Será que é isso que nos falta? Esse jeito calhorda de rir de tudo, de fazer piada com tudo, de não levar nada a sério, isso tudo seria falta de vergonha na cara?
O brasileiro lê no jornal que dos seis mil presos pela polícia federal em dois anos nenhum continua na cadeia. Todos eles roubaram, indiscutivelmente, e muito mais do que a galinha do vizinho. O que acontece com eles? Estão por aí, flanando com o sossego que nos falta, a nós, que perdemos o sono se não conseguimos mais pagar as contas rigorosamenteem dia. Ecomo reage o público? O brasileiro ri, porque alguém, que não gosta de perder tempo, inventa uma piada sobre o assunto. Pronto, estamos todos de alma lavada. O riso quase sempre nos dá uma sensação de superioridade ou dela resulta. Então, toca rir porque segundo um ditado popular, que deve ter nascido aqui, nesta terra de Santa Cruz, “é melhor rir do que chorar”. Um ditado importante, uma vez que serve de suporte para todo livro de autoajuda.
Lembro-me então daquele ministro chinês (se não me engano da agricultura). Lembro-me de sua expressão aguardando o veredicto dos juízes. Mas antes de ser mal interpretado, declaro-me solenemente contra a pena de morte. O ministro chinês olhava para os juízes como quem se despede da vida. Uma expressão de vergonha pela má vida que levou. Qual seu crime? Aproveitou-se do cargo para enfiar a mão no dinheiro público. Foi condenado à morte.
Ah, que inveja! Não da pena de morte, que nada resolve. Sinto inveja é da vergonha que o ministro chinês tinha grudada no rosto.
Nós não precisamos de pena de morte, mas uma prisãozinha perpétua, quem sabe uns trinta anos para nossos corruptos, isso diminuiria a bandalheira.
Este assunto me ocorre por ter recebido uma mensagem, não me lembro de quem, dando conta de que o ministro chinês, Wen Jiabao, em visita ao Brasil, deixou com as autoridades o decálogo das medidas utilizadas por eles para seu desenvolvimento e para a superação das crises econômicas do mundo. Li por alto, não sei de cor. Mas no capítulo da corrupção, o decálogo, lembro-me bem, não era nada indulgente: pena de morte.
Revista Bula
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