Retirada de direitos sociais, terceirização no trabalho e redução da maioridade penal são alguns dos pontos atacados
Rodrigo Gomes
SIGMAPRESS/FOLHAPRESS
Participantes também reivindicam reforma política com participação popular e sem financiamento privado das campanhas
São Paulo – Milhares de trabalhadores ligados a movimentos sociais e sindicatos realizam na tarde de hoje (25) manifestação contra o avanço da pauta conservadora e a retirada de direitos sociais da população, por meio dos projetos de terceirização, da redução da maioridade penal e do ajuste fiscal, entre outros. Os participantes, a maioria ligada ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), também reivindicam a realização de uma reforma política com participação popular e sem financiamento privado das campanhas e pelo lançamento do programa Minha Casa Minha Vida 3.
Os manifestantes saíram em marcha em direção à região de Pinheiros. No caminho, vão passar pelo que consideram “símbolos” do atual momento de enfrentamento de forças políticas, como a Secretaria-Geral da Presidência da República, bancos e sedes de veículos de imprensa.
O coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, disse que o Congresso não tem legitimidade para discutir terceirização, maioridade penal e o que chamou de outros projetos danosos à população. O ativista enfatizou que a redução da maioridade não vai valer para os filhos dos ricos, mas para "atacar o filho dos pobres". Enfatizou que o movimento não vai "aceitar a entrega do pré-sal" e o financiamento privado de campanhas eleitorais. "Aqueles sem-vergonhas do (Eduardo) Cunha (presidente da Câmara dos Deputados) e do (Renan) Calheiros, (presidente do Senado), não vão contra a vontade popular", disse.
Boulos não poupou críticas ao governo federal, que, segundo ele, está indo contra os trabalhadores com sua proposta de ajuste fiscal. "Não vamos aceitar que joguem a conta da crise no colo dos trabalhadores, que joguem no colo dos ricos". O MTST cobra o lançamento "imediato" da terceira etapa do programa Minha Casa Minha Vida. "Nós não viemos pedir porque direito não se pede", afirmou Boulos.
O Ministério das Cidades emitiu nota informando que o programa será lançado em agosto, pois está realizando diálogos com todas as partes envolvidas. Para Boulos, a posição é lamentável, pois o lançamento já foi adiado várias vezes. "Não se pode usar diálogo como desculpa para ficar postergando", afirmou.
Ele disse que é preciso ser feita uma grande rede de mobilizações em todo o país e que isso vai fazer a diferença para segurar a onda conservadora.
O ativista garantiu que serão feitas novas ocupações se o governo não lançar o Minha Casa Minha Vida 3. Nos últimos dois meses, eles fizeram quatro. "Estamos prontos para parar a cidade e o país", avisou Boulos. Em frente ao prédio da Secretaria-Geral da Presidência da República, na avenida Paulista, Boulos avisou: "Se não liberarem o Minha Casa, Minha Vida nós vamos morar no escritório da presidência. Hoje nós viemos só avisar, porque estamos sem colchão, sem lona, mas na próxima vez a gente vai ocupar o escritório. Presidenta Dilma, ouça e atenda às nossas reivindicações senão a gente vai ocupar terra, a gente vai ocupar escritório, rodovias e vamos parar o Brasil".
A coordenadora estadual do MTST, Jussara Basso, também ressaltou que os movimentos não vão deixar as ruas enquanto não cessarem os ataques aos direitos sociais. “Estamos nas ruas contra todos os ataques que estamos sofrendo aos nossos direitos. E vamos continuar até que o Congresso e o governo federal atendam às nossas reivindicações”, afirmou.
Para os movimentos, o ajuste fiscal representa corte de verbas para moradia popular, educação saúde, ataque ao seguro-desemprego e as pensões, auxílio-doença, aos direitos previdenciários. “Afeta principalmente os trabalhadores pobres”, salientou Jussara. Ao mesmo tempo, defendem os movimentos, o lucro dos mais ricos é intensificado, com aumento das taxas de juros, pagamento da dívida pública, isenções de impostos e facilidade governamentais.
No caso do programa Minha Casa, Minha Vida 3, o MTST tem realizado ocupação em diversas cidades, reivindicando a nova fase. “Enquanto não for lançado não existe programa habitacional no Brasil. Essa situação afeta principalmente a construção de moradias populares. Está tudo parado. Desde o ano passado vem sendo prometido o lançamento. A gente não quer mais promessa”, disse Jussara.
Para os movimentos, a reforma política em discussão no Congresso Nacional, liderada pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está em total desacordo com os anseios da população, aprovando medidas que significam a legalização da corrupção, como o financiamento privado de campanhas.
Os movimentos também reivindicam que a imprensa deixe de dar cobertura somente a uma parte dos atuais escândalos de corrupção, envolvendo sonegação e grandes empresas. O escândalo do HSBC, que envolve empresários de todos os ramos, inclusive empresários da grande mídia, é responsável por cerca de R$ 19 bilhões em evasão de divisas. Já a Operação Zelotes denuncia que os grandes bancos sonegaram mais de R$ 19,5 bilhões. Porém, segundo os ativistas, somente a Operação Lava Jato ganha destaque.
Em frente a sede da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), em Pinheiros, Boulos foi incisivo. "Aqui estão os maiores ladrões do país. Enquanto não tem dinheiro para moradia, saúde, habitação, eles seguem ganhando muito com a dívida pública e financiando campanhas eleitorais para garantir que tudo fique como está", afirmou.
O vice-presidente da CUT estadual São Paulo, Douglas Izzo, disse que esta foi mais uma noite em defesa da democracia. Disse que é preciso defender a Petrobras. "Temos um senador eleito por São Paulo, financiada pelo grande capital, querendo entregar a Petrobras", disse em referência ao tucano José Serra.
Para Izzo, se o Senado pôr em pauta a terceirização, a CUT vai convocar uma greve geral, "porque esse projeto representa acabar com os direitos dos trabalhadores e rasgar a CLT".
O secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, conhecido como Índio, avisou que as entidades sindicais não vão aceitar uma política econômica "que vai levar o país para a recessão e o desemprego. Para ele, uma proposta de derrubada do governo, no entanto, é "inaceitável, que só interessa para a direita". "Ao povo cabe dizer a Dilma, vete a terceirização, libere o Minha Casa, Minha Vida e onere os ricos."
Para o secretário estadual do Psol, Miguel Carvalho, "é um absurdo que o governo diga que não tem dinheiro para os pobres, mas tem dinheiro para pagar banqueiros, para continuar pagando a dívida pública".
Os estudantes também não vão aceitar o ajuste e os cortes na educação, segundoRarikan Heven, diretor da UNE. "Nós vamos ocupar as ruas o quanto for preciso. Dilma, se de uma lado a direita te pressiona, saiba que aqui tem o povo, que é muito mais forte", disse, convocando todos a ocupar o Congresso no dia 30 contra a redução da maioridade penal, que estará em votação, "que representa a legitimação do extermínio da juventude".