segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SÃO PAULO É O GRANDE FOCO DIREITISTA DO PAÍS

 Segundo o Instituto Verificador de Circulação, O Estado de S. Paulo é o jornal mais vendido na capital paulista, na Grande São Paulo e no conjunto do Estado, enquanto a Folha de S. Paulo só o supera no interior paulista, mas mantém a liderança nacional por circular muito mais nos outros estados.

Faz sentido. O Estadão é o veículo de uma direita ideológica que remonta à aristocracia cafeeira. Conservador por excelência, foi peça importante na conspiração para a derrubada do presidente constitucional João Goulart.

Isto conflitava um pouco com o papel que o jornal desempenhou na ditadura getulista, quando esteve até sob intervenção. Então, depois de, segundo alegou, ter ajudado a salvar o País do perigo comunista, passou a pregar insistentemente a devolução do poder aos civis, uma vez que a intervenção cirúrgica já teria saneado as instituições (ou seja, as cassações de mandatos, a extinção de partidos e entidades, os expurgos e mudanças impostas pela força, as prisões arbitrárias, tudo isso já teria sido suficiente para a burguesia poder voltar a exibir sua face civilizada...).

A resistência dos jornais do Grupo Estado à censura e ao terrorismo de estado merece respeito. Afora o trivial que todos destacam (as poesias de Camões que o Estadão colocava no espaço de trechos ou de notícias inteiras censuradas, bem como as receitas culinárias que tinham a mesma serventia no Jornal da Tarde), houve dois episódios em que seus diretores demonstraram inclusive coragem pessoal:
quando mandaram os seguranças impedirem o DOI-Codi de invadir a redação para prender um jornalista, tendo o Mesquita de plantão afirmado que "ele pode ser comunista lá fora, mas aqui dentro é meu funcionário" (depois, abrigou-o no seu próprio sítio);
quando, depois da morte de Vladimir Herzog, decidiram acompanhar os jornalistas da casa arrolados no mesmo inquérito, sempre que chamados a depor no DOI-Codi, a fim de garantirem pessoalmente sua integridade física.

Mas, embora repudiando os eventuais excessos no exercício do poder burguês, o Estadão é o jornal brasileiro mais afinado com a sua essência.

Sua supremacia em São Paulo é consistente com o fato de o estado estar sob governos tucanos desde 1995; e de a cidade de São Paulo, desde a redemocratização, haver tido duas gestões petistas e as restantes, direitistas.

Também faz sentido que São Paulo esteja sendo o laboratório de testes das novas fórmulas golpistas, com a adoção gritante de soluções autoritárias para os problemas sociais.

Ainda bem que operação desastrosa na cracolândia e a barbárie no Pinheirinho despertaram uma opinião pública que parecia anestesiada quando da invasão da USP pelos vândalos e da fixação de uma tropa de ocupação em pleno campus universitário (suprema heresia!).

Mas, a cena paulista deve continuar sendo observada com muita atenção pelos verdadeiros democratas. Pois, qualquer atentado às instituições, para quebrar a continuidade de administrações petistas (bem toleradas pelos EUA e pelo grande capital, já que mantêm seus privilégios, mas não pelas viúvas da ditadura e por alguns setores setores extremados da burguesia), começará, necessariamente, por São Paulo.

Vale lembrar: foi em São Paulo que o Cansei! tentou organizar uma nova (mas frustrada...) Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade.

E é em São Paulo que a truculência policial volta a ser exercida exatamente como nos tempos da ditadura militar, por efetivos que até hoje cultivam descaradamente a nostalgia do arbítrio.

No Náufrago da Utopia

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