domingo, 9 de junho de 2019

Há séculos, um açougueiro no poder


Acaba de ser lançado o Atlas da Violência 2019, do Ipea. Novamente, os dados provam que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo.

Entre as muitas conclusões que apresenta, a publicação revela que o número de homicídios cometidos com armas de fogo, crescia 5,44% anuais nos 14 anos anteriores ao Estatuto do Desarmamento. Já nos 14 anos posteriores, esse índice caiu para 0,85%.

Mesmo assim, o presidente do próprio Ipea, Carlos Von Doellinger, afirmou que “por uma questão de princípio, me incomoda a impossibilidade de o cidadão ter uma arma para a defesa da sua integridade física, de sua família e do seu patrimônio”.

É esta a lógica dos integrantes do governo Bolsonaro. Há mortes demais nas estradas? Flexibilizem-se as leis, punições e fiscalização de trânsito. O agronegócio abusa dos venenos agrícolas? Liberem-se ainda mais agrotóxicos. Mulheres são agredidas? Ofereça-se a elas uma arma para se defenderem.

Mas nada disso é um raio no céu azul. A alcateia louca que está no poder se vale de fake news, mentiras, calúnias e difamações. Mas seu modo de administrar o País é perfeitamente coerente com nossa realidade social e histórica.

Bolsonaro na presidência é a classe dominante sem filtros. Sem sociólogos, metalúrgicos ou guerrilheiras a tentar dourar a pílula venenosa da dominação extremamente truculenta dos poderosos locais.

A eleição de Bolsonaro é a mais pura demonstração da debilidade de uma Constituição cujas belas vestes da democracia moderna já não escondem o emporcalhado avental de um velho açougueiro sanguinolento.

Chegamos à pílula no 2.000. Doses suspensas por algumas semanas.

Inteligência Artificial à imagem e semelhança da estupidez social

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Marildo Menegat é doutor em Filosofia pela UFRJ. Em entrevista publicada na página IHU On-Line em 29/05/2019, ele falou sobre inteligência artificial. 

Mais especificamente, sobre aquilo que seria uma espécie de emburrecimento da condição humana devido ao uso que vem sendo dado a essa ferramenta.

Por exemplo, nossos contatos cada vez mais frequentes com atendentes virtuais. Como observa Menegat, esses robôs já se comunicam perfeitamente conosco. Mas:

...não lhes pergunte se o tempo está bom, ou se andam estressados com tanto trabalho. Eles delimitam a conversação na resolução de uma mediação na qual você mesmo se torna a representação de uma coisa, no caso, o dinheiro-consumidor.

Trata-se, afirma o entrevistado, da:

...redução da linguagem a este momento empobrecedor da vida social. Uma troca entre coisas. Na contraparte a este contato, cada vez mais frequente as pessoas vão desaprendendo a riqueza e a inteligência presente no uso cotidiano da linguagem.

Para ele, haveria dois momentos nessa mediação. “Na primeira parte da mediação, a máquina nos roga para deixarmos de lado o especificamente humano e nos concentrarmos na nossa representação de consumidor (dinheiro); na segunda, nos convencemos que o horizonte rebaixado do dinheiro é o zênite do pensamento humano”.

Sendo que:

O atual domínio da técnica confina não apenas a linguagem, mas a imaginação e as capacidades sociais a um estreito cubículo, uma espécie de domesticação que em muito se assemelha ao método que os grandes frigoríficos utilizam para criar animais para o abate.

É assim que a Inteligência Artificial demonstra funcionar à imagem e semelhança da estupidez da sociedade que a vem criando.

O meteoro somos nós


José Eustáquio Diniz Alves é professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. Em recente artigo, ele revelou dados impressionantes sobre o crescimento da população e da economia nos últimos dois Jmil anos. Por exemplo:

Do ano 1 da Era Cristã até o ano 2000, a população mundial passou de cerca de 225 milhões de habitantes para 6 bilhões e a renda per capita global passou de US$ 467 para US 6.055.

Ou seja, no período, o PIB global foi de US$ 106 bilhões a US$ 36,3 trilhões. A população aumentou 26,5 vezes, enquanto a economia cresceu 342,7 vezes. A renda per capital mundial, por sua vez, aumentou 13 vezes.

Mas, ele alerta, esse crescimento não foi uniforme ao longo dos dois milênios:

Entre o início do século 19 e o final do século 20, a população mundial passou de 1 bilhão de habitantes para 6 bilhões, aumentando 6 vezes. Já a renda per capita passou de US$ 667 para US $ 6.055 em 2000. Um aumento de 9,1 vezes em dois séculos.

Durante o século 19, aconteceu a Revolução Industrial, que, para muitos, inaugura o Antropoceno. Trata-se de um período que teria proporcionado “um aumento significativo do padrão de vida” da humanidade. Mas, diz o autor, “às custas do empobrecimento da natureza e do holocausto biológico dos demais seres vivos do Planeta”.

Por isso, conclui Alves, pessimista:

O “meteoro” que está provocando uma grande extinção de espécies no Antropoceno e gerando mudanças climáticas catastróficas se chama ser humano, que parece buscar o mesmo destino dos dinossauros.

Agora, vá dizer isso aos “terraplanistas”!