sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Siemens diz que demorou a delatar cartel porque processo é 'complexo'

Após ser pressionado, presidente diz a CPI em São Paulo que empresa vai ressarcir cofres públicos caso irregularidades sejam comprovadas, mas rejeita classificação de réu confesso
MOACYR LOPES JÚNIOR/FOLHAPRESS
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Stark diz que o sigilo das investigações o impede de responder a algumas perguntas sobre o esquema
São Paulo – O presidente da Siemens no Brasil, Paulo Ricardo Stark, atribuiu hoje (10) à complexidade das apurações internas a demora em informar aos órgãos públicos a existência de um cartel que opera em licitações de transporte junto aos governos de São Paulo e do Distrito Federal.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Transportes da Câmara Municipal de São Paulo, Stark foi questionado sobre por que, mesmo sabendo da existência do conluio na Alemanha desde 2008, a Siemens só comunicou este ano o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “A investigação de contratos depende obviamente da colaboração de funcionários, ex-funcionários, e esse é um processo bastante complexo”, afirmou, após a sessão, em conversa com jornalistas. Porém, há pelo menos são apresentadas denúncias ao Ministério Público Estadual, que só agora diz estar apurando o caso.
Stark se recusou a responder a várias perguntas alegando que há sigilo sobre as investigações e que alguns contratos são anteriores a sua gestão, iniciada em 2011. Ele disse que a empresa vasculhou documentos de 1998 a 2008, sem encontrar evidência “forte” de pagamento de propinas a políticos.
Uma série de reportagens da revista IstoÉ mostrou que um cartel opera nos contratos do transporte do governo do PSDB em São Paulo. A publicação mostrou que as empresas participantes do esquema desembolsaram US$ 50 milhões para pagar funcionários da gestão estadual – frente a um faturamento de R$ 12,6 bilhões apenas em parte dos contratos. O conluio funciona combinando entre si qual corporação ficará com qual lote no fornecimento de máquinas e equipamentos de energia. Segundo depoimentos obtidos pela IstoÉ, o próprio governador José Serra, que esteve à frente do Palácio dos Bandeirantes entre 2007 e 2010, chegou a propor a executivos que fatiassem os lucros de forma igualitária para evitar que eventuais questionamentos judiciais travassem a conclusão de processos licitatórios.

Este ano, a Siemens decidiu levar a questão ao Cade com a possibilidade de se valer de um acordo de leniência que resulte em pagamento de multas mais baixas e em possíveis absolvições no campo penal. “A Siemens não é ré confessa”, disse hoje Stark, questionado sobre a possibilidade de a corporação ser proibida de participar de licitações. “A Siemens apurou indícios de possível formação de cartel que deverão ser apurados pelas autoridades competentes. Uma vez que as autoridades competentes apurem, aí, sim, vai haver a caracterização ou não se houve um ilícito real. Até lá qualquer coisa é especulação.”
No entanto, o presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, admitiu a existência do cartel, afirmando, porém, que o fato de ser um conluio que atua em nível internacional dificulta as apurações e que o número reduzido de fornecedores no setor dificulta dar fim ao esquema. Já o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, afirmou que não tem como impedir que os envolvidos na questão sejam impedidos imediatamente de participar de licitações.
Durante a audiência, o presidente da empresa foi questionado sobre a possibilidade de devolver aos cofres públicos brasileiros os valores obtidos com licitações fraudulentas. Inicialmente relutante, o executivo foi lembrado de que na Alemanha e nos Estados Unidos a corporação fechou acordo. “A Siemens está disposta a discutir o acordo e possíveis ressarcimentos no momento em que ficar apurada as responsabilidades da empresa e das demais empresas nesse possível cartel”, disse.
Mais tarde, indagado por jornalistas sobre a afirmação, Stark se limitou a recordar que, além do Cade, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual de São Paulo investigam a questão.  “A apuração de quais as penalidades que vão ser cabíveis nesse caso também é responsabilidade dos órgãos competentes que vão apurar os danos e quais são as penalidades que se aplicarão à empresa.”
Ele se valeu em vários momentos da alegação de que o caso está sob segredo e que não é prudente dar declarações sobre situações que não foram comprovadas. “Isso nos impõe a necessidade de sigilo, enquanto as investigações estiverem correndo nesses três órgãos. O sigilo tem o objetivo de proteger contra qualquer pré-julgamento, seja de pessoas, seja de empresas que fazem parte dessa delação.”

Na Assembleia Legislativa, os deputados de oposição ao governo paulista tentam criar uma CPI para investigar os contratos envolvendo o transporte público estadual e as empresas que estão sendo investigadas por formação de cartel, mas a base de Geraldo Alckmin (PSDB), que detém ampla maioria, não permite a abertura de uma comissão.
No final de setembro, a Justiça Federal quebrou o sigilo bancário e fiscal de 11 pessoas investigadas pelo caso. Entre eles está o vereador da capital Andrea Matarazzo (PSDB), que foi secretário de Energia e presidente da Companhia Energética de São Paulo (CESP) e do Metrô, além de ter ocupado a chefia da Secretaria de Comunicação da Presidência da República em parte do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Mercado de trabalho mostra tendência de estabilidade, indica FGV



Vitor Abdala, Agência Brasil

“O Indicador Antecedente de Emprego (Iaemp), da Fundação Getulio Vargas (FGV), ficou praticamente estável em setembro (variação de 0,1%), na comparação com o mês anterior. O índice busca antecipar tendências do mercado de trabalho para os próximos meses, com base em entrevistas com consumidores e empresários da indústria e do setor de serviços.

Entre os componentes usados para medir o indicador, a maior alta foi observada na perspectiva dos consumidores de encontrar emprego em sua própria região (4,3%). Por outro lado, os empresários de Serviços estão menos otimistas em relação a contratações futuras, pois o componente teve queda de 1,1%.

Outro índice da FGV, o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD), apontou para uma leve piora, de 0,5%, na percepção do consumidor sobre o mercado de trabalho atual. As piores avaliações ficaram com as duas faixas de renda mais baixa dentre as quatro analisadas pela FGV: a avaliação dos consumidores com renda abaixo de R$ 2,1 mil piorou 0,7%, enquanto a daqueles com renda entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil teve uma piora de 0,8%.”

Marina Silva joga o PSB para a direita



Marina, você se pintou
Em 48 horas de fulminante trajetória a ex-senadora Marina Silva provocou inesperados solavancos no panorama das eleições em 2014. Renegando o que há meses dizia professar aderiu ao sistema partidário que está aí, mencionou haver abrigado o PSB como Plano C, sem mencioná-lo a desapontados seguidores, e declarou guerra a um suposto chavismo petista. De quebra, prometeu enterrar a aniversariante república criada pela Constituição de 88, desprezando-a por ser “velha”. Haja água benta para tanta presunção.



Marina e seguidores não consideravam incoerente denunciar o excessivo número de legendas partidárias e ao mesmo tempo propor a criação de mais uma. Ademais, personalizada. O “Rede” sempre foi, e é, uma espécie de grife monopolizada pela ex-senadora. Faltando o registro legal, cada um tratou de si, segundo o depoimento de Alfredo Sirkis. Inclusive a própria Marina. Disse que informou por telefone ao governador Eduardo Campos que ingressaria no Partido Socialista Brasileiro para ser sua candidata a vice- presidente. Ainda segundo declaração de Marina, o governador ficou, inicialmente, mudo. Não era para menos. Em sua estratégia pública, Eduardo Campos nunca admitiu ser um potencial candidato à Presidência, deixando caminhos abertos a composições. Eis que, não mais que de repente, o governador é declarado candidato por sua auto-indicada companheira de chapa. Sorrindo embora, custa acreditar que Eduardo Campos esteja feliz com o papel subordinado que lhe coube no espetáculo precipitado pela ex-senadora.
Há mais. Não obstante a crítica às infidelidades de que padecem os partidos
que aí estão, Marina confessou sem meias palavras que ingressava no PSB, mas não era PSB, era “Rede”, e seria “Rede” dentro do PSB. Plagiando o estranho humor da ex-senadora, o “Rede” passava a ser, dali em diante, não o primeira partido clandestino da democracia, mas o primeiro clandestino confesso do Partido Socialista Brasileiro. Não deixa de ser compatível com a sutil ordem de preferência de Marina Silva. Em primeiro lugar vinha a criação da Rede, depois a pressão para que a legenda fosse isenta de exigências fundamentais para a constituição de um partido conforme manda a lei e, por fim, aceitar uma das legendas declaradamente à disposição.
Decidiu-se por uma quarta opção e impor-se a uma legenda que não é de conhecimento público lhe tenha sido oferecida. Enquanto políticos trocam de legenda para não se comprometerem com facções, a ex-senadora fez aberta propaganda de como se desmoraliza um partido: ingressar nele para criar uma facção. Deslealdade com companheiros de percurso, ultimatos e sabotagem de instituições estabelecidas (no caso, o PSB), não parecem comportamentos recomendáveis a quem se apresenta como regeneradora dos hábitos políticos.
O campo das oposições vai enfrentar momentosas batalhas. Adotando o reconhecido mote da direita de que o Partido dos Trabalhadores constitui uma ameaça “chavista”, Marina pintou-se com as cores da reação, as mesmas que usa em suas preferências sociais: contra o aborto legal, contra o reconhecimento das relações homoafetivas, contra as pesquisas com células tronco, enfim, contra todos os movimentos de progresso ou de remoção de preconceitos. Abandonando a retórica melíflua a ex-senadora revela afinal a coerência entre suas posições políticas e as sociais. Empurrou o PSB para a direita de Aécio Neves, a um passo de José Serra. É onde Eduardo Campos vai estar, queira ou não, liderado por Marina Silva. As oposições marcham para explosivo confronto interno pelo privilégio de representar o conservadorismo obscurantista.

Brasil e parceiros do Brics contrariam pessimistas



Nossos economistas, frequentadores habituais das páginas dos jornalões, não cansam de prever as maiores dificuldades do mundo para o crescimento do país. O problema é que, quase sempre, as previsões são desmentidas pelos fatos, ou seja, o mundo real se sobrepõe ao universo ficcional imaginado pelos tais especialistas.
Um dos passatempos preferidos desse pessoal, nos últimos anos, tem sido decretar a falência do grupo de países que se destacam entre os emergentes, alcunhado de Brics, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O bloco tem sido, nos últimos anos, o principal responsável pelo crescimento da economia mundial.
Os Brics seguem cada vez mais fortes, individualmente e como bloco, aumentando o comércio e as relações bilaterais entre seus integrantes.
O site Gazeta Russa, a propósito do tema, publicou uma reportagem em que ouve vários analistas, que, contrariando outros tantos, acham que os Brics ainda têm muita lenha para queimar.
A íntegra da matéria é a seguinte:

Para especialistas russos, potencial do Brics está longe de ser esgotado

Víktor Kuzmin, especial para a Gazeta Russa

Otimismo dos especialistas ouvidos pela Gazeta Russa em relação o futuro do Brics tem como base quatro pilares, dos quais o principal é o crescimento do consumo interno nos países do Brics devido ao aumento da população.

Previsões do fim do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) como força motriz da economia global são prematuras, afirmam especialistas russos. O potencial econômico dessa associação informal está longe de ser esgotado.
Ainda recentemente, o Brics registrava um crescimento econômico mais rápido do que o G7. Hoje em dia, porém, apresenta uma desaceleração econômica como os demais países emergentes. No final de 2013, a Rússia verá seu PIB aumentar entre 1,5% e 1,8%. A China e a Índia terão uma taxa de crescimento maior, mas abaixo dos valores registrados anteriormente. O Brasil seguirá quase sem crescer.
O economista norte-americano Nouriel Roubini, que previu a turbulência de 2008, profetizou um futuro decadente do Brics. No entanto, parece que os pessimistas tiveram pressa. Pelo menos nos próximos 3 a 5 anos, o grupo continuará seguindo à frente da economia global, devendo retomar o crescimento já no próximo ano. Prova disso são as previsões de crescimento do PIB dos países do Brics em 2014 feitas pelos especialistas ouvidos pela Gazeta Russa no início deste mês e contidas no World Economic Outlook de outubro do FMI (Fundo Monetário Internacional).
A reportagem conversou com William Wilson e Christopher Hartwell, analistas do Instituto de Pesquisa de Mercados Emergentes Skólkovo, Mark McFarland, economista-chefe do banco britânico Coutts & Co, Maksim Vasin, analista sênior da Agência Nacional de Rating, Emil Martirosian, membro da Academia Russa de Economia Nacional e de Administração Pública junto à Presidência, e Timur Nigmatúllin, analista do Investkafe.
O otimismo dos especialistas ouvidos pela Gazeta Russa em relação ao futuro do Brics tem como base quatro pilares, dos quais o principal é o crescimento do consumo interno nos países do grupo devido ao aumento da população, mudanças no perfil do consumo e ao aumento do número de milionários.
"Os países do Brics se tornaram grandes mercados de escoamento, com o crescente potencial para as startups bem sucedidas na indústria de tecnologia de informação, para muitas empresas multinacionais dos EUA e da Europa Ocidental", disse Martirosian.
O segundo fator é a  transformação e modernização da indústria rumo a uma circulação mais rápida de bens e serviços. O terceiro é a participação ativa do Estado na elaboração de uma política econômica e, como conseqüência, o aumento de investimentos públicos na economia sob as mais diversas formas. O quarto fator será a tão longamente almejada saída da União Europeia de uma recessão de dois anos e a aceleração econômica dos EUA.
A China continuará sendo líder do Brics em termos de crescimento do PIB, devendo crescer 7,4% em 2014, segundo as estimativas dos analistas do Instituto Skólkovo, e 8,2%, segundo as estimativas dos analistas do FMI. O segundo lugar do grupo será ocupado pela Índia, que, segundo os economista do FMI, deverá crescer 6,23% no ano que vem –segundo os analistas do Instituto Skólkovo, o aumento será de apenas 4,5% .
Os analistas dividem-se sobre quem ficará em terceiro lugar: a Rússia ou o Brasil. Mark McFarland acredita que a posição ficará com a Rússia, cuja economia irá crescer a uma taxa de 3% em 2014, quase duas vezes superior à atual, devido ao reforço do consumo interno e ao aumento das exportações líquidas de hidrocarbonetos. Timur Nigmatullin, do Investkafe, e os analistas do Instituto Skólkovo, são da mesma opinião.
"Na Rússia, a taxa de crescimento dobrará devido ao aumento do consumo interno. A exportação de fontes de energia atingiu um platô, razão pela qual os gastos públicos estão sendo contidos e as despesas de investimento continuam pequenas", ressaltam William Wilson e Christopher Hartwell. O FMI está como sempre mais otimista, avaliando em 3,7% o crescimento econômico da Rússia em 2014.
De acordo com McFarland, no caso do Brasil, os gastos com infraestrutura serão outro fator determinante, além do aumento do consumo interno. Para o especialista, em 2014, a economia brasileira crescerá apenas 2,4%. Já os especialistas do Instituto Skólkovo calculam em 2,5% a taxa de crescimento do Brasil para o ano que vem. Para eles, o crescimento da economia brasileira será condicionado ao aumento das despesas de investimento, enquanto as exportações brasileiras se manterão no platô devido à baixa demanda por parte da China.
A África do Sul crescerá 3,3%, segundo a previsão do FMI.
Para os especialistas, em 2014, a China também terá a melhor taxa de inflação no Brics, não superior a 2,9%, enquanto a Rússia atingirá uma inflação de 5,5%, o Brasil, de 6%, e a Índia, de 8,9%, afirma McFarland.
"A vantagem da China sobre seus parceiros do Brics é a de que a inflação baixa prevista para 2014 permitirá ao Banco Central e ao governo do país aplicar, se necessário, um amplo leque de medidas para o estímulo monetário e fiscal sem temer fomentar a inflação", disse o especialista.
Os especialistas preveem ainda o crescimento do intercâmbio comercial dentro do Brics. Em sete meses de 2013, as trocas comerciais da Rússia com os países do Brics diminuíram 0,6%, para US$ 58 bi. No entanto, até o final deste ano, o declínio deve ser compensado por um crescimento mais rápido. Em 2014, o intercâmbio comercial deve crescer entre 1% e 2%, afirma Nigmatúllin.
Os países do Brics representam 12,5% do comércio exterior da Rússia. Seu principal parceiro comercial é a China, com uma participação de 10,5 % do faturamento total do comércio exterior do país. Alguma expansão do comércio dentro do Brics é possível devido à diferença estrutural das economias.
"O baixo custo da mão de obra na China significa que os bens produzidos no país continuarão no piso da faixa de preços. A Rússia tem exportado recursos naturais como petróleo, gás e madeira. A Índia é conhecida pela venda de serviços, enquanto o Brasil é especializado em metais (principalmente minério de ferro) e agricultura", disseram os especialistas do Instituto Skólkovo.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2013/10/brasil-e-parceiros-do-brics-contrariam.html

Como funciona o Conselho Editorial das Organizações Globo


João Roberto Marinho (ao lado de Joaquim Barbosa) comanda as reuniões do Conselho Editorial da Globo

Tinha ouvido falar pouco de Ali Kamel, chefe de telejornalismo da Globo, até conhecê-lo no Conedit. É o conselho editorial das Organizações Globo.

Sob o comando de João Roberto Marinho, o Conedit reúne os editores das diversas mídias da Globo para alinhar ações e debater assuntos. As reuniões são realizadas às terças, por volta das 11 horas, no prédio da Globo no Jardim Botânico, no Rio. Frequentei-as ao longo dos dois anos e meio em que fui diretor editorial das revistas da Globo. Quando cheguei, Kamel já estava lá, e ali permaneceu depois que saí.

A referência mais longa que eu tivera dele veio de um jornalista da Abril que o procurara em busca de emprego. A operação deu certo. O jornalista me contou que lera que Kamel valorizava gente que tivesse passado por revistas, por ser mais apta a mexer com palavras. O próprio Kamel passara pela Veja no Rio antes de se fixar nas Organizações Globo.

Kamel não confirma o folclore do carioca simpático, ao contrário de outros editores com quem convivi naquelas manhãs de terça. Seu chefe, Carlos Schroder, um gaúcho afável e sempre com um sorriso no rosto, parece mais carioca que ele.

De um modo geral, o ambiente no Conedit reflete o humor, a alegria, a capacidade de rir dos cariocas. (E também a falta de pontualidade.) Mesmo Merval Pereira, colunista de várias mídias da Globo e ex-diretor do jornal, ri com frequência – uma surpresa para quem lê seus textos em geral num tom de elevada preocupação, quase sempre ligada a um pseudopecado mortal de Lula.

Kamel, pela importância da TV, é uma presença destacada no Conedit. Sua expressão solene sublinha esse papel. Não sei se Kamel costuma beber no bar com os amigos para falar bobagens como futebol, mas não me pareceu.

O que inicialmente mais me chamou a atenção em Kamel, e em muitos outros ali, foi a obsessão com São Paulo. “Os jornais de São Paulo” são constantemente citados, como se representassem o mal. Não sou exatamente um admirador nem do Estadão e muito menos da Folha, mas achava engraçada a presença dos  “jornais de São Paulo” nos debates. Nós, jornalistas de São Paulo, jamais nos referimos aos “jornais do Rio”.

Não é exatamente confortável ser um paulista naquele plenário, logo entendi. Eu me sentava num canto próximo da porta, por razões de conforto. “Este é o canto dos paulistas”, ouvi, em tom de brincadeira, uma vez, de Luiz Erlanger, uma espécie de RP do alto escalão das Organizações.

Havia uma alta rotatividade naquele canto. O ambiente é carioca, para o bem e para o mal. E o ressentimento pelo tamanho que São Paulo tomou no Brasil acaba repercutindo, de uma forma ou de outra, em paulistas que participem do Conedit.

Ali Kamel não facilita a vida de ninguém, logo vi. Não é hospitaleiro. Lembro o dia em que Kamel foi apresentado ao jornalista Adriano Silva, na sede da Globo no Rio de Janeiro. Adriano estava sendo contratado com a missão de chacoalhar o Fantástico.

Adriano fizera isso na Superinteressante. Daí o interesse da Globo. Quem negociou com Adriano foi Carlos Schroder, então diretor de telejornalismo da Globo e hoje seu diretor-geral. Eu estava com ambos no prédio do Jardim Botânico quando Ali se aproximou.

Não deu um sorriso para Adriano. Seco, quase ríspido, colocou a Superinteressante na conversa — afirmou que a enteada a lia — para comentar supostos erros da revista. Ficou claro naquele momento que a vida de Adriano perto de Kamel não seria fácil. Não foi.

Kamel não é o Senhor Simpatia
Kamel não é o Senhor Simpatia

Adriano logo foi tocar sua vida longe da Globo, e o Fantástico continuaria a padecer dos problemas que levaram a Globo a procurá-lo — desinspiração editorial, perda de repercussão e um Ibope brutalmente em queda para um programa que se confundira com a noite de domingo dos brasileiros por muitos anos.

O caso do Fantástico me faria lembrar um comentário que certa vez ouvi, segundo o qual a força criativa da Globo repousava em Boni, “um fanático guardião da qualidade”. Achei isso podia fazer sentido ao ler que, numa corrida em que Galvão Bueno gritou triunfal “eu já sabia, eu já sabia!” quando Senna entregou a vitória ao segundo piloto de sua equipe, Boni teve uma reação irada no bastidor. “Se sabia, por que não contou para o espectador?”, perguntou a Galvão.

No Conedit, numa mesa em forma de U, João Roberto se senta no centro, na reunião. À sua esquerda,  numa das laterais, fica Merval. Na esquerda, na outra lateral, Kamel. Há uma tensão muda entre os dois, uma espécie de duelo pela preferência e pela simpatia do chefe. São os que mais falam lá.

Não daria o prêmio de simpatia a Kamel. E nem o de originalidade. Logo percebi que ele expressava com ênfase, com a fé cega de um jihadista, amplificando-as, as conhecidas ideias das Organizações Globo.

Não havia desafio a essas ideias, não havia uma tentativa de reolhá-las e reavaliá-las.  Bolsa Família? Assistencialismo. Ponto. Cotas em universidades? Absurdo, Ponto.

Um dia comentei isso com Luiz Eduardo Vasconcellos, sobrinho de Roberto Marinho e acionista das Organizações. Luiz teve cargos executivos durante muitos anos, mas depois se recolheu às funções de acionista minoritário.

É simpático, interessado nas coisas do mundo, simples no traje e no trato, como aliás os primos. Você não diz que ele é um dos donos da Globo se se sentar numa reunião do Conedit sem conhecê-lo.

“Sinto falta de pensamentos alternativos na reunião”, comentei com ele num almoço depois da reunião do Conedit. “A sensação que tenho é que as pessoas, principalmente o Kamel e o Merval, falam apenas as coisas que imaginam que o João vai gostar de ouvir.”

Quanto isso devia estar me incomodando estava claro em meu ataque de sinceridade no almoço. Era evidente o risco de que meu comentário fosse espalhado, ainda que Luiz Eduardo sempre tenha me parecido discreto e reservado.

Merval, à direita de Serra
Merval, à direita de Serra

Nas eleições de 2006,  meu diagnóstico do Conedit pareceu se confirmar para mim. João Roberto tinha um tom sereno ao debater a campanha. Vi João criticar várias vezes ações de militantes petistas, mas jamais o vi sair do tom no Conedit.

Curiosamente, dada sua posição de dono, o ambiente muitas vezes não refletia a tranquilidade de João Roberto. Kamel e Merval davam um tom épico, em branco e preto, a muitas discussões políticas. Pareciam odiar Lula e qualquer coisa que partisse do governo petista. E pareciam também querer que João Roberto soubesse disso.

Se o julgamento deles fosse acertado, Lula teria errado em todas as decisões que tomou em seus oito anos de administração. Quanto aquela inflamação toda era genuína ou não, é uma dúvida que carrego até hoje. Será que eles pensam mesmo aquilo, ou no bar, com os amigos, dão uma relaxada?

Não sei.

Minha intuição é que, como o poeta segundo Fernando Pessoa, o fingimento é tanto que uma hora você acredita no que fingia antes acreditar. A alternativa é um sentimento automassacrante de que você é uma pena de aluguel.

Há uma lenda urbana segundo a qual Kamel seria o homem por trás da ideologia das Organizações Globo, o “Ratzinger” da empresa. Kamel não é nenhum Hayek, ou Friedman. Não é formulador de pensamentos, não é um filósofo, não é carismático, não é nada daquilo que confere a alguém o poder de persuadir outras pessoas pelo vigor não dos gritos mas das ideias.

Uma designação provavelmente mais próxima da realidade é que Kamel comanda os “aloprados” da Globo. Relembremos. Num determinado momento da campanha de 2006, veio à cena, na mídia, a expressão “aloprados”, para designar petistas mais apaixonados. A certa altura, Lula disse a João Roberto Marinho que seguraria os “seus aloprados”, mas que queria que os “aloprados do outro lado” também fossem controlados.

Foram? Basta ouvir um comentário de Jabor ou um artigo de Merval para saber que não. A cobertura em 2010 do atentado da bolinha de papel contra Serra, ou mais recentemente a forma como foi tratado o julgamento do Mensalão, mostra que os aloprados estão de mãos livres na Globo.

Uma possibilidade que deve ser considerada é que aloprados não sejam exatamente alguns comentaristas ou colunistas, ou mesmo diretores da área jornalística – mas a própria Globo, em sua alma e em sua essência.

Paulo Nogueira
No DCM

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Tucanoreich: a latrina da democracia - Como e porque Gilmar Mendes e o PSDB mantêm Marcos Valério refém.


Agnelo, meu camarada, acho que vale a pena a colocação só link a seguir do NovoJornal. Ele evidencia todo o enredo de cooptação, corrupção e tomada das instituições democráticas protagonizado pelos tucanos e seus sócios capitalistas em Minas Gerais.

Infelizmente, minha terra se transformou na latrina da democracia. Estamos reféns de um grupo mafioso que agora se prepara para tomar de assalto o Brasil. Deus nos proteja de um destino desses. O trabalho de resistência do Carone com seu NovoJornal merece ser repercutido por sua importância, profundidade e coragem. As transcrições das gravações de um operador do esquema, o advogado Joaquim Engler, escancaram o desprezo desse grupo pela sociedade, é um tapa na cara das pessoas de bem. Como já foi escrito, não conseguiria comer tanto para tudo o que gostaria de vomitar.

Um forte abraço.
Schettino


“Relatório Reservado” entregue aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em final de julho de 2012 informa que chegara às mãos do senador Aécio Neves, através de Álvaro Rezende, cópia do depoimento que Marcos Valério pretendia fazer perante 
a Procuradoria Geral da República (PGR). Na mesma oportunidade, Valério entregaria documentos que comprovavam como funcionou o esquema de arrecadação ilícita no Governo de Minas após 2002, através da gestora das verbas de publicidade, sua irmã, Andréa Neves.
Interlocutor de Marcos Valério, Álvaro Rezende, dono da R&C Propaganda, agência que acompanha Aécio Neves desde quando, na década de 80, após a morte de seu avô, ocupou o cargo de diretor de loterias da Caixa Econômica Federal, sob a presidência de Danilo de Castro. Mesma época do escândalo da Ghetec e da abafada morte da filha de um diretor da Caixa, afogada em uma piscina em função de uso excessivo de droga.
Rezende informara ainda à Aécio que Valério estaria desesperado e revoltado, pois tinha certeza que seria condenado pelo STF por pressão da mídia aliada do PSDB e que teria sido abandonado, estando passando dificuldades financeiras. Logo depois deste encontro, “Carta Capital” publicaria a “Lista do Mourão”. Investigações anteriores da Polícia Federal concluíram que o documento teria sido entregue por Mourão a Nilton Monteiro.
A repercussão da publicação de “Carta Capital” da “Lista do Mourão” e outros documentos mostrando como operou o esquema criminoso em Minas Gerais assustaram Aécio, que teria decidido agir para evitar que Valério cumprisse o prometido, determinando que fosse feito acordo.  Na condução deste acordo, segundo o “Relatório Reservado”, estariam Danilo de Castro e o advogado de Marcos Valério.
Contratos do Governo de Minas Gerais celebrados com as empresas de Marcos Valério, além do aval de Danilo de Castro em empréstimos considerados simulados pelo STF, foram investigados pela PF. Castro confessou que realmente havia avalizado o empréstimo, porém as justificativas não convenceram os investigadores.
Através de parecer do então Procurador Geral Antônio Fernando e decisão do Ministro Joaquim Barbosa determinaram-se maior aprofundamento nas investigações pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Os resultados destas investigações, se ocorreram, jamais vieram a público.
Segundo um ex-ministro do STF, pouco depois de “Carta Capital” divulgar (27/07/2012) a lista contendo o nome de Gilmar Mendes como um os beneficiados pelo esquema do “Mensalão”, circulou entre os ministros do STF o “Relatório Reservado”.
Teria sido combinado que Valério não narraria fatos envolvendo o PSDB e se condenado ele cumpriria sua condenação em Minas Gerais, recebendo em troca de declarações contra Lula perante a PGR regalias no cumprimento da pena de prisão, além da retirado de mesa, para julgamento perante a 1ª Turma do STF, o Hábeas Corpus nº. 97.416 concedido liminarmente por Gilmar Mendes que possibilitou sua liberdade após prisão na “Operação Avalanche”, da Polícia Federal.
Trata-se de uma decisão monocrática quando Mendes exercia a presidência do STF e, seguindo parecer da PGR e da relatora Ministra Carmem Lúcia, a mesma deveria ser revogada, restabelecendo a prisão. Em sua decisão, Gilmar Mendes afirmou que o juiz que determinou a prisão de Valério utilizou argumentos “fortemente especulativos”.
Para ele, o juiz que decretou a prisão preventiva expôs “simples convicção íntima, supondo que Rogério e Marcos poderão tumultuar as investigações com base em suspeitas sobre fatos passados, sem necessária indicação de ato concreto, atual, que indique a necessidade de encarceramento ou manutenção no cárcere em caráter provisório”. Os “fatos passados” a que Gilmar Mendes fundamentou sua decisão é a participação de Valério e Tolentino no esquema do Mensalão.
Consta do relatório cópia da movimentação processual comprovando a retirada do HC de mesa da 1ª Turma do STF em 06 de Setembro de 2012, em pleno julgamento do Mensalão e cinco dias antes de proferida a primeira condenação contra Marcos Valério. O HC estava em mesa pronto para julgamento há dois anos, desde 08 de Junho de 2010.
A data da retirada do HC 97.416 de mesa da 1ª Turma coincide com a data do novo depoimento prestado por Marcos Valério perante a PGR acusando Lula.
Também acompanha o relatório cópia da ata de reunião do conselho de administração da Copasa, mostrando a aprovação de um termo aditivo em contrato de publicidade com a R&C Propaganda, origem dos recursos que teriam sido repassados a Marcos Valério. A Copasa foi uma das fontes de recurso público que abasteceu, em 1998, o esquema montado por Eduardo Azeredo, denominado “Mensalão do PSDB”.
Minas Gerais, Estado governado pelo PSDB desde 2002, mantém controle absoluto sobre o Poder Judiciário e Ministério Público, onde às execuções das penas privativas de liberdade só ocorrem de acordo com sua vontade. Exemplo disto é a permanência em liberdade do ex-detetive Reinaldo Pacífico de Oliveira Filho, condenado em janeiro de 2009 a 14 anos de prisão, pelo assassinato da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, na época com 24 anos.
O corpo da modelo foi encontrado num flat no Bairro de Lourdes, Centro-Sul de Belo Horizonte, em agosto de 2000 e ainda encontra-se pendente de investigação a acusação de crime de mando, contra o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e de diversas autoridades do governo mineiro.
Segundo o “Relatório Reservado”, fora em função e após o acordo que, através de um advogado de FHC, Gilmar Mendes teria recebido cópia das hoje comprovadas perícias fraudadas realizadas pela Polícia Civil de Minas Gerais, conduzidas pelo delegado Nabak a mando de Danilo de Castro, juntada na denúncia contra “Carta Capital”.
O único resultado prático do “Relatório Reservado” teria sido o de abortar o esquema montado, obrigando que Gilmar Mendes e o Procurador Geral, Roberto Gurgel, afirmassem à imprensa que tinha pouca importância às declarações prestadas por Marcos Valério contra Lula.
Segundo o ex-ministro do STF, embora sem identificação de autoria e timbre, saiba-se que o constante no “Relatório Reservado” seria fruto de investigações da ABIN, que vem acompanhando de perto toda movimentação em torno do processo do Mensalão, principalmente na defesa da integridade física do ministro Joaquim Barbosa.
Conforme noticiado por Novojornal, o Relatório da Polícia Federal relativo às investigações do “Mensalão” encaminhado ao STF, cita que as investigações se basearam em uma lista aprendida, também conhecida como “Lista do Mourão”.
Encontra-se com o ministro Joaquim Barbosa o inquérito nº. 3530 e no mesmo foi juntado denúncia sobre o esquema montado para forjar a perícia apresentada na acusação de Gilmar Mendes contra “Carta Capital”, atestando ser falsa a “Lista do Mourão”.
Como dito anteriormente, a “Lista do Mourão” foi apreendida anos antes e considerada autêntica no Relatório da Polícia Federal.
Acompanhando a denúncia estão documentos que comprovam como operou a organização criminosa junto ao Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Civil de Minas Gerais, além das transcrições de gravações de reuniões da organização criminosa feitas pelo advogado J.Engler, narrando assassinatos, fraude processual, falsificação de documentos, suborno de promotores, juizes, desembargadores, peritos e delegados da Polícia Civil mineira.
Segundo o ex-ministro do STF, “este é o resultado de uma década de governo alienígena, descomprometido com a ética, moral e tradições mineiras, onde as instituições e a sociedade foram levadas a mais baixa degradação”.
Fatos e documentos comprovam o narrado no “Relatório Reservado”, cabendo agora ao ministro Gilmar Mendes e a seus colegas do STF explicar a sociedade, que assistiu e acompanhou o julgamento do “Mensalão”, os motivos que os levaram a permitir que Marcos Valério permanecesse solto, através de uma liminar concedida e mantida pela manobra regimental de retirada do HC de mesa perante a 1ª Turma.
Para a opinião pública, através da imprensa, ao contrário do ocorrido, Gilmar Mendes e os demais ministros reclamam que a prisão de Marcos Valério demorará, tendo em vista diversos recursos que estão sendo e serão utilizados por sua defesa.
Caso Gilmar Mendes não apresente uma justificativa plausível, estará comprovada a tese de que Marcos Valério agiu a serviço do PSDB ao denunciar Lula e por trás estava não o ministro do STF e sim o homem de confiança do PSDB, que antes de ser ministro foi Advogado Geral da União do governo tucano de FHC, que o indicou para o STF.
Consultados através de suas assessorias, o governo de Minas Gerais, o senador Aécio Neves e o Ministro Gilmar Mendes optaram por nada comentar. A Copasa, consultada, informou ser normal a celebração de aditivos ao contrato de publicidade.
Documentos que fundamentaram a matéria:


http://www.ocabrestosemno.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5795&catid=3&Itemid=9#.UlRTc-Uoa0I.facebook

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O traficante, o populista e o repressor!



O documentário Dançando com o Diabo mostra a complexidade das favelas cariocas na visão de três personagens ligados diretamente ao tráfico de drogas: um pastor, um policial e um traficante.

Produção estrangeira de 2008 acompanha o cotidiano de Aranha - chefe do tráfico da Coréia/RJ, delegado Leonardo Torres - policial marombado da Delegacia de Repressão aos Narcóticos - e Pastor Dione – Assembleia de Deus.

Aqui, nesse texto, não pretendo fazer uma reflexão sobre o documentário em si e muito de menos analisar como a realidade é tratada nesse documento audiovisual, mais sim usar os depoimentos e as histórias do filme para constatar fatos e reforçar alguns argumentos.

Os traficantes de uma forma geral, apesar de praticar atos covardes - e não poderia ser diferente, veja o nível cultural e de conhecimento que eles apresentam em suas falas - e de ter uma consciência de resistência adquirida num meio caótico e selvagem, logo não é o meio e muito de menos a resistência ideal da classe trabalhadora, conseguem ter uma consciência de classe oprimida em processo de resistência ao sistema, embora torta e confusa, muito mais progressista do que os policiais, os ditos trabalhadores oprimidos que estão a serviço da sociedade de bem e que são tratados como heróis pelo senso comum de classe média de nosso país.

Em nenhuma hora há críticas ou um processo de autocrítica por parte dos policiais em relação à repressão policial nas comunidades e muito de menos em relação ao papel da polícia num sistema de opressão e da luta de classes que temos na atualidade.

No entanto isso aparece quando a voz é dada aos traficantes. Além disso, os traficantes não costumam dividir a sociedade entre “bons” e “ruins”, vê o processo como natural em termos de resistência e opressão.
Se os policiais são oprimidos e vítimas da violência como se dizem por que não tem uma consciência de resistência como tem os traficantes? E se compararmos com os traficantes estes tem meios e instrumentos para conseguir enxergar além da "linha de tiros" (melhores escolas, acesso a lugares e diversas culturas. Enfim tem mais conhecimento de forma geral) que os segundos não têm. O traficante passa a maior parte preso em uma favela, circulando por alguns KM².

As justificativas dos traficantes para estar no crime e praticar atos de resistência são por necessidade, sobrevivência e por vai. Mais repare bem: as necessidades sempre estão relacionadas com a família e com a comunidade. Essas são as mesmas necessidades, ou parecidas, que levaram a classe trabalhadora a derrubar regimes e fazer revoluções. Como exemplo cito a Revolução Francesa e Revolução Russa quanto à temática luta por pão e luta contra a fome.

O pastor, talvez, seja entre os três personagens com segundas intenções. A Igreja faz um trabalho de assistência social sim, mais o objetivo não é humanitário. O economicismo está na consciência de resistência do traficante, não aparece quando personagem é o policial. E, embora camuflado, pode se encontrar muito bem na figura do pastor.

Parece que para o investigador a questão é ideológica, ou seja, uma causa sentimental em favor de uma sociedade pacificada de forma geral. Os depoimentos reforçam falta de conteúdo crítico dos policiais em suas incursões nas favelas. Em outras palavras: reforça elementos presente em movimentos fascistas que a polícia é acusada de ter como princípio. Mais essa ideologia dos “homens da lei”, ou seja: combater o mal em nome do bem é elemento principal para manter o sistema de opressão, repressão e exploração em funcionamento quanto se trata de comunidade sem cidadania, tráfico de drogas e ordem social de uma sociedade de classes.

Mais é no pastor que o objetivo, travestido de causa humanitária, é mais economicista. E o cara que é apresentado como elemento imparcial, mais é na verdade um populista. Um cara que ganha, e muito, com a situação atual. Talvez, mais que o policial de elite, que ao contrário do pastor, não tem laços com comunidade.

Em resumo, o traficante vive, resiste e sobrevive. O policial é um elemento externo, que não tem quase nada a ver com a comunidade afetada, que age sem senso crítico e em nome de uma política sistemática recheada com uma cobertura ideológica das classes dominantes. O Pastor, embora pertencente à comunidade, é o cara que ganha – poder, influência e dinheiro. Não teria sucesso sem a situação caótica que se tem.

Documentário completo:


Marina é só mais uma reprodução do sistema


por Moriti Neto*

Em agosto de 2009, Marina Silva, recém-saída do PT, e um grupo de apoiadores, embarcavam no PV e já diziam: “Chegou a hora de acreditar que vale a pena, juntos, criarmos um grande movimento para que o Brasil vá além e coloque em prática tudo aquilo que a sociedade aprendeu nas últimas décadas, experimentando a convivência na diversidade, a invenção de novas maneiras de resolver problemas solidariamente... Agindo em rede, expandindo e agregando conhecimento sobre novas formas de fazer, produzir, gerar riquezas, sem privilégios e sem destruição do incomparável patrimônio natural brasileiro”. E isso não era de boca, mas parte do documento “Juntos pelo Brasil que queremos – diretrizes para o programa de governo”, que expressava a motivação ao ingressar no partido e que a colocava declaradamente na disputa à Presidência da República nas eleições de 2010.

O projeto, no entanto, teve curta duração. Era 7 de julho de 2011 quando Marina anunciava a desfiliação do PV, onde obteve quase 20 milhões de votos na eleição presidencial. De saída, ela e os apoiadores que a acompanhavam na decisão ressaltavam que a direção do partido “disse não à democratização de suas estruturas institucionais, ao diálogo com a sociedade e a um projeto autônomo de construção partidária”. Na época, se tivesse sido eleita presidente, teria completado apenas pouco mais de um semestre de mandato a bordo da sigla verde.

Lembro que, naquele momento, vieram diversos questionamentos: se Marina tivesse vencido a eleição, sairia do PV? Se sim, governaria como? Abdicaria de filiações partidárias? Como costuraria a base no Congresso Nacional? A ex-senadora se considerava mesmo a figura messiânica, salvadora, que os críticos da personalidade dela apontavam? Se não saísse, ignoraria a descoberta da incompatibilidade declarada com os pevistas e seguiria o governo sem abrir o debate?

O fato é que Marina Silva, sem conseguir ocupar espaços no PV, pedia desfiliação e acusava o partido de não ser o local adequado para as bandeiras que portava. Ancorada na boa capacidade discursiva que possui, ela buscava sustentar a posição, mas não deixava claro como só descobriu, de uma hora para outra, que a mesma agremiação avaliada como ideal para praticar propostas baseadas na “coerência programática” – por ela tão decantada – era, então, imprópria.

E foi na "fundação” do Rede Sustentabilidade, no dia 16 de fevereiro de 2013, num encontro batizado de “Encontro Nacional da Rede Pró Partido”, em Brasília, que aparecia a alternativa de Marina às eleições de 2014. Era na “Rede Pró Partido, mas que não é partido”, que ela, a "diferente", buscava encaixar o discurso da realização da “nova política”.

Em declarações perigosamente despolitizantes e até antipartido, a potencial candidata tentava se autocolocar como “nem de esquerda, nem de direita, nem de centro”. Ao mesmo tempo em que falava de diálogo horizontal com a sociedade, aparecia como a “salvação”. Posturas perigosas à democracia, o que, aliás, eu já observei em texto anterior.

Enfim, eis que Marina Silva, com a recusa da Justiça em legalizar o Rede, vai ao PSB de Eduardo Campos. É a mesma toada. Na campanha, o discurso que clama por um “sistema ideológico” e luta contra o pragmatismo, colocando a candidata como a mais alta defensora do interesse público e das “questões maiores”, a exemplo da rápida passagem pelo PV, quando era o “fator diferente” da corrida presidencial e possibilidade de acabar com o “mais do mesmo” (que realmente é mais do mesmo) do “Fla x Flu” entre PT e PSDB.

Só que, na prática, o que se constata é a ida a um partido de perfil governista-pragmático (o PSB é, ainda, base do Governo Federal e governa com petistas e tucanos em vários estados), entregue a caciques da direita conservadora Brasil afora e que, em momentos decisivos, vacilou no debate de itens fundamentais ao meio ambiente, caso do Código Florestal, tema central na vida política de Marina.

Rumo ao PSB, lá vai a ex-ministra do Meio Ambiente se enfileirar a Bornhausens, Caiado e companhia. Novidade? Não. Somente mais uma reprodução comum do nosso horrível sistema de democracia representativa, onde estão sempre dadas as oportunidades ao desequilíbrio na representatividade da sociedade e à hipocrisia, como a de Marina que, de diferente, não tem nada. 

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Moriti Neto, jornalista, repórter e editor-assistente do NR. (Imagem: www.minhamarina.org.br)

http://www.notaderodape.com.br/2013/10/marina-e-so-mais-uma-reproducao-do.html