terça-feira, 1 de maio de 2012

Nem tudo o que é sólido desmancha no ar



O ouro que bandeirantes, escravos e aventureiros extraíram de Goiás, Minas e Mato-Grosso, no século 18, foi repassado quase que em sua totalidade à Inglaterra, por força de um tratado que incluía a proteção militar a Portugal e suas caravelas ao redor do mundo. O aporte financeiro do ouro possibilitou à Inglaterra disparar a Revolução Industrial, bancando os custos da mudança de uma produção de bases artesanais por meio das associações de ofício para a produção em escala, tendo como força motriz a máquina a vapor. Vários países detinham o conhecimento para detonar a Revolução Industrial. Dentre eles a França, a Holanda, a Alemanha. Mas foi a Inglaterra quem amealhou os recursos suficientes para a grande virada na economia. Abriu assim as cortinas para o capitalismo contemporâneo. 
Hoje a economia global passa por crises. No entanto, o ouro continua a jorrar para certas empresas. Agora o ouro da Terra é a economia capilar, da computação em nuvem, das empresas pontocom. Conseguem sugar microgotas de sangue de economias e pessoas combalidas em todo o mundo, por meio das redes sociais. Empresas saem do zero a bilhões de dólares num prazo em que, no Brasil, mal daria para se tirar o CNPJ e o alvará de localização. 
Os recursos excedentes das empresas de computação em nuvem estão prestes a dar uma nova e espetacular guinada na economia. Engraçado que é um salto duplo carpado paradoxal: ao mesmo tempo para frente e para trás. Sócios do Google, do PayPal, da Microsoft e outros executivos megamonetizados de segmentos correlatos como o cineasta James Cameron (de “Titanic” e “Avatar”) fundaram uma empresa de mineração, saindo do virtual para o real. Não de uma mineração de cavoucar a terra e coar cascalho com peneiras e bateias. Isto não acresceria nenhum charme às suas personalidades já um tanto fulgurantes. Deixam isso para empreendedores mais toscos, de países emergentes, como Eike Batista. Eles irão garimpar no cosmo, nos asteróides que rodeiam a Terra e outros planetas do sistema solar. Chique, não?  
Os astrônomos garantem que mais de 1500 asteroides (restos de construção do universo que de vez em quando chocam com os planetas) contêm fartas jazidas de metais raros na Terra, como platina, ouro, irídio, ósmio, rutênio, ródio e paládio. Todos extremamente importantes na produção de alta tecnologia. Alguns asteroides detêm inclusive água para ser convertida em combustível, na forma de hidrogênio e oxigênio, para abastecer os robôs garimpeiros e as espaçonaves usadas na logística. 
Os empreendedores mais otimistas acreditam que em menos de uma década  contêineres abarrotados de commodities minerais cósmicos podem estar encostando-se ao pátio de fábricas terrestres. Será a economia virtual salvando a velha e claudicante economia real, permitindo a fabricação de produtos portáteis e populares que hoje só podem chegar a grandes corporações, como os desfibriladores que acudirão tempestivamente aos atacados de enfarto. 
E quem sabe, o meio ambiente terráqueo poderá até se beneficiar do inusitado empreendimento, enviando, como frete de retorno, os nossos dejetos mais tóxicos ultracompactados para tapar os buracos nos asteróides, em vez de ficarem por aqui emporcalhando os nossos mananciais.  

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