quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A vocação do brasileiro para ser Terceiro-Mundo


Vamos esquecer por alguns instantes a degradante desigualdade social que envergonha o Brasil perante as outras nações e é um dos fatores determinantes para impedir o país de chegar ao Primeiro Mundo.

Vamos ficar apenas nas atitudes corriqueiras do povo, ações aparentemente sem consequências, que mostram o quanto somos subdesenvolvidos, por mais que muitos tenham frequentado escolas caras, viajado ao exterior - até Miami e a Disney entram nessa conta -, mantido contato com culturas diferentes, façam questão de se manter informados e coisa e tal.

É só dar uma voltinha pela cidade - qualquer cidade -, de carro, de ônibus, de metrô, ou a pé, para ver o quanto o brasileiro médio é deseducado, egoísta, incapaz de expressar as mais elementares noções de civilidade ou de cidadania. 


Poucos motoristas, por exemplo, respeitam as faixas de pedestres, os semáforos vermelhos, as vagas para idosos e deficientes.

Poucos se importam em trafegar na velocidade permitida ou em respeitar as mais comezinhas regras do trânsito.

O chão das praças e dos parques estão invariavelmente cheios de porcarias que as pessoas nele jogam.

Os banheiros públicos são como pocilgas.

O jovem que dá seu lugar, no transporte coletivo, a algum idoso, é uma exceção - raríssima.

No âmbito das relações pessoas, quantos amigos, colegas de trabalho ou parentes não se orgulham de fraudar o Imposto de Renda?

E quantos comerciantes fazem de conta que a nota fiscal não existe?

A internet, com as redes sociais, tem se mostrado eficiente instrumento para medir o grau de incivilidade do brasileiro médio.

Os comentários postados abusam dos palavrões mais grosseiros, passam pelo racismo explícito e desembarcam no ódio mais profundo contra minorias, ideologias, cor da pele, condição social, origem geográfica - é como se reunisse num só lugar toda a maldade humana.

A imprensa e os meios de comunicação, poderosas arma para educação em massa, seguem a lógica do capitalismo mais primitivo, de lucrar a qualquer custo.

Pior, se tornaram panfletos partidários da oligarquia que não aceita o trabalhismo - na verdade, a social-democracia - à frente do Poder Executivo. 

O Judiciário é ineficiente, a serviço dos plutocratas, distante da realidade social, preocupado apenas em manter o status quo.

O Legislativo ... bem, resumindo, é um balcão de negócios - negócios muito lucrativos.

O cenário é desolador.

Talvez, se as medidas de inclusão social continuarem, se forem investidos bilhões para melhorar a educação pública, se os meios de comunicação ganharem um marco regulador - se tantas coisas necessárias forem feitas -, em algumas décadas o Brasil poderia deixar de ser apenas uma potência econômica para se tornar uma nação também desenvolvida socialmente, uma democracia madura, que respeitasse as leis - ao menos isso.

Como, porém, nada se pode prever neste momento em que forças poderosas puxam o país de volta ao passado, só nos resta a esperança.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/09/a-vocacao-brasileira-para-ser-terceiro.html

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Por que ainda somos um país de lixões

lixao
Interferência das empreiteiras nas prefeituras, aumento explosivo na produção de lixo e resistência cultural à reciclagem explicam por que Programa Nacional de Resíduos Sólidos patina
Por Raquel Rolnik, em seu blog
Uma das metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos aprovada em 2010 era acabar com os lixões em todas as cidades brasileiras até 2014. Diante do não cumprimento da meta, está em discussão hoje no Congresso Nacional um Projeto de Lei que propõe prorrogar esse prazo, de modo escalonado, e considerando o tamanho dos municípios. Assim, as maiores cidades e as capitais teriam até 2018 para alcançar a meta, enquanto pequenas cidades teriam até 2021.
Isso vai resolver o problema? Dificilmente. Na imprensa, o discurso geral é de que a maior dificuldade é financeira: a maioria dos municípios não disporia de recursos para implementar aterros, coleta seletiva, entre outras medidas, e assim acabar com os lixões. Além disso, a crise econômica e o ajuste fiscal impediriam o governo federal de repassar recursos para tais iniciativas. Se o problema fosse simplesmente esse até que era fácil…
Em primeiro lugar, a meta geral propõe a substituição dos lixões por aterros sanitários, mas estes só se viabilizam a partir de certo volume de lixo coletado, o que não se justifica em municípios com pequena população. De fato, sob essa lógica, as prefeituras não têm mesmo condições financeiras de construir essas estruturas, muito menos de operá-las. Esse modelo só serve para médias e grandes cidades ou… se for compartilhado entre vários municípios.
Aí começa o segundo problema. Já existe legislação que permite e regula a formação de consórcios para uma gestão compartilhada entre diversos entes da federação. Mas até hoje são muito poucas as iniciativas de consorciamento entre municípios. Antes de mais nada, essas iniciativas emperram em uma dificuldade de outra ordem, decorrente de interesses políticos entranhados nas gestões municipais, que têm impedido a formação de consórcios. Afinal, quem será o fornecedor do serviço? O da prefeitura A, da B ou da C? E a empreiteira que vai construir a obra? Quem vai indicar?
Além disso, o modelo de consórcio só tem possibilidade de dar certo se aplicado a municípios muito próximos. No interior de Minas, por exemplo, ou mesmo de alguns estados do Nordeste, pode funcionar. Mas se pensarmos em muitos municípios das regiões Norte e Centro Oeste, é impossível implementar um serviço de coleta e destinação do lixo que requer transportar o material por quilômetros e quilômetros de distância.
Ou seja, em alguns lugares é inviável tanto construir um aterro quanto implementá-lo por meio de consórcio. Para esses casos, é urgente pensar soluções alternativas. Mas tais soluções hoje estão fora do radar dos modelos de projeto e de seus correlatos modelos de financiamento. Mal e mal desenvolvemos equações técnicas já incluídas nas rotinas de financiamento para a implantação de aterros e centrais de reciclagem…
E o problema não está só nos lixões. A Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê diversas outras medidas que também não estão sendo cumpridas. A coleta seletiva vem aumentando? Sim, mas a passos muito lentos, e ainda está muito longe de alcançar um patamar satisfatório. A logística reversa foi implementada? Não. A cadeia produtiva de empresas que fabricam itens como lâmpadas, pilhas, baterias, eletrodomésticos, eletrônicos, entre muitos outros, ainda não incluiu de fato a coleta e destinação dos seus produtos quando eles perdem utilidade.
O fato é que nos últimos anos a geração de lixo no país aumentou em um ritmo muito maior que o crescimento da população: entre 2010 e 2014, a produção de lixo cresceu 29%, e a população, 6%. Hoje, 41,6% dos resíduos ainda vão parar em lixões. Esses dados são de pesquisa realizada pela Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
Enfim, não se trata de falta de dinheiro. Falta repensar o nosso modelo de federação (como podemos tratar como iguais municípios absolutamente diferentes? Como construir novas formas de gestão territorial intermunicipais de fato?) e, especialmente, formular soluções que levem em conta a diversidade de situações presentes em nossos municípios. Finalmente, falta também assumirmos mais firmemente nossas metas de redução da produção lixo!

Filha de Alckmin e a parcialidade da mídia

Por Lino Bocchini, na revista CartaCapital:


Sophia-Alckmin


Viralizou na internet nesta terça-feira, 15, uma fotografia de Sophia Alckmin, filha do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que apareceu involuntariamente ao lado de duas celebridades americanas, na semana de moda de Nova York. Vários sites de celebridades e amenidades noticiaram o caso como algo pitoresco, divertido.


Agora pare um minuto, olhe novamente para a imagem e pense: e se ao invés de Sophia Alckmin fosse o Lulinha, filho do ex-presidente Lula, sentado no banco nesta foto?

Os sites e os jornais colocariam a imagem na parte de celebridades e amenidades ou nas páginas de política?

A filha do governador de São Paulo pode viajar para onde bem entender e fazer o que quiser que ninguém questiona nem ela nem ao pai. Nem um único jornalista liga para o Palácio dos Bandeirantes para saber quem pagou sua viagem, suas roupas, sapatos e bolsas de marca, a fatura do seu cartão de crédito internacional.

Ninguém faz plantão na porta de seu hotel para questionar se ela foi de classe executiva ou econômica, se o seu blog de moda tem algum financiamento ou saber quanto custou a garrafa de vinho que ela tomou com as amigas na noite anterior –era Romanée-Conti?

Não sabemos nada sobre os gastos da filha jet-setter do governador. E ninguém se interessa em perguntar. Fica tudo por isso mesmo. Afinal, Sophia está em seu “habitat natural”, no entender dos editores e diretores dos meios de comunicação. Já o Lulinha... esse, como se sabe, é dono da Friboi, da Ambev, do Uber, do Facebook e da lua, e já deveria estar preso com o pai há muito tempo.

Ajuste fiscal: basta cobrar impostos de quem sonega

grafico Ajuste fiscal: basta cobrar impostos de quem sonega

Existe uma fórmula bem simples e barata, que não é mágica nem utópica, para aumentar a arrecadação do governo sem precisar criar novos nem aumentar velhos impostos: basta cobrar os sonegadores. Por que não é adotada como prioridade absoluta pela equipe econômica nesta situação de emergência permanente para acertar as contas públicas?
Enquanto o país aguarda com ansiedade para as próximas horas, ainda nesta segunda-feira, o anúncio do pacote fiscal preparado no final de semana, prevendo um corte de R$ 20 bilhões nas despesas do governo em 2016, faço uma rápida pesquisa no Google e releio textos que eu mesmo já publiquei aqui sobre o assunto.
Vejam os números.
É de R$ 30,5 bilhões o deficit projetado no Orçamento da União para o próximo ano, principal razão do rebaixamento da nota de grau de investimento pela agência de risco Standard & Poors´s e do agravamento da crise nos últimos dias.
É de R$ 500 bilhões _ por ano _ o valor em impostos que deixam de ser recolhidos aos cofres públicos no País, segundo os cálculos do presidente do Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional, Heráclio Camargo.
Para se ter uma ideia do total do  volume de recursos perdidos que isso representa, a sonegação de impostos é sete vezes maior do que o custo anual médio da corrupção, em todos os níveis, que foi de R$ 67 bilhões, em valores de 2013, de acordo com os estudos feitos por José Ricardo Roriz Coelho, diretor-titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Sonegação e corrupção sempre andaram juntas para sangrar os cofres públicos, mas só se fala de Operação Lava Jato, que investiga, denuncia e prende empreiteiros e políticos, enquanto a Operação Zelotes se arrasta sem punir os fraudadores e sem recuperar os recursos desviados pelas quadrilhas que envolvem funcionários públicos e grandes empresas.
Quando foi inaugurado em março, em Brasília, o "sonegômetro" instalado por Heráclio Camargo já registrava um total de R$ 105 bilhões sonegados só este ano. Dá cinco vezes o total dos cortes a serem anunciados daqui a pouco e é o triplo do deficit previsto no Orçamento.  Deste total, o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional calcula que R$ 80 bilhões foram desviados em operações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. E ninguém vai preso.
Por Ricardo Kotscho, em seu blog

A ditadura planetária dos Estados Unidos. A situação do mundo e por consequência a do Brasil está complexa e imprevisível.


Por Thomas de Toledo, em seu blog

A crise global do capitalismo vive seu 8º ano, levando países à falência e ao aumento generalizado do desemprego e da pobreza. O conflito na Síria está acirrando-se e seu desfecho (ou não) pode levar o mundo a uma guerra de enormes proporções, capaz de gerar ondas cada vez maiores de refugiados. Os EUA tensionam as Coreias e provocam na Ucrânia, levando instabilidade às proximidades da China e Rússia. Fomentam juntos com aliados (União Europeia, Turquia, Catar, Arábia Saudita e principalmente Israel) grupos terroristas no Oriente Médio e na África, o que justifica cada vez mais gastos militares no orçamento para guerras por petróleo, gás, água e rotas estratégicas. Em termos comerciais, preparam o TTP, TTIP e TISA, tratados de livre comércio que anexarão economias de países inteiros ao espaço econômico dos Estados Unidos, o que seria desastroso aos direitos sociais, às democracias e ao meio-ambiente. Pra completar, procuram desestabilizar as nações latino-americanas, financiando grupos de extrema-direita, fascistas, ultra-liberais e fundamentalistas cristãos a promoverem uma agenda golpista no Brasil, Equador, Venezuela, Argentina e outros países da região. O objetivo é derrubar governos populares para ter retomar uma onda de privatizações visando especialmente as empresas petrolíferas. O Estados Unidos preparam, portanto, um assalto final ao mundo: uma ditadura militar e econômica planetária. O golpe no Brasil faz parte de uma agenda internacional.

O governo Dilma está sob massacre diário dos meios de comunicações, robôs e páginas de redes sociais muito bem pagas para fomentarem uma agenda golpista. A linha sucessória em três níveis é do PMDB (Temer, Cunha e Calheiros), que controla as duas casas e possui uma considerável presença no governo federal, Estados e municípios. A Polícia Federal, Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal trabalham sob os holofotes da mídia hegemônica privada, que define quem é culpado antes do julgamento e escolhe quais pessoas e quais partidos devem ou não ser investigados. Ao ocultar os crimes que envolvem o PSDB, o PMDB e o capital financeiro, a mídia colabora para o proliferamento de uma extrema-direita com discurso de ódio, que pede até a volta da ditadura militar. Contribui também para gerar más expectativas na economia, desestimulando o ambiente nacional para novos investimentos e fragilizando a Petrobrás, exatamente quando o pré-sal bate recordes de produção, num contexto de aumento dos conflitos no Oriente Médio.

Assim, a crise econômica finalmente abateu-se sobre o Brasil, exatamente quando o governo deixou de realizar políticas anticíclicas e adotou uma agenda de austeridade. As classes dominantes, o grande capital e os donos da grana condicionam o apoio à permanência de Dilma no governo, exigindo que os custos do ajuste fiscal recaiam sobre os trabalhadores. Os movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda pedem o contrário, que o governo não mexa nos direitos sociais, trabalhistas, nem sejam feitos cortes em programas de distribuição de renda e pedem que o ajuste fiscal recaia sobre os mais ricos com taxação das grandes fortunas. A luta de classes evidencia-se.

Ou seja, em um clima no qual os Estados Unidos operam um plano de dominação planetária que pode tornar-se uma guerra global, com perigosos acordos comerciais sendo implantados a toque de caixa, uma onda de golpes e falsas revoluções na América Latina, o governo Dilma enfrenta um cenário doméstico sem precedentes. Em uma correlação de forças desfavorável, com um congresso impondo uma agenda retrógrada, as classes dominantes exigindo cortes sociais e os movimentos populares demandando sinais à esquerda, o cenário agudiza-se sob o pano de fundo de uma crise econômica.

Em meio a esta turbulência está uma pessoa, uma mulher chamada Dilma Vana Rousseff. Para ela, diariamente são enviadas ondas de ódio e sentimentos tóxicos. Não existem governadores, senadores, deputados, prefeitos, vereadores, juízes ou desembargadores. Existe apenas uma pessoa, de um governo, de um partido, que em tese se removida resolveria todos os males do planeta. O demônio, responsável por todos os males, pela crise, corrupção, falta de ônibus e de água, por tudo, ganha nome. Este nome sucessivamente repetido como sendo o único mal do país acaba por dar liberdade para todos os outros males agirem impunemente.

E assim, o Brasil acordaria no dia seguinte: presidente Michel Temer, vice-presidente Eduardo Cunha, presidente do Congresso Renan Calheiros. Lindo! O PSDB, derrotado em 2002, 2006, 2010 e 2014 voltaria ao governo com alguns ministérios. As bancadas BBBB (Balas, Bife, Bíblia e Bancos) indicariam seus nomes aos cargos estratégicos a cada um. A agenda de redução da maioridade penal, perda de direitos democráticos e trabalhistas e retrocessos ambientais seria oficialmente assumida pelo governo. O financiamento empresarial de campanhas consolidaria o poder das grandes empresas sobre os governos e parlamentos. Os custos da crise seria passados em doses muito piores aos trabalhadores e os programas sociais seriam extintos. Por pressão dos Estados Unidos, o Brasil assinaria todos os acordos de livre-comércio, o que seria desastroso às empresas nacionais. Passaria a apoiar as oposições golpistas na América Latina e a afastar-se do BRICS, da África e dos países em desenvolvimento. Provavelmente submeter-se-ia a missões militares internacionais em guerra dos EUA.


Resultado: em 2018, Temer teria muito dinheiro para ser candidato à reeleição e o PMDB iniciaria sua dinastia em uma coalizão de direita pró-imperialista.

Portanto, compreendam: quanto mais Dilma resistir, mais esse projeto é enfraquecido. Dilma, uma mulher que enfrentou as piores torturas na ditadura militar, tem a missão de resistir, resistir, resistir e resistir até o fim. É preciso que ela encontre forças para recompor a base do governo, a credibilidade política e o rumo para o crescimento econômico. Sim, ela precisa dar mais sinais à esquerda e às demandas dos movimentos sociais. Mas também cabe a nós pautar e disputar os rumos do Brasil que queremos.
Por Thomas de Toledo, em seu blog

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A Paz de Iperoig: diplomacia e traição na Terra Tamoia


Os dois lados comemoraram o tratado, porém a paz durou pouco: os índios foram traídos.
Os dois lados comemoraram o tratado, porém a paz durou pouco: os índios foram traídos.
As negociações aconteceram ainda no Brasil nascente. Os portugueses estavam sendo ameaçados. A Confederação dos Tamoios estavam fortalecendo alianças. Após o susto em Piratininga, Nóbrega e Anchieta resolveram agir. Os jesuítas partem de Bertioga rumo à aldeia do cacique tamoio Coaquira, em Iperoig.

Em 5 de Maio de 1563 Anchieta e Nóbrega chegaram à Aldeia de Iperoig. Lá chegando, foram rodeados de canoas e deram de cara com Coaquira e Pindabuçu. Os jesuítas ouviram um rosário de queixas dos tamoios e eles propõem um acordo de paz. Coaquira hospedou os embaixadores na Aldeia, que foi o sitio das negociações. Tudo parecia ir bem quando Aimberé, considerado por Anchieta o mais cruel, se posicionou contra a paz com os colonizadores.

A primeira assembléia da Confederação foi tumultuada, havia muitas queixas contra os portugueses: atrocidades, traições, incêndios, intrigas, capturas dos índios tratados a fogo e a ferro. Aimberé, bravo e de voz alta pediu: “A liberdade de todos os Tamoio (“Tamuya” quer dizer “o avô, o mais velho, o mais antigo”, por isso essa Confederação de chefes chamou-se Confederação dos Tamuya, que os portugueses transformaram em Confederação dos Tamoios) escravizados e a entrega dos caciques que se uniram ao inimigo “peró”).

Anchieta se pos contra e Aimberé o ameaçou com seu “tacape”. Tumultuada a sessão, nenhum acordo havia sido fechado. Aimberé tinha razões de sobra para não confiar nos portugueses, pois eles o tinham aprisionado junto a seu pai, também a sua mulher que foi feita escrava. Tudo isto se agravava, uma vez que Anchieta traiu um segredo de confissão ao revelar o plano de ataque dos índios a Piratininga (São Paulo), plano este confesso por Tibiriçá, contado por seu sobrinho Jogoanhara, filho de Araraí.

Jogoanhara havia visitado o tio Tibiriçá e havia lhe entregue a noticia dos Confederados, através de Aimberé, que queriam a volta de Tibiriçá a seu antigo povo, com isto contou ao tio que no prazo de três luas haveria um conflito, um ataque aos portugueses. Sem paz consigo mesmo, Tibiriçá procurou o jesuíta para se confessar, lá contou da visita do sobrinho e do conflito futuro. Temendo assim perder o apostolado e a vida, Anchieta viola o segredo de confessionário. Nóbrega, com os nervos a flor da pele, propõe uma nova assembléia.

Os índios estavam divididos, uns eram a favor da paz, outros queriam a guerra começando pela morte dos padres. Enquanto o desfecho para a segunda assembléia não saía, o Padre (abaré) José de Anchieta, num ambiente tenso e com uma guerra iminente escreve, pedindo proteção, nas areias da praia de Iperoig, o poema a Virgem Maria, que compunha sentimentos e superstições, costumes e perfis indígenas descritos na composição de 5.902 versos ( de Beata Virgine Dei Mater Maria).
Iniciaram-se os entendimentos, mas os índios, cautelosos e desconfiados, exigiam provas concretas de sinceridade por parte dos padres. Vale lembrar que como fator agravante da situação já por si só delicada, alguns franceses foram inseridos na vida tribal e na decisão do possível acordo. Os Confederados, povo de muitas armas e astúcias por excelência, eram dez mil arcos com que passou o francês a contar sobre os próprios recursos, que já seriam suficientes para enfrentar os portugueses em qualquer emergência. Até então, nunca haviam sido razoáveis sequer as relações entre portugueses e tamoios. Por isso o acordo era tão importante.

O Padre Manoel da Nóbrega era dotado de extraordinária visão política. Sabia ele e com fundadas razões que o índio insistiria no ataque. Refeito do sofrimento, reaparelhado nos seus petrechos de guerra - o índio voltaria, para a desforra. E o faria sucessivamente, cada vez com mais raiva até que levasse o desânimo ao bloco civilizado. Era da natureza do índio defender suas terras e suas tribos, já que não temia a morte. Sobre isso não mantinha ilusões o Padre Manoel da Nóbrega. Que fazer, no entanto? Noites intermináveis de ansiedade e insônia povoavam de trágicas visões a mente do genial jesuíta, responsável, perante Deus e perante o Rei. De repente, teve uma fantástica idéia, porque não tentar a paz. Pesou-lhe os prós e os contras. Amadurecida a idéia, despertou José de Anchieta, seu. Aprovado pelo discípulo o plano do mestre, puseram-se os dois a caminho de São Vicente, como já relatado no inicio deste texto. Empenhados sempre estiveram na luta em prol da preservação da unidade da pátria em formação, assim como os dizeres em latim do brasão de Ubatuba: Manteve a Unidade da Fé e da Pátria.

A segunda assembléia não foi fácil, Nóbrega e Anchieta ouviram muitas reclamações. Anchieta, em tom alto e calmo, falou da necessidade da paz e toda a Confederação o ouviu atentamente. Anchieta dizia que realmente os Tamoios eram os donos da terra e que os portugueses, aos faltarem com a lei de Deus, as condições do Tratado seriam punidos. Falou ainda de que todos teriam que trabalhar como irmãos, os “perós” fariam escolas e ajudá-los com os doentes e os índios poderiam plantar e caçar. Aimberé, ainda desconfiado continuava a exigir a libertação dos cativos e a entrega dos traidores como Tibiriçá e Caiuby. A fala deste Chefe recebeu apoio de todos, que deixaram os padres sem saber o que fazer. Para ganhar tempo, Anchieta concorda e diz que teriam de consultar o Governador e para que isso se confirmasse, Nóbrega regressaria a São Vicente, levando Cunhambebe, enquanto Anchieta permaneceu em Iperoig como refém.
Um breve período de paz antecede a traição
Ganhar a confiança dos índios era primordial para o acordo
Ganhar a confiança dos índios era primordial para o acordo
As condições foram impostas por Aimberé, desconfiado das intenções portuguesas. Cunhambebe resolve partir para São Vicente acompanhado de Nóbrega para certificar-se do cumprimento das reivindicações feitas. Anchieta como refém cativa a todos passando a celebrar missas diárias ensinando hinos em tupi às crianças. Os índios se impressionavam, pois os pássaros, pousavam no ombro do sacerdote. Uma conversa foi reproduzida por Antonio Torres, quando cativos e temendo sobre suas vidas entre os Tamoio. Nóbrega havia aceitado as condições impostas pelos índios como um modo de atrasar a ação de ambas as partes. Nestas negociações Pindabuçu chegou com fome de matar os padres, que fugiram para uma igreja de palha.

O líder indígena e Anchieta por alguns minutos se olharam. O beato tocou nos ombros do chefe e lembrou-o das glórias da tribo e que estavam ali para negociar a paz e não promover mais sangue e que ambos deveriam ter gestos nobres ante o que acontecia. Pindabuçu cede ao apelo de Anchieta. Aimberé retorna para Uruçumirim, lá sua filha Potira havia dado a luz a seu neto. Ele aproveitou para consultar alguns franceses sobre a proposta dos padres. Na volta a Iperoig, Aimberé está à frente de 40 canoas com alguns franceses a bordo.

Araraí, da tribo dos Guaianases, próximo do colégio dos jesuítas em Piratininga, queria a continuidade da guerra. Ouros chefes também queriam a guerra, mas também queriam viver, mas com a garantia de serem respeitados em suas terras.
Aimberé se mostrou compreensivo e entendeu a necessidade da viagem e decide partir junto. Ele enfrentou com bravura as negociações em São Vicente e em Piratininga. Suas conclusões fizeram os brancos a ceder aos pedidos e em troca, isto é, para selar o acordo de paz, queriam a volta do jesuíta que tinha ficado em Iperoig. Aimberé desconfia dos “pêros”, discussões acalorados transformam as negociações em caos. O jesuíta Luiz de Grã intervém e sugere que um dos padres fosse a Piratininga e outro continuasse em Iperoig até que todas as partes se entendam. Desta forma Manuel da Nóbrega foi escolhido para a última etapa de negociações. Para Piratininga, Aimberé levou seu jovem cunhado Parabuçu e um chefe Aimoré muito respeitado, Araken.

A falta de noticias deixaram os confederados agitados em Iperoig, aumentando as hostilidades entre os Tamoio e o jesuíta, que não foram mortos por intervenção de Cunhambebe e Coaquira. Nóbrega foi então levado para o centro das negociações. De São Vicente desembarcou em Bertioga (Buriquioca), de lá foi a Piratininga.

Nóbrega que estava doente se recuperou e selou o acordo de paz entre Aimberé e as autoridades portuguesas. Diante do acordo as autoridades portuguesas mandaram expedições de soldados às fazendas para libertar os cativos, todos acompanhados por Aimberé. Na realidade Aimberé estava à procura do amor de sua vida, a jovem Iguaçu, que não foi encontrada na fazenda de Eliodoro Eoban. Triste e desconsolado Aimberé retorna a Iperoig, lá viu obras realizadas por Anchieta como agricultura, pecuária, alimentação. Com isto ganhou respeito da tribo de Coaquira.

De volta a sua aldeia, Aimberé é recebido com festa, mas festa mesmo foi quando descobriu que Potira o aguardava, ela havia sido resgatada por seus amigos, capturando seus raptores, antes que ele tivesse chegado à fazenda de Eliodoro. Anchieta volta a São Vicente com a escolta de nada mais nada menos que Cunhambebe, chefe da Confederação mais famosa das Américas. Cunhambebe mandou soltar todos os cativos nas aldeias e retornando a sua aldeia fez um balanço positivo do Tratado da Paz de Iperoig, em 14 de setembro de 1563.

Um breve período de paz aconteceu após a “assinatura” do tratado. Tudo que é bom dura pouco e um ano depois das negociações os portugueses romperam o acordo, voltando a sujeitar os índios capturados a trabalhos escravos, com isto a guerra começou onde tinha acabado um ano antes, em Iperoig. Lá houve a invasão das duas aldeias de Coaquira, que foi morto. Depois destruíram as de Araraí.

Os portugueses não só escravizavam para os engenhos, mas também para as expedições de ouro.
Anchieta por determinação da Coroa muda seus interesses, e inflama o governador geral do Brasil, Men de Sá na sua empreitada de retomar seus interesses patrimoniais. O governador cria o Comando das Operações de Extermínio dos Confederados, de forma a liquidar o poder que os índios haviam conquistados de forma diplomática.

No dia 8 de janeiro de 1567, com o reforço de três galeões vindos de Portugal e dois navios de guerra bem armados, Men de Sá dá inicio a chacina. A matança foi encerrada no dia 20 de janeiro do mesmo ano, dando por fim a cruzada contra os índios. Ao que se sabe, os Tamoio nunca cederam à quebra do tratado, mantiveram-se fiéis ao que tinha sido acordado com os “pêros” e aos “mairs” - franceses que mantinham um melhor relacionamento com os índios do litoral.
Men de Sá, que solicitou a intervenção de um tratado, agora massacrou os índios que a muito tempo foram considerados os “Filhos da Terra”, que eram homens destemidos, indomáveis na guerra, mas de palavra, sensíveis às negociações, compreensivos no trato dos acordos.

O massacre é pouco divulgado, mas quem procura saber da história descobre a traição dos “pêros”. O Tratado de Paz passou a figurar na História do Brasil como a “Paz de Iperoig”, o primeiro tratado de Paz das Américas e o primeiro trabalho de acordo concluídos em terras americanas, que assim pode ser entendida na iniciativa de seu destino histórico: marco inicial da generosa política brasileira de resolver pendências através de tratados, na mesa, no caso especifico - na Óca das conferências.
EZEQUIEL DOS SANTOS
Fonte: http://www.maranduba.com.br/pazdeiperoig.htm

Por que a mídia e os EUA são contra os governos bolivarianos? Oliver Stone explica

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Não tem sido fácil para a esquerda latino-americana derrotar seu principal inimigo: a imprensa burguesa, submissa ao grande capital e anti-nacionalista. A mídia tem sido o braço pseudodemocrático dos golpes brancos que vêm ocorrendo na América do Sul ao longo da última década. Como não consegue ganhar eleições, a direita se alia aos principais jornais e emissoras de TV e apela a soluções jurídicas, quando não diretamente para a força bruta, para chegar ao poder.
Assim aconteceu na Venezuela em 2002, no Paraguai em 2012 e ameaça acontecer no Brasil em 2015: um governo legitimamente eleito é deposto, sob desculpas esfarrapadas, por inimigos sedentos por chegar ao poder na marra e com as piores intenções. No caso de Hugo Chávez, como havia construído uma teia de apoiadores dentro do Exército, o golpe falhou –mas Chávez morreria em 2013, vítima de um câncer. No Paraguai, um golpe “constitucional” (eufemismo que a mídia criou para os golpes brancos) derrubou Fernando Lugo. No Brasil, tramam o mesmo contra Dilma Rousseff.
No documentário Ao Sul da Fronteira, o cineasta norte-americano Oliver Stone examina o porquê de a mídia hegemônica e os EUA se unirem contra os governos progressistas do cone Sul. Debruçado sobre anotações, Chávez explica para ele: no Iraque era o petróleo, no Irã é o petróleo, na Venezuela é o petróleo. É o petróleo, estúpido! Ou vocês acham que é à toa que este movimento de desestabilização do governo venha junto com a tentativa do PSDB de entregar opré-sal para os gringos?
Stone também mostra como a principal oposição aos governos ditos “bolivarianos” têm vindo dos setores mais privilegiados da sociedade, incomodados com a ascensão dos mais pobres e o consequente abalo no status quo. Não querem governos de esquerda porque não querem se sentir ameaçados em seus privilégios. Algo em comum com os médicos que rejeitam cotistas? Algo em comum com os ricos que falam que os aeroportos parecem rodoviárias? Algo em comum com os que se manifestam contra o bolsa família?
Para conseguir convencer os incautos de que os governos de esquerda são ruins, a mídia hegemônica mente, e mente muito. Nos EUA, Chávez era pintado como “ditador”, dizia-se que “financiava o terrorismo” e que era “pior que Bin Laden”. Apenas, segundo Oliver Stone, por não se colocar aos pés do imperialismo, como faziam alguns governantes da América do Sul no passado, como Fernando Henrique Cardoso ou o colombiano Álvaro Uribe. Na abertura do documentário, uma apresentadora da Fox News chega pateticamente a dizer que Chávez é viciado em drogas, confundindo “cacau” com “coca”.
Stone lembra que, até aparecerem os governantes bolivarianos, os pobres da América do Sul eram utilizados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) como “ratos de laboratório” de suas experiências espoliadoras da riqueza alheia. Cristina Kirchner lembra que o antecessor de Evo Moralez na Bolívia, Sánchez de Lozada, não sabia nem sequer falar espanhol direito porque morou nos EUA quase a vida inteira e por isso tem um forte sotaque norte-americano que deixa quase ininteligível o que diz.
Oliver Stone também mostra o que era a Venezuela antes de Chávez, coisa que seus críticos desconhecem totalmente. Em 1989, sob a presidência de Carlos Andrés Pérez, a economia do país estava em frangalhos quando o presidente Carlos Andrés Perez foi, “de joelhos”, pedir ajuda ao FMI. Após o aumento das tarifas de ônibus ordenada pelo Fundo, milhares de venezuelanos foram às ruas protestar.
Como resultado do chamado “Caracazo”, 300 pessoas foram mortas a tiros pela polícia e mais de 2 mil desapareceram. E pensar que hoje os reaças compartilham fotos falsas de “mortos” pelo governo de Nicolás Maduro… O presidente de direita acabou defenestrado do cargo por fraude e corrupção. Que exemplo! Em 1998, Hugo Chávez se elegeria presidente pela primeira vez.
Triste é ver Oliver Stone dizer que lhe impressionou a “força” do comandante. “É um touro”, diz no filme. Nem podia imaginar que o touro iria morrer tão pouco tempo depois…
Vale a pena assistir ao documentário na íntegra neste momento.
http://www.socialistamorena.com.br/oliver-stone-explica/


Ou Dilma enfrenta o ultimato da direita ou não deixará saudades

Igor Fuser

Tenho defendido o governo até agora, mas parece que finalmente chegamos ao momento decisivo em que se esgotou a margem para qualquer tipo de manobra tática.

Leiam o editorial da Folha de S. Paulo de hoje, domingo 13 de setembro.

Leiam a nota conjunta da Fiesp e da Firjan, ou as declarações do presidente da Confederação Nacional da Indústria.

A burguesia está dando um ultimato à Dilma. Ou ela se rende completamente, assumindo o programa de arrocho mais brutal de nossa história, ou a ofensiva política para a sua derrubada terá início imediato.

O pacote que estão querendo impor é muito pior do que a Agenda Brasil apresentada há poucas semanas pelo Renan Calheiros. Inclui o congelamento do salário de todo o funcionalismo público federal (com uma perda inflacionária brutal), cortes radicais na saúde, educação e projetos sociais, na previdência, mudança nas regras do salário mínimo e muito mais.

Inevitavelmente, os passos seguintes serão o fim do Mercosul e a entrega do pré-sal às empresas transnacionais, além da terceirização irrestrita.

A Dilma não pode fazer um governo que será o oposto de tudo o que a esquerda sempre defendeu. É preferível cair com dignidade, se não for possível resistir ao tsunami golpista da direita, e segurar o rojão que vem depois. Essa é a nossa triste realidade.

Ou será que ainda existe espaço para alguma solução intermediária, capaz de preservar o essencial do projeto social-desenvolvimentista ao preço de fazer concessões importantes aos neoliberais? Ganhar tempo até que a economia mostre sinais de recuperação? Essa opção se mostra a cada dia menos viável. A receita da "austeridade" só está aprofundando recessão. E o que a direita está dizendo, nestes últimos dias, é que não está disposta a aceitar um acordo que não tenha como alicerce a capitulação.

Nesse contexto só há uma coisa a fazer. A Dilma tem que repudiar a opção neoliberal implementada pelo Levy e conclamar o povo brasileiro a apoiar um programa de ajuste diferente do atual, baixando os juros e jogando o peso da dívida nas costas dos mais ricos, mesmo que esse projeto seja rejeitado pelo Congresso e massacrado pela mídia. Mesmo que isso signifique novo "rebaixamento" da nota do Brasil junto aos mercados financeiros e uma arremetida momentânea da inflação (limitada pela própria redução do poder aquisitivo geral). Mesmo que isso provoque um rompimento total com o PMDB e outros falsos aliados.

É agora ou nunca. Se não der uma guinada à esquerda agora, em busca de uma reaproximação com sua base de apoio popular, a nossa presidenta se arrastará pelos três anos restantes de mandato como um fantoche da direita, um zumbi político nas mãos do PMDB, da Rede Globo e dos banqueiros.

E ainda assim a Dilma correrá o risco de ser jogada no lixo a qualquer momento antes de 2018, como um traste velho que já não presta pra mais nada, sem que ninguém, absolutamente ninguém, diga uma única palavra em sua defesa.
http://caviaresquerda.blogspot.com.br/2015/09/ou-dilma-enfrenta-ultimato-da-direita.html

O que a direita quer é voltar a roubar em paz, como sempre fez


Algum deles estaria solto na Alemanha ou no Canadá? 
Duvivier fez a análise mais lúcida do momento que vive o país 

Por Paulo Nogueira - Diário do Centro do Mundo

Você vê Lobão, Gentili, Fábio Júnior e pensa em perder a fé na capacidade de reflexão da classe artística.

Mas aí você vê Gregório Duvivier e volta a acreditar nos artistas.

A entrevista que Duvivier concedeu a uma emissora portuguesa em Lisboa é uma das mais luminosas análises da cena política contemporânea nacional.

A frase chave é esta: os caras querem tirar Dilma para poderem continuar a roubar.

A não ser que você acredite nos bons propósitos de figuras como Eduardo Cunha, Caiado e, como bem notou Duvivier, Aécio.

Aécio deveria explicar o aeroporto privado que construiu, ou as verbas públicas que alocou para rádios suas quando governador de Minas, e em vez disso fala com a maior cara de pau em combater a corrupção.

Atenção.

As pessoas que mais falam em corrupção são, em geral, as almas mais corrompidas.

No Brasil, o foco de espertalhões em corrupção desvia o debate do verdadeiro câncer nacional: a desigualdade.

Duvivier usou, com graça irreverente, uma sentença que todos deveríamos ter em mente. Limpar a corrupção com os pseudocampeões da moralidade que estão aí é como “limpar o chão com bosta”.

Um caso exemplar é o de Agripino Maia, presidente do DEM.

Enroscadíssimo num caso em que é acusado de achacar um empresário, ele consegue comparecer, como se tivesse a ficha mais limpa do mundo, a protestos anticorrupção.

Isto se chama tratar os brasileiros como se fossem imbecis.

A entrevista de Duvivier em Portugal é um magnífico contraponto a toda a canalhice cínica que marca o movimento pró-impeachment. Os políticos que o lideram se batem, todos eles, pela manutenção do financiamento privado às campanhas, sabidamente o maior foco de corrupção que existe, e a maneira como a plutocracia toma de assalto a democracia.

As críticas que Duvivier faz ao PT não são poucas, e são justíssimas.

O PT fez muito menos pelos índios do que deveria fazer. Na questão ambiental, deixou também muito a desejar.

Mexeu muito pouco na estrutura abjeta da política brasileira ao se ídedicar a acordos lastimáveis em nome da governabilidade.

Mas não é nenhuma dessas questões que comove os defensores do impeachment.

O que eles querem, como disse Duvivier, é poder meter a mão em paz, como sempre fizeram.
http://caviaresquerda.blogspot.com.br/