sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Escolas na Argentina abolem divisão por sala e usam arte como fio condutor


"Iniciativa de professoras universitárias começou em 1958, com um pequeno centro de estudos, se expandiu e hoje é composto por pelo menos 30 escolas

Caio ZinetCentro de Referências em Educação Integral 


A história das Escolas Experimentais, na Argentina, remonta a 1958, quando duas professoras universitárias decidiram abrir uma pequena escola baseada na avaliação de que era necessário estudar e implementar experiências alternativas de educação. Passados 58 anos de muita luta, existem ao menos 30 escolas experimentais espalhadas por toda a Argentina.

Os docentes implementaram um método de ensino inspirado pela pedagogia da tolerância, do educador brasileiro Paulo Freire. Cada escola experimental comporta entre 100 e 200 alunos de ensino infantil, fundamental e médio e a arte é usada como fio condutor para abordar as disciplinas obrigatórias do currículo.

Desde o primeiro dia de aula os estudantes mais novos são colocados em contato com ferramentas artísticas, como pincéis, tintas e instrumentos musicais. Enquanto pintam ou aprendem a tocar algum instrumento musical, os professores conduzem a aula, ensinando história, contando qual foi o contexto social e histórico de algum artista.

A divisão por sala ou por idade inexiste e os estudantes são divididos em rodas de discussão compostas por no máximo 25 alunos. O objetivo de trabalhar em pequenos grupos é permitir aos docentes que estabeleçam uma relação muito próxima com os estudantes."

12 frases sobre o jornalismo brasileiro

Por Paulo Nogueira

1)  O pior analfabeto é o que lê a Veja.

2) A Globo não resolve nem o problema da novela das 9 e acha que tem a fórmula para resolver o problema do país.

3)  O surdo irremediável é o que ouve a Jovem Pan.

4)  Não dá para confiar mais nem na exatidão do dia que aparece na Folha.

5)  Fé obtusa é acreditar não nos pastores evangélicos, mas nos editores do Jornal Nacional.

6) Os barões da imprensa merecerão respeito no dia em que aprenderem a fazer uma legenda.

7)  Numa redação, você tem inteira liberdade para dizer sim, sim ou mesmo sim.

8)   Jornais e revistas exigem toda sorte de corte de gastos do governo, excetuada a publicidade que é colocada neles.

9) O mundo fica subitamente melhor quando você não abre um jornal.

10)  Não há uma pastilha na sede das Organizações Globo que não tenha sido fruto de  dinheiro público.

11) Um macaco teria feito a Globo ser o que é, tantas as mamatas que Roberto Marinho recebeu dos governos.

12)  Nenhum dono de jornal  passaria num bafômetro que medisse a parcialidade.

no: http://caviaresquerda.blogspot.com.br/2015/09/12-frases-sobre-o-jornalismo-brasileiro.html

O enigma Marina Silva


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Qual será o rumo do mais novo partido político do país? Esta é incógnita que ronda a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva.
A Rede se lança com a proposta utópica de fazer uma "nova política", a começar pelo próprio nome da legenda, sem a palavra "partido".
O objetivo é claro: dissociar-se da imagem corrupta arraigada nos partidos tradicionais.
Mas será realmente possível governar um país com 34 partidos, sem pragmatismo, sem troca de favores, distribuição de cargos e outras práticas até condenáveis, porém vitais para a governabilidade?
Seus eleitores querem acreditar que sim e Marina encarna essa esperança. Mas há também aqueles que veem nela uma aventureira, não muito diferente do ex-presidente Fernando Collor de Melo.
Se não embarcar no golpismo barato e for responsável na oposição já será um bom começo.
Abaixo segue análise publicada hoje no jornal El País.
O Enigma da esfinge Marina Silva
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por Juan Arias, no El País
A ambientalista Marina Silva, que segundo ela mesma “ganhou perdendo” nas últimas eleições presidenciais enquanto sua adversária, a presidenta Dilma Rousseff, “perdeu ganhando”, poderia ressuscitar, amparada por seu partido, a Rede Sustentabilidade, que acaba de ser legalizado. Continuará sendo o enigma da eterna esfinge?
Marina poderá gostar ou não, mas é difícil, em vista da crise que vive o país, não reconhecer que tinha previsto alguns dos problemas que se agigantaram agora. Como a crise política, produzida em parte pelas velhas práticas do chamado “fisiologismo”, que antecipou na última campanha eleitoral. Tinha razão ao dizer que a sociedade aceita cada vez menos a “velha política”, na qual vê a matriz dos escândalos de corrupção.
A vocação de defesa da natureza e do meio ambiente, que ela encarna, e que foi reconhecida internacionalmente, também se tornou cada vez mais crucial para salvar o planeta, o que levou o papa Francisco a dedicar ao tema sua primeira encíclica Laudato Si e a insistir nisso em sua viagem aos Estados Unidos.
A aposta de Marina Silva em uma forma diferente de governar, tenha ela ou não a força para impô-la, continua tendo apelo nas ruas. A ambientalista mantém ainda, apesar de seu silêncio e até a quarta-feira sem um partido legalizado, um capital de mais de 30 milhões de votos, segundo as últimas pesquisas, superando uma possível candidatura de Lula.
Nas batalhas presidenciais anteriores, a voz de Marina já indicava uma terceira via, com sua defesa de um modo novo de governar, convencida que a política tradicional formada por partidos sem ideologia nem programas, que se vendem em troca de cargos e privilégios, está esgotada.
Desta vez, depois do terremoto do escândalo de corrupção da Lava Jato, as ideias de Marina se revelam duplamente alternativas à dos partidos tradicionais.
Marina foi duramente criticada nas últimas eleições por sua então adversária política, a candidata Dilma Rousseff, por afirmar que desejava governar com os “melhores”, os não corruptos. E é a presidenta que se vê hoje em dificuldade para nomear seus novos ministros por não saber se estarão ou não envolvidos em algum escândalo de corrupção. Também Dilma agora procura desesperadamente os melhores. Vai com a lanterna do Diógenes em busca de políticos limpos.
O que a ambientalista Marina sempre defendeu é que pode haver outras formas de governar, o que coincide com o que sente e parece desejar a sociedade que defende uma forma diferente e menos corrupta de dirigir os destinos do país e com uma maior participação ativa da sociedade.
Há quem tema que, se Dilma fosse derrubada, poderia aparecer algum aventureiro como aconteceu com Fernando Collor de Mello. Pode-se considerar uma possível candidatura de Marina Silva, com o apoio de seu pequeno e incipiente partido, uma aventura para o futuro do Brasil ou uma esperança de algo diferente?
Haverá ainda hoje, depois da inquietação que está vivendo o segundo mandato Dilma, quem se atreva a acusar Marina de querer arrancar a comida do prato dos pobres?
Durante a última campanha, ela cunhou uma frase que agora soa profética: “Pode-se perder ganhando e ganhar perdendo”. Hoje, em vista da crise que vive o Brasil, depois das eleições que deram a vitória ao gigante Golias contra o pequeno Davi, contradizendo o relato bíblico, seria possível dizer que não lhe faltava razão.
Ela perdeu ganhando, porque foi reconhecida a injustiça a que foi submetida pelo tanque eleitoral, e Dilma, que ganhou nas urnas, hoje sofre na carne os resultados de uma vitória que se converteu em derrota.
A ambientalista poderia ser mais que uma voz no deserto, como muitos a acusam. Hoje é necessário colocar o trem descarrilado da economia e da decência política no binário de uma nova era de esperança que volte a unir os sofridos eleitores brasileiros.
O país não precisa de mais rasteiras políticas, nem mais enfrentamento e violência. Precisa recuperar sua vocação de país que ainda acredita que se pode ser feliz sem necessidade de roubar para ser milionário.
Marina Silva, de novo ressuscitada, aparece como uma mistura de utopia e realismo, de profetismo e pragmatismo, capaz de abrir um debate sobre o que os brasileiros desejam e esperam dos políticos, no momento em que sua estima pela velha política nunca foi tão colocada em discussão e contestada com tanta violência.
A ambientalista, talvez tão temida quanto amada, volta a ser, pois, uma incógnita.
Quando o ex-presidente Lula escolheu seu sucessor, pensou em Dilma e Marina, duas ex-ministras. Ambas mulheres de caráter. Lula conhecia melhor Marina, com quem tinha convivido 25 anos no mesmo partido e com uma biografia parecida com a sua. Ele a apreciava ao mesmo tempo que a temia.
Talvez hoje, quando o ex-presidente confessa que o PT deveria ser refundado para voltar a suas origens, arrependa-se de não tê-la escolhido naquela altura. Marina Silva é hoje um espinho para ele e seu partido, e Dilma Rousseff, sua grande dor de cabeça.
O futuro está por escrever.
Por Carlos Eduardo, editor assistente do Cafezinho
vi no: http://www.ocafezinho.com/2015/09/25/o-enigma-marina-silva/

Nossas Verdades não tão Secretas

Luciano Alvarenga




Verdades Secretas, a melhor novela em anos na TV Globo, termina nessa sexta feira, dia 25 de setembro. É uma aula de sociologia contemporânea, mais especificamente, uma aula sobre a Modernidade Líquida. Todo o enredo, os personagens, o viés que assume aqui e ali, são todos expressões mais ou menos contundentes daquilo que perfaz a modernidade no seu estágio líquido, pra ficarmos nas expressões do sociólogo polonês Zigmunt Bauman.
A novela é o retrato da decadência da sociedade urbana contemporânea nos grandes centros cosmopolitas, globais. Todos os personagens são expressão, há seu tempo e a partir dos seus peculiares interesses, da decadência moral geral. Nenhum valor, nenhuma tradição, nenhum princípio pode ser reivindicado como norma, limite ou impedimento aos desejos e escolhas dos personagens. Todos são guiados pela força de se dar bem a qualquer custo e, ao custo de todos.
O sociólogo alemão Ulrich Beck, afirma que o cosmopolitismo da sociedade globalizada dá origem a outro nível de problemas e crises (ambientais, terroristas, poluição) que suplanta as crises locais da 1º modernidade, assentadas em valores tradicionais e familiares, e injetam nessas localidades, agora globais, novos grupos de problemas, ligados as revoluções tecnocráticas e científicas e, portanto, culturais. Verdades Secretas é o desligamento do indivíduo de qualquer raiz local e familiar e, seu lançamento na aldeia global desenraizada e desconectada de qualquer tradição. Esse indivíduo desconectado de qualquer tradição lançado num mundo hi tech, está mergulhado naquilo que Beck chama de Modernidade Reflexiva. Isto é, tudo o que fazemos e somos resulta não mais do passado e da herança da cultura, mas daquilo que escolhemos e decidimos a cada passo do caminho, a cada página que escrevemos em nossa biografia.  
“Angel”, a personagem central da trama em Verdades Secretas, vai do cisne branco ao negro, pra ficarmos numa alusão ao filme, “O Cisne Negro” e, a peça de balé clássico “O Lago dos Cisnes”. Angel encarna o tipo social interiorano, tradicional e conservador que, chega à cidade cosmopolita e global, São Paulo, e se vê lançada pelas contingências num universo de códigos e condutas fluídas e desmoralizadas, em que à medida que mais e mais de vê reconhecida, mais e mais se distancia das raízes de onde saiu. A modernidade líquida, em Verdades Secretas, é o abandono de qualquer passado, qualquer moral ou regra social que impeça o indivíduo de fluir, deslizar suavemente pela vida sem peias, sem peso.
Angel completa a passagem de “Cisne Branco” ao “Cisne Negro”, quando assume num dado momento, já nas últimas semanas da novela, que o marido da mãe na verdade é “seu” homem. Quando despida do remorso, da culpa e do medo, se coloca em cena como a mulher, que poderosa e dona dos signos ali valorizados, beleza e juventude, está em condições de empurrar sua mãe, “pobre”, “velha” e “burra”, para um nível abaixo de onde, ela, Angel, está. Ainda que o custo moral disso seja significativo, é condição sine qua non pra realizar seu desejo de posse e poder, que é o que significa estar com o “Alex”, o dono do mundo na novela. A mãe passa de uma referência moral e de amor (raízes da Angel), no inicio da novela, pra uma qualquer que precisa ser desalojada do lugar que está usurpando dela, Angel, jovem e linda. Numa linha, de mãe a coisa nenhuma.
Todos os personagens, sem exceção, ainda que uns mais outros menos estão, em algum grau, negociando escrúpulos e posições de poder e posse uns em relação aos outros. Todos abrem mão de alguma porção de valor, senão de todo o valor, pra poder realizar seus sonhos e desejos de ascensão e felicidade.
A novela coloca como nenhuma outra até agora, muito menos o cinema nacional, a completa desconstrução de valores, caríssimos pra nossa sociabilidade, e a destruição da cultura tradicional, que se fez acompanhar pela ascensão do liberalismo cultural (o indivíduo como senhor de tudo) e a política de justiça social da esquerda (não há moral na pobreza) que se espraiou fortemente entre nós desde os anos 1980.
O resultado na novela e em toda parte, de cima a baixo nos estratos sociais, é a cultura da corrupção como ferramenta na conquista de espaços sociais reconhecidos, e, o ressentimento geral daqueles que não se entregam a cultura da canalhice inescrupulosa da modernidade líquida, mas se veem exilados morais num mundo amoralizado. Luciano Alvarenga





quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O apartheid, a praia e a luta de classes.

Depois de uma reportagem da TV Manchete dos anos 90, "descobrimos" que a ação política de segregar pessoas - de acordo com sua classe e "raça" - de determinados espaços sociogeográficos é antiga. Em linguagem simples: os ricos e camada médias desejam expulsar os pobres dos "seus" espaços sociais e isso não é novidade. Toda novela em torno de uma série de ações de sujeitos políticos públicos e da "sociedade civil" contra pessoas - principalmente jovens - negros e pobres frequentarem determinados lugares nas praias do Rio de Janeiro (e antes tinha os rolezinhos) não passa de mais um episódio da famosa luta de classe.

 
Na sociedade capitalista as relações de propriedade são polarizadas: de um lado um grande contingente de pessoas que tem apenas sua força de trabalho para vender e de outro um contingente menor que detém os meios de produção. Essas relações de propriedade engendram relações de produção que formam uma divisão social do trabalho complexa e diversificada. Entre o pólo proletário e o pólo burguês temos uma série de classes e camadas sociais. Essas camadas médias, tratando a questão de forma simplista, e pensando apenas no ambiente urbano, são formadas, em grandes linhas, por dois tipos de relações materiais: a) posse de pequeno ou médio capital (que pode ser no comércio, serviços, indústria etc.) que propicia um nível de renda médio maior que o nível médio dos proletários; b) ocupação de lugar "privilegiado" na divisão social do trabalho (seja no "mercado" ou nos aparelhos do estado) que também propicia nível de renda médio alto. Esse nível de renda médio diferenciado, ligado ao fato de que os bens e serviços são mercantilizados, proporciona estabelecer modos de vida e consumo diferentes da maioria da população.

A manutenção dessas relações de produção capitalistas pressupõe necessariamente formas de dominação política sobre o proletariado, dentre elas, a criação de estigmas inferiorizantes sobre os modos e práticas de vida das classes trabalhadoras e a consequente valorização dos modos de vida e prática das camadas médias e das classes burguesas. Numa relação dialética de retroação o padrão de dominação produz as formas de inferiorização e as próprias relações econômicas reproduzem de forma ampliada essas relações criando nichos de mercado e consumo específicos de acordo com o pertencimento de classe - exemplo clássico: os shoppings para ricos e os shoppings para pobres.  

Na sociedade capitalista – e em qualquer sociedade - existem padrões de reconhecimento social. Como na sociedade burguesa a apropriação da riqueza socialmente produzida é privada e o poder político é monopólio das classes burguesas criasse um padrão societário onde o reconhecimento social é ditado por normas e valores pertencentes às concepções de mundo burguesas. Esses padrões de reconhecimento social são materializados em práticas, objetos, formas de falar e agir, lugares, etc. As formas de ter acesso, por exemplo, a objeto que materializam códigos de reconhecimento social é via mercado; ou seja, compra monetária. Aqui a coisa é simples: ter nível de renda suficiente ou não para consumir de acordo com o padrão de reconhecimento social dominante. Determinadas praias - assim como clubes, restaurantes, bares, etc. - são símbolos de reconhecimento social acessado através de um terminado nível de renda e capital cultural. Isso significada que não basta ter dinheiro, é necessário ter "cultura" para estar ali. As camadas médias e classes burguesas, é claro, procuram manter seu lugar de "privilégios" e dominação, e uma das maneiras de fazê-lo, principalmente no cotidiano, é lutar de forma incessante para preservar os "lugares de exclusividade", os símbolos de distinção social, os códigos materiais de reconhecimento social.

Lutar contra a presença dos "pobres" e "sem cultura" nos "seus" espaços de lazer e divertimento é uma forma de luta de classe.  As camadas médias e as classes burguesas garantem que as classes trabalhadoras ("pobres") ficarão nos "seus lugares”. Certo pensamento economicista acha que a luta de classe acontece apenas nos espaços de produção e circulação de mais-valia, como numa fábrica. A luta de classe se espraia por toda totalidade social e assume formas diferenciadas em contextos sociais diferenciados. Logo, o racismo, o autoritarismo estatal, os discursos de ódio, as tentativas de linchamento, a política estatal segregadora, etc. são elementos de uma luta de classe [desigual] onde as camadas médias e as classes burguesas procuram manter seu apartheid social.


"Mas o Brasil é uma África do Sul" - Sandra de Sá.
http://makaveliteorizando.blogspot.com.br/2015/09/o-apartheid-praia-e-luta-de-classes.html

Chomsky: A história não segue uma linha reta

Via Esquerda.net

Numa entrevista conduzida pelo jornalista italiano Tommaso Segantini, Noam Chomsky fala sobre Bernie Sanders, Jeremy Corbyn, e o potencial de cidadãos comuns para protagonizarem mudanças radicais.
Ao longo da sua ilustre carreira, uma das principais preocupações de Noam Chomsky tem sido questionar - e exortar-nos a questionar - os pressupostos e as normas que regem a nossa sociedade.
Na sequência de uma palestra sobre poder, ideologia e política externa dos EUA, que teve lugar no fim-de-semana passado na New School, em Nova Iorque, o jornalista italiano freelancerTommaso Segantini sentou-se com o octogenário para discutir alguns desses mesmos temas, incluindo a forma como eles se relacionam com processos de transformação social.
Para os radicais, o progresso exige perfurar a bolha da inevitabilidade: a austeridade, por exemplo, "é uma decisão política assumida pelos seus autores para os seus próprios fins". Não é implementada, diz Chomsky, "devido a quaisquer leis económicas". O capitalismo americano também beneficia do obscurecimento ideológico: apesar da sua associação aos livres mercados livres, o capitalismo está repleto de subsídios para alguns dos mais poderosos atores privados. Também é preciso estourar esta bolha.
Além de discutir as perspectivas de uma transformação radical, Chomsky comenta a crise da zona euro, se o Syriza poderia ter evitado submeter-se aos credores da Grécia, bem como a importância de Jeremy CorbynBernie Sanders.
E permanece moderadamente optimista: "Ao longo do tempo há uma espécie de trajetória geral no sentido de uma sociedade mais justa, com retrocessos e revezes, como é óbvio".
Numa entrevista há alguns anos atrás, disse que o movimento Occupy Wall Street tinha criado um sentimento raro de solidariedade nos EUA. A 17 de setembro celebrou-se o quarto aniversário do movimento OWS. Qual é a sua avaliação dos movimentos sociais, como o OWS, ao longo dos últimos vinte anos? Têm sido eficazes a promover a mudança? Como poderiam melhorar?
Eles tiveram um impacto; não se fundiram em movimentos persistentes e contínuos. É uma sociedade muito atomizada. Há muito poucas organizações com atividade contínua que têm memória institucional, que sabem como passar para a próxima etapa e assim por diante.
Esta realidade deve-se em parte à destruição do movimento operário, que costumava oferecer uma espécie de base fixa para muitas atividades; atualmente, praticamente as únicas instituições persistentes são as igrejas. Muitas coisas estão ligadas à igreja.
É difícil para um movimento vingar. Existem vários movimentos de jovens, que tendem a ser transitórios; por outro lado, há um efeito cumulativo, e nunca sabemos quando algo vai despoletar um movimento de grandes dimensões. Isto já aconteceu inúmeras vezes: movimento dos direitos civis, movimento de mulheres. Por isso, continuem a tentar até que algo ganhe uma dimensão considerável.
A crise de 2008 mostrou claramente as falhas da doutrina económica neoliberal. No entanto, o neoliberalismo ainda parece persistir e os seus princípios ainda são aplicados em muitos países. Por que, mesmo com os trágicos efeitos da crise de 2008, a doutrina neoliberal parece ser tão resistente? Por que ainda não surgiu uma resposta forte como após a Grande Depressão?
Em primeiro lugar, as respostas europeias têm sido muito piores do que as respostas dos EUA, o que é bastante surpreendente. Nos EUA, existiam esforços moderados no que respeita ao estímulo, flexibilização quantitativa e assim por diante, o que lentamente permitiu a recuperação da economia.
Na verdade, a recuperação da Grande Depressão foi realmente mais rápida em muitos países do que é hoje, por uma série de razões. No caso da Europa, uma das principais razões é que a criação de uma moeda única foi um desastre, como muitas pessoas apontaram. A UE não dispõe de mecanismos para responder à crise: a Grécia, por exemplo, não pode desvalorizar a sua moeda.
A integração da Europa teve uma evolução muito positiva em alguns aspectos e foi prejudicial noutros, especialmente quando se está sob o controlo de potências económicas extremamente reacionárias, que impõem políticas economicamente destrutivas e que são basicamente uma forma de guerra de classes.
Por que não há reação? Bem, os países mais fracos não estão a receber apoio de outros. Se a Grécia tivesse tido o apoio de Espanha, Portugal, Itália e outros países talvez tivessem sido capazes de resistir às forças eurocratas. Estes são uma espécie de casos especiais que têm a ver com desenvolvimentos contemporâneos. Na década de 1930, lembre-se que as respostas não eram particularmente atraentes: um delas era o nazismo.
Há vários meses, Alexis Tsipras, líder do Syriza, foi eleito como primeiro-ministro da Grécia. No final, no entanto, teve de fazer muitos compromissos devido à pressão que lhe foi imposta por potências financeiras, e foi forçado a implementar duras medidas de austeridade.
Considera que, em geral, é possível uma verdadeira mudança quando um líder esquerdista radical como Tsipras chega ao poder, ou os Estados-nação perderam a sua soberania e são muito dependentes de instituições financeiras que podem discipliná-los se não quiserem seguir as regras do mercado livre?
Como já afirmei, no caso da Grécia, se o país tivesse usufruído do apoio popular de outras partes da Europa, poderia ter sido capaz de resistir ao ataque da aliança da banca eurocrata. Mas a Grécia estava sozinha - não tinha muitas opções.
Há muito bons economistas como Joseph Stiglitz que pensam que a Grécia deveria apenas ter saído da zona euro. É um passo muito arriscado. A Grécia é uma economia muito pequena, não é propriamente uma economia de exportação, e seria muito fraca para resistir a pressões externas.
Há pessoas que criticam as táticas do Syriza e a posição que tomou, mas eu acho que é difícil ver quais as opções que tinha mediante a falta de apoio externo.
Vamos imaginar, por exemplo, que Bernie Sanders ganhou as eleições presidenciais de 2016. O que acha que aconteceria? Ele poderia causar uma mudança radical nas estruturas de poder do sistema capitalista?
Suponhamos que Sanders ganha, o que é bastante improvável num sistema de eleições compradas. Ele estaria sozinho: não tem representantes no Congresso, não tem governadores, não tem apoio na burocracia, não tem deputados; e, estando sozinho neste sistema, não podia fazer muito. Uma alternativa política real é transversal, e não apenas uma personalidade na Casa Branca.
Teria de ser um movimento político amplo. Na verdade, penso que é importante que na campanha de Sanders estejam a ser levantadas questões, se pressione os principais democratas um pouco num sentido progressista, e que estejam a ser mobilizadas várias forças populares, e o resultado mais positivo seria elas permanecerem após a eleição.
É um erro grave focarmo-nos apenas na extravagância eleitoral quadrienal e, em seguida, ir para casa. Não é assim que as mudanças acontecem. A mobilização pode levar a uma organização popular contínua, o que poderia ter efeitos a longo prazo.
Qual é a sua opinião sobre a emergência de figuras como Jeremy Corbyn, no Reino Unido, Pablo Iglesias em Espanha, ou Bernie Sanders nos EUA? É um novo movimento de esquerda em ascensão, ou são apenas respostas esporádicas à crise económica?
Depende da reação popular. Vejamos Corbyn na Inglaterra: ele está sob ataque feroz, e não apenas a partir do establishment conservador, mas inclusive a partir do establishment dos trabalhistas. Oxalá Corbyn seja capaz de resistir a este tipo de ataque; o que depende do apoio popular. Se o público está disposto a apoiá-lo face à difamação e táticas destrutivas, então ele pode ter um impacto. O mesmo acontece com o Podemos em Espanha.
Como é possível mobilizar um grande número de pessoas num contexto tão complexo?
Não é assim tão complexo. A tarefa dos organizadores e ativistas é ajudar as pessoas a entenderem e a fazê-las reconhecer que têm poder, que não são impotentes. As pessoas sentem-se impotentes, mas isso tem de ser superado. É disso que se trata a organização e o ativismo.
Às vezes funciona, às vezes não, mas não há nenhum segredo. É um processo de longo prazo – sempre foi assim. E teve sucessos. Ao longo do tempo há uma espécie de trajetória geral no sentido de uma sociedade mais justa, com retrocessos e revezes, como é óbvio.
Então diria que, durante a sua vida, a humanidade progrediu na construção de uma sociedade um pouco mais justa?
Houve enormes mudanças. Basta olhar aqui para o MIT. Dê um passeio pelo corredor e olhe para a comunidade estudantil: metade são mulheres, um terceiro minorias, informalmente vestidos, estabeleceram-se relações casuais entre as pessoas e assim por diante. Quando cheguei aqui em 1955, se tivesse atravessado o mesmo corredor, veria machos brancos, de casaco e gravata, muito educados, obedientes, sem levantarem muitas perguntas. É uma mudança enorme.
E não é só aqui - é em todos os lugares. Nós não teríamos este aspeto, e, de facto, você provavelmente não estaria aqui. Essas são algumas das mudanças culturais e sociais que tiveram lugar graças ao ativismo comprometido e dedicado.
Noutros setores não se produziram essas mesmas mudanças, como no movimento sindical, que tem estado sob forte ataque ao longo de toda a história americana e particularmente desde o início dos anos 1950. Ele foi seriamente enfraquecido: no setor privado é marginal, e está agora a ser atacado no setor público. Isso é um retrocesso.
As políticas neoliberais são, certamente, um retrocesso. Para a maioria da população nos EUA, tem existido essencialmente estagnação e declínio na última geração. E não por causa de quaisquer leis económicas. Estas são políticas. Assim como a austeridade na Europa não é uma necessidade económica - na verdade, é um disparate económico. Mas é uma decisão política assumida pelos seus autores para os seus próprios fins. Creio que, basicamente, é uma espécie de guerra de classes, e é possível resistir, mas não é fácil. A história não segue uma linha reta.
Como irá o sistema capitalista sobreviver, tendo em conta a sua dependência dos combustíveis fósseis e o seu impacto sobre o meio ambiente?
O que é chamado de sistema capitalista está muito longe de qualquer modelo de capitalismo ou mercado. Veja as indústrias de combustíveis fósseis: umestudo recente do FMI tentou estimar o subsídio que as empresas de energia recebem dos governos. O total foi colossal. Creio que foi de cerca de 5 biliões de dólares anuais. Isso não tem nada a ver com mercados e capitalismo.
E o mesmo se aplica a outros componentes do chamado sistema capitalista. Até agora, nos EUA e noutros países ocidentais, tem-se registado, durante o período neoliberal, um aumento acentuado da financeirização da economia. As instituições financeiras nos EUA tinham cerca de 40 por cento dos lucros corporativos na véspera do colapso de 2008, do qual tinham uma grande parcela de responsabilidade.
Há um outro estudo do FMI que investigou os lucros dos bancos norte-americanos, e descobriu que estes estavam quase inteiramente dependentes de subvenções públicas implícitas. Há uma espécie de garantia - não é no papel, mas é uma garantia implícita - de que se estiverem em apuros vão ser socorridos. A isso chama-se grandes demais para falirem.
E as agências de rating sabem-no, têm isso em conta, e com um rating elevado, as instituições financeiras têm acesso privilegiado a crédito mais barato, recebem subsídios caso as coisas corram mal e muitos outros incentivos, o que efetivamente talvez equivalha ao seu lucro total. A imprensa de negócios tentou fazer uma estimativa desse número e chegou a cerca de US 80 mil milhões de dólares ao ano. Isso não tem nada a ver com o capitalismo.
Acontece o mesmo em muitos outros sectores da economia. Portanto, a verdadeira questão é: irá este sistema de capitalismo de Estado, que é o que é, sobreviver à utilização contínua de combustíveis fósseis? E a resposta para isso é claro que não.
Até agora, há um consenso muito forte entre os cientistas que dizem que uma grande maioria dos combustíveis fósseis restantes, talvez 80 por cento, tem de ser deixada no solo, se queremos evitar um aumento da temperatura que seria muito letal. E isso não está a acontecer. Os seres humanos podem estar a destruir as suas hipóteses de sobrevivência decente. Não mataria todas as pessoas, mas mudaria o mundo de forma dramática.
Publicado em Jacobin

Tradução de Mariana Carneiro para o Esquerda.net.

ESCÁRNIO: Prêmio a Alckmin por gestão hídrica é 'afronta ao paulistano', diz Instituto de Defesa do Consumidor




‘É um prêmio à leniência e à omissão total’, afirmou o gerente da instituição. São Paulo enfrenta, desde o ano passado, a maior crise de abastecimento de água da história

São Paulo – O anúncio ontem (22), pela Câmara dos Deputados, de prêmio ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por boa gestão hídrica no estado, que enfrenta sua maior crise de abastecimento de água da história, foi considerado uma “afronta ao povo paulistano”, pelo Instituto de Brasileiro de Defesa do Consumidor, que monitora os problemas de abastecimento no estado. A premiação ocorrerá em 13 de outubro.

“É um prêmio à leniência e à omissão total”, afirmou o gerente técnico da instituição, Carlos Thadeu de Oliveira. “É uma afronta ao povo paulistano. O deputado que concedeu o prêmio (João Paulo Papa, do PSDB-SP) não sabe do que está falando.” A indicação de Alckmin ao Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação 2015 ocorreu pelo fato de ele governar o estado brasileiro que mais se aproxima da universalização do saneamento básico.

O governador disse hoje que o prêmio, “modéstia à parte, é merecido”, durante uma reunião dos Conselhos Comunitários de Segurança da Grande São Paulo (Consegs). “São Paulo é hoje um modelo para o Brasil do ponto de vista de recursos hídricos. Por quê? Primeiro, não teve seca só em São Paulo. Teve em 1.500 municípios. O único ente federativo que deu bônus para evitar desperdício foi São Paulo. Nenhum estado, nenhuma prefeitura, nem o governo federal, ninguém fez nada. Nós demos o bônus”, disse.

“Sabemos que essa crise não é inesperada e o enfrentamento em São Paulo tem sido, tecnicamente, o pior possível, sem sequer planejamento e transparência”, critica Oliveira. “Nenhuma das medidas que ele tomou tem nada de revolucionário nem de boa gestão. Ele demorou para implantá-las e ainda tem a pachorra de dizer que fez interligação de sistemas. Nós sabemos que as obras estão todas atrasadas e que são bem duvidosas do ponto de vista técnico. Além disso, não existe investimento. Na cidade de São Paulo, só 27% do esgoto é tratado. É uma vergonha.”

O Sistema Cantareira, principal fornecedor de água para a Grande São Paulo, operava ontem com apenas 16,3% de sua capacidade, segundo dados da Sabesp. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) informou que o problema da falta de água é resultado da falta de planejamento do governo paulista. O órgão relatou que a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos (SSRH) recebeu vários alertas sobre a necessidade de um plano de contingência.

Já a coordenadora institucional da Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, Maria Inês Dolci, acredita que o prêmio pode “incentivar o governador a realmente trazer para o estado uma solução para crise hídrica, que é a maior da nossa história”. “Temos a questão também do problema de falta de água, que não é só em São Paulo, mas ele foi premiado por ações inovadoras, que podem fazer a diferença nesse momento.”

Alckmin foi escolhido para o prêmio na categoria Personalidades, ao lado de Jaime Lerner (ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná), indicado pelo deputado Toninho Wandscheer (PT-PR) pelo modelo de mobilidade urbana, de preservação de áreas verdes e de reciclagem implantado na capital paranaense; e de Eduardo Paes (PMDB-RJ), prefeito do Rio de Janeiro indicado pelo deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), por conta da revitalização da Região Portuária da cidade.
O Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação foi criado pela CDU no último mês de julho e ocorrerá anualmente. De acordo com as regras, cada deputado integrante da comissão, entre titulares e suplentes, pode indicar até três nomes de entidade ou pessoa jurídica, e até três nomes de personalidades, todos ligados a uma das áreas: mobilidade, saneamento e habitação. A seleção dos premiados é feita por votação entre os parlamentares do colegiado.

A cerimônia de premiação da 1ª edição ocorrerá na abertura do 3º Seminário Internacional de Mobilidade e Transportes, no dia 13 de outubro, às 20h, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados. Os premiados receberão um diploma de menção honrosa, uma medalha e a estatueta Lucio Costa, criada e produzida pelo artista, escultor e músico Edgar Duvivier. ( RBA )
http://ocorreiodaelite.blogspot.com.br/2015/09/escarnio-premio-alckmin-por-gestao.html

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Brizola, as praias, o racismo e a Globo

praia

Por Douglas Belchior


Em agosto último, o noticiário alternativo denunciou ao mundo a prática racista da PM do Rio de Janeiro que, a mando dos governos municipal e estadual, impediram a chegada de ônibus vindo do subúrbio à zona Sul do Rio, reduto das famosas praias e da gente branca e rica que vê na presença de jovens negros, não apenas um risco de arrastões mas também um incômodo pela simples presença de seus corpos.

Carta CapitalRevista ForumBrasil247DCM,  Esquerda DiárioBrasil PostCatraca LivreEbcJusBrasilEl Pais e até as vendidas ExtraGlobo e Folha deram destaque ao fato que, de novo, não tem nada.

A praia não pertence a alguns poucos. Pertence a todos. É como os canais de televisão: Pertence a todos. Um concessionário não pode discriminar.”


Passeando pelo FaceBook, eis que a time line me apresenta um vídeo de Leonel Brizola, em entrevista ao Jô Soares na primeira metade dos anos 90, ainda enquanto governador do Estado do Rio de Janeiro. Nele, o saudoso governador faz uma brilhante narrativa sobre o papel da Rede Globo e das elites cariocas na massificação do ódio, do racismo e da política de higienização historicamente imposto à cidade.

Vale muito a pena assistir.


Disponível também na FanPage Iconoclastia Incendiária, via Face de Tamara Naíz.

A sorte está lançada: Eduardo Cunha, maior delinquente em atividade no país, parte para o golpe

Citado por delator, Cunha abre alas para o golpe

No mesmo dia em que foi citado por mais um delator da Lava Jato, que o acusou de ser responsável pela nomeação da diretoria internacional da Petrobras, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu seu parecer sobre o rito de eventual pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff; Cunha afirmou que, mesmo que o pedido seja rechaçado por ele, caberá recurso em plenário; roteiro do golpe prevê exatamente isso: Cunha rejeita o pedido e, em seguida, um parlamentar da oposição apresenta o recurso; para que tenha início o golpe parlamentar contra a presidente Dilma, serão necessários 342 votos dos 513 deputados; a sorte está lançada.

247 – No mesmo dia em que foi citado por mais um delator da Lava Jato, que o acusou de ser responsável pela nomeação da diretoria internacional da Petrobras (leia mais aqui), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu seu parecer sobre o rito de eventual pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

Cunha afirmou que, mesmo que o pedido seja rechaçado por ele, caberá recurso em plenário; roteiro do golpe prevê exatamente isso: Cunha rejeita o pedido e, em seguida, um parlamentar da oposição apresenta o recurso; para que tenha início o golpe parlamentar contra a presidente Dilma, serão necessários 342 votos dos 513 deputados (saiba mais aqui).

A sorte está lançada. Abaixo, reportagem da Reuters sobre a decisão de Cunha:


Cunha diz ser possível recurso se pedido de impeachment contra Dilma for negado

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apresentou nesta quarta-feira sua resposta a questão de ordem sobre pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em que afirma ser possível apresentar recurso a eventual recusa do pedido em um prazo de cinco sessões da Casa.

A oposição apresentou questão de ordem na semana passada sobre pedido de impeachment e já havia alertado que pretende apresentar um recurso caso Cunha rejeite pedidos que aguardam decisão na Casa. 

(Por Leonardo Goy)
no: http://caviaresquerda.blogspot.com.br/2015/09/a-sorte-esta-lancada-eduardo-cunha.html

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Judiciário gasta quase R$ 4 bi com a farra das mordomias




O caro leitor teria conhecimento de alguém em sua família que já recebeu auxílio funeral? Não? Então, certamente, não tem nenhum parente magistrado, desses que são chamados de meritíssimos.

Pois esta é apenas uma das várias mordomias dos ilustres togados, em benefícios que vão muito além do respeitável teto constitucional de R$ 33,7 mil de salário mensal, estabelecido para o funcionalismo público dos três poderes.

Auxílio educação, auxílio funeral, auxílio transporte, auxílio moradia, verbas para passagens e diárias, entre outras despesas extras pagas com dinheiro público, virou uma farra. O custo destes chamados "penduricalhos" é de R$ 3,8 bilhões por ano, elevando os gastos anuais do Poder Judiciário para um total de R$ 61,2 bilhões.

Para se ter uma ideia de grandeza, este valor corresponde a duas vezes o deficit fiscal (R$ 30,5 bilhões) apresentado pelo governo na proposta orçamentária para 2016, que levou o governo a anunciar um novo pacote econômico na semana passada.

Entre outras medidas, o pacote prevê um corte das emendas parlamentares igual ao valor das mordomias dos magistrados, segundo dados do relatório "Justiça em Números", divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça e revelado nesta segunda-feira pelos repórteres Italo Nogueira e Marco Antônio Martins.

Em tempos de ajuste fiscal e intermináveis discussões sobre o corte de despesas no orçamento federal, curiosamente o Judiciário, e também o Legislativo, não param de aumentar seus gastos, como se fossem poderes de um outro país que nada em dinheiro.

Ainda esta semana, o Congresso vai votar os vetos da presidente Dilma Rousseff a projetos que aumentam os gastos públicos — entre eles, o que concede um reajuste médio de 59,9% aos servidores do Judiciário, nos próximos quatro anos, o que representa mais R$ 25,7 bilhões.

É claro que os nobres parlamentares e os magistrados precisam de recursos para bem exercer suas funções, mas cabe uma singela pergunta: será que precisam mesmo de tanto, não dá para cortar um pouco em vez de aumentar os gastos?

Se o Executivo não para de anunciar que está cortando na própria carne para poder aprovar o pacote fiscal com criação e aumento de impostos, por que os outros poderes, sustentados com os mesmos recursos do Tesouro Nacional, não podem também contribuir com a sua parte? E ninguém fala nisso.
vi no: http://www.contextolivre.com.br/2015/09/judiciario-gasta-quase-r-4-bi-com-farra.html