Em 08/05/2018, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel publicou artigo na Folha sobre recentes estudos neurológicos relacionados a linhas e ângulos retos. Segundo ela, essas formas tão típicas das grandes cidades deixam o cérebro tenso, ao contrário do que ocorre com os contornos arredondados da natureza.
A hipótese lembra um trecho do livro “The Patterning Instinct”, de Jeremy Lent, ainda sem tradução. Ele afirma que o surgimento da agricultura introduziu os ângulos retos na história humana.
Quadrados e retângulos teriam ganhado importância com a demarcação das linhas divisórias separando não apenas as terras cultivadas das não cultivadas, mas também as propriedades de cada agricultor.
Foi também o cultivo que tornou a riqueza um valor essencial, e aqueles privados dela passaram a ser vistos como inúteis. A hierarquia ganha uma “nova ênfase”.
Nas culturas dos caçadores-coletores, as relações familiares eram mais fluidas e não estruturadas. Na sociedade agrária, surge a herança. Com ela, a ideia de honra ligada à virgindade e à fidelidade sexual. Aparece o patriarcado e as mulheres começaram a ser consideradas bens ou mercadorias.
Pausa para uma observação que não está na obra de Lent. A redação original do Nono Mandamento era: “Não cobiçarás a mulher de teu próximo, nem sua casa, servos, boi, jumento, nem coisa alguma que a ele pertença”.
Boa parte do que Lent afirma já estava em “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, que Engels publicou em 1884. É a velha história da propriedade privada chegando e estragando tudo. Não à toa, nos anos 1960, os conservadores eram chamados de “quadrados”.