sábado, 8 de junho de 2013

Um mundo sem pobreza é possível




Podemos fazer alguma coisa para acabar com a pobreza ou este é um fenômeno milenar, tão complexo e enraizado na sociedade, que está além da nossa capacidade e competência equacioná-lo?
Além de deplorá-la, será que podemos fazer alguma coisa para, se não acabar ao menos minorar a pobreza em nosso bairro? E em nossa cidade? Em nosso Estado? Em nosso país?
Será que ao menos damos nosso apoio às pessoas e/ou às instituições, governos, parlamentares ou partidos que preconizam, defendem e implantam políticas públicas que visam atender/defender os desassistidos?
Já confessei aqui, não sou daqueles que são radicalmente contra o capitalismo e que acham que só o socialismo é a solução para os problemas da humanidade ou o único caminho para a construção de uma sociedade mais humana, igualitária, fraterna; sou daqueles que creem que a solução está no próprio capitalismo. Ou melhor, para além dele. Numa espécie de "hibridismo": um capitalismo social ou "sócio capitalismo". Sei que muitos torcem o nariz para esse tipo de formulação. Acham que é "coisa de poeta". Mas sigamos adiante. Desnudemos as palavras e (pré)conceitos com a crueza das ações.
E tudo bem que alguns, quase sempre armados com seus preconceitos e/ou interesses privados, ou confortavelmente acomodados em decantadas(os) ideias e ideais, não entendam ou aceitem determinados conceitos; que pensem que tudo isso é rematada tolice, um contrassenso; e achem que "social" e "capital" sejam dois paradoxos excludentes e "inarmônicos" – uma insolúvel contradição em termos.
O que você diria então se utilizasse a expressão "empresa social" ou "negócio social"? Ou mesmo empreendedorismo social? Já ouviu falar nisso ou em algo parecido? Ou ainda continua achando que tudo isso é "papo de poeta" ou de "comuna"?
E se eu lhe falasse ainda, veja bem, na concepção, na ideia de se criar um banco dotado de uma linha de crédito para emprestar dinheiro a mendigos? Impensável? Um despautério?
Mas e se lhe falasse em outros termos. Se falássemos então em dar uma oportunidade aos desassistidos, aos desamparados? Isso mesmo: o-p-o-r-t-u-n-i-d-a-d-e. Assim, com todas as letras. O que você acha? Começa a soar melhor aos ouvidos? Ainda não?
E se eu lhe dissesse que existe um homem que já trabalha com projetos nessa linha há décadas, que dedica sua vida a realizações desses sonhos-projetos; que é doutor honoris causa em diversas universidades mundo afora [isso deve estar lhe fazendo lembrar alguém – não?]. E que esse homem, certamente em decorrência disso inclusive, já ganhou o prêmio Nobel da Paz?
E se eu lhe dissesse ainda mais? Que esse homem, cidadão de um país paupérrimo, edificou um banco lastreado no fornecimento de microcrédito aos pobres e desassistidos? Inclusive a já citada – e impensável! – linha de crédito para pedintes.
E se lhe disser ainda que esse homem conseguiu que uma multinacional comprasse uma dessas suas ideias "foras de lugar" e "estapafúrdias"; apoiasse os seus projetos e investisse em uma empresa para fabricar e vender iogurtes mais baratos e mais nutritivos a comunidades carentes e desnutridas? Você acreditaria? Ou prosseguiria imerso em seu individualismo e/ou ceticismo paralisante? Sacando do seu coldre retórico, por exemplo, uma daquelas verdades absolutas e inquestionáveis: "que toda empresa ou negócio, no capitalismo, visa apenas e tão somente o lucro, que esse seria uma espécie de leitmotiv do capitalismo e seu sentido de ser/existir"? Tá certo...
De fato, o empreendedor, e em última instância o capitalismo, sem a devida fiscalização e regulação do Estado é uma espécie de "besta-fera" movida tão somente pela ânsia de acumular, acumular, acumular; destruir, destruir.
Mas algumas experiências bem sucedidas – que me deem licença os radicais e extremistas – atestam que certo "tempero humanista" pode tornar o capitalismo um sistema a serviço de muitos, e não mais somente de alguns poucos privilegiados. E pode, aos poucos, trocar o verbo acumular por distribuir; e destruir por criar. Por vezes é preciso que transformemos em poesia o nosso ordinário cotidiano; que subvertamos a lógica e a camisa de força da semântica.
É o que parece nos ensinar as obras e o exemplo do indiano Muhammad Yunus.
É vendo o exemplo e as obras de cidadãos como Yunus que devemos repensar as nossas certezas e perguntar a nós mesmos: eu já fiz alguma coisa para, se não acabar ao menos minorar a pobreza em meu país?
O que você fez/faz? Já pensou nisso? Isso lhe diz respeito? Isso é problema seu/nosso?
A realidade da Índia não lhe parece um tanto similar a do Brasil? As iniciativas dos bancos populares que se espalham hoje pelo nosso país não lhe parece ter tudo a ver com a iniciativa do microcrédito de Yunus, o "banqueiro dos pobres"? E o nosso Bolsa Família?
Iniciativas como essa não podem transformar as pessoas em microempreendedores, se bem estimuladas e preparadas? Você conhece os diversos casos de empreendedorismo bem-sucedido em favelas e bairros periféricos de algumas cidades, graças à renda mínima assegurada pelo "Bolsa" ou à política de crédito subsidiado dos governos?
Imagine agora os empreendimentos e os resultados para a sociedade que uma inversão social equivalente ao preço de uma Ferrari de R$ 2 milhões poderia gerar? Ou ainda o efeito multiplicador da renda que poderia causar aqueles R$4 milhões que o político tal desviou do erário e gastou na sua cobertura situada num bairro nobre da capital paulista ou num bairro nobre na orla de uma grande cidade pobre do Nordeste, se aplicado numa empreendimento social? Já pensou?
Encerremos por aqui com a definição do próprio Yunus para empresa social extraída do seu livro Um mundo sem pobreza: "É uma empresa projetada para atender a uma meta social. Nesse caso [o da Grameen Danone], a meta é melhorar a nutrição das famílias pobres nas aldeias de Bangladesh. Uma empresa social não paga nenhum dividendo. Vende produtos a preços que fazem dela um negócio autossustentável. Os proprietários da empresa podem receber de volta a quantia que investiram no negócio após um período; contudo, os investidores não recebem nenhum lucro na forma de dividendos. Em vez disso, qualquer lucro obtido permanece na empresa, a fim de financiar sua expansão, criar novos produtos ou serviços e trazer o bem ao mundo."
Sim, um mundo sem pobreza [material] é plenamente possível. Já com relação a pobreza [de espírito e caráter] dos homens...

O AFIF DA DISCÓRDIA


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Como nós todos estamos cansados de saber, a culpa por haver chuva ácida em Marte, de Plutão ser gelado e Mercurio ser escaldante, é da turma corrupta do PT.

Não há nada nesse universo de Deus que não tenha os nove dedos de Lula e da terrorista que tomou o poder e no país instalou uma ditadura cruel, sanguinária, que vive tentando solapar a liberdade de imprensa, acabar com a moral e os bons costumes e ainda de quebra, fazer o Brasil passar vergonha lá fora.

Perplexo com o amontoado de tolices que tenho ouvido nos últimos dias, quando creditam ao PT tudo o que descrevi acima e usam o Facebook pra propagar tamanha bobagem, resolvi voltar do exílio para falar que essa gente não sabe nem onde fica o furico traseiro, quem dirá, se entendem de política.

Pois bem, estão criticando o PT porque ele é ditador e quer acabar com a democracia, impedido a criação de novos partidos. Ué, mas não é o mesmíssimo povo brasileiro que tanto critica o excesso de partidos que sempre pediu isso?

No comentário de Dora Kramer para a BandNews rádio no final da tarde desta terça-feira, a confirmação da desfaçatez da mídia. Dora acha um casuísmo que Afif Domingos assuma um ministério do PT, quando ele é vice-governador do PSDB. Bem, eu também acho, Dora. Mas o curioso é que o partido do qual Afif faz parte, o PSD, foi criado pelo tal Kassab justamente pra quê? Pra ser moeda de troca e barganhar cargos.

Ora, o próprio criador do partido disse que ele não era direita, nem esquerda nem centro. Era partido do poder.

Bem, e nas eleições? Quando legendas de aluguel são usadas para ganhar mais tempo de tv, e isso custa fortunas e cargos importantes na administração? Se esqueceram disso, nobres jornalistas que acusam o PT de ditador? Não era, digo de novo, justamente essa a maior bandeira, junto com a fidelidade partidária, a figurar na tal reforma política que todo jornalista sabichão tanto fala, mas para o que, na verdade, pouco se lixa?

Que tal se decidirem? A Dilma é ditadora mesmo ou ela está fazendo apenas o que tanto foi pedido durante anos?

quinta-feira, 6 de junho de 2013

John Locke e o surto fundamentalista no Brasil

John Locke

Diz-se que os ingleses consideram John Locke (1632-1704) o maior filósofo de todos e o mais importante para a modernidade. 
Enquanto nós, como diziam os antigos, no “ano da graça de nosso senhor Jesus Cristo de dous mil e treze”, estamos ainda discutindo acerca da laicidade do Estado brasileiro e da separação entre Estado e Igreja, John Locke, em 1689, fazendo jus à admiração do povo inglês, escreveu a “Carta sobre a Tolerância”[1], defendendo:
Mas que toda a jurisdição do magistrado[2] diz respeito somente a esses bens civis, que todo o direito e o domínio do poder civil se limitam unicamente a fiscalizar e melhorar esses bens civis, e que não deve e não pode ser de modo algum estendido à salvação das almas, será provado pelas seguintes considerações.
Em primeiro lugar, mostraremos que não cabe ao magistrado civil o cuidado das almas, nem tampouco a quaisquer outros homens. Isso não lhe foi outorgado por Deus, porque não parece que Deus jamais tenha delegado autoridade a um homem sobre outro para induzir outros homens a aceitar sua religião.
[...]
Em segundo lugar, o cuidado das almas não pode pertencer ao magistrado civil, porque seu poder consiste totalmente em coerção. Mas a religião verdadeira e salvadora consiste na persuasão interior do espírito, sem o que nada tem qualquer valor para Deus, pois tal é a natureza do entendimento humano, que não pode ser obrigado por nenhuma força externa.
[...]
Em terceiro lugar, o cuidado da salvação das almas de modo algum pode pertencer ao magistrado civil; porque, mesmo se a autoridade das leis e a força das penalidades fossem capazes de converter o espírito dos homens, ainda assim isso em nada ajudaria para a salvação das almas. Pois se houvesse apenas uma religião verdadeira, uma única via para o céu, que esperança haveria que a maioria dos homens a alcançasse, se os mortais fossem obrigados a ignorar os ditames de sua própria razão e consciência, e cegamente aceitarem as doutrinas impostas por seu príncipe, e cultuar Deus na maneira formulada pelas leis de seu país? Dentre as várias opiniões que os diferentes príncipes sustentam acerca da religião, o caminho mais estreito e o portão apertado que levam ao céu estariam inevitavelmente abertos a poucos, pertencentes a um único país: o que salientaria o absurdo e a inadequada noção de Deus, pois os homens deveriam sua felicidade eterna ou miséria simplesmente ao acidente de seu nascimento.
[...]
Nenhum indivíduo deve atacar ou prejudicar de qualquer maneira a outrem nos seus bens civis porque professa outra religião ou forma de culto. Todos os direitos que lhe pertencem como indivíduo, ou como cidadão, são invioláveis e devem ser-lhe preservados.
[...]
Ninguém, portanto, nem os indivíduos, nem as igrejas e nem mesmo as comunidades têm qualquer título justificável para invadir os direitos civis e roubar a cada um seus bens terrenos em nome da religião. Aos que pensam de outro modo, pediria que ponderem consigo mesmos acerca das ilimitadas ocasiões para a discórdia e guerras, quão poderosa provocação para rapinas, matanças e infindáveis ódios que fornecem à humanidade. Nenhuma segurança ou paz, muito menos amizade, jamais pode ser estabelecida ou preservada entre os homens, se a opinião predominante está fundada no privilégio e que a religião deve ser propagada pela força das armas.



[1] Locke, John. Carta sobre a Tolerância. São Paulo: Hedra, 2007.
[2] No sentido do Governante Civil

Governo de São Paulo recusa verbas federais para alfabetização de adultos


A conturbada aliança  entre  PSDB e DEM


Secretaria paulista é o única, entre as unidades da Federação, a não aderir a programa do MEC; programa local na mesma linha terceiriza recursos para ONGs

São Paulo – Depois de dez anos de estudo para realizar o sonho de aprender a ler e a escrever, Terezinha Brandolim, de 82 anos, se viu sem alternativa no começo deste ano: a escola em que estudava, no município paulista de Ribeirão Preto, fechou as duas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na qual estudavam pessoas de todos os níveis de escolaridade.
Com a impossibilidade de a mãe continuar os estudos, sua filha, Maria Zulmira de Souza, convidou-a para ficar em São Paulo, onde mora. “Mas todas as escolas aqui perto estavam fechando seus cursos de alfabetização”, conta. Ela, então, contratou uma professora particular, que dá aulas para "dona Tetê" três vezes por semana. “Resolvi fazer esse esforço porque deixei muito tempo na mão do governo, que dizia dar conta, mas não funcionava.”
Dona Tetê faz parte do conjunto de 1,7 milhão de paulistas adultos que não sabem ler nem escrever, total equivalente à população de Curitiba. Ainda assim, São Paulo, segundo o Ministério da Educação (MEC), foi o único estado do país a não aceitar recurso do governo federal para alfabetização de adultos pelo Programa Brasil Alfabetizado neste ano. A verba, que varia segundo o número de alfabetizandos e alfabetizadores, poderia ser usada para pagamento de professores e coordenadores, além da aquisição de materiais pedagógicos para as aulas.
Com adesão das demais 25 secretarias de Educação (mais o Distrito Federal), o programa do MEC atende hoje 959 prefeituras. O objetivo é chegar ao final de 2013 em 3.359 municípios e 1,5 milhão de pessoas.
A Secretaria de Educação de São Paulo informou que o estado possui seu próprio programa na área, o Alfabetiza São Paulo, que atende a 25 mil alunos em 38 municípios, entre eles a capital paulista e Ribeirão Preto.
A verba para o projeto neste ano é de R$ 8.879.916. O montante não está discriminado no Orçamento do estado por, segundo a secretaria, estar incluído no Programa de Inclusão de Jovens e Adultos na Educação Básica, que atende a todas as etapas do ensino. O dinheiro, no entanto vai para ONGs, e não para as prefeituras.
As ONGs, segundo nota da secretaria, fazem uma “uma ação complementar ao trabalho que já deve ser realizado pelas administrações municipais .
A secretaria reforçou que a alfabetização faz parte dos anos iniciais do ensino fundamental, de responsabilidade dos municípios, que ficaram livres para aderir ao programa federal. Apesar do programa estadual, 40 prefeituras paulistas aceitaram o apoio, com o qual 11.954 pessoas devem estudar neste ano. O ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) não aderiu ao Brasil Alfabetizado no ano passado, o que possibilitaria sua implementação em 2013.
O especialista em Educação de Jovens e Adultos da ONG Ação Educativa, Roberto Catelli, questiona o programa. “O Alfabetiza São Paulo não dá conta da demanda. Está longe de dar, por isso, o estado não deveria deixar de aceitar ajuda”, avalia. “Um programa não inviabiliza o outro, pelo contrário.”
Ribeirão Preto, onde mora dona Tetê, participa dos dois programas. “O estado defende que o percentual de analfabetos é baixo, mas em número absolutos é muito alto. Só na cidade de São Paulo são 300 mil, segundo dados do Censo de 2010, quase a população da cidade mineira de Uberaba”, afirma.
Catelli lembra também que o Brasil Alfabetizado, do governo federal, peca na falta de avaliação dos resultados alcançados e por não propor meios de os alunos continuarem estudando depois de alfabetizados. “Temos dados que provam que menos de 10% continuam na escola”, afirma.

Esforço reconhecido

Segundo Maria Zulmira, filha de dona Tetê, ela avançou muito de janeiro, quando começou a ter aulas particulares, até agora. “A gente sai na rua e eu tento ler as placas”, conta Tetê. “Qual aquela que você leu que me deixou emocionada?”, pergunta Maria Zulmira. “Imperatriz”, respondeu a mãe, orgulhosa
“Fui em muitas escolas municipais e estaduais, mas era muito difícil”, conta dona Tetê. “Quando eu estava na escola, as professoras davam mais atenção para quem estava sabendo mais. Ela dava exercício que nem para criança e depois, no mesmo instante, dava aqueles problemas grandes, com contas muito fortes. Eu não fazia nem as pequenas quanto mais as grandes... Aí eu só copiava... cheguei até a chorar na escola.” Dona Tetê, natural do município de Monte Azul Paulista, a 420 quilômetros de São Paulo, não pôde seguir seus estudos na infância por ter de ajudar os pais, dois colonos agricultores, nos períodos de colheita. “Sempre tive vontade de voltar a estudar. Mesmo depois de casada tive que trabalhar muito. Meu marido e meus filhos tentaram ajudar, mas a gente ficava só um pouco no estudo e depois tinha que voltar para a roça”, conta.
“Aprender a ler é tudo, muda tudo. Eu fico em casa de noite sozinha, sentada no sofá, olhando a televisão. Só tem a TV e eu não gosto muito. Mas, se eu soubesse ler, eu pegava um livro ou escrevia algo”, diz. “Quando eu aprender, quero fazer a leitura da igreja para todo mundo ouvir”, planeja. Outra vontade é retornar para Ribeirão Preto, para estar mais perto da família e dos amigos.
“Eu já chorei muito pela falta da leitura. Chegam as correspondências em casa e eu tenho que dar para os outros lerem. Quando meu marido morreu, há 30 anos, tive que buscar trabalho sem saber ler. Eu só fazia limpeza e trabalhava na roça. Faz falta, muita falta.”
Para Maria Zulmira, alfabetizar a mãe virou um desafio pessoal. “Eu faço questão de contar a história da minha mãe porque eu imagino que essa deva ser a história de muitas outras pessoas. Deve haver tanta gente adormecida que nem minha mãe. Quantos artistas e escritores poderiam ter sido produzidos neste país? Quantas pessoas poderiam ter tido a oportunidade de realizar seus sonhos?”
 rede Brasil Atual 

Justiça reconhece fraude na privatização da Vale


Se você tivesse um cacho de bananas que valesse R$9,00, você o colocaria à venda por R$0,30? Óbvio que não. Mas foi isso que o governo federal fez na venda de 41% das ações da Companhia Vale do Rio Doce para investidores do setor privado, em 1997. Eles pagaram 3,3 bilhões de reais por uma empresa que vale quase 100 bilhões de reais. Quase dez anos depois, a privatização da maior exportadora e produtora de ferro do mundo pode ser revertida.
Em 16 de dezembro do ano passado, a juíza Selene Maria de Almeida, do Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília, anulou a decisão judicial anterior e reabriu o caso, possibilitando a revisão do processo. “A verdade histórica é que as privatizações ocorreram, em regra, a preços baixos e os compradores foram financiados com dinheiro público”, afirma Selene. Sua posição foi referendada pelos juízes Vallisney de Souza Oliveira e Marcelo Albernaz, que compõem com ela a 5ª turma do TRF.
Entre os réus estão a União, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Eles são acusados de sub-valorizar a companhia na época de sua venda. Segundo as denúncias, em maio de 1995 a Vale informou à Securities and Exchange Comission, entidade que fiscaliza o mercado acionário dos Estados Unidos, que suas reversas de minério de ferro em Minas Gerais eram de 7.918 bilhões de toneladas. No edital de privatização, apenas dois anos depois, a companhia disse ter somente 1,4 bilhão de toneladas. O mesmo ocorre com as minas de ferro no Pará, que em 1995 somavam 4,97 bilhões de toneladas e foram apresentadas no edital como sendo apenas 1,8 bilhão de toneladas.
Outro ponto polêmico é o envolvimento da corretora Merril Lynch, contratada para avaliar o patrimônio da empresa e calcular o preço de venda. Acusada de repassar informações estratégicas aos compradores meses antes do leilão, ela também participou indiretamente da concorrência através do grupo Anglo American. De acordo com o TRF, isso comprometeu a imparcialidade da venda.
A mesma Merrill Lynch, na privatização da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) da Argentina, reduziu as reservas declaradas de petróleo de 2,2 bilhões de barris para 1,7 bilhão.
Depois da venda da Vale, muitas ações populares foram abertas para questionar o processo. Reunidas em Belém do Pará, local onde a empresa está situada, as ações foram julgadas por Francisco de Assis Castro Júnior em 2002. “O juiz extinguiu todas as ações sem apreciação do mérito. Sem olhar para tudo aquilo que nós tínhamos dito e alegado. Disse que o fato já estava consumado e que agora analisar todos aqueles argumentos poderiam significar um prejuízo à nação”, afirma a deputada federal Dra. Clair da Flora Martins (PT-PR).
O Ministério Público entrou com um recurso junto ao TRF de Brasília, que foi julgado no ano passado. A sentença determinou a realização de uma perícia para reavaliar a venda da Vale. No próximo passo do processo, as ações voltam para o Pará e serão novamente julgadas. Novas provas poderão ser apresentadas e os réus terão que se defender.
Para dar visibilidade à decisão judicial, será criada na Câmara dos Deputados a Frente Parlamentar em Defesa do Patrimônio Público. A primeira ação é mobilizar a sociedade para discutir a privatização da Vale. “Já temos comitês populares em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Pará, Espírito Santo, Minas Gerais e Mato Grosso”, relata a deputada, uma das articuladoras da frente.
“Precisamos construir um processo de compreensão em cima da anulação da venda da Vale, conhecer os marcos gerais dessas idéias a partir do que se tem, que é uma ação judicial, e compreendê-la dentro de um aspecto mais geral, que é o tema da soberania nacional”, acredita Charles Trocate, integrante da direção nacional do MST. Ele participa do Comitê Popular do Pará, região que tem forte presença da Vale.
Entre os marcos da privatização, que serão estudados e debatidos nos próximos meses nos comitês, está o Plano Nacional de Desestatização, de julho de 1995. A venda do patrimônio da Vale fez parte de uma estratégia econômica para diminuir o déficit público e ampliar o investimento em saúde, educação e outras áreas sociais. Cerca de 70% do patrimônio estatal foi comercializado por 60 milhões de reais, segundo o governo. “Vendendo a Vale, nosso povo vai ser mais feliz, vai haver mais comida no prato do trabalhador”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1996. A dívida interna, entretanto, não diminuiu: entre 1995 e 2002 ela cresceu de 108 bilhões de reais para 654 bilhões de reais.
Na época, a União declarou que a companhia não custava um centavo ao Tesouro Nacional, mas também não rendia nada. “A empresa é medíocre no contexto internacional. É uma péssima aplicação financeira. Sua privatização é um teste de firmeza e determinação do governo na modernização do Estado”, afirmou o deputado Roberto Campos (PPB-SP) em 1997. No entanto, segundo os dados do processo, o governo investiu 2,71 bilhões de reais durante toda a história da Vale e retirou 3,8 bilhões de reais, o que comprova o lucro.
“O governo que concordou com essa iniciativa não tinha compromisso com os interesses nacionais”, diz a deputada Dra. Clair.
Poder de Estado
A Vale se tornou uma poderosa força privada. Hoje ela é a companhia que mais contribui para o superávit da balança comercial brasileira, com 54 empresas próprias nas áreas de indústria, transporte e agricultura.
“Aqui na região de Eldorado dos Carajás (PA), a Vale seqüestra todo mundo: governos municipais e governo estadual. Como o seu Produto Interno Bruto é quatro vezes o PIB do estado Pará, ela se tornou o estado econômico que colonizou o estado da política. Tudo está em função dos seus interesses”, coloca Charles Trocate.
O integrante do MST vivência diariamente as atividades da empresa no Pará e a acusa de gerar bolsões de pobreza, causados pelo desemprego em massa, desrespeitar o meio-ambiente e expulsar sem-terra e indígenas de suas áreas originais.
“Antes da privatização, a Vale já construía suas contradições. Nós temos clareza de que a luta agora é muito mais ampla. Nesse processo de reestatização vamos tentar deixar mais claro quais são as mudanças que a empresa precisa fazer para ter uma convivência mais sadia com a sociedade na região”, diz Trocate. De acordo com um levantamento do Instituto Ipsos Public Affairs, realizado em junho de 2006, a perspectiva é boa: mais de 60% dos brasileiros defendem a nacionalização dos recursos naturais e 74% querem o controle das multinacionais.
Patrimônio da Vale 1996
- maior produtora de alumínio e ouro da América Latina;
- maior frota de navios graneleiros do mundo
- 1.800 quilômetros de ferrovias brasileiras
- 41 bilhões de toneladas de minério de ferro
- 994 milhões de toneladas de minério de cobre
- 678 milhões de toneladas de bauxita
- 67 milhões de toneladas de caulim
- 72 milhões de toneladas de manganês
- 70 milhões de toneladas de níquel
- 122 milhões de toneladas de potássio
- 9 milhões de toneladas de zinco
- 1,8 milhão de toneladas de urânio
- 1 milhão de toneladas de titânio
- 510 mil toneladas de tungstênio
- 60 mil toneladas de nióbio
- 563 toneladas de ouro.
- 580 mil hectares de florestas replantadas, com matéria-prima para a produção de 400 mil toneladas/ano de celulose
Fonte: Revista Dossiê Atenção – “Porque a venda da Vale é um mau negócio para o país”, fls. 282/292, da Ação Popular nº 1997.39.00.011542-7/PA).
Quanto vale hoje
- 33 mil empregados próprios
- participação de 11% do mercado transoceânico de manganês e ferro liga
- suas reservas de minério de ferro são suficientes para manter os níveis atuais de produção pelos próximos 30 anos
- possui 11% das reservas mundiais estimadas de bauxita
- é o mais importante investidor do setor de logística no Brasil, sendo responsável por 16% da movimentação de cargas do Brasil, 65% da movimentação portuária de granéis sólidos e cerca de 39% da movimentação do comércio exterior nacional
- possui a maior malha ferroviária do país
- maior consumidora de energia elétrica do país
- possui atividades na América, Europa, África, Ásia e Oceania
- concessões, por tempo ilimitado, para realizar pesquisas e explorar o subsolo em 23 milhões de hectares do território brasileiro (área correspondente aos territórios dos estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte)
Fonte: 5ª Turma do TRF da 1ª Região
Maíra Kubík Mano

Receosa com tamanho da crise mundial, OIT aplaude Bolsa Família


Marcelo Semer, Terra Magazine / Blog do Marcelo Semer 
http://terramagazine.terra.com.br/

Enquanto no Brasil o Bolsa Família caminha sob fogo cerrado, entre boatos e bordoadas, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) acaba de ressaltar em seu relatório sobre o Mundo do Trabalho em 2013, a importância fundamental do projeto em tempos de crise.

Somado aos seguidos aumentos reais do salário mínimo, o Bolsa Família ajudou a vitaminar o crescimento da classe média no país em 16%, entre os anos de 1999 e 2010.

Para a OIT, um salário mínimo sólido e mecanismos efetivos de transferência de renda têm sido as ferramentas mais importantes para superar a pobreza.

Os resultados brasileiros tiveram ainda maior relevância na análise do cenário mundial, comparados com a compressão quase global da classe média que aparece como um dos efeitos perniciosos da crise econômica.

O relatório divulgado nessa segunda-feira, em Genebra, mostra que os grupos de renda média estão encolhendo na maioria das economias avançadas, consequência de um desemprego de longa duração. Na Espanha, por exemplo, a classe média já reduziu de 50% para 46% desde o início da crise.

O que se pode constatar, ainda pelo estudo, é que os efeitos da crise econômica estão longe de se distribuírem de forma equitativa na sociedade.
As desigualdades de renda aumentaram entre 2010 e 2011 em 14 das 26 economias desenvolvidas, incluindo França, Dinamarca, Espanha e os Estados Unidos. Os níveis de desigualdade em sete dos doze outros países analisados foram ainda maiores do que eram antes do início da crise.

Nos Estados Unidos, por exemplo, os 7% mais ricos da população tiveram aumento de seu patrimônio líquido durante os dois primeiros anos da recuperação, de 56% em 2009 para 63% em 2011; os restantes 93% dos norte-americanos, ao contrário, viram seu patrimônio só declinar.

A principal justificativa tem sido o crescimento dos níveis de desemprego –justamente o que não tem acometido o Brasil, que contou ainda com aumentos reais de salários em média de 4% em 2012.

A OIT realça também a importância dos mecanismos de ampliação de emprego formal, citando especificamente projetos empreendidos na Argentina e Costa Rica.

No lado rico do mundo, a mesma disparidade entre indivíduos se repete na relação de grandes e pequenas empresas.

A maioria das grandes empresas já recuperou o acesso aos mercados de capitais, mas as pequenas estão sendo desproporcionalmente afetadas pelas condições de crédito bancário. Este é um problema grave para a recuperação imediata de trabalho que, segundo a organização, afeta em muito as perspectivas econômicas de longo prazo.

E enquanto a crise se aprofunda nas economias centrais, a tal ponto que a OIT afirma que "a situação em alguns países europeus está começando a forçar o seu tecido econômico e social”, a avaliação sobre a América Latina dá conta de que a região registrou uma diminuição do risco de ‘descontentamento social’ entre 2007 e 2012.

A recente vitória da diplomacia brasileira, e dos países emergentes sobre norte-americanos e europeus na OMC, como se vê, não foi à toa.

As economias avançadas estão cada vez mais longe do papel de farol na crise, ainda que continuem sendo exemplos que magnetizam as elites periféricas.
Assim, embora o Brasil seja destaque internacional pela ampliação da classe média e a superação da pobreza durante a crise, continuamos a difundir por aqui o catastrofismo e a replicar, no quase-consenso da grande imprensa, fórmulas preparadas justamente por quem provocou o tormento e se mostra cada vez mais incapaz de resolvê-lo.

A mimese nem sempre se dá por incompetência.

O documentário Inside Job (vencedor do Oscar de 2010) já havia mostrado como economistas das principais universidades norte-americanas, que jamais questionaram os fundamentos da desregulamentação que resultou na crise de 2008, estavam também vinculados a instituições financeiras, em um evidente conflito de interesses.

E para os que seguem repetindo sem parar propostas de redução de gastos e achatamento do Estado, a OIT, como recomendação final de seu trabalho, sugere que sejam eliminadas as crenças negativas sobre intervenções dos governos no crescimento econômico e a capacidade que elas têm de reduzir a má distribuição de renda entre a população.

A recomendação cai como uma luva para grande parte do jornalismo econômico nacional.”

Telexfree: a maior fraude financeira da história do Brasil


Madoff-11
Pierre Lucena
Ontem participei de um debate sobre investimentos no programa Assunto do Dia, do Canal 14, com o Diretor do Procon-PE. Um dos assuntos que surgiu foi a Telexfree, pirâmide que já foi tema de um post no Acerto de Contas.
Tanto eu como Rangel (Diretor do Procon) alertamos da fraude deste tipo de esquema, que acabaria lesando muita gente.
O que mais me impressionou foi que, ao terminar o programa, muitos funcionários da emissora vieram até o estúdio falar sobre o assunto, pois muitos pensavam em entrar na Telexfree, e outros já estavam.
Para não ser repetitivo, explicando novamente o esquema de pirâmides, sugiro ler este texto que preparei sobre a Telexfree.
Ontem fui atrás para saber da extensão desta empresa, e me assustei.
O que se fala é que apenas em 2012 esta empresa teria girado algo em torno de R$ 300 milhões. Como se trata de uma pirâmide, a velocidade de multiplicação é imensa, fazendo com que este ano possamos chegar a algo em torno de R$ 1 bilhão, caso não quebre antes.
Estes esquemas são conhecidos: primeiro oferta-se um produto e depois monta-se uma suposta rede de venda destes produtos.
No caso da Telexfree, os dois produtos são ridículos: VOIP e publicidade na internet.
No caso do VOIP, não conheço uma pessoa (ou empresa) sequer que use de maneira intensiva este produto. Claro que tem, mas seu mercado é muito restrito.
No caso da publicidade de internet, esta também existe, mas não é na página da Telexfree que isso vai se tornar algo fenomenal.
Apenas para esclarecer, para alguém aparecer para mil pessoas na propaganda paga do Facebook, não é preciso mais do que R$ 2,00. Se no Facebook se anuncia por este valor, não será uma página sem conteúdo (como a da Telexfree) que mudará este cenário.
Antes de prosseguir, é bom fazer uma breve explicação da pirâmide Telexfree.
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Para entrar no negócio, você tem dois planos: ADCentral (US$ 299) e ADCentral Family (US$ 1.375).
Quando você entra, passa a fazer divulgação de um post por dia nas redes sociais. Com isso você é remunerado, de forma que em torno de 4 meses você recupera seu dinheiro.  A partir daí é lucro.
A pirâmide se retroalimenta em um ano, e assim segue.
Se você montar um time (eles chamam de tropa), sua rentabilidade aumenta.
O “modelo” de empreendedor da empresa é um cidadão chamado Júnior, que faz vídeos com carrões e apartamentos que teria comprado, com dinheiro da Telexfree. (vídeo acima)
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Voltei.
Este esquema se alimenta dele próprio, já que os produtos são 1% de toda a movimentação financeira.
Como a rentabilidade é altíssima, muita gente é levada de maneira ilusória a entrar várias vezes no mesmo esquema.
Daí já descobri gente que vendeu carro, casa e até fez empréstimo, na ilusão de uma oportunidade para ficar rico com internet.
Como a pirâmide está se alimentando, os ganhos não param de crescer, mas isto não deve demorar muito.
Para quem quiser uma boa explicação matemática do funcionamento da pirâmide, sugiro o artigo“A Probability Model of a Pyramid Scheme”, de Joseph L. Gastwirth e publicado na The American Statistician.
O pior de tudo é que aparentemente os órgãos de fiscalização não se mexem. E com uma pirâmide deste tamanho, não tenho dúvidas de que se trata do maior esquema de fraude financeira da história do Brasil.
Já passou da hora de uma investigação séria, pois a devastação será imensa em milhares de famílias.
Como em toda pirâmide, os que entraram primeiro irão ganhar, os que vão entrando por último pagarão o pato.
Por enquanto todo mundo está ganhando seu dinheiro certinho, mas quando o esquema ruir, será de uma só vez.
E o pior é que até agora não aparece um responsável sequer da empresa, a não ser um advogado canastrão.
Para saber se algo é realmente razoável dentro desta nova moda chamada Marketing Multi Nível, basta verificar duas coisas: não deve se pagar para trabalhar e o produto deve ser o carro chefe da empresa, e não seus vendedores.
A dica para quem já está?
Fique dentro e não coloque mais ninguém para dentro. Tente recuperar seu dinheiro, porque esta pirâmide ainda pode durar algum tempo. Pode ser o suficiente para você recuperar o que “investiu”. Mas nem pense em entrar novamente.
A primeira pancada será em abril deste ano, já que a Receita Federal já avisou que terão de pagar Imposto de Renda sobre o que ganhou. Isso vai fazer com que muita gente se arrependa. Será um momento crítico para a pirâmide.
Ontem me perguntaram se não tenho medo de ser processado pela empresa. Respondi que não, já que com certeza a empresa quebra antes do fim do processo.
É preciso lembrar que não se fica rico tão fácil na internet. Atrás de oportunidades como a Amazon ou Google, sempre teve uma ideia ou engenharia criativa.
Neste caso, muita gente sonha em se tornar Jeff Bezos, mas vão acabar como o Pato Donald…ou como o Avestruz Master.


Fonte: Blog Acerto de Contas

Os cristãos tomam a praça do Congresso, mas são banidos do noticiário


Público em frente a palco montado na Esplanada dos Ministérios para evento evangélico nesta quarta (Isaura Morgana/G1)
Milhares de cristãos tomaram o gramado em frente ao Congresso Nacional nesta quarta-feira. A manifestação conta com o apoio de diversas denominações, inclusive de correntes católicas. Às 17h30, os organizadores do evento anunciavam a presença de 70 mil pessoas; a Polícia Militar do Distrito Federal estimava em 40 mil. Que outra força consegue reunir tanta gente num dia útil? Não sei. O que espanta, no entanto, não é isso, não. A exemplo do que aconteceu com a Marcha para Jesus, no Rio, no último dia 25 (que pode ter levado até 500 mil pessoas às ruas), também a manifestação de hoje foi editorialmente ignorada pela grande imprensa. Qualquer protesto de meia dúzia de gatos-pingados merece muito mais espaço.
Há uma clara manifestação de arrogância em relação às opiniões e às convicções de milhões de brasileiros, ali representados por muitos milhares. Parece que se parte do seguinte princípio: “Se eu não noticio, então não existe”. A mera comparação pode ser devastadora para aqueles que dizem seguir um jornalismo isento e independente. Todos os protestos contra o Marco Feliciano, por exemplo, que reuniam, muitas vezes, não mais do que duas ou três dezenas de pessoas, mereceram ampla cobertura da imprensa. Até as manifestações de pura truculência às portas de templos religiosos em que ele pregaria ganharam ampla visibilidade.
Os que discordam do ponto de vista dos evangélicos podem achar que esse é, sim, um bom caminho. Afinal, como consideram “reacionária” a pauta daqueles cristãos, acham correto que a imprensa abra mão de seu papel, que é noticiar o que sabe, o que apura e o que vê. Trata-se de um engano fatal, amigo! Amanhã, essa mesma imprensa pode ignorar algum outro assunto que você considera fundamental porque está fora da sua (dela) agenda.
É claro que sempre se pode adotar o paradigma Luís Roberto Barroso (sim, ainda falarei de sua sabatina): imprensa boa e isenta é aquela que pensa o que pensamos; imprensa ruim e parcial é aquela da qual discordamos…
Por Reinaldo Azevedo

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/os-cristaos-tomam-a-praca-do-congresso-mas-sao-banidos-do-noticiario/

domingo, 2 de junho de 2013

A comparação entre Lula/Dilma e FHC

Um artigo de Marcos Coimbra coloca luz à persistente comparação entre os governos FHC e os lulistas. O artigo "A Herança de Fernando Henrique" apresenta dados de uma recente pesquisa realizada pela Vox Populi. 
Coimbra informa que a pesquisa foi nacional e propôs aos entrevistados que avaliassem quinze áreas de atuação do governo Dilma, comparando-as com o desempenho de Lula e FHC. O artigo apresenta alguns resultados, que passo a reproduzir:
Consideremos algumas: na geração de empregos, 7% dos entrevistados disseram que FHC atuou melhor, enquanto 75% responderam que Lula e Dilma o superaram; na habitação, 3% para FHC e 75% para Lula e Dilma; nos programas para erradicar a pobreza, 4% ficaram com FHC e 73% com os petistas; na educação, FHC foi defendido por 5% e Lula e Dilma por 63%; na política econômica, em geral, FHC foi avaliado como melhor por 8% e os petistas por 71% dos entrevistados. No controle da inflação, FHC teve seu melhor resultado: 10% acharam que foi melhor que os sucessores, mas 65% responderam que Lula e Dilma é que agiram ou agem melhor. Na saúde e na segurança, os petistas tiveram as menores taxas de aprovação, mas mantiveram-se bem à frente do tucano: na primeira, Lula e Dilma foram considerados melhores por 46% dos entrevistados; na segurança, por 45%. FHC, por sua vez, por 7% e 6%. No combate à corrupção, FHC teria atuado melhor que seus sucessores para 8%, enquanto 48% dos entrevistados afirmaram que Lula e Dilma foram-lhe superiores.
Pelos dados apresentados, a oposição não desconsidera estes índices, embora não esteja explorando com muita competência. As áreas onde o governo FHC é melhor avaliado ou diminui consideravelmente a distância dos governos lulistas são: combate à corrupção, inflação, saúde e segurança. Os dois primeiros itens são mais favoráveis à oposição. 
Pois são estes dois pontos que viraram trincheira do discurso oposicionista. Alguns poucos procuram emplacar a pecha de incompetência de Dilma na gestão do Estado. A se fiar por estes dados do Vox Populi, dificilmente o adjetivo vai colar na personagem. 
Por seu turno, o tema da corrupção parece ter ressonância na classe média tradicional, mas não atinge as amplas massas de eleitores que parecem identificar como sinônimo de perfil governamental. Em outras palavras, qualquer que seja o partido ou governante, corrupção seria um princípio, na avaliação dos brasileiros menos abastados. Portanto, o julgamento desse eleitor não leva em consideração este desvio de conduta. O que conta é o resultado concreto em sua vida. 
Aí entra a inflação. Este parece um veio promissor a ser explorado pelas oposições. Mas não como estão explorando. Os discursos oposicionistas só falam do impacto sobre os salários em nota de rodapé. O centro é o descontrole e o impacto sobre os investimentos. Cá entre nós, a grande massa dos brasileiros entende esta formulação como voltado para eles ou para empresários? O que as oposições, por falta de banho de rua, ainda não compreenderam é que discurso técnico precisa ser traduzido para o campo da vida cotidiana. E, principalmente nos dias de inserção pelo consumo, relacionado com o poder de compra. 
Enfim, é o DNA da oposição que se configura como seu principal adversário. Sem a explosão da inflação ou um discurso mais agudo em relação aos riscos de queda social dos consumidores emergentes, os governos lulistas ainda mantém dianteira na geração de emprego, habitação, erradicação da pobreza, educação e política econômica em geral. 
A desconstrução terá que ser profissional. E a oposição, depois, precisará dizer que fará melhor do que já fez. Há tempo para isto. Mas, convenhamos, o cenário atual não é nada propício. 

“Tucanos perderam a sintonia com a maioria da população brasileira”


 
“Os tucanos perderam sintonia com a maioria da população brasileira”.
Ao contrário do que eles dizem, o governo Lula rompeu com a política econômica de Fernando Henrique Cardoso.
Lula, em certa medida, tornou real o sonho de Celso Furtado em relação ao desenvovimento regional.
Os números do PIB não dizem tudo sobre a economia brasileira, que durante a ditadura militar chegou a crescer 12% sem que a população em geral tirasse proveito disso.
As opiniões são de Luiz Dulci, que foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República e hoje é diretor do Instituto Lula. Recentemente, ele lançou o livro Um Salto para o Futuro, no qual defende a tese do rompimento que contraria a opinião da maioria dos jornalistas econômicos da grande mídia — segundo a qual Lula apenas deu continuidade às políticas de FHC.
Dulci admite que não houve rompimento na política monetária, mas sustenta que isso aconteceu nas políticas sociais, externa e no papel assumido pelo Estado na economia.
Ele diz que o crescimento médio durante os dois mandatos do governo Lula foi de 4,4%, contra 2,2% de FHC. Sustenta que quando se trata do PIB não se deve olhar apenas para o número frio, mas para a qualidade do crescimento. Nos 12% de crescimento da ditadura militar o Brasil se tornou mais desigual, afirma Dulci. Agora, não.
O ex-ministro argumenta que a oposição partidária ao governo de coalizão do PT — e aqui ele estende o comentário aos adversários do governo Dilma — está “presa aos dogmas do neoliberalismo”, apesar da crise econômica de 2008 ter resultado no questionamento dos fundamentos do modelo. Daí, o fracasso eleitoral recente dos tucanos. Segundo Dulci, eles teriam perdido a sintonia com a maioria dos eleitores.
Sobre a argumentação de que o governo Lula teria apenas tirado proveito da valorização internacional das commodities, outro argumento brandido pelos tucanos, o ex-ministro rebate exemplificando com o conjunto de iniciativas econômicas de Lula.
As empresas públicas estavam proibidas de investir no final do governo FHC, diz. O crédito, que era de 300 bilhões de reais no conjunto da economia, se multiplicou para atingir R$ 1,5 trilhão atualmente. Foram gerados 15 milhões de empregos com carteira assinada. Os aumentos do salário mínimo — que os tucanos condenavam alegando que poderiam falir a Previdência Social — injetaram R$ 60 bilhões no mercado interno.
Para Dulci, Lula criou um “novo modelo de desenvolvimento econômico” para se contrapor ao neoliberalismo, provocando a saída de 28 milhões de pessoas da extrema pobreza e colocando 38 milhões na classe trabalhadora, muitos dos quais nas chamadas “novas classes médias”.
Na História do Brasil, isso só tem paralelo na era de Getúlio Vargas, escreve Dulci.
Destaca, também, que o Brasil se tornou menos desigual, inclusive regionalmente.
Apesar do impacto inegável do Bolsa Família no Nordeste, ele lembra que a duplicação dos portos de Suape e Itaqui, a construção de 900 km da ferrovia Transnordestina, a duplicação da BR 101 e a construção de 4 das 5 novas refinarias da Petrobras na região são fatores importantes para a dinamização da economia local.
Segundo Dulci, o neoliberalismo extinguiu a Sudene, engavetou os planos de desenvolvimento regional e sucateou o Banco do Nordeste. No último ano do mandato de FHC, o banco emprestou 300 milhões de reais, mas chegou aos R$ 9 bilhões no período equivalente do governo Lula.
Para o ex-ministro, é preciso comparar números: sob Lula, os mais pobres tiveram um aumento de renda que foi o triplo do obtido pelos mais ricos. No Nordeste, o número de empregos com carteira assinada aumentou mais que no Sudeste, o que segundo ele demole a argumentação dos tucanos de que o crescimento da região baseou-se apenas nas transferências de renda do Bolsa Família.
Luiz Carlos Azenha
No Viomundo