual aumento na taxa de juros não vai comprometer a geração das vagas. O ministro disse também que é contra o aumento de juros. "Não vejo necessidade nenhuma de aumentar a taxa de juros, o aumento só favorece quem especula. Sou a favor de taxas mais baixas possíveis para alimentar o aquecimento da economia", disse.
De acordo com o ministro, "se tiver algum aumento da taxa de juros, para o qual eu trabalho contra e torço para que não tenha, será muito pequeno. Não há bolha inflacionária, a inflação está sob controle e por isso, se houver o aumento será muito pequeno e não influenciará a geração de empregos", afirmou. Lupi disse prever uma taxa de desemprego (medida pelo IBGE) de 7,3% a 7,4% em 2010.
(Com Jacqueline Farid, da Agência Estado)
Gandhi e o Estado Judeu
Recebi muitas cartas solicitando a minha opinião sobre a questão judaico-palestina e sobre a perseguição aos judeus na Alemanha. Não é sem hesitação que ouso expor o meu ponto-de-vista.
Na Alemanha as minhas simpatias estão todas com os judeus. Eu os conheci intimamente na África do Sul. Alguns deles se tornaram grandes amigos. Através destes amigos aprendi muito sobre as perseguições que sofreram. Eles têm sido os "intocáveis" do cristianismo; há um paralelo entre eles, e os "intocáveis" dos hindus. Sanções religiosas foram invocadas nos dois casos para justificar o tratamento dispensado a eles. Afora as amizades, há a mais universal razão para a minha simpatia pelos judeus. No entanto, a minha simpatia não me cega para a necessidade de Justiça.
O pedido por um lar nacional para os judeus não me convence.
Por que eles não fazem, como qualquer outro dos povos do planeta, que vivem no país onde nasceram e fizeram dele o seu lar?
A Palestina pertence aos palestinos, da mesma forma que a Inglaterra pertence aos ingleses, ou a França aos franceses.
É errado e desumano impor os judeus aos árabes. O que está acontecendo na Palestina não é justificável por nenhuma moralidade ou código de ética. Os mandatos não têm valor. Certamente, seria um crime contra a humanidade reduzir o orgulho árabe para que a Palestina fosse entregue aos judeus parcialmente ou totalmente como o lar nacional judaico.
O caminho mais nobre seria insistir num tratamento justo para os judeus em qualquer parte do mundo em que eles nascessem ou vivessem. Os judeus nascidos na França são franceses, da mesma forma que os cristãos nascidos na França são franceses.
M.K.Ghandi
Fonte: O esquerdopata
Vitória. Vitória?
por Luiz Carlos Azenha
Antecipar o resultado das eleições de 2010 não custa um centavo sequer. É temerário uma pessoa fazer como o homem do ibope, o sr. Montenegro, que disse que o PT acabou e que Lula não fará o sucessor. Primeiro, por ele representar um instituto de pesquisas cuja credibilidade depende do acerto das pesquisas; depois, por colocar sob suspeita as próprias pesquisas do instituto, que -- é razoável supor -- vão tentar "confirmar" o que diz o dono; e também pelo gigantesco mico de prever um resultado que não seja confirmado nas urnas.
Eu, que não sou dono de instituto de opinião, não me arriscaria a tanto. E, francamente, é muito cedo para fazer previsões. A não se que você não esteja certo de sua candidatura e que sua incerteza deixe incertos, também, seus aliados, parceiros e financiadores. Nesse caso, você precisa criar na opinião pública a impressão de um "já ganhou", ainda que artificial. Isso pode ser "providenciado" por pesquisas ligeiramente distorcidas por institutos de opinião "amigáveis", por artigos na imprensa nacional e internacional que demonstrem a viabilidade de sua candidatura e pelo wishful thinking de seus amigos e aliados.
Mas ninguém ganha eleição batendo no peito ou com manchetes unânimes produzidas na mídia. A alguns fatos, pois.
O governador Serra tem a favor dele o reconhecimento do nome junto ao eleitorado e sua experiência administrativa, gostem ou não vocês do que ele fez como ministro, prefeito ou governador. Eu, como eleitor de São Paulo, acho que é muito pouco. Acho que o governador foi muito pouco criativo na administração do estado. Quando sair do governo, poderá apontar para uma grande obra viária, a ampliação da marginal do rio Tietê, integrada ao Rodoanel. No mais, a atuação de Serra ficou entre o regular e o medíocre: ele não cuidou da grande obra de seu antecessor, Geraldo Alckmin, que foi a ampliação da calha do rio Tietê, com resultados óbvios para paulistas e paulistanos; não se pode dizer que na segurança pública, na educação ou na saúde São Paulo tenha tido grandes avanços, se não teve claros retrocessos.
Eu, francamente, esperaria de um governador de São Paulo candidato ao Planalto -- governador de um estado que tem dinheiro, talento e energia --soluções criativas e ousadas, especialmente para os problemas da grande metrópole brasileira, que Serra administrou em parceria com Gilberto Kassab. Mas, francamente, não vejo isso. Nem mesmo no gerenciamento das questões do dia-a-dia, supostamente o ponto forte do PSDB, vimos isso.
Um exemplo prosaico: São Paulo tem alguns pontos que alagam com frequência, sempre que chove muito. Ainda que a cidade tenha sido pega de surpresa pelas chuvas deste ano, agora sabemos que está chovendo muito em 2010. A prefeitura de São Paulo poderia dar um tratamento especial aos pontos de alagamento: varrição especial, coleta continuada de lixo, esquema de emergência com os bombeiros e funcionários públicos para resgatar alagados... Porém, nada disso se vê. Nenhuma satisfação é dada ao público. O atendimento é tardio, quando existe. É como se as autoridades estivessem torcendo para o período de chuvas acabar logo como forma de enfrentar o problema. Ou rezando. Ou pedindo à Globo reportagens denunciando a população como culpada por jogar lixo nos bueiros.
O fato é que Serra precisa de 70% dos votos em São Paulo para ter alguma chance de ganhar a eleição no Brasil. E é atrás destes 70% que ele está correndo, com sua "fama" de bom administrador. Duvido que ele consiga mas, vá lá. Além de muitos votos em São Paulo, Serra precisa de muitos votos em Minas Gerais e no sul do Brasil. Mas isso está longe de garantido. Há dúvidas sobre o apoio que Aécio Neves dará ao candidato de seu partido, se o governador paulista confirmar sua candidatura. No sul a governadora Yeda Crusius, aliada de Serra, está morta. O palanque do PT, especialmente no Rio Grande do Sul, terá o potencial de atrair um bom número de votos.
Para além disso, ao contrário do que diz o sr. Montenegro, do ibope, o PT não está morto. É só analisar os números da votação do partido nas eleições mais recentes (alguém pode me ajudar com isso?). O PT tem um grande número de vereadores, prefeitos, deputados, senadores e governadores que estarão empenhados na campanha presidencial. E está coligado ao maior partido do Brasil, o PMDB, que é um grande "produtor" de votos. Não é por acaso que o presidente Lula defendeu o senador José Sarney nos escândalos do Senado e não é por acaso que a mídia amiga de Serra mirou em Sarney: foi uma tentativa de desconstruir a aliança eleitoral.
Sabemos que a coligação PT-PMDB terá mais tempo de propaganda eleitoral que a coligação PSDB-DEM, o que é crucial numa eleição em um país tão grande quanto o Brasil.
Para mais além disso, todas as pesquisas tem mostrado um grande apoio ao governo Lula e altas taxas de aprovação pessoal do presidente da República. Podemos questionar se Lula terá ou não capacidade de transferir votos, mas não podemos dizer que o apoio de Lula é descartável. Só desdenha desse apoio quem não pode contar com ele.
Para além disso, muito mais, temos a situação da economia brasileira: estável, em crescimento acelerado para os padrões do país, criando empregos, permitindo a alguns milhões realizar o sonho da casa própria e a outros milhões o acesso à universidade.
Essa combinação de fatores, enfim, "conspira" em favor da candidatura que mantiver o status quo. Todos os prefeitos que se reelegeram recentemente tiraram proveito dessa maré "governista", pelo simples motivo de que as pessoas não gostam de mexer em time que está ganhando.
Portanto, a tarefa do governador Serra é convencer os eleitores de que ele vai mudar muito pouco. Mas, para mudar pouco ninguém vota em candidato da oposição, já que a lógica de votar na oposição é votar por mudanças. Serra precisa convencer o eleitorado brasileiro de que ele é o herdeiro de Lula e de que Dilma é anti-Lula, como tentou nos convencer o correspondente do jornal espanhol El Pais no Rio de Janeiro, Juan Arias, em artigo que ele parece ter "psicografado" diretamente do forninho do PSDB, talvez diretamente ali das redondezas do Jardim Botânico.
Ora, como fazer para convencer o eleitor de que sou herdeiro do Lula? Corro o risco do Lula aparecer na TV e dizer: "Não, meu caro, eu sou o Lula, posso afirmar que você não me representa, nem minha herança".
(Isso me faz lembrar de Dan Quayle, candidato a vice na chapa de George Bush pai, que dizia ser o herdeiro político de John Kennedy. Ao que o vice da chapa adversária, Lloyd Bentsen, um matuto do Texas, replicou, num debate eleitoral: "Conheci Kennedy. Fui amigo de Kennedy. Convivi com a família Kennedy. Posso dizer que o sr. não é o John Kennedy)
Finalmente, não é desprezível o fato de que o PSDB perdeu, pelo envolvimento de aliados de Serra com situações no mínimo constrangedoras -- Yeda Crucius no Rio Grande do Sul e José Roberto Arruda no Distrito Federal -- a capacidade de se apresentar aos eleitores como o partido das mãos limpas.
O governador Serra fez até agora quase tudo o que poderia ter feito para garantir o lançamento de sua candidatura. Pelas razões que expus acima, os fatos conspiram contra ele: o presidente é popular, a economia vai bem, a adversária terá mais tempo que ele na campanha de TV, tem dois partidos sólidos atrás dela e palanques fortes na maior parte do Brasil.
Se sair candidato, Serra terá vencido a briga interna. Estamos longe de saber o que ele vai ganhar com isso. Pode ser o Planalto, mas pode muito bem ser o fim de sua carreira política. Vitória. Vitória?
FHC explora preconceito contra mulheres
por Luiz Carlos Azenha
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não é apenas preconceituoso contra as mulheres, conforme sugerido pela afirmação dele de que a ministra Dilma Rousseff seria "reflexo" de Lula, ou seja, não tem personalidade própria. FHC é de um tempo em que as mulheres aceitavam como "natural" subordinar seus interesses aos interesses dos homens.
Afinal, qual é a lição do episódio em que uma repórter aceitou o exílio para esconder o filho que teve com o senador, quando isso foi "necessário" para proteger a carreira política de FHC? Ele se elegeu presidente da República. Ela e o filho ficaram "escondidos" no exílio, à espera da hora "certa", determinada única e exclusivamente pelo interesse pessoal do ex-presidente.
Mas FHC vai além, ao sugerir que Dilma não é democrata. Em entrevista a um colunista do Miami Herald, é isso o que afirmou, por linhas tortas, quando o gringo quis saber se ele achava a ministra mais próxima do presidente venezuelano Hugo Chávez:
Colunista: A Dilma seria mais próxima do esquerdista radical da Venezuela, presidente Hugo Chávez?
FHC: Provavelmente. De qualquer forma, você precisa considerar que as instituições do país são fortes e que as pessoas no poder não podem fazer tudo o que querem. Ela pode querer, mas a liderança de outros grupos políticos, a existência da imprensa livre, de companhias fortes, universidades, etc. tudo isso trabalha como contrapeso. Mas, tendo dito isso, o coração de Dilma é mais próximo da esquerda.
Ou seja, FHC sugere que Dilma não faria loucura, se eleita, não por ser democrata, mas porque a sociedade brasileira não deixaria.
Repito que, consciente ou inconscientemente, FHC revela todo o seu preconceito contra as mulheres. Numa ocasião, sugerindo que Dilma é uma "zé ninguém", sem vontade própria. Em outra, que representa algum tipo de perigo, que só será contido pela reação da sociedade brasileira.
Notem que FHC não critica esta ou aquela ação da ministra, esta ou aquela ideia, este ou aquele programa que ela implantou. Faz uma crítica pessoal, cujo objetivo é explorar eventuais preconceitos de eleitores contra as mulheres em geral e Dilma em particular, ora dizendo que ela não sabe o que faz, que é manipulável, marionete na mão dos outros, ora que representa algum perigo descontrolado, uma mulher com TPM revolucionária. Seria cômico, não fosse um discurso machista, reacionário e ofensivo.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não é apenas preconceituoso contra as mulheres, conforme sugerido pela afirmação dele de que a ministra Dilma Rousseff seria "reflexo" de Lula, ou seja, não tem personalidade própria. FHC é de um tempo em que as mulheres aceitavam como "natural" subordinar seus interesses aos interesses dos homens.
Afinal, qual é a lição do episódio em que uma repórter aceitou o exílio para esconder o filho que teve com o senador, quando isso foi "necessário" para proteger a carreira política de FHC? Ele se elegeu presidente da República. Ela e o filho ficaram "escondidos" no exílio, à espera da hora "certa", determinada única e exclusivamente pelo interesse pessoal do ex-presidente.
Mas FHC vai além, ao sugerir que Dilma não é democrata. Em entrevista a um colunista do Miami Herald, é isso o que afirmou, por linhas tortas, quando o gringo quis saber se ele achava a ministra mais próxima do presidente venezuelano Hugo Chávez:
Colunista: A Dilma seria mais próxima do esquerdista radical da Venezuela, presidente Hugo Chávez?
FHC: Provavelmente. De qualquer forma, você precisa considerar que as instituições do país são fortes e que as pessoas no poder não podem fazer tudo o que querem. Ela pode querer, mas a liderança de outros grupos políticos, a existência da imprensa livre, de companhias fortes, universidades, etc. tudo isso trabalha como contrapeso. Mas, tendo dito isso, o coração de Dilma é mais próximo da esquerda.
Ou seja, FHC sugere que Dilma não faria loucura, se eleita, não por ser democrata, mas porque a sociedade brasileira não deixaria.
Repito que, consciente ou inconscientemente, FHC revela todo o seu preconceito contra as mulheres. Numa ocasião, sugerindo que Dilma é uma "zé ninguém", sem vontade própria. Em outra, que representa algum tipo de perigo, que só será contido pela reação da sociedade brasileira.
Notem que FHC não critica esta ou aquela ação da ministra, esta ou aquela ideia, este ou aquele programa que ela implantou. Faz uma crítica pessoal, cujo objetivo é explorar eventuais preconceitos de eleitores contra as mulheres em geral e Dilma em particular, ora dizendo que ela não sabe o que faz, que é manipulável, marionete na mão dos outros, ora que representa algum perigo descontrolado, uma mulher com TPM revolucionária. Seria cômico, não fosse um discurso machista, reacionário e ofensivo.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Carnaval é alegria
Brasileiro não é muito chegado em estatística, mas meus olhos e ouvidos acham que o carnaval é o período mais violento do ano. Longe de ser uma grande festa, é uma explosão de violência e barbárie. Claro que eu não posso provar, mas se alguém puder provar o contrário eu agradeceria.
Vide o tumulto ocorrido em Ubatuba, na avenida, dia 15.
Vide o tumulto ocorrido em Ubatuba, na avenida, dia 15.
A profecia se cumpre!!
Dilma sobe 8 pontos; Serra cai 2
Pesquisa Ibope/Diário do Comércio, encomendada pela Associação Comercial de São Paulo e realizada entre os dias 6 a 9 deste mês, indica que a corrida à sucessão presidencial de outubro continua polarizada pelos pré-candidatos do PSDB e do PT, respectivamente o governador de São Paulo, José Serra, e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Nessa mostra, Serra tem 36% das intenções de voto e Dilma 25%. Em terceiro lugar está o deputado federal Ciro Gomes (PSB) com 11%, seguido da senadora Marina Silva (PV) com 8%. O porcentual de votos brancos e nulos somou 11% e dos que disseram não saber em quem vota atingiu 9%.
A última pesquisa divulgada pelo Ibope foi no dia 7 de dezembro do ano passado. Na mostra, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Serra registrava 38% das intenções de voto, seguido de Dilma Rousseff com 17%, Ciro Gomes com 13% e Marina Silva com 6%. Naquela pesquisa, o porcentual de votos brancos e nulos atingiu 13% e dos que disseram não saber em quem votar ou não quiseram responder somou 12%.
No cenário sem Ciro Gomes, a pesquisa Ibope/Diário do Comércio aponta José Serra com 41%, Dilma Rousseff com 28%, Marina Silva com 10%, brancos e nulos 12% e não sabem ou não opinaram 9%.
Na simulação de um eventual segundo turno entre José Serra e Dilma Rousseff, o tucano lidera com 47% e Dilma registra 33%.A maior rejeição apontada pela pesquisa é de Ciro Gomes, com 41%, seguido de Marina Silva com 39%, Dilma Rousseff com 35% e José Serra com 29%.
Continuidade
A pesquisa Ibope/Diário do Comércio avaliou também o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para 47% dos entrevistados, a administração de Lula é boa, para 29% é ótima, para 19% é regular, para 3% é péssima e para 2% é ruim.
A mostra indagou ainda o que os eleitores gostariam que o próximo presidente fizesse. Do total de entrevistados, 34% querem a total continuidade do atual governo, 29% querem pequenas mudanças com continuidade, 25% querem a manutenção de apenas alguns programas com muitas mudanças e 10% querem a mudança total do governo do País. Para 78% dos entrevistados, o presidente Lula é confiável, enquanto 18% disseram não confiar no presidente.
A pesquisa, que será divulgada amanhã pelo Diário do Comércio, foi realizada com 2.002 eleitores em 144 municípios de todo o Brasil. O intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Esta pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral, sob o protocolo nº 3196/2010. Agência Estado
Fonte: A P L
A vaca foi pro brejo
A chuva que atingiu a cidade nesta quarta-feira (17) provocou 43 pontos de alagamento, sendo que sete deles continuavam intransitáveis às 20h10. A rua Turiaçu, onde a vaca da mostra ficou boiando, foi um dos pontos mais críticos da cidade.
Quando a chuva diminiu, a vaca ficou no meio da rua, atrapalhando o trânsito. Pessoas que passavam pelo local a levaram de volta para calçada.
Quem vê o alagão e pensa na candidatura de José Serra (PSDB/SP), logo pensa: "... A vaca foi pro brejo".
Fonte: blog A P L
O comparável e o incoparável
Alguém imagina que Lula quer fazer, na eleição deste ano, uma guerra com Fernando Henrique em torno de números sobre o desempenho de seu governo? Que o plebiscito que persegue há tanto tempo consiste nisso, uma batalha de estatísticas de performance governamental?
Quem acha que é isso que Lula quer, se engana. Não é essa a eleição para a qual ele se prepara desde o fim de 2007, quando sua popularidade cresceu ao ponto de tornar possível que não só escolhesse sozinho quem representaria o governo na eleição, como que sua indicada tivesse boa chance de vitória.
O plebiscito que ele imaginou para vencer um candidato tão forte quanto José Serra é diferente. Nele, pode ser até necessário passar pela comparação do que fizeram os dois governos, área por área, política por política. Mas sem permanecer nesse plano, de resultados objetivos cotejados com resultados objetivos.
Lula, amplo conhecedor do eleitor brasileiro (não fosse ele calejado por oito experiências de buscar seu voto, contando apenas as candidaturas presidenciais, nos dois turnos que disputou), sabe que é ínfima a proporção de pessoas que escolhem assim seu candidato. Aliás, não é pequena apenas no Brasil, mas no mundo inteiro (países desenvolvidos incluídos), a parcela do eleitorado que opta em função de cálculos desse tipo.
Em primeiro lugar, é sempre pequena a fatia da população que se interessa por questões político-administrativas. Ainda menor é a que compreende estatísticas e raciocínios cheios de números, porcentagens e coisas do gênero. Um discurso sobre o tema, recheado com elas, entedia até o eleitor escandinavo.
Em segundo, o cidadão comum olha com cautela todo número que não entende bem. Nem que seja intuitivamente, sabe que as estatísticas podem dizer qualquer coisa, dependendo de quem as apresenta. Não há prefeitura, governo de estado ou administração federal que não desfile seus números para provar que faz tudo certo, assim como não há oposição que não exiba os dela para demonstrar o inverso.
Como o eleitor não confia inteiramente em ninguém e não tem elementos próprios para saber de que lado está a verdade, prefere, na maior parte das vezes, ignorar o bombardeio que sofre. Os números entram por um ouvido e saem por outro.
Mas o mais importante é que os eleitores que se interessam por essas comparações e que têm os requisitos de informação para compreendê-las são os que menos estão disponíveis para o proselitismo dos candidatos.
Eles costumam ser mais politizados, mais bem informados e mais posicionados em termos partidários e ideológicos. Por isso, costumam se definir eleitoralmente mais cedo e tendem a permanecer indiferentes ao discurso dos candidatos ao longo da campanha, pois já resolveram o que vão fazer.
Hoje, há lulistas e antilulistas entre essas pessoas e, se existe, uma minoria insignificante de eleitores “neutros” e disponíveis para a argumentação puramente racional. Seu impacto na eleição é irrelevante.
Na verdade, o plebiscito de Lula nunca foi em favor de si mesmo ou de Dilma. Nem, a rigor, contra Fernando Henrique. É apenas contra Serra.
O presidente sempre soube, ouvindo as pessoas, usando seu instinto, lendo as pesquisas, que a grande maioria do eleitorado está satisfeita com o governo e quer a continuidade.
Também sabe que Dilma não está em discussão por si mesma e que a imagem do ex-presidente vem piorando com a passagem do tempo. Só por isso pensou fazer um plebiscito em que o governador fica como representante de FHC e ela dele.
Nesse embate, importa pouco (ou nada) qual foi o governo que fez mais isso ou aquilo. Qual asfaltou mais, construiu mais, educou mais e assim por diante. Lula já ganhou o plebiscito com Fernando Henrique. O que ele apenas quer agora é que os eleitores estendam a Serra o julgamento que fizeram de FHC.
Não é por outra razão que Serra não quer nem saber do assunto. Comparar (para defender) Fernando Henrique contra Lula não é com ele.
De Marcos Coimbra - Correio Braziliense
Quem acha que é isso que Lula quer, se engana. Não é essa a eleição para a qual ele se prepara desde o fim de 2007, quando sua popularidade cresceu ao ponto de tornar possível que não só escolhesse sozinho quem representaria o governo na eleição, como que sua indicada tivesse boa chance de vitória.
O plebiscito que ele imaginou para vencer um candidato tão forte quanto José Serra é diferente. Nele, pode ser até necessário passar pela comparação do que fizeram os dois governos, área por área, política por política. Mas sem permanecer nesse plano, de resultados objetivos cotejados com resultados objetivos.
Lula, amplo conhecedor do eleitor brasileiro (não fosse ele calejado por oito experiências de buscar seu voto, contando apenas as candidaturas presidenciais, nos dois turnos que disputou), sabe que é ínfima a proporção de pessoas que escolhem assim seu candidato. Aliás, não é pequena apenas no Brasil, mas no mundo inteiro (países desenvolvidos incluídos), a parcela do eleitorado que opta em função de cálculos desse tipo.
Em primeiro lugar, é sempre pequena a fatia da população que se interessa por questões político-administrativas. Ainda menor é a que compreende estatísticas e raciocínios cheios de números, porcentagens e coisas do gênero. Um discurso sobre o tema, recheado com elas, entedia até o eleitor escandinavo.
Em segundo, o cidadão comum olha com cautela todo número que não entende bem. Nem que seja intuitivamente, sabe que as estatísticas podem dizer qualquer coisa, dependendo de quem as apresenta. Não há prefeitura, governo de estado ou administração federal que não desfile seus números para provar que faz tudo certo, assim como não há oposição que não exiba os dela para demonstrar o inverso.
Como o eleitor não confia inteiramente em ninguém e não tem elementos próprios para saber de que lado está a verdade, prefere, na maior parte das vezes, ignorar o bombardeio que sofre. Os números entram por um ouvido e saem por outro.
Mas o mais importante é que os eleitores que se interessam por essas comparações e que têm os requisitos de informação para compreendê-las são os que menos estão disponíveis para o proselitismo dos candidatos.
Eles costumam ser mais politizados, mais bem informados e mais posicionados em termos partidários e ideológicos. Por isso, costumam se definir eleitoralmente mais cedo e tendem a permanecer indiferentes ao discurso dos candidatos ao longo da campanha, pois já resolveram o que vão fazer.
Hoje, há lulistas e antilulistas entre essas pessoas e, se existe, uma minoria insignificante de eleitores “neutros” e disponíveis para a argumentação puramente racional. Seu impacto na eleição é irrelevante.
Na verdade, o plebiscito de Lula nunca foi em favor de si mesmo ou de Dilma. Nem, a rigor, contra Fernando Henrique. É apenas contra Serra.
O presidente sempre soube, ouvindo as pessoas, usando seu instinto, lendo as pesquisas, que a grande maioria do eleitorado está satisfeita com o governo e quer a continuidade.
Também sabe que Dilma não está em discussão por si mesma e que a imagem do ex-presidente vem piorando com a passagem do tempo. Só por isso pensou fazer um plebiscito em que o governador fica como representante de FHC e ela dele.
Nesse embate, importa pouco (ou nada) qual foi o governo que fez mais isso ou aquilo. Qual asfaltou mais, construiu mais, educou mais e assim por diante. Lula já ganhou o plebiscito com Fernando Henrique. O que ele apenas quer agora é que os eleitores estendam a Serra o julgamento que fizeram de FHC.
Não é por outra razão que Serra não quer nem saber do assunto. Comparar (para defender) Fernando Henrique contra Lula não é com ele.
De Marcos Coimbra - Correio Braziliense
A democracia que o dinheiro pode comprar
Instituto Millenium: Toda a democracia que o dinheiro pode comprar!
Instituto Millenium: Seminário sobre liberdade de expressão reunirá em São Paulo a nata da plutocracia. O interessante é que o Instituto que o promove tem o mesmo nome de uma conceituada casa de prazeres
por Gilberto Maringoni*, em Carta Maior
Acabou o carnaval, mas a festa continua. Vem aí, gente, o Fórum Democracia e liberdade de expressão, promovido pelo Instituto Millenium. O acontecimento será no dia 1º de março, no Hotel Golden Tulip, na capital paulista. A inscrição é uma pechincha: R$ 500 por cabeça.
A lista de palestrantes é de primeira. Lá estarão o dr. Roberto Civita (Abril), o ministro Hélio Costa (Globo), Marcel Granier (dono da RCTV, famosa por tramar e propagar o golpe de 2002 na Venezuela), Demétrio Magnoli (venerando Libelu de direita, que está decidindo se o melhor é ser contra a política de cotas ou contra a política de quotas), Denis Rosenfield (entidade do folclore gaúcho que ainda não tomou conhecimento do fim da Guerra Fria), Arnaldo Jabor (o espirituoso), Carlos Alberto Di Franco (dirigente da organização democrática Opus Dei), Marcelo Madureira (humorista neocon), Reinaldo Azevedo (claro!), Roberto Romano (ético ao quadrado) e os modernos deputados Fernando Gabeira e Miro Teixeira.
Intelectuais de programa
O Instituto Millenium veio para ficar. Foi fundado em 2005, no Rio de Janeiro. Não se sabe se tem algo a ver com o conceituado Café Millenium, estabelecimento classe A, onde gente de primeira ia buscar diversões, digamos, adultas até julho de 2007, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O Café Millenium não escondia seu negócio. O slogan era “Sua noite de primeiro mundo”. Com belíssimas garotas a excitar a imaginação e a ação de senhores de fino trato, vendia o que anunciava. Deve-se à fúria moralizante do prefeito Gilberto Kassab – um “Jânio sem alcool”, na genial definição de Xico Sá – o fechamento desta e de outras instituições semelhantes, nos tempos em que as enchentes não eram preocupação de um alcaide movido a reeleição.
No site do Instituto Millenium não há nenhuma informação sobre o paradeiro do Café. Os proprietários devem ter feito alguns arranjos aqui e ali, para não dar muito na vista e resolveram tocar o pau. Para manter o embalo dia e noite, aparentemente já contrataram alguns intelectuais de programa, vários articulistas que não estão no mapa, inúmeros jornalistas de vida fácil e go-go-oldies. Discrição total. O distinto senhor ou senhora comprometida pode ir sem medo, que é todo mundo limpinho, o ambiente está aparelhado para experiências das mais exóticas. Há estacionamento e os acompanhantes falam inglês e são educados.
O tal do fórum
O máximo do prazer será a atração deste início de março, o Fórum Democracia e liberdade de expressão. Entre os apoiadores do evento, sempre segundo o site do Millenium, estão a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidades que envolvem a Globo, o SBT, a Record, a Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, a RBS e outras empresas que decidiram boicotar a I Conferência Nacional de Comunicação, numa demonstração de forte apreço pela democracia. Figura lá, além do Instituto Liberal, um sensacional Movimento Endireita Brasil (MEB), cujo nome diz tudo.
A Carta de Princípios do Café, digo Instituto, é das mais edulcoradas. Entre tantos pontos, está lá: “promover a democracia, a economia de mercado, o estado de direito e a liberdade”. Assim, o mercado, quase como sinônimo de democracia. Mais adiante são enunciados seus valores e princípios: “o direito de propriedade, as liberdades individuais, a livre iniciativa, a afirmação do individualismo, a meritocracia, a transparência, a eficiência, a democracia representativa e a igualdade perante a lei”. Jóia! Vamos todos aderir!
Entre os conselheiros “de governança” e mantenedores está a fina flor da sociedade brasileira. Entre outros, figuram João Roberto Marinho (vice-presidente das Organizações Globo), Jorge Gerdau Johannpeter, Roberto Civita (Abril) e Washington Olivetto (presidente da W/Brasil). Já no Conselho Editorial está o sempre alerta Eurípedes Alcântara (diretor da redação de Veja) e no Conselho de Fundadores e de Curadores está ninguém menos que Pedro Bial, o grande comandante do programa cultural Big Brother Brasil, um modelo do que se pode fazer com a liberdade de expressão às mancheias. Coroando tudo está o Gestor do Fundo Patrimonial, Dr. Armínio Fraga, que dispensa maiores apresentações.
Com o empenho do Café, digo do Instituto Millenium, a democracia e a liberdade de expressão passam a ser mais valorizadas no Brasil. Por baixo, por baixo, a valorização deve ser de 500% em fundos off shore.
Todos dia 1º. de março ao Millenium, gente. A sua noite – ou dia - de primeiro mundo!
Em tempo: Não se sabe ainda se os antigos proprietários do Café Millenium entrarão na Justiça contra os mantenedores do Instituto Millenium. A ação se daria não apenas por plágio, mas por comprometer o bom nome do Café em uma possível volta ao mercado.
* Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
Instituto Millenium: Seminário sobre liberdade de expressão reunirá em São Paulo a nata da plutocracia. O interessante é que o Instituto que o promove tem o mesmo nome de uma conceituada casa de prazeres
por Gilberto Maringoni*, em Carta Maior
Acabou o carnaval, mas a festa continua. Vem aí, gente, o Fórum Democracia e liberdade de expressão, promovido pelo Instituto Millenium. O acontecimento será no dia 1º de março, no Hotel Golden Tulip, na capital paulista. A inscrição é uma pechincha: R$ 500 por cabeça.
A lista de palestrantes é de primeira. Lá estarão o dr. Roberto Civita (Abril), o ministro Hélio Costa (Globo), Marcel Granier (dono da RCTV, famosa por tramar e propagar o golpe de 2002 na Venezuela), Demétrio Magnoli (venerando Libelu de direita, que está decidindo se o melhor é ser contra a política de cotas ou contra a política de quotas), Denis Rosenfield (entidade do folclore gaúcho que ainda não tomou conhecimento do fim da Guerra Fria), Arnaldo Jabor (o espirituoso), Carlos Alberto Di Franco (dirigente da organização democrática Opus Dei), Marcelo Madureira (humorista neocon), Reinaldo Azevedo (claro!), Roberto Romano (ético ao quadrado) e os modernos deputados Fernando Gabeira e Miro Teixeira.
Intelectuais de programa
O Instituto Millenium veio para ficar. Foi fundado em 2005, no Rio de Janeiro. Não se sabe se tem algo a ver com o conceituado Café Millenium, estabelecimento classe A, onde gente de primeira ia buscar diversões, digamos, adultas até julho de 2007, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O Café Millenium não escondia seu negócio. O slogan era “Sua noite de primeiro mundo”. Com belíssimas garotas a excitar a imaginação e a ação de senhores de fino trato, vendia o que anunciava. Deve-se à fúria moralizante do prefeito Gilberto Kassab – um “Jânio sem alcool”, na genial definição de Xico Sá – o fechamento desta e de outras instituições semelhantes, nos tempos em que as enchentes não eram preocupação de um alcaide movido a reeleição.
No site do Instituto Millenium não há nenhuma informação sobre o paradeiro do Café. Os proprietários devem ter feito alguns arranjos aqui e ali, para não dar muito na vista e resolveram tocar o pau. Para manter o embalo dia e noite, aparentemente já contrataram alguns intelectuais de programa, vários articulistas que não estão no mapa, inúmeros jornalistas de vida fácil e go-go-oldies. Discrição total. O distinto senhor ou senhora comprometida pode ir sem medo, que é todo mundo limpinho, o ambiente está aparelhado para experiências das mais exóticas. Há estacionamento e os acompanhantes falam inglês e são educados.
O tal do fórum
O máximo do prazer será a atração deste início de março, o Fórum Democracia e liberdade de expressão. Entre os apoiadores do evento, sempre segundo o site do Millenium, estão a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidades que envolvem a Globo, o SBT, a Record, a Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, a RBS e outras empresas que decidiram boicotar a I Conferência Nacional de Comunicação, numa demonstração de forte apreço pela democracia. Figura lá, além do Instituto Liberal, um sensacional Movimento Endireita Brasil (MEB), cujo nome diz tudo.
A Carta de Princípios do Café, digo Instituto, é das mais edulcoradas. Entre tantos pontos, está lá: “promover a democracia, a economia de mercado, o estado de direito e a liberdade”. Assim, o mercado, quase como sinônimo de democracia. Mais adiante são enunciados seus valores e princípios: “o direito de propriedade, as liberdades individuais, a livre iniciativa, a afirmação do individualismo, a meritocracia, a transparência, a eficiência, a democracia representativa e a igualdade perante a lei”. Jóia! Vamos todos aderir!
Entre os conselheiros “de governança” e mantenedores está a fina flor da sociedade brasileira. Entre outros, figuram João Roberto Marinho (vice-presidente das Organizações Globo), Jorge Gerdau Johannpeter, Roberto Civita (Abril) e Washington Olivetto (presidente da W/Brasil). Já no Conselho Editorial está o sempre alerta Eurípedes Alcântara (diretor da redação de Veja) e no Conselho de Fundadores e de Curadores está ninguém menos que Pedro Bial, o grande comandante do programa cultural Big Brother Brasil, um modelo do que se pode fazer com a liberdade de expressão às mancheias. Coroando tudo está o Gestor do Fundo Patrimonial, Dr. Armínio Fraga, que dispensa maiores apresentações.
Com o empenho do Café, digo do Instituto Millenium, a democracia e a liberdade de expressão passam a ser mais valorizadas no Brasil. Por baixo, por baixo, a valorização deve ser de 500% em fundos off shore.
Todos dia 1º. de março ao Millenium, gente. A sua noite – ou dia - de primeiro mundo!
Em tempo: Não se sabe ainda se os antigos proprietários do Café Millenium entrarão na Justiça contra os mantenedores do Instituto Millenium. A ação se daria não apenas por plágio, mas por comprometer o bom nome do Café em uma possível volta ao mercado.
* Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
Governo Kassab tenta expulsar mendigos jogando água fria nos colchões
do Brasília Confidencial
Na contramão das políticas de inclusão lançadas pelo presidente Lula em todo o país, em São Paulo os governos de José Serra (PSDB) e de Gilberto Kassab (DEM) se tornam, a cada dia, mais excludentes. Além de frequentes cortes de gastos com programas sociais, particularmente na capital paulista a Prefeitura tornou rotineiro um tratamento cruel aos miseráveis, inclusive com o uso de jatos de água fria sobre colchões e papelões que homens, mulheres e crianças juntam para para vender e usam para dormir. Um levantamento de Brasília Confidencial mostra que até marcas da propaganda nacional do Governo Serra, como os programas Renda Cidadã e Ação Jovem, foram reduzidos em todo o estado.
O Movimento Nacional da População de Rua estima que o número de moradores nas ruas da cidade de São Paulo aumentou de 12.000, em 2005, para 20.000, em 2010. Quase dobrou, portanto, em cinco anos. Ao mesmo tempo, o número de vagas nos albergues diminuiu. De 2008 para cá o Governo Kassab desativou dois albergues que tinham 700 vagas mas chegavam a reunir mil moradores de rua. Outras 485 vagas serão canceladas neste ano. Nos três anos anteriores, incluído o governo municipal de José Serra, 350 vagas foram eliminadas.
EXPULSÃO
Os mendigos superlotam os viadutos do Centro da capital, de onde Serra tentou primeiro e o Governo Kassab tenta agora expulsá-los à força de jatos de água jogados pelos caminhões da Prefeitura nos colchões e nas caixas de papelão que recolhem para vender e onde dormem. A intenção de Kassab é afastar os mendigos para a periferia, longe das vistas dos eleitores das classes média e alta. Nos últimos dias, no entanto, os mendigos têm se espalhado por áreas nobres da capital irritando os moradores desses tradicionais redutos de votos tucanos.
A Prefeitura de São Paulo informa que ainda pretende encerrar, neste ano, os serviços de mais dois albergues, com quase 500 vagas, porque estariam em condições inadequadas. E garante que procura outros imóveis para instalar albergues. Não há, no entanto, nenhuma previsão de instalações nem previsões orçamentárias para os sem teto paulistanos. O que o Governo Kassab tem feito, além de aplicar o método cruel de afastar os mendigos, é instalar algumas tendas com banheiros químicos que não funcionam à noite.
“PENSAM QUE SOMOS LIXO”
Centenas de famílias que vivem nas ruas tentam dividir espaço sob os viadutos do Centro com grupos de viciados em crack.
“A gente não quer se misturar, mas não tem jeito. As crianças acabam se misturando, fazer o quê?”, afirma Josué Monteiro, que vive nas ruas com a mulher há dois anos.
José dos Santos demorou para conseguir arrumar um colchão para dormir.
”Os viadutos estão todos lotados. Nunca vi uma coisa assim”, afirma. Catador de entulhos no Centro, ele costumava passar a maior parte das noites no Albergue São Francisco, fechado por Kassab.
“O albergue fechou. Arrumei um colchão, mas o rapa (funcionários da Prefeitura) jogou água gelada em tudo, até no meu papelão. Eles também recolhem as nossas coisas e dizem para a gente ir para a Zona Leste. Não vou, porque lá a gente não tem como ganhar dinheiro nem comida. Eles pensam que somos lixo, mas não somos, não”, protesta Santos.
SEM MERENDA
Neste ano, Kassab também deixou de entregar merenda a entidades que atendem crianças ou adolescentes órfãos ou em situação de risco, como já divulgou Brasília Confidencial. Em vez da compra mensal de alimentos, cada criança tem R$ 3,80 por dia para se alimentar, dinheiro insuficiente para uma refeição digna por dia.
MENOS A CADA ANO
Já os programas sociais de Serra, como Renda Cidadã e Ação Jovem, têm tido a quantidade de atendidos reduzida a cada ano. De 2007 a 2009, o Renda Cidadã excluiu 59 mil atendidos no estado – de 492 mil para 432 mil. No Ação Jovem, o número de beneficiários foi reduzido de 366 mil para 280 mil – 87 mil jovens a menos.
A dotação total líquida dos programas sociais, que incluem também as frentes de trabalho, chegava a R$ 349,2 milhões em 2007, quando Serra assumiu. No entanto, até o ano passado, ele nunca cumpriu esse orçamento e foi reduzindo até as previsões. No ano passado, ele aplicou apenas R$ 271,3 milhões.
Fonte: Viomundo
--------------------------------------------------------------------------------
Na contramão das políticas de inclusão lançadas pelo presidente Lula em todo o país, em São Paulo os governos de José Serra (PSDB) e de Gilberto Kassab (DEM) se tornam, a cada dia, mais excludentes. Além de frequentes cortes de gastos com programas sociais, particularmente na capital paulista a Prefeitura tornou rotineiro um tratamento cruel aos miseráveis, inclusive com o uso de jatos de água fria sobre colchões e papelões que homens, mulheres e crianças juntam para para vender e usam para dormir. Um levantamento de Brasília Confidencial mostra que até marcas da propaganda nacional do Governo Serra, como os programas Renda Cidadã e Ação Jovem, foram reduzidos em todo o estado.
O Movimento Nacional da População de Rua estima que o número de moradores nas ruas da cidade de São Paulo aumentou de 12.000, em 2005, para 20.000, em 2010. Quase dobrou, portanto, em cinco anos. Ao mesmo tempo, o número de vagas nos albergues diminuiu. De 2008 para cá o Governo Kassab desativou dois albergues que tinham 700 vagas mas chegavam a reunir mil moradores de rua. Outras 485 vagas serão canceladas neste ano. Nos três anos anteriores, incluído o governo municipal de José Serra, 350 vagas foram eliminadas.
EXPULSÃO
Os mendigos superlotam os viadutos do Centro da capital, de onde Serra tentou primeiro e o Governo Kassab tenta agora expulsá-los à força de jatos de água jogados pelos caminhões da Prefeitura nos colchões e nas caixas de papelão que recolhem para vender e onde dormem. A intenção de Kassab é afastar os mendigos para a periferia, longe das vistas dos eleitores das classes média e alta. Nos últimos dias, no entanto, os mendigos têm se espalhado por áreas nobres da capital irritando os moradores desses tradicionais redutos de votos tucanos.
A Prefeitura de São Paulo informa que ainda pretende encerrar, neste ano, os serviços de mais dois albergues, com quase 500 vagas, porque estariam em condições inadequadas. E garante que procura outros imóveis para instalar albergues. Não há, no entanto, nenhuma previsão de instalações nem previsões orçamentárias para os sem teto paulistanos. O que o Governo Kassab tem feito, além de aplicar o método cruel de afastar os mendigos, é instalar algumas tendas com banheiros químicos que não funcionam à noite.
“PENSAM QUE SOMOS LIXO”
Centenas de famílias que vivem nas ruas tentam dividir espaço sob os viadutos do Centro com grupos de viciados em crack.
“A gente não quer se misturar, mas não tem jeito. As crianças acabam se misturando, fazer o quê?”, afirma Josué Monteiro, que vive nas ruas com a mulher há dois anos.
José dos Santos demorou para conseguir arrumar um colchão para dormir.
”Os viadutos estão todos lotados. Nunca vi uma coisa assim”, afirma. Catador de entulhos no Centro, ele costumava passar a maior parte das noites no Albergue São Francisco, fechado por Kassab.
“O albergue fechou. Arrumei um colchão, mas o rapa (funcionários da Prefeitura) jogou água gelada em tudo, até no meu papelão. Eles também recolhem as nossas coisas e dizem para a gente ir para a Zona Leste. Não vou, porque lá a gente não tem como ganhar dinheiro nem comida. Eles pensam que somos lixo, mas não somos, não”, protesta Santos.
SEM MERENDA
Neste ano, Kassab também deixou de entregar merenda a entidades que atendem crianças ou adolescentes órfãos ou em situação de risco, como já divulgou Brasília Confidencial. Em vez da compra mensal de alimentos, cada criança tem R$ 3,80 por dia para se alimentar, dinheiro insuficiente para uma refeição digna por dia.
MENOS A CADA ANO
Já os programas sociais de Serra, como Renda Cidadã e Ação Jovem, têm tido a quantidade de atendidos reduzida a cada ano. De 2007 a 2009, o Renda Cidadã excluiu 59 mil atendidos no estado – de 492 mil para 432 mil. No Ação Jovem, o número de beneficiários foi reduzido de 366 mil para 280 mil – 87 mil jovens a menos.
A dotação total líquida dos programas sociais, que incluem também as frentes de trabalho, chegava a R$ 349,2 milhões em 2007, quando Serra assumiu. No entanto, até o ano passado, ele nunca cumpriu esse orçamento e foi reduzindo até as previsões. No ano passado, ele aplicou apenas R$ 271,3 milhões.
Fonte: Viomundo
--------------------------------------------------------------------------------
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Não tem jeito. O negócio é atacar pela frente.
Não tem jeito. A blogosfera deve conquistar um trabalho independente da mídia tradicional. Mas não é a hora. O artista deve ir aonde o povo está, e se a agenda política nacional é pautada pelos jornalões (apesar da queda nas tiragens), a blogosfera não deve ter a megalomania e a inocência de achar que pode exercer influência determinante na opinião pública. São Jorge teve que matar o dragão antes de virar santo. A missão da blogosfera, e deste Contramaré, entre outras coisas, ainda é combater a manipulação política da qual importantes segmentos sociais são vítimas, através de notícias maliciosamente deturpadas pela imprensa brasileira.
Não é só isso. A imprensa também participa da luta ideológica. No caso da América Latina, onde décadas de ditadura extirparam todos os grupos midiáticos não-alinhados às ideologias ultraconservadoras importadas dos Estados Unidos, os partidos políticos de esquerda ficaram órfãos de uma imprensa minimamente imparcial no tocante aos interesses ideológicos.
A blogosfera surge, portanto, como arma fundamental da esquerda para enfrentar o conservadorismo arrogante e tacanho que monopolizou as redações midiáticas.
Digo tudo isto para justificar o trabalho que farei este ano, o qual deverá consistir, fundamentalmente, em análises diárias da mídia; ao mesmo tempo, será uma trincheira da guerra ideológica, da qual participo orgulhosamente (quiçá pretensiosamente) como um soldado de minhas próprias opiniões.
Para começar, falemos do editorial da Folha publicado dia 10, e que me deu um certo trabalho para confrota-lo. Transcrevo-o abaixo:
Editorial da Folha: O Partido do Poder
Aos 30, PT abandonou ideia de "mudar a maneira de fazer política" e se tornou uma entidade paraestatal à sombra do lulismo
O VOCABULÁRIO dos partidos de esquerda sempre foi rico em palavras destinadas a identificar e condenar vícios de conduta. Termos como "obreirismo", "basismo" ou "principismo" costumavam fazer parte do arsenal da militância identificada com os ensinamentos de Marx e Lênin.
Ao longo de seus 30 anos de existência, que se completam na data de hoje, o Partido dos Trabalhadores sofreu, por parte dos agrupamentos de esquerda tradicionais, críticas formuladas em conceitos desse tipo.
Fundado em 1980, na luta contra o regime militar, o PT foi acusado, antes de tudo, de ser "divisionista": o momento, para seus críticos, era o de cerrar fileiras sob o guarda-chuva do PMDB.
Nascido de uma vigorosa mobilização operária, o partido de Lula rejeitava alianças com o empresariado e com políticos tradicionais. O "obreirismo" dessa fase vinha acompanhado do "espontaneísmo": confiava-se mais no potencial autônomo dos movimentos sociais do que nas orientações de uma direção monolítica. A influência da igreja, também decisiva naqueles anos de formação, trazia a forma organizativa das comunidades católicas para o interior do partido; naqueles tempos, nada se fazia sem "consultar as bases".
Uma mistura de descontentamento geral contra "tudo o que está aí" tingia de humor intransigente, e de forte puritanismo, uma ideologia ainda não completamente formulada, mas que sem dúvida buscava se apresentar como algo novo na tradição e na prática política brasileiras.
Não é preciso grande esforço analítico para notar de que modo o PT de hoje se afasta do PT de 1980. Se o escândalo do mensalão implodiu suas últimas pretensões a "mudar a forma de se fazer política no país", foi entretanto longo o caminho da sigla até a desmoralização, o conformismo e a esclerose.
De início, a necessidade de apresentar propostas nítidas fincou o PT como uma espécie de representante anacrônico e radicalizado do estatismo e do nacionalismo da era Vargas, carregando frequentemente as bandeiras da "reforma social na marra", do messianismo e da ilegalidade.
O projeto de poder do PT passava entretanto, e felizmente, pela via eleitoral. Foi a senha para que, dos princípios rígidos de origem, se transitasse para uma prática de acordos e alianças impostos de cima para baixo. O destino do PT não seria diferente do experimentado por seus congêneres social-democratas na Europa, ao longo do século 20.
Mas a democracia brasileira possui suas peculiaridades, dentre as quais o predomínio da oligarquia e do poder de Estado sobre a livre organização da sociedade. Pouco já se falava de "bases" e "princípios" quando estourou o caso do mensalão.
O pragmatismo transformou-se em cinismo, por parte dos envolvidos, e em perplexidade, por parte dos simpatizantes. Manteve-se, incrivelmente, a arrogância de sempre: prevaleceu a pose de indignação enquanto a força gravitacional do Estado tornava ridículas as intenções de "refundação" partidária aventadas no auge da crise.
À sombra do prestígio de Lula, que se sobrepôs à sigla, o PT hoje se resume a uma entidade paraestatal, reproduzindo uma história secular na política brasileira: é, como outros antes dele, meramente o Partido do Poder.
Volto eu:
Belíssima peça partidária. Reuniu todos os clichês anti-esquerdistas e antipetistas dos últimos tempos num só petardo sovina e idiota. Terei muito trabalho este ano para escarafunchar metodicamente os chiqueiros mau-cheirosos da grande mídia.
A Folha defende a tese que o PT deveria ter continuado o mesmo partido de 1980. Arrecadando dinheiro com a venda de brochinhos vermelhos. Reunindo artistas da Globo para cantar Lulalá na TV. Um bando de trostkistas não-adeptos do desodorante trocando perdigotos. Claro, estou brincando. O PT tem uma história bonita desde sua fundação, com quadros intelectuais de primeira, como Antônio Cândido e Sérgio Buarque de Holanda, apenas para citar duas estrelas. Mas um partido deve, necessariamente, evoluir. O que incomoda a Folha é que o PT deixou de ser um representante do esquerdismo chic da classe média urbana para se tornar o maior partido de massas da América Latina. Um dos maiores, mais coerentes, mais coesos e mais bem sucedidos partidos de esquerda do mundo.
Problemas de corrupção? Ora pois pois. A mídia inventou que o PT era o partido da ética e depois do mensalão quis forçar um game-over. O PT nunca foi o partido da ética porque isso não existe. Ética é uma dimensão individual.
Muitas vezes o PT me dá nos nervos, o que é normal. Mas sou consciente da correlação de forças no universo político nacional. E estou seguro quanto ao lado da trincheira que desejo ocupar.
São acusações hipócritas, despolitizadas. A Folha trata o militante petista como um tonto, como um boçal que ainda acredita em seus editoriais. O pior é que estes existem. O PT precisa fazer alianças. Estas não são apenas necessárias para a governabilidade, elas conformam a estrutura legislativa do país. Se o PT errou e ainda erra - e esta é uma opinião pessoalíssima - é justamente em ainda alimentar visões não-aliancistas em seu bojo. Lembro que participei de debates, onde alguns defendiam que o PT procurasse se sustentar antes nos movimentos sociais do que em partidos como o PMDB. Discordei dessa colocação. O MST não vota no Senado. Nem no Congresso. Não aprova orçamento da União nem aumento de salário mínimo. O governo tem que se aliar aos partidos que existem eleitoralmente. O pragmatismo na política não é um remedinho que os partidos devem cuidar para tomar apenas a dose necessária. Fazer política é, essencialmente, ser pragmático. Outrossim é tese acadêmica, literatura, diletantismo.
A Folha malha o PT usando os mesmos argumentos com os quais o jornal defendeu o regime militar em 1964. Porque se trata de um representante das idéias mais conservadoras da sociedade brasileira. E eu não quero que essas idéias triunfem, como triunfaram naquela fatídico ano. Ontem venceram na base do tiro de canhão, hoje querem repetir o feito através de golpes de astúcia. Reconheço que assim é bem melhor. Mas se antes era difícil revidar os tiros, agora a luta é protegida pelas regras da democracia.
Aguinaldo Munhoz
Não é só isso. A imprensa também participa da luta ideológica. No caso da América Latina, onde décadas de ditadura extirparam todos os grupos midiáticos não-alinhados às ideologias ultraconservadoras importadas dos Estados Unidos, os partidos políticos de esquerda ficaram órfãos de uma imprensa minimamente imparcial no tocante aos interesses ideológicos.
A blogosfera surge, portanto, como arma fundamental da esquerda para enfrentar o conservadorismo arrogante e tacanho que monopolizou as redações midiáticas.
Digo tudo isto para justificar o trabalho que farei este ano, o qual deverá consistir, fundamentalmente, em análises diárias da mídia; ao mesmo tempo, será uma trincheira da guerra ideológica, da qual participo orgulhosamente (quiçá pretensiosamente) como um soldado de minhas próprias opiniões.
Para começar, falemos do editorial da Folha publicado dia 10, e que me deu um certo trabalho para confrota-lo. Transcrevo-o abaixo:
Editorial da Folha: O Partido do Poder
Aos 30, PT abandonou ideia de "mudar a maneira de fazer política" e se tornou uma entidade paraestatal à sombra do lulismo
O VOCABULÁRIO dos partidos de esquerda sempre foi rico em palavras destinadas a identificar e condenar vícios de conduta. Termos como "obreirismo", "basismo" ou "principismo" costumavam fazer parte do arsenal da militância identificada com os ensinamentos de Marx e Lênin.
Ao longo de seus 30 anos de existência, que se completam na data de hoje, o Partido dos Trabalhadores sofreu, por parte dos agrupamentos de esquerda tradicionais, críticas formuladas em conceitos desse tipo.
Fundado em 1980, na luta contra o regime militar, o PT foi acusado, antes de tudo, de ser "divisionista": o momento, para seus críticos, era o de cerrar fileiras sob o guarda-chuva do PMDB.
Nascido de uma vigorosa mobilização operária, o partido de Lula rejeitava alianças com o empresariado e com políticos tradicionais. O "obreirismo" dessa fase vinha acompanhado do "espontaneísmo": confiava-se mais no potencial autônomo dos movimentos sociais do que nas orientações de uma direção monolítica. A influência da igreja, também decisiva naqueles anos de formação, trazia a forma organizativa das comunidades católicas para o interior do partido; naqueles tempos, nada se fazia sem "consultar as bases".
Uma mistura de descontentamento geral contra "tudo o que está aí" tingia de humor intransigente, e de forte puritanismo, uma ideologia ainda não completamente formulada, mas que sem dúvida buscava se apresentar como algo novo na tradição e na prática política brasileiras.
Não é preciso grande esforço analítico para notar de que modo o PT de hoje se afasta do PT de 1980. Se o escândalo do mensalão implodiu suas últimas pretensões a "mudar a forma de se fazer política no país", foi entretanto longo o caminho da sigla até a desmoralização, o conformismo e a esclerose.
De início, a necessidade de apresentar propostas nítidas fincou o PT como uma espécie de representante anacrônico e radicalizado do estatismo e do nacionalismo da era Vargas, carregando frequentemente as bandeiras da "reforma social na marra", do messianismo e da ilegalidade.
O projeto de poder do PT passava entretanto, e felizmente, pela via eleitoral. Foi a senha para que, dos princípios rígidos de origem, se transitasse para uma prática de acordos e alianças impostos de cima para baixo. O destino do PT não seria diferente do experimentado por seus congêneres social-democratas na Europa, ao longo do século 20.
Mas a democracia brasileira possui suas peculiaridades, dentre as quais o predomínio da oligarquia e do poder de Estado sobre a livre organização da sociedade. Pouco já se falava de "bases" e "princípios" quando estourou o caso do mensalão.
O pragmatismo transformou-se em cinismo, por parte dos envolvidos, e em perplexidade, por parte dos simpatizantes. Manteve-se, incrivelmente, a arrogância de sempre: prevaleceu a pose de indignação enquanto a força gravitacional do Estado tornava ridículas as intenções de "refundação" partidária aventadas no auge da crise.
À sombra do prestígio de Lula, que se sobrepôs à sigla, o PT hoje se resume a uma entidade paraestatal, reproduzindo uma história secular na política brasileira: é, como outros antes dele, meramente o Partido do Poder.
Volto eu:
Belíssima peça partidária. Reuniu todos os clichês anti-esquerdistas e antipetistas dos últimos tempos num só petardo sovina e idiota. Terei muito trabalho este ano para escarafunchar metodicamente os chiqueiros mau-cheirosos da grande mídia.
A Folha defende a tese que o PT deveria ter continuado o mesmo partido de 1980. Arrecadando dinheiro com a venda de brochinhos vermelhos. Reunindo artistas da Globo para cantar Lulalá na TV. Um bando de trostkistas não-adeptos do desodorante trocando perdigotos. Claro, estou brincando. O PT tem uma história bonita desde sua fundação, com quadros intelectuais de primeira, como Antônio Cândido e Sérgio Buarque de Holanda, apenas para citar duas estrelas. Mas um partido deve, necessariamente, evoluir. O que incomoda a Folha é que o PT deixou de ser um representante do esquerdismo chic da classe média urbana para se tornar o maior partido de massas da América Latina. Um dos maiores, mais coerentes, mais coesos e mais bem sucedidos partidos de esquerda do mundo.
Problemas de corrupção? Ora pois pois. A mídia inventou que o PT era o partido da ética e depois do mensalão quis forçar um game-over. O PT nunca foi o partido da ética porque isso não existe. Ética é uma dimensão individual.
Muitas vezes o PT me dá nos nervos, o que é normal. Mas sou consciente da correlação de forças no universo político nacional. E estou seguro quanto ao lado da trincheira que desejo ocupar.
São acusações hipócritas, despolitizadas. A Folha trata o militante petista como um tonto, como um boçal que ainda acredita em seus editoriais. O pior é que estes existem. O PT precisa fazer alianças. Estas não são apenas necessárias para a governabilidade, elas conformam a estrutura legislativa do país. Se o PT errou e ainda erra - e esta é uma opinião pessoalíssima - é justamente em ainda alimentar visões não-aliancistas em seu bojo. Lembro que participei de debates, onde alguns defendiam que o PT procurasse se sustentar antes nos movimentos sociais do que em partidos como o PMDB. Discordei dessa colocação. O MST não vota no Senado. Nem no Congresso. Não aprova orçamento da União nem aumento de salário mínimo. O governo tem que se aliar aos partidos que existem eleitoralmente. O pragmatismo na política não é um remedinho que os partidos devem cuidar para tomar apenas a dose necessária. Fazer política é, essencialmente, ser pragmático. Outrossim é tese acadêmica, literatura, diletantismo.
A Folha malha o PT usando os mesmos argumentos com os quais o jornal defendeu o regime militar em 1964. Porque se trata de um representante das idéias mais conservadoras da sociedade brasileira. E eu não quero que essas idéias triunfem, como triunfaram naquela fatídico ano. Ontem venceram na base do tiro de canhão, hoje querem repetir o feito através de golpes de astúcia. Reconheço que assim é bem melhor. Mas se antes era difícil revidar os tiros, agora a luta é protegida pelas regras da democracia.
Aguinaldo Munhoz
Serra: Um candidato anfíbio.
O que deu no Serra para entar no mar de roupa e tênis?
O governador de São Paulo, e presidenciável tucano, José Serra, entrou no mar nesta segunda-feira (150 com tênis, calça jeans e camiseta polo. O banho inesperado foi na Guilhermina, Praia Grande, litoral sul de São Paulo, e deixou os politicólogos intrigados: que foi que deu no Serra?
Os entusiastas do quase candidato tucano dirão que foi um arroubo de entusiasmo por uma causa nobre – o projeto Praia Acessível, que foi lançado em Praia Grande e oferecerá cadeiras de rodas anfíbias deficientes físicos poderem tomar banho de mar.
Os desafetos verão no episódio um sinal de desespero, do governador que fugiu do sambódromo paulistano durante o carnaval, para não ser vaiado devido às enchentes, e foi esnobado pelos carnavalescos nordestinos a sete meses da eleição presidencial.
É possível uma explicação mais prosaica: o calor de rachar que fazia na Praia de Guilhermina. Embora permaneça o contraste com o estilo de Serra, sisudo e quase carrancudo, assim como o mistério dele não ter tirado nem o tênis.
O governador ladeou uma cadeirante, ajudando a empurrá-la. Entrou no mar até a altura da cintura e brincou de jogar água no grupo durante cerca de cinco minutos.
Ninguém esperava. Nenhum assessor e nem os muitos prefeitos presentes (como o de Praia Grande, Roberto Francisco dos Santos, tucano e quase cassado em outubro último por corrupção) tinha uma toalha.
O governador retornou ao carro oficial encharcado.
A mídia pró-tucana parece ter considerado a tirada prejudicial ao candidato. Foi discretíssima na cobertura, apesar das boas imagens que a tirada do governador produziu.
Da redação, com agências
Assinar:
Postagens (Atom)