sábado, 18 de fevereiro de 2012

Guia prático para fugir, sem culpa, do carnaval

“Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”Caetano Veloso 
Nem morto eu sairia pulando atrás de um trio elétrico. Não encontro disposição para me esfregar na quentura suada dos foliões com cachaça até a tampa. Na verdade, falta-me um bocado de paciência para suportar farras carnavalescas em logradouros públicos onde pessoas urinam nos canteiros e calçadas, quando não despejam ali mesmo os seus gametas entreaspernas das moças e dos efeminados no meio da galera. 
Você tem razão. Eu estou exagerando um bocado, que é pra azeitar o texto. Já me explicaram como uma festa consegue estancar um país continental durante quatro dias, no mínimo: tudo não passa de tradição e cultura. 
Por exemplo: na Espanha, o povo se excita com as touradas centenárias e as farras do boi, deixando as cambadas de protetores dos animais com os cabelos em pé. 
Em vários países da África, é o maior barato mutilar as genitálias das meninas, antes da puberdade, para que elas jamais sintam prazer sexual. Há famílias que promovem almoços festivos incríveis para comemorarem a extirpação dos clitóris de suas filhas, algo parecido com as farofadas de testículos que os nossos antepassados faziam nas fazendas do interior do Brasil, após um dia inteiro de castração bovina. 
No Brasil — reduto planetário onde o povo é pacato, generoso e também ignorante — prevalecem o samba, o carnaval, o futebol, muito séquissi-apiu e um bocado de corrupção. Exagerei novamente? Fiz uma comparação grosseira e deselegante? Eu mereço cinquenta chibatadas sauditas? Simplesmente, não dá pra remar contra a cultura de um povo, né verdade?! 
Mas a gente rema. Todo ano é a mesma coisa: chega o carnaval, o país para, e um punhado de gente que não se interessa pela folia fica assistindo à explosão de alegria e se sentindo um marciano (e se, além de água e bactérias, as sondas espaciais encontrarem samba e axé em Marte?!). Siga o roteiro a seguir ou faça terapia. Conheço psicoterapêutas do borogodó. 
Aproveite o feriado e tenha um orgasmo tântrico com quatro dias de duração. Não. Eu não faço ideia como isto funciona. Pesquise na uiquipédia. 
Saia a pé pela principal rua da sua cidade, às sete horas da manhã, e grite a plenos pulmões “quem manda aqui nesta joça sou eu”. 
Está estressado? Vá pescar. Se não fisgar nenhum peixe, melhor ainda. Se o anzol ao menos beliscar, aproveite o momento para inspirar uma atmosfera pura, sem a fuligem de metais pesados. 
Sente-se na sarjeta e converse com um morador de rua. Pergunte o que ele pensa do Prefeito, do Governador, da Presidente e de você mesmo.
Ajude a picar legumes para qualquer sopa solidária que tiver notícia. Alimente os seus cãezinhos de raça, mas o faça também com seus pares humanos. Acima de tudo, ponha comida na boca da sua alma faminta. Se não acreditar em almas, alimente uma ilusão qualquer, mas não deixe de fazer uma boa ação. Se tiver uma coragem ducaralho, faça como Eduardo Dusek: troque seu cachorro por uma criança pobre. 
Desligue a TV, a internet, o ai-fone e demais equipamentos eletrônicos. Brinque com seus filhos pequenos como se a vida fosse um gueime. Este é um tipo de amor indescritível. 
Compareça em peso à missa das sete. Padres adoram ver suas igrejas lotadas em pleno carnaval. Só não gozam porque é pecado. 
Pegue um cinema. Pegue um devedê. Pegue na mão da pessoa amada e saia pela cidade pra pegar uma brisa no rosto. Não pegue gripe ou gonorreia neste carnaval. No SUS, mais da metade das equipes médicas faltará aos plantões. 
Trabalhe um pouco. Não é loucura nem vergonha trabalhar aos feriados. Seus olhos não vão secar. Suas mãos não ficarão tronchas. Ninguém vai lhe chamar de idiota. No máximo, vão acusá-lo de não saber viver. 
Faça um retiro espiritual. Se não acreditar em espíritos, ao menos procure um retiro onde possa se balançar numa rede, tomar café e comer pães de queijo. Confira a chuva caindo mansa sobre o capim. Sinta-se tentado a abandonar tudo e viver no campo. 
Não crie mais subterfúgios. Visite os seus pais. Visite um parente idoso e o presenteie com goiabada cascão, desde que ele não seja um diabético. Diabetes mata. Ingratidão idem. Faça as pazes com um inimigo que já foi seu amigo. 
Cheire lança-perfumes, mas cheire também flores de laranjeira. Não me delate à Polícia Federal por apologia às drogas. Isto é apenas uma crônica. 
Leia um pouco de História da Humanidade para compreender por que razões até hoje tem gente que morre de fome no planeta. 
Inteire-se a respeito da crise econômica na Europa, da recessão estadunidense, do avanço gigantesco da China, da ameaça nuclear iraniana, da inépcia educacional brasileira, da letargia em Cochichola da Paraíba. Aproveite a folga para estudar um pouco de política. Se você é daqueles que odeia política, saia desta crônica imediatamente, vista uma fantasia de pirata ou colombina, e corra atrás de um trio elétrico.  
Pedale como se fosse um Homem livre. Pedale alegremente como se estivesse carregando a namoradinha do bandido no filme “Butch Cassidy and The Sundance Kid”. Pedale como se fosse Peter Fonda rasgando a América em sua moto estradeira. Não importa o motivo: o essencial é tomar conta da cidade abortada dos automóveis. 
Tome um ônibus. Prefira os bancos dianteiros. Apesar da placa “Proibido conversar com o motorista”, encha-o de perguntas, piadas e conversa fiada. Aprecie a paisagem. 
Há quanto tempo você não lê poesia? Entenda muito desta vida lendo Drummond ou Quintana. 
Visite uma propriedade rural. Reveja uma vaca (Pasmem! Muitos adultos urbanóides não saberiam diferenciar um boi de uma vaca...). Pise sem nojo na terra barrenta. Permita que os átomos da sua carcaça ignorante se acoplem aos do planeta. 
As eleições municipais vêm aí. Tente se lembrar em quem votou para vereador no último pleito. Se você não conseguir, coloque os dedinhos fura-bolo para o alto e saia desfilando no Bloco do Zé Pereira. Afinal, políticos são todos iguais. Eleitores também. 
Pra terminar, mais sério que nunca: já que você não curte mesmo o carnaval, aproveite o feriadão para separar documentos do Imposto de Renda. As águas vão rolar e, esteja certo, o Leão vai mordê-lo. A Receita não acredita em fantasias.
revistabula

O que significa @ no e-mail?


Durante a Idade Média os livros eram escritos pelos copistas, à mão.
Precursores dos taquígrafos, os copistas simplificavam seu trabalhosubstituindo letras, palavras e nomes próprios por símbolos, sinais eabreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais  rápido (tempo era o que não faltava, naquela época!). O motivo era de  ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Assim, surgiu o til (~), para substituir o m ou n que nasalizava avogal anterior. Se reparar bem, você verá que o til é um enezinho
sobre a letra.
O nome espanhol Francisco, também grafado Phrancisco, foi abreviado para Phco e Pco? O que explica, em Espanhol, o apelido Paco.
Ao citarem os santos, os copistas os identificavam por algum detalhe significativo de suas vidas. O nome de São José, por exemplo, aparecia seguido de Jesus Christi Pater Putativus, ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde, os copistas passaram a adotar a abreviatura JHS PP, e depois simplesmente PP. A pronúncia dessas letras em sequência explica por que José, em Espanhol, tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), eles criaram um símbolo que resulta do entrelaçamento dessas duas letras: o &, popularmente conhecido como e comercial, em Português, e, ampersand, em Inglês, junção de and (e, em Inglês), per se (por si, em Latim) e and.
E foi com esse mesmo recurso de entrelaçamento de letras que os copistas  criaram o símbolo @, para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de casa de.
Foram-se os copistas, veio à imprensa - mas os símbolos @ e & continuaram firmes nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de  unidades da mercadoria e o preço. Por exemplo: o registro contábil 10@£3  significava 10 unidades ao preço de 3 libras cada uma.
Nessa época, o  símbolo @ significava, em Inglês, at (a ou em).
No século XIX, na Cataluña (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar as práticas comerciais e contábeis dos ingleses. E, como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses davam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo devia ser uma unidade de peso. Para isso contribuíram duas coincidências:
1 - a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba,
cujo  inicial lembra a forma do símbolo;
2 - os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Por isso, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de 10@£3 assim: dez arrobas custando 3 libras cada uma. Então, o símbolo @ passou a ser usado por eles para designar a arroba.
O termo arroba vem da palavra árabe ar-ruba, que significa a quarta parte: uma arroba ( 15 kg , em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe, o quintar, que originou o vocábulo português quintal, medida de peso que equivale a 58,75 kg.
As máquinas de escrever, que começaram a ser comercializadas na sua forma definitiva há dois séculos, mais precisamente em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados), trouxeram em seu teclado o símbolo @, mantido no de seu sucessor - o computador.
Então, em 1972, ao criar o programa de correio eletrônico (o e-mail), Roy Tomlinson usou o símbolo @ (at), disponível no teclado dessa máquina entre o nome do usuário e o nome do provedor. E foi assim que Fulano@Provedor X ficou significando Fulano no provedor X.
Na maioria dos idiomas, o símbolo @ recebeu o nome de alguma coisa parecida com sua forma: em Italiano, chiocciola (caracol); em Sueco, snabel (tromba de elefante); em Holandês, apestaart (rabo de macaco). Em alguns, tem o nome de certo doce de forma circular: shtrudel, em iídisch; strudel, em alemão; pretzel, em vários outros idiomas europeus. No nosso, manteve sua denominação original: arroba.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Só os africanos são "puro sangue"!




Se você possui herança não-Africana, você é parcialmente Neandertal, segundo um novo estudo na edição de julho da Molecular Biology and Evolution. A Discovery News vem escrevendo sobre miscigenação entre humanos e Neanderthais há algum tempo, então esta última pesquisa confirma descobertas anteriores.

Damian Labuda do Departamento de Pediatria da Universidade de Montreal e do Centro de Pesquisa CHU Sainte-Justine realizou o estudo com seus colegas. Eles determinaram que alguns dos cromossomos X humanos originam-se de Neandertais, mas apenas em pessoas de herança não-Africana.

Labuda foi citado dizendo em um comunicado de imprensa: "Isso confirma achados recentes sugerindo que as duas populações se cruzaram". Sua equipe acredita que a maior parte, senão toda, da miscigenação ocorreu no Oriente Médio, enquanto os humanos modernos estavam migrando para fora da África e se espalhando para outras regiões.

Os ancestrais dos Neandertais deixaram a África cerca de 400.000 a 800.000 anos atrás. Eles evoluíram ao longo dos milênios principalmente no que hoje são a França, Espanha, Alemanha e Rússia. Eles foram extintos, ou foram simplesmente absorvidos na população humana moderna, cerca de 30.000 anos atrás.

Neandertais possuíam o gene para a linguagem e tinham sofisticadas música, arte e habilidades de artesanato de ferramentas, portanto, eles não devem ter sido pouco atraentes para os seres humanos modernos na época.

"Além disso, devido aos nossos métodos terem sido totalmente independentes do material de Neanderthal, também podemos concluir que os resultados anteriores não foram influenciados por artefatos contaminados", disse Labuda.

Este trabalho remonta a quase uma década atrás, quando Labuda e seus colegas identificaram um pedaço de DNA, chamado de haplótipo, no cromossomo X humano que parecia diferente. Eles questionaram suas origens.

Avance rapidamente para 2010, quando o genoma do Neanderthal foi seqüenciado. Os pesquisadores puderam então comparar o haplótipo ao genoma do Neanderthal, bem como com o DNA de seres humanos existentes. Os cientistas descobriram que a sequência estava presente em pessoas de todos os continentes, exceto da África Subsaariana, incluindo a Austrália.

"Há pouca dúvida de que este haplótipo está presente por causa do acasalamento entre nossos antepassados ​​e os neandertais", disse Nick Patterson, do Broad Institute do MIT e da Universidade de Harvard. Patterson não participou na última pesquisa. Ele acrescentou: "Este é um resultado muito bom, e uma análise mais aprofundada pode ajudar a determinar mais detalhes."

David Reich, geneticista da Escola Médica de Harvard, acrescentou, "Dr. Labuda e seus colegas foram os primeiros a identificar uma variação genética em não-africanos que era provável ter vindo de uma população arcaica. Isso foi feito inteiramente sem a sequência do genoma Neanderthal , mas em função da sequência de Neanderthal, está agora claro que eles estavam absolutamente certos! "

A combinação entre homem moderno / Neanderthal provavelmente beneficiou nossa espécie, permitindo a mesma sobreviver em regiões frias e inóspitas para as quais os neandertais já tinham se adaptado.

"A variabilidade é muito importante para a sobrevivência a longo prazo de uma espécie", concluiu Labuda. "Cada adição ao genoma pode ser enriquecedora."


Fonte:
All Non-Africans Part Neanderthal, Genetics Confirm : Discovery News

no acaodopensamento

Desemprego tem o menor nível para janeiro, afirma IBGE

 


Taxa é a menor para meses de janeiro desde 2003. Salário médio foi o maior da série histórica para meses e janeiro.

Do G1

O desemprego nas seis regiões metropolitanas monitoradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subiu de 4,7% em dezembro de 2011 para 5,5% em janeiro de 2012. Essa taxa é a menor da série história, que teve início em março de 2002. As informações são da Pesquisa Mensal de Emprego divulgada nesta sexta-feira (17). Em janeiro de 2011, a desocupação ficara em 6,1%.

A população desocupada somou 1,3 milhão de pessoas, apontando um aumento de 15,9% em relação a dezembro. Já na comparação anual, com janeiro de 2011, a taxa recuou 7,7%. Já a população ocupada chegou a 22,5 milhões de pessoas, registrando uma queda de 1,0% na comparação mensal e um aumento de 2,0% sobre janeiro passado.

Em janeiro, o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado, que ficou em 11,1 milhões, não variou sobre dezembro. Na comparação anual, a quantidade subiu 6,3%.”
Matéria Completa, ::Aqui::

MPF quer retratação de Silas Malafaia por comentário homofóbico


Ana Cláudia Barros, Terra Magazine

“A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo quer retratação do programa "Vitória em Cristo", exibido pela Rede Bandeirantes, em razão das declarações do pastor Silas Malafaia, veiculadas na atração em 2 de julho de 2011. A PRDC considerou homofóbicos os comentários do pastor, que defendeu "baixar o porrete" e "entrar de pau" contra integrantes da Parada Gay.

A ação, que também é contra a TV Bandeirantes, foi proposta nesta quinta-feira (16) e tramitará em uma das varas cíveis da Justiça Federal de São Paulo. O caso havia sido denunciado pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) ao Ministério Público Federal, o que motivou a abertura de um inquérito civil público.

De acordo com informações publicadas na página da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, no curso do inquérito, Malafaia explicou que tinha feito uma "crítica severa a determinadas atitudes de determinadas pessoas desse segmento social, acrescida também de reflexão e crítica sobre a ausência de posicionamento adequado por parte das pessoas atingidas". Segundo o argumento apresentado por ele, as expressões "baixar o porrete" ou "entrar de pau" significavam "formular críticas, tomar providências legais".

Ainda conforme informações divulgadas no site, o procurador Regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias, entendeu que as expressões apresentavam "claro conteúdo homofóbico" e que incitavam a violência contra os homossexuais. Na interpretação dele, as palavras "configuram um discurso de ódio, não condizente com as funções constitucionais da comunicação social".

Segundo a PRDC, durante o inquérito, Malafaia pediu a seus fiéis que enviassem e-mails em sua defesa ao procurador da República responsável pelo caso. Centenas de mensagens eletrônicas e correspondências foram encaminhadas ao gabinete de Jefferson Aparecido Dias, que questionou a iniciativa: "Da mesma forma que seus seguidores atenderam prontamente o seu apelo para o envio de tais e-mails, o que poderá acontecer se eles decidirem, literalmente, 'entrar de pau' ou 'baixar o porrete' em homossexuais?"

Dogmas moralistas que atrasam o Brasil e intimidam políticos

Em um momento de recrudescimento da crise econômica internacional o Brasil experimenta uma virtual imunidade a ela. Fica até estranho, pois, dizer que este país também está em crise. A crise brasileira, no entanto, não atinge só o bolso do povo, mas a sua razão, levando-o a comportamentos irracionais ou virtualmente autodestrutivos.
A economia viceja, os empregos se reproduzem, o salário do trabalhador aumenta acima de uma taxa de inflação sob estrito controle, mas não está tudo bem.
Greves de policiais militares, milhares de famílias sendo atiradas na miséria em benefício de  ricaços picaretas, cidadãos sendo espancados e até assassinados por sua natureza íntima, ruas infestadas de crianças que se drogam, prostituem-se e roubam, sistemas de Educação e Saúde falidos…
Pode parecer estranho, inicialmente, mas tudo isso faz parte de uma mesma equação.
O Brasil é um país socialmente conflagrado. Os números de mortes violentas que produz equiparam-se ou superam até os de países em guerra. E o mais impressionante é que essa tragédia social se desenrola justamente em um momento em que esse país mais está distribuindo renda e oportunidades em toda a sua história.
Todavia, ainda é insuficiente. Este pais é superpovoado onde não tem espaço e subpovoado onde tem. Mas é na superpopulação nos centros urbanos que reside problema que nos esgota os recursos e que produz tensões sociais como as supracitadas.
Recentemente, em serviço voluntário prestado no rescaldo da tragédia humanitária em São José dos Campos que entrou para a história como O Massacre do Pinheirinho, o blogueiro depara com uma jovem mulher de menos de trinta anos em um dos abrigos visitados.
Ao começar a entrevistá-la para lhe tomar queixa que seria encaminhada à Defensoria Pública, crianças começam a acorrer para junto de si – uma escadinha etária de 8, 6, 5, 3 e 2 anos. Eram todos seus filhos.
A mulher se destaca de outras que se amontoam com os filhos naqueles depósitos de seres humanos que a prefeitura de São José dos Campos diz “abrigos”. É loira de olhos claros em meio a congêneres de desgraça em maioria negras ou mestiças. Como a quase totalidade das outras, não tem profissão e quase nenhuma instrução. Mas, à semelhança da maioria, tem religião.
Descobre-se que é paranaense, do interior do Estado, e que fugiu de casa quando engravidou pela primeira vez, antes dos 18 anos.
Mesmo com a forte queda de sua taxa de natalidade, o Brasil ainda sofre os efeitos da gravidez precoce e irresponsável. As mulheres de estratos sociais mais altos têm cada vez menos filhos, mas as dos estratos mais baixos entre os mais baixos continuam gerando proles enormes – imagine você, de classe média, tendo que sustentar CINCO filhos.
Se a reflexão for puramente racional, não se consegue entender essa loucura social que faz um país não oferecer a mulheres pobres e sem qualquer instrução um meio seguro de interromper gravidezes que lhes destruirão as vidas e as daqueles que irão pôr no mundo, se forem levadas a termo.
A sociedade brasileira praticamente obriga pessoas sem qualquer condição de procriação a gerarem legiões de crianças que irão crescer largadas ao léu, sem educação, sem saúde, sem orientação de qualquer espécie. Crianças para as quais a criminalidade acaba sendo o caminho mais fácil e atraente.
Não é à toa que temos presídios para crianças e adolescentes abarrotados daqueles que dogmas moralistas fizeram vir ao mundo, mas que após sua chegada se esqueceram deles.
Essa maioria esmagadora dos brasileiros que é contra a política de saúde pública adotada por praticamente todos os países de melhor qualidade de vida e desenvolvimento, o aborto, acha que interromper uma gestação quando a mulher tem dentro de si uma semente do tamanho de uma ervilha, se tanto, seria “crime contra a vida”, mas não dá a mínima para o que irá se tornar aquela criança.
Para controlar uma população que produz muito mais gente do que os sistemas de Educação, de Saúde e até o mercado de trabalho podem absorver, há que constituir um exercito, pois são pessoas que nascem e crescem sem qualquer estrutura familiar e que em parte significativa acabam caindo na marginalidade.
Chega-se, pois, a outro elemento da equação: até a criminalidade convencional seria insuficiente para abrigar a tantos que a maternidade irresponsável produz se não fosse outro dogma moralista. Só a proibição do consumo de drogas oferece “mercado” para tantos “trabalhadores” do crime.
Nenhuma outra atividade ilegal é tão difícil de combater e requer tanta “mão-de-obra” quanto o tráfico. Se, no limite, legalizássemos as drogas, centenas de milhares de pequenos criminosos não teriam mais serventia para organizações criminosas que exploram o mercado que o proibicionismo gera.
A suspensão da criminalização do uso de drogas e o tratamento clínico – em vez de policial – ao usuário vêm fazendo várias sociedades reduzirem custos com efeitos do tráfico e do consumo, o que lhes deixa recursos para investir na formação de sua juventude e na segurança pública.
Sem um mercado inesgotável para criminosos como é o tráfico de drogas e sem uma superpopulação forjada na obrigatoriedade de jovens imberbes e miseráveis levarem gravidezes até o fim, um país pode ter menos policiais, o que lhe permite pagar a eles melhores salários e lhes dar melhor formação.
Sem superpopulação e com educação de qualidade seria possível evitar que a população acalentasse tantos preconceitos. Estudos recentes mostram que o baixo nível de instrução é fator determinante da homofobia e do racismo, por exemplo.
Os que governam sabem de tudo isso. Pouco importa se são de direita ou de esquerda. No Brasil, quem vence eleições são políticos que sabem que é preciso legalizar o aborto e descriminalizar as drogas, mas ou se aproveitam da ignorância popular e exploram o preconceito ou ao menos não têm coragem de ficar publicamente do lado certo.
Não há dúvida de que um político que saísse em defesa do aborto ou da descriminalização das drogas jamais conseguiria se eleger para cargos no Poder Executivo que, para serem alcançados, requerem apoio da maioria de um eleitorado conservador nessas questões.
Por trás de tudo isso, as religiões. Só se sustentam com absoluto controle não só das mentes, mas dos corações e da própria alma dos “fiéis”. Manipular conceitos e valores intrínsecos permite às igrejas influírem em decisões eleitorais e, assim, tornam-se beneficiárias de uma bajulação de políticos que se traduz em isenções fiscais, financiamentos e favores análogos.
O grande dilema de um país como o Brasil, portanto, é descobrir como combater os dogmas moralistas que o atrasam. A falta dessa descoberta impõe obstáculos econômicos e sociais que acabam sendo intransponíveis. Chega a ser assustadora a descoberta de que a sociedade brasileira cria os seus próprios problemas.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Alckmin pressiona base aliada para não assinar CPI do Pinheirinho



Charge de Latuff
Raoni Scandiuzzi, via Rede Brasil Atual

O governo do estado de São Paulo tem pressionado os parlamentares que compõem a base governista na Assembleia Legislativa a não colaborar com as investigações do chamado “massacre do Pinheirinho”, em São José dos Campos, no interior paulista. A informação é do deputado Marco Aurélio (PT), autor do pedido de instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os abusos ocorridos na reintegração de posse ocorrida em 22 de janeiro.

“Nós temos informação de que, assim que o recesso terminou, o governo do estado, investiu forte sobre os deputados de sua base para não assinarem a CPI. Alguns já falaram para mim que só de pensarem em assinar, já receberam recados pesados do governo”, contou Marco Aurélio. Até agora, o requerimento já possui 27 assinaturas garantidas. São necessárias 32 para a instalação.

Marco Aurélio contou ainda que presenciou ataques injustificáveis da polícia enquanto esteve junto aos desalojados na Igreja do Perpétuo Socorro, em São José. “Se há uma ordem para retirar as pessoas que estão ocupando uma terra ilegalmente, por que a polícia persegue as pessoas que já deixaram o local para atirar bomba nelas? Eu estava lá, eu estava junto com o grupo atingido”, relatou.

De acordo com deputado, a CPI poderia convocar as pessoas do governo e do comando da polícia para questionar a razão de alguns abusos inexplicáveis. “Qual o motivo para se destruir as casas com tanta pressa e com todos os pertences pessoais dos moradores dentro. Não estava na ordem de despejo essa punição para as pessoas.”

Para Marco Aurélio, as atitudes emergenciais que o governo deveria adotar consistem na colocação de equipes para atender caso a caso aqueles que ficaram desabrigados. “O governo precisa resolver os casos urgentes, como o das crianças que precisam de fraldas, dos idosos que precisam de medicamento, pessoas que precisam de roupas, gente que necessita de fotos de postos para retirada de documentos. As necessidades são múltiplas”, disse.

Enquanto a oposição não consegue as assinaturas necessárias para a instalação da CPI, o parlamentar afirmou que o tema será amplamente debatido na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia.

Entenda o caso
A decisão da juíza Márcia Loureiro que viabilizou a reintegração de posse do terreno passou por cima de liminar da Justiça Federal, que suspendia a ação de reintegração por 15 dias. Acreditava-se que um acordo estaria próximo de acontecer, uma vez que deputados estaduais, senadores e governo federal articulavam uma solução sem confrontos.

O juiz auxiliar do TJ, Rodrigo Capez, cassou todas as liminares impetradas pelos movimentos sociais. A ação ocorreu na madrugada de 22 de janeiro e contou com efetivo de 2 mil policiais militares, inclusive da Tropa de Choque.

A nova ameaça contra a Internet livre

“Radiografia de um acordo internacional: objetivos, métodos antidemocráticos, estratégia. Por que é arriscado menosprezá-lo. Como ele copia China e Irã

Alexander Furnas, The Atlantic / Outras Palavras

Há algumas semanas, um gigante adormecido despertou, quando a internet – os usuários comuns e as grandes empresas da rede – uniram-se em protesto contra duas leis que tramitam no Congresso, a Sopa [Stop Online Piracy Act, ou “Lei para Frear a Pirataria Online”] e a Pipa [Protect Intellectual Propoerty Act, ou “Lei para Proteção da Propriedade Intelectual”, saiba mais sobre ambas], que teriam restringido gravemente as liberdades de expressão e privacidade. Mas nem tudo está bem: outra ameça para uma internet livre e aberta está sendo preparada.

Desta vez, quem a lança não é o Congresso dos EUA – mas um acordo de comércio recentemente firmado poor 31 nações, inclusive os Estados Unidos e a União Europeia. Chamado de ACTA [Anti-Counterfeiting Trade Agreement, ou “Acordo Comercial Anti-falsificação”], ele tem por pretexto enfrentar problemas ligados à garantia da propriedade intelectual e ao tráfico de bens falsificados, através das fronteiras internacionais. Porém, seus críticos ressaltam que ele padece de alguns dos muitos problemas que marcaram seus primos, SOPA e PIPA. Por isso, algus o chamaram de “gêmeo internacional perverso” da SOPA.

O tratado entrará em vigor depois que seis, dos 31 países que o firmaram, o ratificarem formlmente. Apesar da quase certeza de que isso ocorrerá, ainda não se sabe quais serão seus efeitos. Permance obscuro para muitos que consequências haverá sobre os direitos civis e de comunicação dos cidadãos em todo o mundo.

Para entender como o ACTA ameaça a liberdade de expressão na rede, em nome da garantia de propriedade intelectual, e para avaliar se ele é de fato tão ruim quanto a SOPA, é preciso examiná-lo em meio às tendências mais amplas provocadas pela regulamentação da propriedade intelectual. Neste contexto, torna-se claro que, embora algumas alegações alarmistas sejam imprecisas, a ACTA expressa o perigo sistêmico em que a regulamentação da propriedade intelectual se converteu, nas últimas duas décadas.

O panorama jurídico da Propriedade Intelectual

O regime que atualmente regulamenta a propriedade intelectual foi estabelecido principlamente por um conjunto de tratados envolvendo instituições supranacionais, em especial as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio (OMC). As regras básicas para as leis referentes ao tema foram lançadas em 1994, pela OMC. Constituem o TRIPS, sigla em inglês para “Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados a Comério” [Agreement on Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights]. Ele estende ao software e a aparelhos digitais as antigas proteções para trabalhos literários e artísticos, estabelecidas em Berna, em 1886.
Dois anos depois do TRIPS, a Organização Mundial para Propriedade Intelectual (OMPI), uma das dezessete agências da ONU, ampliou esta proteção por meio de dois tratados que baniram a criação, uso e distribuição de tecnologias capazes de contornar os DRMs (dispositivos de Gerenciamento de Direitos Digitais) ou outras medidas de proteção técnica [1] . Frequentemente, tais medidas técnicas tornam difícil, para os usuários, exercer as exceções legítimas ao copyright, como o “uso aceitável” ou a cópia não-comercial para uso e armazenamento pessoais. Exceções legítimas incluem práticas como o uso de trechos curtos, de vídeo protegido por direitos autorais, para citação, num documentário; ou uso, em paródias, de personagens “patenteados”.
Tradução: Antonio Martins
Mataria Completa, ::Aqui::

Brasil foi "muito afetado" pela crise econômica, mas reagiu fortemente



“Quando o tradicional banco americano Lehman Brothers anunciou sua falência em setembro de 2008 e, consequentemente promoveu o início da crise do Subprime, o Brasil vivia um momento de crescimento acelerado.

O aumento na oferta de crédito, associada às políticas de distribuição de renda e a austeridade fiscal fortaleceram o mercado interno. A expansão da classe-média promoveu um forte consumo e o PIB brasileiro já registrava taxas de crescimento de 7 a 8% nos primeiros meses do ano.

Mas a falência de outros bancos americanos expôs a fragilidade do mercado. A aposta dos grandes acionistas em transações arriscadas e o forte déficit sob o qual as potências europeias operavam colocou todo o sistema em risco. A bolha imobiliária americana desencadeou a crise. E as relações interbancárias mundiais, essenciais para um sistema financeiro saudável, alastraram o problema por toda a Europa, derrubando país por país.

No Brasil, os mercados operavam apreensivos. As conseqüências da crise pareciam irremediáveis. O então presidente Lula chegou a mencionar que a crise seria "apenas uma marolinha” no país. Porém, o impacto foi muito forte, afirma o professor Paulo Levy, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

“A produção industrial foi o setor que mais sofreu naquele momento. Com a crise, a produção caiu em 20% em apenas três meses, e os investimentos diminuíram muito”, afirma.

O motivo da retração, segundo o especialista, foi a contração do crédito e principalmente o aumento da incerteza em relação ao futuro.”
Matéria Completa, ::Aqui::

Crime sem mandante, corrupção sem corruptor

Por Sergio Lirio
CartaCapital



Inspirado pelo texto de Paulo Henrique Amorim, que reproduzimos neste site, faço um adendo à decisão da Justiça Federal de livrar o banqueiro Daniel Dantas do crime de espionagem e formação de quadrilha no caso Kroll.



O Brasil é um país onde crimes não têm mandantes e corrupção não tem corruptores, só corruptos.





Relembrem a dificuldade em levar a júri os fazendeiros que contrataram o assassino de Dorothy Stang, como se o matador tivesse acordado um dia e decidido por livre e espontânea vontade prestar um “serviço público: livrar os pobres fazendeiros paraenses da religiosa cri-cri.



O mesmo se dá agora. Certamente o pessoal da Kroll condenado pela Justiça decidiu espionar os desafetos e concorrentes de Dantas à revelia (quem sabe contra a vontade) do banqueiro. Imagino a cena: o dono do Opportunity exige de forma veemente que os serviços sejam prestados dentro dos limites da lei, mas acaba enganado pelos inconfiáveis arapongas, ávidos por bisbilhotar a vida de gente que eles mal conhecem. A inocência é uma característica da beatitude – e serve bem à intenção de muitos de transformar Dantas em um santo.



Por fim: basta qualquer investigação, no Congresso ou na Polícia Federal, se aproximar dos nomes dos corruptores privados para que a apuração seja sumariamente enterrada. Esta é, aliás, a forma mais eficiente de acabar com uma CPI.



Sintonia Fina
- O Esquerdopata 

O Xadrez das Ameaças ao Irã


Será 2012 o ano do fim do mundo? É o que, dizem, vaticina uma lenda maia — que inclusive fixaria a data exata do apocalipse: o 12 de dezembro próximo (12/12/12). Em qualquer caso, num contexto de recessão econômica e grave crise financeira e social em diversas partes do mundo (especialmente na Europa), não faltarão riscos este ano – que verá, entre outros fatos, eleições decisivas nos Estados Unidos, Rússia, França, México e Venezuela.
Mas o principal perigo geopolítico continuará situado no Golfo Pérsico. Israel e Estados Unidos lançarão o anunciado ataque militar contra as instalações nucleares do Irã?
O governo de Teerã reivindica o seu direito a dispor de energia nuclear civil. E o presidente Mahmud Ahmadinejad repetiu que o objetivo do seu programa não é militar; que a sua finalidade é simplesmente produzir energia de origem nuclear. Também, lembra que o Irã assinou e ratificou o “Tratado de Não-Proliferação Nuclear” (TNP), enquanto Israel nunca o fez.
As autoridades israelenses pensam que não se deve esperar mais. Segundo elas, aproxima-se perigosamente o momento em que o regime dos ayatollahs disporá da arma atômica; e a partir desse instante, já não se poderá fazer nada. Estará rompido o equilíbrio de forças no Médio Oriente, onde Israel já não gozará de supremacia militar [e atômica] incontestável. O governo de Benjamin Netanyahu avalia que, nessas circunstâncias, a própria existência do Estado Judeu estaria ameaçada.
Segundo os estrategistas israelenses, o momento atual é o mais propício para golpear. O Irã está debilitado. Tanto no âmbito econômico – após as sanções impostas desde 2007, pelo Conselho de Segurança da ONU, com base em informes [duvidosos e tendenciosos] alarmantes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) – quanto no contexto geopolítico regional. O seu principal aliado, a Síria, vive insurreição interna e está impossibilitado de prestar-lhe ajuda. A incapacidade de Damasco repercute-se noutro parceiro iraniano, o Hezbollah libanês, cujas linhas de abastecimento militar desde Teerã deixaram de ser confiáveis.
Por essas razões, Israel deseja que o ataque seja executado o quanto antes. Para preparar o bombardeio, já há, infiltrados no Irã, efetivos das forças especiais [israelenses]. E é muito provável que agentes israelenses tenham concebido os atentados que causaram, nestes últimos dois anos, as mortes de cinco importantes cientistas nucleares iranianos.
Ainda que Washington também acuse Teerã de levar a cabo um programa nuclear clandestino para dotar-se de armas atômicas, a sua análise sobre a oportunidade do ataque é diferente. Os Estados Unidos estão saindo de duas décadas de guerras nessa região, e o balanço não é animador. O Iraque foi um desastre, e terminou em mãos da maioria xiita, que simpatiza com Teerã. No lodaçal afegão, as forças norte-americanas mostram-se incapazes de vencer os talibãs, com quem a diplomacia da Casa Branca se resignou a negociar, antes de abandonar o país ao seu destino.
Esses conflitos custosos debilitaram os Estados Unidos e revelaram aos olhos do mundo os limites da sua potência, assim com o início de seu declínio histórico. Não é hora de novas aventuras. Muito menos num ano eleitoral, em que o presidente Barack Obama não tem a certeza de ser reeleito. E quando todos os recursos são mobilizados para combater a crise [interna] e reduzir o desemprego.
Além disso, Washington tenta mudar a sua imagem no mundo árabe-muçulmano, sobretudo depois das insurreições da “Primavera Árabe”, no ano passado. Antes cúmplice de ditadores – em particular, o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak –, deseja agora aparecer como mecenas das novas democracias árabes. Uma agressão militar contra o Irã, sobretudo em colaboração com Israel, arruinaria esses esforços e despertaria o antinorte-americanismo latente em muitos países. Especialmente naqueles cujos novos governos, surgidos das revoltas populares, são dirigidos por islamitas moderados.
Uma importante consideração complementar: o ataque contra o Irã teria consequências não apenas militares (não se pode descartar que alguns mísseis iranianos alcancem o território israelense, ou consigam atingir as bases norte-americanas no Kuwait, Barhein ou Omã), mas, principalmente, econômicas. A resposta mínima do Irã a um bombardeio das suas instalações nucleares consistiria, como os seus dirigentes militares não se cansam de alertar, no bloqueio do Estreito de Ormuz. É o funil do Golfo Pérsico, por lá passa um terço do petróleo do mundo, 17 milhões de barris por dia. Sem esse abastecimento, os preços do combustível chegariam a níveis insuportáveis, o que impediria reativar a economia mundial e deixar a recessão para trás.
O Estado-maior iraniano afirma que “não há nada mais fácil que fechar esse Estreito”. Multiplica as manobras navais na região, para demonstrar que está em condições de cumprir as suas ameaças. Washington respondeu que o bloqueio da passagem estratégica de Ormuz seria considerado “caso de guerra”, e reforçou a sua 5ª Frota, que navega pelo Golfo.
É muito improvável que o Irã tome a iniciativa de bloquear a passagem de Ormuz (embora possa tentá-lo, em represália a uma agressão). Em primeiro lugar, porque daria um tiro no pé, já que exporta o seu próprio petróleo por essa via, e que os recursos dessas exportações lhe são vitais.
Em segundo lugar, porque atingiria alguns dos seus principais parceiros, que o apoiam no seu conflito com os Estados Unidos. Principalmente, a China, cujas importações de petróleo, que chegam a 15% do consumo, procedem do Irã. A sua eventual interrupção paralisaria parte do aparelho produtivo.
As tensões estão abertas. As chancelarias do mundo observam, minuto a minuto, perigosa escalada que pode desembocar num grande conflito regional. Estariam implicados não apenas Israel, os Estados Unidos e o Irã, mas também três outras potências do Médio Oriente: a Turquia, cujas ambições na região voltaram a ser consideráveis; a Arábia Saudita, que sonha há décadas em ver destruído o seu grande rival islâmico xiita; e o Iraque, que poderia romper-se em duas partes: uma xiita e pró-iraniana; outra sunita e pró-ocidental.
Além disso, um bombardeio das instalações nucleares iranianas pode provocar nuvem radioativa nefasta para a saúde de todas as populações da área (incluídos os milhares de militares norte-americanos e os habitantes de Israel). Tudo isso conduz a pensar que, embora os belicistas ergam a voz com força, o tempo da diplomacia ainda não terminou.
Ignacio Ramonet, jornalista e diretor do jornal francês “Le Monde Diplomatique”. 
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