Jair Bolsonaro jamais me convenceu no papel de perigoso ultradireitista que fosse capaz de reeditar a Marcha sobre Roma de Mussolini ou de, coroando de êxito alguma versão brazuca do putsch da cervejaria, superar o próprio Hitler.
Sendo o Bozo isso que infelizmente estamos agora sendo obrigados a aturar, dele jamais esperaríamos tal repetição da História, nem mesmo como farsa. Sua única afinidade é com as chanchadas...
Sendo o Bozo isso que infelizmente estamos agora sendo obrigados a aturar, dele jamais esperaríamos tal repetição da História, nem mesmo como farsa. Sua única afinidade é com as chanchadas...
Depois de uma década de carreira militar marcada por iniciativas estapafúrdias e insubmissão a seus comandantes, e de três décadas de trajetória totalmente medíocre nos Legislativos municipal e federal, nada indicava que, da noite para o dia, ele houvesse se transformado num verdadeiro líder, ainda que de más causas.
Não deu outra. Bastou um ano e meio de mandato presidencial para ele ser derrotado, de forma acachapante, por quem dá as ordens, de facto, no Brasil: o poder econômico.
No caso, o poder econômico tradicional, das multis, das grandes corporações e do capital financeiro, cujo poder de fogo é infinitamente superior ao dos vira-latas do capitalismo que embarcaram no trem fantasma do Bozo (os piores dos quais sendo os ecotrogloditas que estão simultaneamente destruindo a Amazônia e a imagem do Brasil no mundo civilizado).
De olho nos dividendos eleitorais do assistencialismo... |
Por meio do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e da imprensa, o poder econômico fez ver ao Bolsonaro que, se continuasse brincando de autogolpe, estaria flertando com o impeachment.
A ficha acabou finalmente caindo para o papalvo, que, movido pelo instinto de sobrevivência, despiu as fantasias de paladino do combate à corrupção, de neoliberal comprometido com a austeridade e de opositor da velha política, respectivamente descartando Sergio Moro, fritando Paulo Guedes (que é hoje uma exoneração esperando acontecer) e entregando as jóias e os cargos da Coroa ao famigerado centrão.
A recompensa veio com a popularidade conquistada nos grotões do atraso, do coronelismo reciclado e do assistencialismo eleitoreiro, por ele encarada como uma compensação para a perda de prestígio e credibilidade nos estados mais desenvolvidos.
O articulista Samuel Pessôa disse tudo:
"Na política, Bolsonaro parece caminhar para repetir o ciclo que tem ocorrido com todas as forças que mantêm alguma hegemonia ou autoridade política durável no Brasil há muitas décadas.
...Bolsonaro pirateia programas do PT... |
A nova força política surge com forte apoio do eleitorado da região Sudeste. Com o passar dos tempos e o natural processo de desgaste, o apoio no Sudeste cai ou desacelera, e a base eleitoral do grupo político que tem a liderança do Executivo nacional se movimenta para o Nordeste, a região mais dependente das transferências do governo central" .A guinada de neoliberal para desenvolvimentista (já que precisará detonar as restrições limites orçamentárias para poder comprar votos com obras e esmolas) e a volta ao toma-lá-dá-cá do fisiologismo político que sempre o acompanhou garantirão tranquilidade e reeleição para Bolsonaro? Não, por duas razões principais, que se completam.
Primeiramente, porque a força dominante do capitalismo é sempre seu segmento dinâmico, aquele que está desenvolvendo as forças produtivas, e não os rincões do atraso, que as estão travando.
Isto já se evidenciou emblematicamente no resultado da guerra civil estadunidense (1861-1865), com os nortistas, que intentavam deslanchar a industrialização do país, acabando por impor sua vontade aos sulistas, que, a grosso modo, o queriam manter agrário e escravista.
Na década passada, enquanto os petistas permaneciam deitados em berço esplêndido acreditando que os votos dos pobres beneficiados pelo assistencialismo os manteriam indefinidamente no poder, eu já sabia que o castelo de cartas desabaria tão logo outra força emergisse no Brasil próspero; tal força, com votos ou sem votos, prevaleceria sobre o Brasil do atraso.
...e sente atração pelo abismo no qual Dilma afundou |
Não percebendo quem realmente mandava no país, guiado por um guru picareta e pelos três patetas do seu sangue que ele designa por números, o Bozo tentou brincar de Mussolini e Hitler, sem um centésimo sequer da qualificação que ambos tinham para concretizar seus respectivos objetivos hediondos. E, claro, tropeçou nas próprias pernas o tempo todo.
Agora, mudando sua imagem para a de Jairzinho Paz & Amor, ele realmente ganhará algum fôlego no curto prazo, mas o resultado, em tempos normais, já acabaria sendo o mesmo colhido pelos partidos e políticos do passado que apostaram nos currais eleitorais e na demagogia assistencialista para se manterem no poder a partir dos votos dos coitadezas: a debacle.
Há, contudo, uma diferença fundamental: nunca as perspectivas econômicas foram tão ruins quanto as de agora, portanto as etapas deverão ser queimadas, desta vez, com rapidez bem maior.
Em meio à depressão terrível que já começou e tende a chegar ao auge em 2021, desembestar os gastos públicos sem ter com que bancá-los será receita certa para acrescentar à estagnação econômica uma recaída inflacionária, despertando um fantasma que parecia exorcizado desde o pesadelo que foi o final do desgoverno de José Sarney .
Em meio à depressão terrível que já começou e tende a chegar ao auge em 2021, desembestar os gastos públicos sem ter com que bancá-los será receita certa para acrescentar à estagnação econômica uma recaída inflacionária, despertando um fantasma que parecia exorcizado desde o pesadelo que foi o final do desgoverno de José Sarney .
Populistas tendem ao descontrole das contas públicas |
Ou seja, após maximizar a Peste, fazendo o trabalho da Morte, Bolsonaro deverá também trazer-nos a Fome, ao tomar decisões que vão tornar muito mais devastadora a depressão econômica.
Se não o detivermos logo, acabará encontrando um jeito de enfiar-nos numa Guerra, pois de messias ele não tem nada: sua vocação é para cavaleiro do apocalipse... (por Celso Lungaretti)