Ravi Shankar foi apresentado ao Ocidente, de maneira definitiva, pelo cantor e compositor britânico George Harrison nos anos 60, época em que os Beatles eram mais conhecidos no mundo que Jesus Cristo (Quem de vocês se sentir incomodado com a comparação que reclame com Yoko Ono, viúva de John Lennon, o responsável pela analogia que provocou uma das maiores quebradeiras de discos de vinil em praça pública que se tem notícia. Se alguém quiser me esconjurar, prossiga. Não persigo céus mesmo...).
Renomado músico indiano, foi Ravi quem ensinou (e influenciou) George a tocar a cítara, instrumento de cordas com som exótico que foi introduzido nos arranjos de algumas canções do quarteto fabuloso naqueles loucos e benditos anos 60. A recente morte de Ravi Shankar, aos 92 anos, pouquíssimo tem a ver com a temática desta crônica, a não ser para ilustrar o quanto a vida nos premia com desapontamentos tão ininteligíveis e pouco aceitáveis quanto a morte.
Muitos haverão de dizer que a morte é primordial para o expurgo da humanidade, que o povo tem que morrer mesmo, a fim de que mais e mais gente nasça para continuarmos a nossa ignóbil missão neste planeta rumo ao desconhecido. Isto lhes parece atraente?!
Até que o argumento é bastante pertinaz, quase me convence. Mas, por que não nos ensinam desde cedo que morrer é útil e integra o pacote de bondades universal como chupar as tetas da mamãe ou lavar as patinhas antes das refeições? Isto não tornaria a dor da separação definitiva menos dramática?
Enquanto aguardo por mais um fim do mundo, o qual está agendado pelos maias e seus tolos sucessores apocalípticos para o próximo dia 21 de dezembro, eu como uma empadinha de frango (sem azeitona, diga-se de passagem) no Mercado Central da cidade. Empadinhas sem azeitonas, para mim, por si só, já representam, se não o fim do mundo, o fim da picada, que é uma expressão popular bastante utilizada na minha terra para demonstrar indignação.
Eu degusto a incompleta empadinha e sigo anotando num amarrotado pedaço de papel reciclado, utilizado pelo Zé Feirante para embrulhar dois quilos de pequi, desapontamentos previsíveis para 2013. Finais de ano transformam as pessoas, fazem o público consumidor sentir-se magnânimo e comprar à beça. Da minha parte, eu penso, penso, penso, penso, penso até sentir ojeriza.
O papel aceita tudo, inda mais um papel tão fajuto quanto a minha aviltada empadinha. O pequi, não. O pequi está mesmo muito bom, douradinho, colhido no tempo certo, maduro, com a polpa gordinha e cheirosa. Juntamente com a galinha caipira sem hormônios (que Deus a tenha!) haverá de resultar numa saborosa galinhada ao molho.
Então eu listo na página improvisada pensamentos para 2013, ideias que certamente serão refutadas pela parentalha, a qual me tem como um macambúzio, um pessimista, um ser tão ou mais insensível que um teiú comedor de ovos. Quanto mais exponho as mazelas humanas, menos sou convidado para batizados e happy-hours, apesar de me esmerar nas omeletes. Fazer o quê? Cosas de la vida...
Então, vamos. Tomei emprestada a caneta de um Agente Fiscal do Trânsito que fazia uma pausa nas multas natalinas para degustar uma empadinha no balcão. “Ei, mas esta empadinha não tem azeitona...”, ele reclama. Viu só, Seu Guarda? A vida é dura, repleta de aborrecimentos, desapontamentos como estes que eu prevejo para 2013. Anotem aí, caros leitores. Se preferirem, esqueçam tudo. Pra mim, tanto faz.
Para decepção de vários, o mundo, que não terá terminado em 2012, também não fechará para balanço em 2013.
O salário mínimo será, no máximo, mediano.
Uma saraivada de feriados manterá o Brasil na sola do sapato mundial.
As incidências de ressaca, azia, gravidez e gonorreia continuarão elevadas no carnaval.
Os facínoras não serão menos impiedosos durante a Semana Santa.
Se não ultrapassados, tomaremos um sufoco danado de Bangladesh na briga pelo 88º lugar no ranking educacional da UNESCO. Por outro lado, o Big Brother continuará com audiência avassaladora.
O aborto não será legalizado, nem o uso da maconha, nem a comissão de 20% paga pelos empreiteiros. E mais: para o bem dos partidos políticos, a propina prosperará.
Não havendo eleições em 2013 — a não ser em condomínios país afora — continuaremos com um Congresso Nacional bastante medíocre.
Não. Nem sonhando. Não haverá a redução do IPI sobre livros. Junte os seus trocados, compre um carro popular flex, e vá ajudar a entupir uma rua.
Os peitos delicados, aqueles pequenos como as peras, não voltarão à baila. Podem tirar os cavalinhos da chuva. O silicone continuará em alta no mercado dos corpos imperfeitos.
Assim como nos motéis e nos transplantes de medula, as filas do SUS continuarão indecentemente longas.
O Governo não deixará de amparar o eleitorado: a calcinha de renda cidadã continuará prestigiada.
O poema “Os Estatutos do Homem”, de Thiago de Mello, não será lido em rede nacional de rádio e televisão pela Ministra da Cultura. Na verdade, ninguém estará interessado neste tipo de coisa.
A ciência e a Polícia Federal não descobrirão a cura para o câncer social denominado corrupção. Aliás, eu e o escritor Paulo Coelho assessoraremos a PF na elaboração de nomes mais criativos para as suas operações secretas.
Não haverá fair-play nas peladinhas e nas celas dos presídios brasileiros.
Uma série de novos escândalos financeiros substituirá os atuais.
Sempre haverá a musa de um ilustre criminoso do colarinho branco para manter acesa a libido masculina, além de incrementar as vendas de revistas de fofocas.
Nenhum delinquente rico permanecerá preso.
Nunca mais escreverei poemas em 2013.
Por fim, serei submetido a uma delicada cirurgia de redução. De redução de estômago, não, filha. Redução peniana.
Mentirei mais que um deputado federal.
Farei previsões escabrosas para 2014. E, por causa disto, continuarei fora das listas de convidados.