O turbulento cenário político grego ganhou mais uma novidade: a reeleição de Tsipras e a vitória do Syriza no pleito eleitoral. A “esquerda radical” obteve 35% dos votos, o que possibilitou eleger 145 deputados e junto com os Gregos Independentes, alcançar 155 deputados – num total de 300 – e ter maioria para governar [1]. Ainda existe a forte possibilidade de outros agrupamentos de centro-esquerda e direita entraram no governo de Tsipras. A campanha marcou a consolidação do Syriza como o novo gestor da austeridade antipovo. Tsipras conseguiu, inclusive, está à direita do partido de direita Nova Democracia. O líder da Nova Democracia afirmou em debate televisivo que seu partido era contra o pagamento total da “dívida grega”, que até os credores sabem que a “dívida é impagável” e questionou Tsipras por que ele continua defendendo pagar a dívida integral; o líder há pouco tempo idolatrado por várias organizações de esquerda no mundo, afirmou que não só que seu governo pagará a dívida – com todas as consequências disso – como ignorou o resultado da auditória da dívida que seu próprio governo fez.
No discurso de posse, Tsipras diz “a crise não vai acabar magicamente, mas vai acabar. Com trabalho duro e planejamento, com persistência e espírito de luta. Com medidas para fazer arrancar a economia e regressar ao crescimento, mas um crescimento com marca socialista para incluir a redistribuição da riqueza e a proteção dos mais fracos” [2]. É notável a ausência de qualquer proposta econômica concreta. É uma série de palavras vazias e conciliatórias; a ausência total de qualquer crítica à Troika, austeridade ou a política alemã deixa bem claro o que será o novo velho governo do Syriza. Além de ter conseguido reavivar a legitimidade popular da austeridade, Tsipras mostra que o Syriza, enquanto partido, não existe mais (se é que um dia existiu). O próximo congresso do Syriza será realizado num cenário em que Tsipras é a figura política mais popular do país, seu grupo político o dominante no parlamento grego e as tendências de esquerda do Syriza mortas politicamente.
As tendências de esquerda do Syriza mostraram sua ineficácia e irrelevância. A cada nova medida pró-austeridade da direção do Syriza, a “esquerda” do partido contentava-se em soltar belos manifestos e declamar discursos ácidos no parlamento sem alterar em nada a correlação de forças. Ao montarem a Unidade Popular com base em figuras de destaque midiático, mas sem base de massas, os ex-membros do Syriza descobriram que criaram um monstro que os engoliu. A UP obteve apenas 2.86% dos votos. O Antarsya, o novo queridinho da esquerda brasileira que ficou órfão com a traição de Tsipras, teve menos votos ainda, 0.86%. Apenas o Partido Comunista Grego (KKE) conseguiu uma significativa representação parlamentar mantendo seus 15 deputados (5,57% dos votos) [3].
A conjuntura grega coloca um governo de direita e pró-austeridade com maioria no parlamento e forte legitimidade social, demonstra a falência da Unidade Popular e suas celebridades, a baixíssima adesão social que tem o Antarsya (mostrando que a organização não é uma alternativa histórica nesse momento) e consolida o KKE como a única oposição no Parlamento e a principal força de oposição à austeridade nas ruas, sindicatos, movimento estudantil, movimento de desempregados, etc. O fato, porém, é que se o KKE consolida-se como principal alternativa aos trabalhadores e trabalhadoras, mas não consegue nesse momento aumentar sua base social e eleitoral de forma significativa, e para piorar, os jovens entre 18e 24 tendem cada vez mais à direita e/ou nazismo. É necessário e urgente que o KKE avalie seus erros e procure remediá-los. Os comunistas gregos são mais do que nunca a única grande alternativa [nesse momento] na Grécia.
[1]- www.cartacapital.com.br/internacional/uma-segunda-chance-para-tsipras-4425.html
[2] –http://www.infogrecia.net/2015/09/tsipras-congratula-se-com-enorme-vitoria-nas-urnas/
[3] –http://www.infogrecia.net/2015/09/eleitores-gregos-derrotam-sondagens-outra-vez/
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