É verdade. O grande problema do Brasil são as corporações. Elas querem tudo, nada cedem e comportam-se com voracidade. Agem em bloco. Parasitam tudo. Só pensam nos próprios interesses. Condicionam governos, pressionam a mídia, paralisam setores inteiros quando seus privilégios são ameaçados. Afetam decisivamente as políticas públicas. Controlam “de forma estruturada e hierárquica uma cadeia produtiva” gerando “um grande poder econômico, político e cultural”. Desequilibram a democracia. As corporações mandam em nós. Manipuladas por muito poucos, representam o “principal núcleo de poder”. Sugam tudo e todos. Não perdoam, devoram.
Os governos estão reféns das corporações.
O economista Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP, no seu livro “A era do capital improdutivo”, assina as frases citadas entre aspas acima. Ele mostra, com base em pesquisas recentes, que menos de 1% das empresas globais controla cerca de 40% do mercado internacional. As corporações mais vorazes são as empresariais. Apenas 737 players (corporações adoram essa palavra) controlam cerca de 80% do capital de todas as empresas mundiais. Corporações empresariais financiam campanhas políticas para impor reformas trabalhistas e previdenciárias. Nos Estados Unidos, desde 2010, elas foram liberadas para gastar mais com política. É assim que mandam no mundo e em nós.
Dowbor revela o que está em jogo: “Quando há milhões de empresas, há concorrência real. Ninguém consegue ‘fazer’ o mercado ditar os preços e muito menos ditar o uso dos recursos públicos”. Quando as corporações empresariais dominam tudo, até o mercado se dobra. Os governos viram fantoches. O eleitor não passa de um iludido: “Nesta articulação em rede, com um número tão diminuto de pessoas no topo, não há nada que não se resolva no campo de golfe no fim de semana”. Os dados são do ETH (Instituto Federal Suíço de Pesquisas Tecnológicas). A corporação empresarial financia políticos e patrocina a mídia para centrar fogo nos sindicatos e nos funcionários públicos.
O corporativismo que asfixia, contudo, matando quase toda possibilidade de eliminação da desigualdade global, é o empresarial. Dowbor dá o caminho interpretativo: “O resultado é uma dupla dinâmica de intervenção organizada para a proteção dos interesses sistêmicos, resultando em corporativismo poderoso, e o caos que trava qualquer organização sistêmica racional. O gigante corporativo, que abraça muito mais recursos do que sua capacidade de gestão, é demasiado fechado e articulado para ser regulado por mecanismos de mercado, e poderoso demais para ser regulado por governos eleitos”. As corporações financeiras impedem investimentos no setor produtivo. Vivem numa bolha. Compram consciências e vendem distorções simplistas.
Precisamos lembrar todos os dias: as corporações nos ameaçam.
Elas não pensam em bem-estar social. Preocupam-se exclusivamente com seus lucros. Algumas operam mais nos computadores, lidando com transferências e apostas virtuais, do que com realidades palpáveis e produtivas. Outras investem em desregulamentação e precarização quando lhes é fundamental. Compram leis e legisladores. Vendem fake-news, compram consciências.
Cuidado com as corporações!