sábado, 5 de maio de 2012

Silêncio gritante: na cobertura da CPI mídia não fala de suas ligações com crime organizado



Odair Cunha e Vital do Rego 
recebem documentos da PF
Há um assunto que ronda a CPI do Congresso sobre Carlinhos Cachoeira que praticamente não aparece na mídia tradicional, embora esteja bombando nas redes sociais: as trocas de informações e favores entre o grupo do empresário e veículos de imprensa, com destaque para a revista VEJA. A cortina de silêncio que a mídia mantém sobre o assunto é quebrada raramente.
TV Record foi uma exceção quando tratou do tema de forma explícita, o que já destacamos aqui no blog (veja o programa). AFolha de S.Paulo intercalava longos silêncio com, vez ou outra, um registro do escândalo e das relações deste com a mídia. Ontem e hoje, ela trata diretamente do tema.
Antes a Folha reproduziu trechos de declarações do deputado Paulo Teixeira (SP), ex-líder do PT e membro da CPI, em que ele afirma que jornalistas cooptados pelo esquema Cachoeira deveriam ser ouvidos.
Em sua edição de hoje, o mesmo jornal publica entrevista que lhe foi concedida - e ao portal UOL - na qual o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG) afirma que não há tema proibido a ser investigado pela comissão e que "se houve cooptação e corrupção de alguns atores da mídia, isso deve ser investigado".
Condutas que serviram ao crime organizado têm de ser investigadas
O relator deixa claro a observância de critérios e os cuidados da CPI neste caso, quando afirma àFolha/UOL: "É preciso individualizar condutas. Quer seja entre alguns membros da imprensa, membros do empresariado brasileiro, membros do Congresso Nacional, agentes de governos municipais e estaduais e agentes do governo federal. Essas condutas que, individualizadas, serviram à organização criminosa, têm que ser investigadas por nós."
A gravidade da situação, observem, vem do lugar institucional que a imprensa ocupa na democracia. Não é à toa que a Constituição brasileira protege, por exemplo, o sigilo da fonte dos jornalistas. Isso ocorre porque à imprensa cabe o papel de informar a população sobre o que acontece.
Ela não têm, porém, o direito de utilizar o espaço público e institucional que lhe é garantido por lei para defender interesses escusos, sejam dos proprietários e sócios dos veículos, sejam de grupos criminosos. Sua obrigação é informar da forma mais ampla e isenta possível.
Mídia não pode considerar-se acima e fora da lei
Há veículos de comunicação que gostam de confundir liberdade de imprensa com liberdade de empresa e de transformar essa mesma liberdade no direito de alguns poucos proprietários de veículos e de seus jornalistas mais próximos de fazerem o que bem entendem.
No Brasil existe a mais ampla liberdade de expressão e nós a defendemos. Inclusive, com a perda de vidas de valorosos combatentes como aparece agora no livro Memórias de uma Guerra Suja (leia a nota). Durante toda a minha vida tenho me dedicado à defesa da liberdade de expressão e, portanto, da liberdade de imprensa, que é filha daquela.
Mas esta liberdade não dá à imprensa salvo conduto para publicar mentiras sobre quem quer que seja e muito menos para agir em conluio com o crime, ou para praticar atividades ilegais. Numa democracia de verdade, ninguém pode estar acima da lei. Nem mesmo a mídia, por mais poderosa que seja, por mais imune que se imagine.
Inquérito da PF mostra troca de informações
Concordo portanto com os deputados Paulo Teixeira e Odair Cunha quando destacam que o assunto tem que ser investigado - um tema a ser analisado pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Entre o material já divulgado, principalmente, pelos blogs independentes de veículos de comunicação - e que estão dando de 10 a zero na mídia tradicional - cita-se claramente a troca de informações entre o pessoal do Carlos Cachoeira e reportagem favorável aos jogos eletrônicos no Correio Braziliense, que consta também do relatório do delegado responsável pelo inquérito.
As escutas da Polícia Federal (PF) contabilizam um grande número de telefonemas entre a chefia da  sucursal da revista Veja em Brasília e a turma de Cachoeira. Há indícios de que a revista teria negociado a publicação de material de interesse do bicheiro em troca de informações. Quais reportagens ou informações publicadas foram fruto desses acordos?
A CPI definiu os trabalhos e depoentes no seu primeiro mês de existência. O depoimento de Carlinhos Cachoeira está marcado para o próximo dia 15. Os parlamentares da Comissão precisam levantar essa questão da troca de informações e interesses entre  a imprensa e as atividades criminosas.
Tem que seguir o exemplo da Grã-Bretanha, país com leis e regulamentação própria sobre a imprensa. Ali, a partir do caso das escutas clandestinas do jornal News of The World, de Rupert Murdoch, a comissão nacional de auto regulação foi desmoralizada e agora se trabalha para uma revisão na legislação.
Foto: José Cruz/ABr
No Blog do Zé

A crise moral da notícia



Imagine-se um gestor público entregue ao superfaturamento, à licitação direcionada e ao pagamento de serviços mal feitos. Este é o tipo de prevaricação que, normalmente, o cidadão comum entende como “roubar do Estado”. Em torno disso costuma girar o foco denunciativo da imprensa, ampliado por um tráfico de influências ao qual não escapam autoridades dos três poderes constituídos da República. É tal a proliferação dos escândalos e a amplitude do apodrecimento moral que se torna cada vez mais difícil para o leitor não especializado o acompanhamento racional dos casos, assim como o discernimento do que está em jogo nas denúncias.
A questão do discernimento é propriamente ética e, em última análise, um dos fundamentos da imprensa moderna. Em meio à crise do momento, ela aparece com mais clareza quando se toma conhecimento de que um órgão de imprensa (no caso, a revista Veja) foi manipulado no passado recente pelo bicheiro situado no centro da atual CPI, com o objetivo de detonar denúncias capazes de afetar grupos rivais (casos da propina dos Correios, da Operação Satiagraha etc.).
Diante de parcerias dessa natureza, a que se agregam declarada ou sub-repticiamente partidos políticos e autoridades constituídas, perdem-se as balizas éticas que deveriam nortear os comportamentos e as atitudes morais dos agentes sociais.

Mercado no comando

Na realidade, o fenômeno da perda dessas “balizas” tem origem na própria normalidade política do atual regime republicano, contaminada por uma espécie de “herança maldita” do regime militar, que é o excesso de centralização administrativa por parte da União. Os escândalos decorrem da impossibilidade de se abafar a podridão moral inerente às escaramuças em torno da tomada de decisões políticas e da apropriação privada de recursos públicos.
Tudo isso se agrava com a impunidade sistemática, alimentada pelo corporativismo parlamentar e pelo oportunismo judiciário. E com esse quadro institucional, um pano de fundo de carência ético-política, as “profecias autorrealizadoras” da mídia podem se tornar fatos sociais.
O que significa uma “profecia” dessas? Em termos concisos, é a dimensão reflexiva – no sentido de praticar e receber a ação ao mesmo tempo – dos textos informativos. O discurso midiático não é meramente informativo, mas também autoconfirmativo, o que leva à hipótese de uma circularidade: a representação dos fatos, por mais veraz que seja, põe em jogo crenças ou pressupostos tendentes a validar essa mesma veracidade.
Não é nenhuma novidade a hipótese de que a atividade de produzir enunciados informativos na esfera pública (o jornalismo) modifica o objeto da informação, ou seja, o fato. O discurso da informação é, em consequência, operativo e performativo, ocasionando uma circularidade: a enunciação fazo que o enunciado diz. Neste caso, verifica-se a profecia autorrealizadora, ou seja, uma suposição ou predição que, só pela única razão de ter sido feita, converte em realidade o fato suposto, esperado ou profetizado e, desta maneira, confirma a sua própria “objetividade”.
Em nosso jornalismo cotidiano, escrito e televisivo, esse mecanismo atua na própria definição do que seja uma questão pública ou na implementação de uma opinião dominante. Claro, há sempre meios de se fazer confrontarem os enunciados jornalísticos com a sucessão histórica dos fatos sociais, mas isso depende de um espaço público capaz de favorecer o contraditório por meio de debates ou da disseminação de opiniões conflitantes.
Quando é o caso, aparece na própria imprensa – na fissura das contradições entre a factualidade do noticiário cotidiano e a opinião de editorialistas e colunistas – a verdadeira razão, ou pelo menos a razão consensual de um fato. Mas isso acontece com o jornalismo investido de responsabilidade publicística e não apenas mercadológica, o que se torna cada vez mais raro com o controle da informação pelo mercado e sua quase coincidência com o tecido orgânico da própria sociedade, por efeito da internet.

Denuncismo cego

Ora, na medida em que a imprensa agiganta o seu poder como ator social, tornando-se “mídia” (uma forma de vida articulada com mercado e tecnologias da informação) num contexto de esvaziamento do liberalismo clássico, vai-se ampliando tecnologicamente o espaço público tradicional, mas se tornando caducas as exigências comunitárias quanto ao exercício de uma ética civil. A comunidadeé sustentada pelo pressuposto de um compromisso “moral”, entendido como aspiração original e civilizada.
Hoje se informa quase como se respira, o que elimina da função informacional a pausa reflexiva que leva ao discernimento ético. Este discernimento é imprescindível à estabilidade do corpo social. Pressupondo sempre uma “sociedade de seres morais”, a ética toma como sua questão própria o relacionamento entre consciência moral e sociedade. Ela é, portanto, sempre algo concreto, posto em relação com a comunidade, entendida como o locus da reciprocidade entre os atores da vida social.
A proposta histórica do jornalismo é afinar-se eticamente (logo, com virtudes públicas) com a causa da verdade ou com ideais coletivos, tais como a visibilidade das decisões de Estado, o estabelecimento da verdade sobre questões essenciais para a coletividade, a informação isenta sobre a vida cotidiana, a livre manifestação de pensamento etc. É isto precisamente o que Immanuel Kant (1724-1804) chamava de “publicidade” e que conviria hoje melhor designarmos como “publicismo”: a possibilidade de discernimento ético-político sobre a história presente.
Mas é precisamente isso o que deixa de existir quando a imprensa, tornada parceira do fato social, chafurda no lodaçal que está sempre à margem do terreno mais sólido desse mesmo fato. O índice mais evidente desse descaminho é o denuncismo cego, que não visa à saúde da coisa pública, mas ao aniquilamento dos interesses rivais. O exagero da “profecia autorrealizadora” é a autodesmoralização da imprensa livre. E o mais grave: é a obnubilação da consciência moral do público leitor.
Muniz Sodré, jornalista, escritor e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro
No Observatório da Imprensa

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Lei anticorrupção quer punir empresas corruptoras


Empresas como a Delta Construções, acusadas de pagar suborno para obter vantagens passariam a responder na justiça por seus atos, caso Câmara aprove projeto relatado pelo deputado Carlos Zarattini

POR MARIANA HAUBERT
Empresas envolvidas em denúncias de corrupção ou que estejam sendo investigadas por cometer crimes contra a administração pública terão mais motivos para se preocupar, caso a Câmara dos Deputados aprove a chamada Lei Anticorrupção. O projeto de lei 6.826, de 2010, estabelece a responsabilização administrativa e civil de empresas e seus diretores pela prática de atos ilícitos contra a administração pública nacional ou estrangeira. O projeto de lei, editado pelo Poder Executivo, tramita em caráter conclusivo e a previsão é que seja votado na comissão especial em que se encontra na Câmara, no próximo dia 23 de maio. Caso seja aprovado, e não haja requerimento para votação em plenário, seguirá para o Senado.

Na prática, o projeto institui a responsabilidade objetiva das empresas. Atualmente, em casos de corrupção, é preciso que se comprove que a organização enviou alguém para corromper a administração pública. Em muitos casos, quando flagradas, as empresas argumentam que o enviado agia por conta própria, sem autorização, e se livra, assim, de responsabilidade.

Segundo o relator do projeto na Câmara, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), a possibilidade de empurrar a responsabilidade para o funcionário que participou da negociação deixar de existir. O texto da lei estabelece que agora a responsabilização será de quem foi o beneficiário dos atos de corrupção. Ou seja, as empresas. “As empresas sempre acusam seus funcionários e dizem que aquilo que foi praticado é de responsabilidade do funcionário, ou os diretores e presidentes dizem que não sabiam. Mas agora se observará quem recebeu o benefício, ou seja, a empresa corruptora poderá ser punida e não apenas seus diretores, presidentes, acionistas ou qualquer pessoa física que possa responder pelos crimes”, explicou o deputando em entrevista aoCongresso em Foco.

Se, por exemplo, o texto já estivesse em vigor, a Delta Construções S.A., acusada de envolvimento com os negócios ilegais do contraventor Carlinhos Cachoeira, poderia ser punida, e não apenas os seus diretores. Num caso em que ficasse comprovado que, mediante o pagamento de propina, a empresa conquistou algum contrato de obra pública, poderia se dar a responsabilização. Na quarta-feira passada (25), Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta, foi detido em Goiânia e está preso no presídio da Papuda, em Brasília. Ele foi afastado do cargo após a revelação de ter ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira durante a Operação Saint-Michel, segundo o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Abreu é suspeito de corrupção e formação de quadrilha.

Multas e suspensão

De acordo com a legislação vigente, a única pena prevista para empresas corruptoras é a aplicação da declaração de inidoneidade, que impede que instituições nesta situação participem de novos contratos ou licitações. Se aprovada, a nova lei estabelece formas de punição, com multas de até 20% do faturamento bruto da empresa, declaração de inidoneidade por até cinco anos e a suspensão do funcionamento da empresa e algumas outras penas aplicáveis pelo próprio Poder Executivo.

Para Zarattini, o país tem experimentado um período de transformação nas formas de fazer política e também de fazer negócios “que tem uma relação direta com o combate à corrupção”. “Existe uma clara decisão da sociedade – manifesta, por exemplo, em processos de “impeachment”, em cassação de mandatos e em legislações como a Lei da Ficha Limpa –, de romper com o círculo vicioso da corrupção e adotar um estilo de governo e de negócios orientado pela transparência”, afirma o deputado em seu relatório.

Zarattini também afirma que a punição deve ocorrer dentro de parâmetros legais e no menor prazo possível. O deputado explica que “somente assim ficará claro para toda a sociedade que as regras do jogo mudaram, de uma vez por todas, e que os responsáveis por atos lesivos à administração pública, pessoas jurídicas ou pessoas físicas, serão processados e punidos, conforme a lei, de forma rápida e eficaz”.

Acordos internacionais

A aprovação da lei anticorrupção faz parte de uma série de ações que o governo brasileiro está obrigado a adotar para atender a acordos internacionais antisuborno e anticorrupção ratificados pelo país. O Brasil acompanha a Irlanda e a Argentina no grupo de países com legislação considerada deficitária sobre o tema. Apesar de já ter a Lei de Licitações (8.666/1993) e a Lei Antitruste (8.884/1994), o país precisa ter aprovada a sua Lei contra Atos da Administração Pública para ingressar no grupo de países com leis rigorosas contra a corrupção.

A lei protege ainda os princípios constitucionais de liberdade de iniciativa, da livre concorrência, da função social da propriedade, da defesa dos consumidores e dos contribuintes a partir de regras de prevenção e de repressão à concorrência desleal, à infração ou abuso de poder econômico que atentem contra as estruturas de mercado.

Em setembro do ano passado, uma comissão especial foi criada para votar o tema, mas somente na última semana foi apresentado o relatório final. Na ocasião, o deputado Alberto Filho (PMDB-MA) pediu vista e a votação foi adiada para o fim do mês.

Embora a intenção seja aprovar rapidamente o projeto, há ainda um risco de retardamento. Caso 10% dos deputados assinem um requerimento nesse sentido, o projeto terá que passar pelo plenário da Câmara antes de seguir para o Senado. “Temos voto para aprovar o projeto na comissão e enviar diretamente ao Senado, mas estamos conversando com vários deputados para evitar que o texto siga antes para o Plenário da Câmara, pois sabemos que sua votação lá pode demorar meses, havendo até o risco de ser retirado de pauta. É uma matéria importante e precisa ser aprovada, mas infelizmente, sabemos que o lobby das empresas contra o projeto é muito grande”, afirmou Zarattini.

/comunicatudo.

Sem a Delta, mídia e oposição ficam no escuro



Essa tentativa da Globo e suas coirmãs de colocar a Delta como foco principal da CPI do Cachoeira é primária e, agora, inútil. A intenção é botar o PAC na dança e intimidar o governo federal e o PT, de modo a não se investigar o que realmente interessa: as relações do bicheiro com a mídia, notadamente, com a Veja. A repórter Conceição Lemes, do site “Viomundo”, deLuiz Carlos Azenha, revelou que as gestões de Geraldo Alckmin e José Serra, em São Paulo, fizeram contratos de 1 bilhão de reais com a Delta. Logo, essa tentativa de colar a empreiteira com o governo federal só vai dar certo se a bancada governista na CPI, que é maioria, tiver um acesso coletivo de demência e paralisia moral.
A velha mídia fez um acordão para silenciar as ligações de Cachoeira com a Veja, como se não existisse internet, blogs e as redes sociais. É ridículo e inacreditável esse descolamento da realidade. No futuro, será um dos estudos de caso mais interessantes sobre a história do jornalismo no Brasil. Sem a Delta, a mídia perde, também, a capacidade de fazer pressão sobre o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, do PT. Ainda mais depois que se descobriu a dinheirama colocada pelos tucanos na empreiteira nos governos Alckmin e Serra.
Digo mais: se o país perder essa chance de sanear esse esgoto midiático e golpista que nos transformou numa sociedade iletrada e ignorante, o futuro irá nos escorrer pelos dedos, talvez, para nunca mais.
Leandro Fortes
No CartaCapital

São Paulo, governado pelo PSDB há 17 anos, atrasa salários dos professores




Do estadão.com.br 


Parte dos professores da rede estadual de São Paulo está sem receber salário desde o começo das aulas, há três meses. Os atrasos do governo do Estado atingem professores contratados (que não são concursados). Há casos em que o pagamento está previsto para ocorrer, no mínimo, no mês de junho. 


A Secretaria Estadual de Educação não informou exatamente quantos professores não receberam pagamento. Cerca de 29 mil docentes são temporários e trabalham regidos por contrato – 13,4% do total da rede. 


A reportagem conversou com 12 docentes que atuam como temporários – eles trabalham em escolas em vários locais da capital e do interior do Estado. Em fevereiro, a gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia informado que atrasos poderiam acontecer com ingressantes na rede por causa de problemas de cadastramento. Apesar disso, todos seriam pagos na segunda quinzena de março. Mas nada disso se concretizou. 


A falta de pagamentos atinge professores que já atuam na rede há pelo menos um ano, alguns com contratos em vigência. 


Muitos nem sequer têm previsão de receber. E continuam da mesma forma. A professora de Língua Portuguesa Carina Siqueira, de 24 anos, dá aulas na Escola Maria Isabel Fontoura, na zona rural e Cachoeira Paulista, interior de São Paulo. Ela atua na rede há mais de 5 anos como contratada. Seu último contrato, com vigência de um ano, foi firmado em setembro – mesmo sem passar por renovação, não recebeu. 


“Estou dando aulas desde a primeira semana de fevereiro e não recebi nada até agora. Neste mês, meu salário não foi provisionado e não vou receber de novo. Ninguém sabe explicar o porquê, é muito humilhante”, diz ela, que mora em Lorena. 


“Tenho de pegar dois ônibus para dar aula e estou pedindo dinheiro para meu pai. Só estou comendo por causa dele e de outros bicos que tenho feito.” O caso não é isolado. Professora no Estado desde 1991, Janice Aparecida da Silva, de 40 anos, chegou a receber em fevereiro, após muitas reclamações. Nos meses seguintes, entretanto, ficou sem ver o dinheiro. 


“Não consegui comprar os remédios que são de uso contínuo. Ninguém explica nada. Na escola, a culpa é da secretaria. Na diretoria de ensino, é da secretaria, que diz que a culpa é da Fazenda”, diz ela, que está de licença médica. No mês de maio, o pagamento apareceu no holerite, mas abaixo do que ela tem direito. 


Na escola de Juliana, que pede para não ser identificada por medo de represálias, na zona sul da capital, há três professores sem pagamento. “Estou contando com ajuda da minha mãe para pagar as minhas contas e as do meu filho de 9 anos”, diz ela, que trabalha no Estado desde 2009. ‘Absurdo’. 


Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão, o Estado de São Paulo se destaca quando o assunto é atraso de salários. 


“Isso é um absurdo, em dias que se fala em computação, com tudo informatizado, ter problemas de cadastro, desorganização, é inacreditável”, afirma. Em nota, a secretaria alega problemas burocráticos e defende que os casos são pontuais. 


Segundo a pasta, “as diretorias de ensino serão orientadas a verificar casos de profissionais que eventualmente não tenham recebido seus vencimentos para que situações como essas sejam regularizadas”. 


A secretaria também não deu prazo para normalizar a situação. 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Globo continua sua campanha contra o Brasil, em defesa dos bancos e do mercado financeiro



Não é surpresa o comportamento do jornalão das Organizações Globo. Todos sabemos que as Organizações Globo estão sempre contra tudo aquilo que signifique defesa dos interesses do Brasil e dos brasileiros. 

Isso é uma tradição de família, como a perseguição aos Brizola, à Petrobras e aos governos populares, desde Getúlio Vargas, passando por Jango, Lula e agora Dilma. Há 50 anos, O Globo já estampava manchete criticando a criação do décimo-terceiro salário.

Portanto, não há surpresa alguma na manchete de hoje de O Globo, reproduzida na imagem acima. Ao esforço da presidenta e seu governo em combater os juros altíssimos e imorais praticados pelos bancos (os mais lucrativos do mundo), as Organizações Globo respondem com uma campanha contra em todos os seus veículos.

Hoje, criam uma manchete capciosa e mentirosa, "Depois da pressão de Dilma, ações de bancos despencam", querendo linkar opronunciamento da presidenta na ocasião do Dia do Trabalhador a um suposto "despencar" das ações dos bancos.

Em primeiro lugar, as ações dos bancos vêm caindo há meses, entre outras coisas por dificuldades de pagamentos de seus clientes, vítimas dos juros mais escorchantes do planeta.

Em segundo lugar, usar o verbo "despencar" é forçar demais a mão. Nesse modo, o verbo tem o sentido de cair desastradamente de grande altura (Aurelio), o que está longe de ser o caso. As ações do BB caíram, 2,7%, as do Itaú Unibanco (campeão de reclamações do Procon-SP), 2,48%, Bradesco (quarto colocado atualmente, mas o anterior campeão do Procon-SP), 1,4%, e Santander (sobre esse banco leia Mauro Santayana aqui e aqui), "despencou" 0,19%.

Com intuito de defender alguns de seus principais patrocinadores, as Organizações Globo seguem em campanha contra o Brasil e a melhoria de vida de todos os brasileiros. Afinal, é só perguntar a qualquer um se os juros mais baixos não são uma boa para a imensa maioria da população. E boa também para os bancos, pois, com juros menores, mais gente vai pedir crédito e poder honrá-lo.

É questão apenas de eles pararem de querer ganhar dinheiro sem esforço, com juros indecorosos e tarifas caríssimas sobre os mais variados serviços, o que faz do Brasil o lugar perfeito para o ditado que diz: "O melhor negócio do mundo é um banco bem administrado. O segundo melhor negócio do mundo é um banco mal administrado. E o terceiro, um banco falido".

Não é a cara do Brasil atual?

E é esse Brasil que o governo da presidenta Dilma está mudando. E contra a mudança e a favor do mercado estão as Organizações Globo.

Mas, quem sabe, depois dos bancos não chega a vez de nossa Ley de Medios?...
blogdomello

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Vergonha na cara



Será que é isso que nos falta? Esse jeito calhorda de rir de tudo, de fazer piada com tudo, de não levar nada a sério, isso tudo seria falta de vergonha na cara? 
O brasileiro lê no jornal que dos seis mil presos pela polícia federal em dois anos nenhum continua na cadeia. Todos eles roubaram, indiscutivelmente, e muito mais do que a galinha do vizinho. O que acontece com eles? Estão por aí, flanando com o sossego que nos falta, a nós, que perdemos o sono se não conseguimos mais pagar as contas rigorosamenteem dia. Ecomo reage o público? O brasileiro ri, porque alguém, que não gosta de perder tempo, inventa uma piada sobre o assunto. Pronto, estamos todos de alma lavada. O riso quase sempre nos dá uma sensação de superioridade ou dela resulta. Então, toca rir porque segundo um ditado popular, que deve ter nascido aqui, nesta terra de Santa Cruz, “é melhor rir do que chorar”. Um ditado importante, uma vez que serve de suporte para todo livro de autoajuda. 
Lembro-me então daquele ministro chinês (se não me engano da agricultura). Lembro-me de sua expressão aguardando o veredicto dos juízes.  Mas antes de ser mal interpretado, declaro-me solenemente contra a pena de morte.  O ministro chinês olhava para os juízes como quem se despede da vida. Uma expressão de vergonha pela má vida que levou. Qual seu crime? Aproveitou-se do cargo para enfiar a mão no dinheiro público. Foi condenado à morte. 
Ah, que inveja! Não da pena de morte, que nada resolve. Sinto inveja é da vergonha que o ministro chinês tinha grudada no rosto. 
Nós não precisamos de pena de morte, mas uma prisãozinha perpétua, quem sabe uns trinta anos para nossos corruptos, isso diminuiria a bandalheira. 
Este assunto me ocorre por ter recebido uma mensagem, não me lembro de quem, dando conta de que o ministro chinês, Wen Jiabao, em visita ao Brasil, deixou com as autoridades o decálogo das medidas utilizadas por eles para seu desenvolvimento e para a superação das crises econômicas do mundo. Li por alto, não sei de cor. Mas no capítulo da corrupção, o decálogo, lembro-me bem, não era nada indulgente: pena de morte. 
Revista Bula

Quem é o bicheiro Carlinhos Cachoeira e como tudo começou



Família Cachoeira, de pai para filho
É num quarto do Hotel Palace, prédio decadente dos anos 1950 no centro de Anápolis, a 55 km de Goiânia, que mora o mineiro Sebastião Almeida Ramos.
Tião Cachoeira, 82 anos, é pai de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, contraventor preso por suspeita de chefiar a máfia do caça-níqueis no Centro-Oeste.
O bicheiro controla uma rede criminosa com ligações com empresários da mídia, jornalistas, governadores, senadores, prefeitos, juízes, desembargadores, delegados e até padres.
Foi numa cidade em ebulição repleta de migrantes, entre Goiânia e os canteiros da nova capital federal, que Tião começou a trabalhar no comércio ambulante e como apontador de jogo do bicho – o responsável em anotar as apostas.
Mais tarde, ele já estava em sociedade com Pintadinho, um bicheiro tradicional na cidade.

SEPARAÇÃO

Nos anos 1960, Tião se separou da mulher. A separação foi um trauma para os 14 filhos (12 estão vivos), contam ex-vizinhos da família na antiga Vila Góis, em Anápolis.
Carlinhos, Marquinhos, Paulinho e Julinho saíram em defesa da mãe, mas, sem estudo e influência, foram aos poucos ajudar o pai no “negócio” do jogo do bicho.
Tião se desentendeu com Pintadinho. Depois de uma série de atritos, levaram em conta os conselhos de amigos e dividiram as bancas da cidade.
Aos poucos, Carlinhos foi assumindo o “negócio” do pai e abocanhando as bancas de Pintadinho. Já Marquinhos, com quem Carlinhos vivia uma disputa eterna em família, concluiu o ensino médio e passou num concurso do Banco de Brasília.

ASCENSÃO

A guinada de Carlinhos Cachoeira ocorreu nos anos 1990, quando o então governador Maguito Vilela (PMDB) lhe deu a concessão da Loteria do Estado de Goiás, a LEG.
Hoje, Vilela, prefeito de Aparecida de Goiás, se limita a dizer que era apenas um colega de futebol do “menino” Carlinhos nos campinhos de Anápolis.
Foi naquela década que Carlinhos esteve no Rio de Janeiro para se apresentar aos bicheiros Castor de Andrade e Anysio Abraão Davi e frequentar os camarotes das Marquês de Sapucaí, levando sempre os irmãos.
O velho Tião continuava a morar no decadente Hotel Palace, enquanto Carlinhos começava a desenvolver em Goiás.
Carlinhos virou pioneiro no bingo eletrônico e no jogo de caça-níquel no Centro-Oeste. Tião passou a “exercer” a função de jogador incontrolado de caça-níqueis. “Pelo menos o dinheiro volta para a gente”, disse Carlinhos, resignado, numa roda de amigos, segundo um parente.
O velho Tião, que gosta de dizer que é afilhado do ex-presidente Juscelino Kubitschek, é um homem que fala pouco, sempre introspectivo e que não costuma falar de sua vida.

PERILLO

No período que coincide com a chegada de Marconi Perillo (PSDB) ao governo de Goiás, no fim dos anos 1990, Carlinhos ampliou sua rede de contatos e se mudou para Goiânia.
Ali comprou um apartamento no Excalibur, um edifício de apartamentos de luxo no centro da cidade em que residem cantores sertanejos e empresários da soja. Levou junto os irmãos Julinho, visto por alguns como o braço direito dele, e Paulinho, que morava em Uberaba.
Luizinho foi colocado no comando de uma casa de carteado em Anápolis, frequentada por um seleto grupo de empresários. Outro irmão, Juninho, passou a ajudar Carlinhos nas empresas que a família abria em setores legais da economia.

EMPRESÁRIO

Finalmente, Carlinhos virava um empresário do Distrito Agroindustrial de Anápolis, o Daea, aberto há cerca de 25 anos, e que transformou a cidade, atraindo milhares de migrantes.
A cidade que nos anos 1950 tinha 50 mil habitantes hoje abriga 340 mil moradores. A entrada de Carlinhos no Daea era um marco para um homem tímido, que, assim como o pai e os irmãos, nunca ostentou dinheiro e sempre esteve à sombra de poderosos.
Marquinhos deixou o Banco de Brasília e abriu uma loja de factoring em Anápolis. Para o irmão Ricardinho, o Pipoca, sobrou a área que, agora, era a menos rentável: a Girafa, como chamam a “empresa” de jogo do bicho na cidade.

REDE DE AMIZADE

Os amigos da família também foram sendo incluídos nos negócios de Cachoeira. Foi o caso de Frei Valdair, ligado à matriarca Maria José, que recebeu apoio para incrementar a programação da rádio São Francisco, mantida pela Igreja.
Estar perto de Carlinhos também “motivou” os amigos a “crescerem” na vida, afirma um outro parente do contraventor.
Carlos Nogueira, o Butina, amigo apresentado por Frei Valdair, em poucos anos passou de contínuo na rádio para publicitário de sucesso e dono de dois canais fechados de TV e um jornal de abrangência regional.

REDE DO CRIME

A Polícia Federal incluiu na rede comandada por Carlinhos dezenas de políticos, empresários, desembargadores e policiais. É essa rede que a CPI mista do Congresso começará a investigar.
A prisão do contraventor, no dia 29 de fevereiro aparentemente uniu a família, que vivia às turras nos últimos anos. Há cerca de três anos, Marquinhos reclamou que o irmão estava se dedicando demais à “política”. “Virou político”, criticou.
Na última semana, a três amigos, ele contabilizou que o irmão poderia ter repassado R$ 1 bilhão para os “políticos” nestes últimos anos.
“O problema da nossa família é a corrupção. Mas a polícia só quer caçar a gente. Os políticos vão ficar soltos?”, disse.
Da cadeia, Carlinhos Cachoeira mandou dizer que os desabafos em família, e apenas em família, são toleráveis.

Crédito imobiliário cresce 10% no primeiro trimestre de 2012


de 2012

02 Maio, 2012

Marcelle Gutierrez, DCI

“Durante os primeiros três meses do ano, o montante emprestado para a compra econstrução de imóveis  no Brasil foi de R$ 17,6 bilhões, o que representa um crescimento de 9,9% na comparação com o mesmo período de 2011. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de CréditoImobiliário e Poupança (Abecip).

Ao todo, 104,7 mil unidades foram financiadas no ano. O mês de março acumulou o maior volume, de 40,1 mil, acréscimo de 7% em relação a março do ano passado. Em janeiro e fevereiro, 33,6 mil e 30,9 mil imóveis foram financiados, respectivamente. Do total no primeiro trimestre, 61% do crédito tomado foi utilizado para a compra de imóveis usados e 39% novos.

O presidente da Abecip, Octavio de Lazari, revela que a expectativa de crescimento do crédito imobiliário neste ano era menor, entre 8% e 9%, enquanto a expansão foi de aproximadamente 10%. “Esperávamos menos de 10%, porque no início do ano, tradicionalmente, há uma concentração de gastos em pessoa física, como pagamento de IPVA, IPTU, matrícula de escola, entre outros”.

The Economist Intelligence Unit - O sucesso de Dilma


A presidenta foi hábil ao desacelerar a economia e demitir funcionários acusados de corrupção Foto: Wilson Dias/ABr
A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, desfruta de um nível de aprovação extraordinário para uma presidente em seu segundo ano de governo. Ela é mais popular que seus antecessores eram nessa fase de seus mandatos, apesar de uma série de escândalos de corrupção e da crescente oposição de membros de sua própria coalizão multipartidária, que se frustraram com sua relutância em distribuir suficientes cargos no governo e favores políticos. Rousseff também tentou realçar seu perfil no cenário internacional, mas os resultados foram mistos.
A popularidade da presidenta pode ser atribuída a sua hábil condução de uma desaceleração econômica (à qual seu governo reagiu com uma série de medidas de estímulo) e sua disposição a investigar e demitir ministros e assessores acusados de corrupção (seis de seus ministros renunciaram em seu primeiro ano no cargo). Seus índices de aprovação estão não apenas no nível mais alto desde que ela tomou posse, em janeiro de 2011, como também entre os melhores registrados para qualquer líder eleito democraticamente no mundo.
Segundo uma pesquisa de opinião do instituto Ibope feita em março, o índice de aprovação de Rousseff ficou em 77%, 5 pontos percentuais a mais que em dezembro de 2011. Isto se compara com 54% de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, na mesma fase de sua presidência (15 meses), e 57% para o presidente anterior, Fernando Henrique Cardoso. O apoio a Dilma é maior no nordeste (82%), mas também é alto no sudeste (75%), região que com frequência apoia a oposição. Isso mostra que sua base de apoio é mais extensa que a de Lula (cujos seguidores se concentravam no nordeste e entre os eleitores de baixa renda), e também reflete sua crescente popularidade entre as classes média em expansão, juntamente com um apoio ainda forte entre os brasileiros mais pobres.
 Governo firme mas flexível
Os eleitores parecem aprovar o estilo de governo firme de Rousseff, incluindo sua atitude decidida em relação ao Congresso. Ela recentemente conseguiu apagar outra rebelião do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, de centro) e outros partidos menores de sua ampla coalizão. Também conseguiu a aprovação no Legislativo de algumas leis importantes, incluindo a reforma da aposentadoria dos funcionários públicos (Funpresp) e a Lei da Copa (que fornece a estrutura jurídica para os próximos jogos da Copa do Mundo de Futebol).
Mas enfrentou alguns reveses. Em 26 de abril os legisladores aprovaram um polêmico Código Florestal que põe em confronto ambientalistas e proprietários de terras sem os compromissos que o governo havia negociado cuidadosamente. Rousseff pode vetar a lei, mas esse veto pode ser derrubado por uma maioria simples dos legisladores. A lei atenua as regras destinadas a reduzir o desflorestamento, definindo a área de terras que os agricultores devem preservar.
De modo geral, porém, Rousseff demonstrou que seu estilo firme não significa necessariamente um estado de confronto e impasse permanentes com o Congresso. Ela se mostrou flexível e, quando precisou da aprovação de projetos específicos (como o do Funpresp), prontamente liberou algumas verbas para agradar a partidos aliados. As próximas eleições municipais em outubro de 2012 serão um teste importante da popularidade de Rousseff e do atual equilíbrio de poder dentro da aliança governante (especialmente entre o PMDB e o Partido dos Trabalhadores, no governo) e entre outras forças políticas antes da eleição presidencial de 2014. Supõe-se de modo geral que Rousseff disputará outro mandato.
 Política externa vacilante
As recentes incursões da presidente no cenário internacional também demonstraram sua firmeza, embora os resultados tenham sido variáveis. Ela intensificou suas atividades diplomáticas nos últimos meses, demonstrando um estilo firme em suas negociações com homólogos estrangeiros, incluindo os Estados Unidos. Em menos de dois meses Rousseff se reuniu com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com os líderes de Rússia, Índia, China e África do Sul durante uma cúpula dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) na capital indiana, Nova Déli. Ela também teve uma reunião separada com o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, antes de se encontrar com o presidente norte-americano, Barack Obama, em Washington e participar da Cúpula das Américas na Colômbia em meados de abril.
Essas viagens ajudaram a elevar o perfil de Rousseff no plano internacional, mas não fizeram avançar de modo substancial as metas de política externa do Brasil. A começar pela visita aos EUA: Rousseff conseguiu incluir nas discussões a suspensão de um contrato militar que a Embraer (fabricante de brasileira de aviões) havia ganho com a Força Aérea dos EUA, e que mais tarde foi cancelado, exigindo que os EUA o honre. No entanto, a questão mais importante — o desejo do Brasil de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (um objetivo da política externa do país há pelo menos duas décadas) — quase não foi mencionada. Rousseff não foi recebida como chefe de Estado e não recebeu o mesmo apoio que Obama deu ao primeiro-ministro indiano, que também quer um lugar no Conselho de Segurança.
Além disso, os repetidos ataques de Rousseff à “guerra monetária” causam incômodo na Europa e nos EUA há algum tempo, e o fato de ela ter insistido na questão durante suas reuniões com Merkel e Obama (assim como na Cúpula das Américas, mais tarde) causou certa irritação, especialmente na Alemanha. O fato de o Brasil culpar os países desenvolvidos pela guerra monetária, mas evitar cuidadosamente qualquer crítica à China (hoje o principal parceiro comercial do Brasil), não ajuda o argumento de Rousseff.
Com relação ao esforço do Brasil para consolidar sua liderança entre as economias emergentes, iniciativas como o comércio em moedas locais (descartando o dólar americano) ou a criação de um banco de desenvolvimento entre as economias dos BRICs (que funcionaria como um contrapeso ao Banco Mundial) têm pouca probabilidade de avançar em curto e médio prazo. O Brasil e outros países em desenvolvimento não conseguiram chegar a um acordo sobre um candidato comum para a presidência do Banco Mundial como alternativa ao candidato dos EUA, que afinal conseguiu o cargo.