sexta-feira, 26 de julho de 2013

O feito extraordinário de Alckmin


Geraldo: nem com o apoio de toda a mídia....
(Foto: Marcelo Camargo/ABr)
O governador Geraldo Alckmin é um caso raro de político.
Ele é daqueles que preferem se afastar do povo, das manchetes dos jornais e das luzes das câmeras.
Ele é daqueles que se sentem mais à vontade no anonimato, que não dão a mínima para o reconhecimento público.
Conservador até o mais fundo da alma, Geraldo cresceu se apoiando no sentimento também extremamente reacionário de grande parte do eleitorado paulista.
Esse seu perfil ideológico, claro, sempre agradou à chamada "elite" estadual, nela incluída o patronato dos meios de comunicação, que sempre lhe foram extremamente simpáticos.
Assim, na moita, quietinho, Geraldo foi fazendo a sua vida, conquistando mais poder para si e seu grupo.
Dessa forma, a constatação de que seu governo é aprovado por apenas 26% do eleitorado, como mostra a pesquisa da CNI, é surpreendente, pois não há um jornal, uma estação de rádio ou de televisão, nem mesmo nenhum portal da internet que fale mal dele, que sequer acompanhe os atos de seu governo.
Geraldo é inteiramente blindado pela imprensa, pelos tais "formadores" de opinião pública.
E mesmo assim amarga uma desaprovação dessas!
É um caso para se estudar.
Dá para entender por que o governador do Rio, Sérgio Cabral, ficou na rabeira das avaliações - não há um santo dia em que não se fale mal dele.
Também dá para entender a queda da popularidade da presidenta Dilma, também alvo de uma ferocidade única da turma que quer a volta do modelo Casa Grande & Senzala para o país.
No caso de Geraldo, porém, nada disso acontece.
O sujeito é poupado de qualquer crítica pela mídia, não se faz nenhum reparo a nenhuma medida que toma ou deixa de tomar, a mídia inteira age como se tivesse obrigação de soltar press releases e não notícias sobre o seu governo.
E mesmo assim menos de um terço do eleitorado o apóia...
Convenhamos, é preciso ser muito, mas muito sem carisma, sem apelo, sem liderança - é preciso ser um político muito ruim para conseguir esse feito!

http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2013/07/o-feito-extraordinario-de-alckmin.html

Revolta dos Coxinhas é movimento niilista, reacionário e antidemocrático


Anomia niilista
Por Wanderley Guilherme dos Santos
Valor Econômico



Milhões de pessoas foram projetadas a estações de consumo e lazer das quais nunca haviam tido sequer notícia. Passado o deslumbramento, expectativas ambiciosas cresceram em velocidade maior do que caíam taxas de juros e sinais inflacionários, levando a audacioso endividamento das famílias. Por fim, a ressaca veio sob forma de aguda ansiedade sobre o futuro imediato, tornando-as vulneráveis aos anúncios de que crescimento econômico em torno de 3,0% significará desastre, desemprego generalizado e uma queda livre, sem rede de proteção, dos trapézios sociais alcançados.


Rápidos deslocamentos ascendentes desenraízam as pessoas da matriz societária original, provocando crises de identidade e desorientação quanto a valores, estando por serem substituídos os anteriores, desaprendidos. Max Weber apontou a reserva de ebulição aí depositada, tanto quanto nas crises de despenhadeiro, quando enormes contingentes de trabalhadores são despejados na escala social com destino à miséria e desesperança. E, ambos, períodos de extensa anomia social, insegurança quanto a rumos e subversão de critérios de avaliação e escolha social. Atração fatal à anomia, o niilismo, o negativismo militante candidata-se a acompanhante emocional, pacificador da insegurança dos segmentos desorientados.

Sequência já conhecida de manifestação popular reprimida com violência próxima à selvageria propiciou as condições de uma mobilização de simpatias, solidariedades e protestos claramente motivados pelo episódio paulistano de repressão ao Movimento do Passe Livre. Eram os jovens universitários, seus pais e familiares, usuários de transportes públicos, o público de boa vontade, atingido em seu sentido de justiça e de equilíbrio, além das minorias insidiosas de sempre: um nazismo renascente, protofascistas, partidos autoritários como o PSTU ou dado a aventuras como o PSOL, mais os predadores da democracia. Rápido, bem-sucedido golpe de mão, juntando acaso e virtude, sequestrou a alma das ruas e infestou a evidente anomia com a inclinação niilista que a marcou desde então. Todas as palavras de ordem têm sido, a partir daí, pretexto para a desmoralização das instituições democráticas, assembleias, organizações sindicais, associações voluntárias específicas, partidos políticos, em nome de um alegado vanguardismo civilizatório.

O futurismo italiano foi um movimento revolucionário das artes gráficas no início do século XX. Dissolveu-se ideologicamente no fascismo gerado pela anomia decadentista da Itália dos anos 20, igualmente irmanado ao niilismo predatório. Assustados, os líderes institucionais do Brasil têm tomado a aparência pela verdade e multiplicado a tradução do que lhes parecem comunicar as vozes das ruas. Não existem, contudo, vozes das ruas, apenas alaridos. Não foram as cartolinas pintadas que levaram as primeiras multidões às passeatas, elas surgiram algum tempo depois das marchas em busca de um porquê das próprias marchas. A seco, melhoras genéricas da saúde pública ou da educação não estimulam o deslocamento de dezenas de milhares de manifestantes. Reforma política, então, nem em cartolina apareceu. Pesquisas de opinião durante ou logo depois do calor dos protestos são tecnicamente irrelevantes, não autorizam nenhum tipo de inferência confiável.

Do mar de gente em desfile pelos dias de junho já se ausentaram há muito os de boa-fé, os lúdicos, os solidários com as iniciais demandas sobre transporte, até mesmo sobre saúde e educação, bem como os movimentos tradicionais organizados. Participam hoje dos protestos, fora os incautos e ingênuos que sempre existem e lhes emprestam ar de legitimidade, grupos anômicos de jovens de algumas posses, grupos neonazistas e pré-fascistas, organizações niilistas nacionais e internacionais, além das gangues ordinárias de ladrões e assaltantes.

Os que agora se mobilizam e convocam sabem que são isso mesmo, portanto cúmplices entre si. Não há jovem do Leblon que ignore os saques e depredações que vão se seguir às suas intervenções ditas pacíficas. É a essa informal coalizão de celerados que se referem os acoelhados discursos pela modernidade, pelo avanço democrático em curso, pela radicalização da participação. Desde quando movimentos pela democracia difundem o medo e intimidam fisicamente os que divergem?

Na verdade, a hegemonia da atual semântica política é niilista, reacionária, antidemocrática. Mesmo as manifestações em favor de teses populares adquirem conotação truculenta. Com todo o narcisismo de que são portadores, movimentos e personalidades de grande notoriedade não conseguem desfazer a impressão de que perderam o controle sobre o emocional da população. A conjuntura é fascistoide. A pauta trabalhista das centrais sindicais era a aparência para esconder uma real tentativa de retomar a alma das ruas. Foi uma manifestação chinfrim, o dia nacional de lutas, e não recuperou a hegemonia. Ficou apenas a impressão de que reclamava do governo a extinção do fator previdenciário e a realização de uma reforma política, entre outras bandeiras costumeiras, sem consequência significativa.

Há quem acredite no fundo da alma que alguma mazela nacional será resolvida por reformas nas instituições políticas. Essa é uma crença sem fundamento e, às vezes, como no momento, sujeita a exasperações histéricas. Só por circunstancial ausência de normalidade argumentativa se pode entender declarações de inegável natureza controversa como se obviedades democráticas fossem. Em recente declaração em vídeo, ao fim de um debate em um centro paulista, uma professora da USP, petista orgânica, afirmou que a estrutura partidária e eleitoral vigente, consagrada na Constituição de 88, foi elaborada em 1965 por Golbery do Couto e Silva, homem da ditadura. Sem dúvida, uma retificação histórica e tanto.

Em texto na revista "Carta Capital" no dia 17, um jornalista e paladino da democracia menciona um sonho em que assistia à convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva, integrada pelas melhores cabeças do país. Não ficou esclarecido, contudo, qual colégio eleitoral substituiria os 140 milhões de eleitores brasileiros na escolha de suas melhores cabeças. Pior ainda, figuras profundamente reacionárias em matéria social e econômica, como as lideradas por Marina Silva, reeditam o discurso de que a maldade da política se encontra na existência de mediações entre o público e o privado, cujas fronteiras deviam ser abolidas. É o discurso totalitário em estado puro. Buscando o aplauso de míticas vozes das ruas, muitos não mais escutam a própria voz.

É incompreensível a ênfase do governo e do Partido dos Trabalhadores na realização de um plebiscito por uma reforma política cuja formulação é, no mínimo, divisionista, castradora de avanços e omissa quanto à superação de resquícios da ditadura - por exemplo, garantindo elegibilidade aos analfabetos, tema sem nenhuma audiência entre nossos democratas radicais e digitais. Incompreensível, sobretudo, quando a pauta vital do país, no momento, está sendo disputada taxa de retorno nas licitações por vir nos setores ferroviário, aeroviário, rodoviário e portuário, além dos leilões do petróleo. Disso dependem renda, emprego, crescimento, políticas sociais e progresso tecnológico.

Sujeito a um cerco infernal de pressões, lobbies e, quiçá, seu tanto de sabotagem por parte de alguns empresários e investidores, o governo substitui essa pauta por um prato diversionista, com o bônus de propiciar aos adesistas a esfarrapada desculpa de que o Estado, o modelo de crescimento (denominação presunçosa), os instrumentos de administração estão esgotados. Baboseiras de quem está costeando o alambrado do conservadorismo.

As forças sociais estão anômicas. Difícil saber em que medida a epiderme niilista reflete o sentimento majoritário da população (pesquisas, no momento, são inúteis para extrapolações), submetida a uma avalanche de informações sem fonte de credibilidade assegurada. As respostas oficiais, exceto em parte a dos parlamentares, acentuo, exceto em parte a dos parlamentares, têm contribuído para ratificar a ilusão de um aprofundamento da democracia que, de fato, em sua versão expressiva e comportamental, consiste em seu oposto, na intolerância, na destruição e no ódio que contamina as mensagens das ativas redes sociais. Quanto mais cedo se mobilizar a resistência democrática ao niilismo anômico, melhor.

Wanderley Guilherme dos Santos é cientista político, titular (aposentado) de teoria política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

O Bolsa Família da Saúde



Blog das Frases
‘Mais Médicos’, o Bolsa Família da Saúde?

O sucesso delineado na ampla adesão dos municípios ao programa ‘Mais Médicos’ deve ser analisado exaustivamente.

Talvez represente mais que um alívio pontual no cerco conservador anabolizado pelas manifestações de junho, cujo impacto nos índices de aprovação ao governo tem sido reiterado, em meticuloso rodízio, pelos institutos de pesquisa.

A análise do programa lançado pelo ministério da Saúde, há menos de um mês, poderá inspirar uma bem-vinda reconciliação com a dimensão política da luta pelo desenvolvimento, esgarçada nos últimos anos por um certo viés economicista.

Desde 2010, sabia-se que a substituição do ativismo visceral de Lula pela racionalidade administrativa de Dilma implicaria em mudanças de ênfase.

Que pareciam adequadas, diga-se.

O Brasil necessitava consolidar as múltiplas frentes abertas desde 2003, ademais de retificar flancos estruturais que emergiram no processo.

Para listar apenas os da agenda econômica: a valorização cambial desindustrializante, o obsceno custo financeiro, a carência de detalhamento para grandes projetos de infraestrutura etc.

A combinação entre a ênfase administrativa do novo governo e a retaguarda política do antecessor parecia perfeita.

Dilma era a chefe de governo. Lula, o chefe político.

A doença do ex-presidente acendeu o farol amarelo. As manifestações de junho piscaram o vermelho.

blend teórico entre o político e o administrativo mostrou sua vulnerabilidade quando submetido à pressão contundente das ruas.

A interação entre os canais emperrou na ausência de mecanismos de resposta rápida.

Não só.

A inexistência de quadros intermediários capazes de reunir uma versatilidade dissociada na cúpula fez o resto.

Em lugar de criatividade e prontidão, emergiu a face apática de uma equipe pautada pelo engessamento administrativo e o timing burocrático.

Um arquipélago desprovido do oceano político capaz de uni-lo.

Não se trata de desdenhar o que é fundamental.

O planejamento público de longo prazo, de que sempre se ressentiu a economia brasileira.

O governo Dilma veio preencher essa lacuna histórica.

O que tem feito com sucesso, em parte.

A emergência política instaurada a partir de junho evidenciaria, no entanto, a insuficiência da especialização quando o relógio político é ajustado pelas ruas.

Uma rotina engessada no labirinto de licitações e licenciamentos, subordinada ao desafio da engenharia financeira, refém de uma enervante sucessão de postergações de prazos e obras, mostrou que um governo não pode se reduzir a um escritório de acompanhamento de projetos.

Não qualquer governo em qualquer época: mas o do Brasil, sob cerco conservador e em meio às turbulência de uma transição de ciclo econômico internacional.

Intuitivamente, o ‘Mais Médicos’ ataca esses flancos.

Seu desenho resgata um modelo de ação engajada cuja cepa remete às premissas da política de segurança alimentar, combate à fome e à miséria, lançada em 2003, com o nome fantasia de ‘Fome Zero’.

Atacar o emergencial e o estrutural, ao mesmo tempo e com igual intensidade, era o cerne da estratégia contra o intolerável.

Fixar prazos críveis e benefícios visíveis no horizonte imediato da sociedade, um ingrediente mobilizador.

Outro: estabelecer metas de apelo popular que colocavam sob pressão instancias políticas e administrativas, de cuja adesão dependia o sucesso da política.

No caso da política de combate fome e à miséria, o carro-chefe foi o benefício do cartão-alimentação (hoje Bolsa Família).

A dimensão estrutural incluía a ampliação do crédito à agricultura familiar; as aquisições diretas do pequeno produtor; o ganho real do salário mínimo; a urbanização das favelas; o Fundeb, etc.

Mas, sobretudo, o pano de fundo político merece ser resgatado.

Ele envolve uma determinação férrea de libertar a ação pública da morosidade incremental, incompatível com os ponteiros da urgência brasileira.

Transferir recursos aos pobres, diretamente, no Brasil de 2003, em meio ao terceiro turno declarado pelo cerco conservador, significava para o governo abrir um atalho de respaldo político indispensável.

Para o conservadorismo era o anátema.

E assim foi tratado.

A palavra fome nunca teve trânsito livre num vocabulário político dominado pela conveniência do dinheiro grosso.

Em 1946, quando lançou o seu ‘Geografia da Fome, o médico, comunista e diplomata, Josué de Castro, foi pressionado a trocar o título do livro por algo mais palatável às vergonhas seculares de nossas elites.

Não o fez. A obra tornar-se-ia um clássico de decifração das estruturas reprodutoras da exclusão condensadas na palavra incômoda.

Quando lançou o ‘Fome Zero’, o governo Lula sofreria idêntico constrangimento.

A mídia derrotada nas urnas ergueu um cinturão de asfixia em torno do programa, contando com o obsequioso auxílio de parte da academia.

Os argumentos utilizados, então, lembram muito a fuzilaria atual contra o ‘Mais Médicos’.

Ineficaz, inconstitucional e eleitoreiro foram alguns mísseis disparados na primeira hora. Esgotada a munição para o abate em pleno voo, recorreu-se ao clássico artifício da sensatez protelatória – ‘são problemas estruturais, é preciso uma discussão mais profunda’.

A exemplo da fome, quão mais profunda terá que ser a discussão sobre uma notória, documentada e intolerável ausência de atendimento médico nas áreas mais pobres do país?

O governo dispõe de números convincentes. E tem alternativas ao boicote esperado.

À falta de candidatos para ocupar vazios no interior do país, profissionais serão requisitados no estrangeiro.

Ao carimbo de ‘remendo’, a dimensão emergencial do programa responde com iniciativas estruturais: R$ 15 bilhões de investimentos em obras e equipamentos de saúde; reforma no currículo da medicina, vinculando-o à prestação de serviços ao SUS.

Prazos curtos de implantação atropelam o cerco conservador criando um calendário sensível, capaz de disputar a atenção de uma opinião pública exaurida pelo bombardeio midiático.

O Ministério da Saúde deu prazo até esta 5ª feira para os prefeitos interessados manifestarem a adesão ao programa.

Utilizou rádios no interior para chegar à população e furar a sabotagem dos grandes veículos de comunicação.

Como um prefeito tucano explicaria, à fila no posto de saúde, sua recusa em inscrever a cidade no programa que promete elevar o padrão de atendimento local?

O insustentável se refletiu no perfil suprapartidário das adesões: mais de 40% dos prefeitos do PSDB se juntaram a um programa desdenhado por Aécio e assemelhados. Mas que teve a receptividade inicial de 46% dos municípios. brasileiros.

Nesta sexta-feira, dia 26, o governo divulgará o total de vagas para médicos, conforme as solicitações das prefeituras.

A partir da próxima segunda-feira, profissionais brasileiros que aderiram ao programa serão chamados a escolher os municípios onde querem atuar.

Terão até 3 de agosto para faze-lo.

Quarenta e oito horas depois, as escolhas serão validadas no Diário Oficial da União.

Vagas não preenchidas serão divulgadas no dia 6 de agosto: profissionais estrangeiros serão convidados a preenche-las até 8 de agosto.

Ou seja, apenas 30 dias depois de anunciado, o programa emitirá sinais concretos de mudança na vida de cidades e cidadãos, até então condenados a uma combinação perversa de precariedade e incerteza no acesso a um serviço vital.

A vitória no emergencial amplia o chão firme do governo para ousar em ações de caráter estrutural, a exemplo do financiamento fiscal do setor, bem como da reforma no ensino da medicina.

O ‘Mais Médicos’ tem fôlego para se transformar no ‘Bolsa Família’ da saúde pública brasileira.

O governo não pode desperdiçar o potencial dessa experiência. Nem as lições que ela encerra para iniciativas em áreas às voltas com desafios de gravidade e apelo similares.

A presidenta Dilma teria muito a ganhar com isso.

O país mais ainda.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Composição da dívida pública registra em junho melhor nível da história




Wellton Máximo, Agência Brasil
 
“O vencimento de R$ 14,8 bilhões em papéis vinculados a taxas flutuantes, como a Selic (taxa de juros básicos da economia), fez a Dívida Pública Federal (DPF) registrar em junho a melhor composição da história. A participação desses papéis na dívida interna caiu de 22,56% em maio para 20,34% no mês passado. A fatia dos títulos prefixados (com juros definidos antecipadamente), no entanto, subiu de 40,42% para 41,20%, pouco acima do recorde registrado em dezembro do ano passado.

A fatia dos títulos vinculados a índices de preços também caiu, de 36,40% para 35,70%. A forte alta do dólar registrada no último mês, no entanto, refletiu-se na participação da dívida interna vinculada ao câmbio. O percentual subiu de 0,62% em maio para 2,76% em junho.

Esses números levam em conta as operações de swap pelo Banco Central, que equivalem a operações de compra ou venda de dólar no mercado futuro e têm impacto na dívida pública.

Com taxas definidas antecipadamente, os títulos prefixados são preferíveis para o Tesouro Nacional porque dão previsibilidade à administração da dívida pública. Em contrapartida, os papéis vinculados à Selic representam mais risco porque pressionam a dívida para cima, caso o Banco Central tenha de reajustar os juros básicos por causa da inflação.
Depois de atingir os melhores resultados da história por dois meses seguidos, o prazo médio da DPF interrompeu a sequência de recordes em junho. Segundo números divulgados hoje (24) pelo Tesouro Nacional, o prazo médio recuou de 4,30 anos, em maio, para 4,26, no mês passado. Apesar disso, o intervalo é o segundo maior registrado desde o início da série histórica, em 2005.

O prazo médio corresponde ao tempo que o Tesouro leva para renovar completamente a dívida pública. O órgão não divulga o resultado em meses, apenas em anos. A participação dos vencimentos nos próximos 12 meses caiu de 23,38% em maio para 22,50% em junho. Prazos mais longos são favoráveis ao Tesouro, porque dão ao governo mais tempo para planejar e executar as operações de rolagem (renegociação) da dívida pública.

Apesar da turbulência financeira internacional, a participação dos estrangeiros na dívida interna subiu em junho. A fatia da dívida mobiliária interna – em títulos – nas mãos de não residentes passou de 14,38% (R$ 264,69 bilhões), em maio, para 14,52% (R$ 275,18 bilhões) no mês passado. O recorde foi registrado em março, quando a participação atingiu 14,8%.

Por meio da dívida pública, o governo pega emprestado dos investidores recursos para honrar compromissos. Em troca, compromete-se a devolver os recursos com alguma correção, que pode ser definida com antecedência, no caso dos títulos prefixados, ou seguir a variação da taxa Selic, da inflação ou do câmbio.”

Fiéis da JMJ: “Graças a Deus não existem gays na África”


Participante da JMJ, peregrina africana diz que não há casais gays em São Tomé e Príncipe (Foto: Maurício Tonetto)

Graças a Deus’ não existem gays na África, dizem peregrinos da JMJ que acompanham o Papa Francisco no Brasil


Se as posições da Igreja Católica sofrem resistência de grupos anti-homofobia no Brasil e em várias partes do mundo, o mesmo parece não acontecer em São Tomé e Príncipe, na África. A condenação da prática homossexual da Igreja está alinhada com parte da população local, conforme relatos de peregrinos nesta terça-feira na centenária paróquia Nossa Senhora de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.

É o caso de Eva de Carvalho, 48 anos, que dá “graças a Deus” ao dizer que “não existe isso (homossexuais)” em seu país. Ela é originária do país africano, que conta com uma população predominantemente católica (70,3%, segundo senso realizado em 2001). Eva diz que o tema sequer é abordado por lá.

Itola Lima, 62 anos, também de São Tomé e Príncipe, faz coro com a amiga ao dizer que não existe homossexualidade em seu país e faz uso da Bíblia para condenar a prática. “Deus fez um homem e uma mulher”, argumenta.

O assunto, no entanto, não deverá ser tema de debate nos dias de Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro. Com intenção de reunir fiéis e alcançar os menos religiosos, a Igreja – a exemplo do Papa, em sua primeira declaração no País – deverá evitar temas mais controversos.

Entre quarta e sexta-feira, diversas paróquias da cidade vão oferecer catequeses sob a temática central do evento (“Ide e fazei discípulos” – um mandamento de Jesus, segundo a crença cristã). As pregações serão feitas em vários idiomas e a abordagem será menos profunda, justamente para contemplar os não-iniciados nos assuntos religiosos e os estrangeiros que não dominam o português.

“O objetivo é anunciar o evangelho. É levar Cristo a todas as nações, como é o tema da Jornada. Fazer com que todos experimentem profundamente a fé em Jesus Cristo”, explica o padre Pedro dos Santos, da paróquia Nossa Senhora de Copacabana, que espera receber 2 mil pessoas nos três dias de catequese.

Papa Francisco no Brasil

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2013 ocorre entre os dias 23 e 28 de julho, no Rio de Janeiro. O evento, realizado a cada dois ou três anos, promove um encontro internacional de jovens católicos com o Papa. A última edição da JMJ ocorreu em 2011, em Madri, na Espanha, e reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, de mais de 190 países. O JMJ 2013 marca também a primeira grande visita internacional do papa Francisco desde sua nomeação como líder máximo da Igreja Católica, em 13 de março deste ano.”

Papa é um Feliciano com muito mais poder e o apoio da Globo

Homofobia, machismo, apego ao dinheiro, religião interferindo no Estado. Os motivos que inspiram o “Fora Feliciano” se aplicam ao papa. Com o agravante de que ele é bem mais poderoso


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No Jornal Nacional, fiel chora de emoção ajoelhada diante do microfone da Globo
Os evangélicos estão sendo injustiçados. O tsunami de críticas que atingiu Marco Feliciano, Silas Malafaia e demais líderes evangélicos fundamentalistas se aplica ao papa Francisco e à Igreja Católica. Explico: as mesmas bandeiras conservadoras levantadas pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos do Congresso estão no centro da atuação da igreja católica há séculos. E o argentino Mario Bergoglio, agora chamado de Francisco, comunga destes ideais e não se mostra disposto a alterá-los. Pelo contrário.
Vamos por partes:
Primeiro, a homofobia
Muito se reclamou da atuação de Feliciano contra os direitos fundamentais dos homossexuais. A coleção de frases e a atuação do pastor não deixam dúvidas quanto à sua posição. Como é sabido, a igreja católica igualmente condena a homossexualidade, e considera pecado o amor da população LGBT.
O próprio Francisco, pessoalmente, demonstra preocupação com o que chama de “lobby gay” no Vaticano. Conforme revelou o site católico Reflexión y Liberación, o pontífice afirmou o seguinte em uma audiência recente com a diretoria da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos: “Na Cúria há gente santa de verdade. Mas também há uma corrente de corrupção, é verdade. Fala-se de lobby gay, e é verdade, ele está aí... temos que ver o que podemos fazer”.
Segundo, os direitos da mulher
Em entrevista para o livro “Religiões e política”, o deputado do PSC-SP afirmou o seguinte: “Quando você estimula uma mulher a ter os mesmos direitos do homem, ela querendo trabalhar, a sua parcela como mãe começa a ficar anulada, e, para que ela não seja mãe, só há uma maneira que se conhece: ou ela não se casa, ou mantém um casamento, um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo; [assim] você destrói a família, cria-se uma sociedade só com homossexuais, e essa sociedade tende a desaparecer, porque ela não gera filhos”.
A igreja católica sempre tratou a mulher de forma diferenciada. A começar pelo fato de que elas não podem ser ordenadas. Aos homens (padres) cabe orientar os fiéis, ditar os rumos da igreja e do mundo. Às freiras cabem tarefas como cuidar dos enfermos e necessitados e, por exemplo, cozinhar, lavar e passar para o “homem simples de fala mansa” que está entre nós.
Mais: estão sendo distribuídas 2 milhões de cópias de um Manual de Bioética (em PDF) durante a visita do papa ao Brasil, sendo quase a metade da tiragem a versão em português, segundo informações da Confederação Nacional de Bispos Brasileiros. De suas 72 páginas, praticamente a metade traz pilhas de informações “científicas” e julgamentos morais contra o aborto. O restante divide-se entre a condenação de pesquisas com células-tronco, a condenação da inseminação artificial e a condenação da eutanásia.
O direito sobre o próprio corpo, uma questão que o movimento feminista do mundo todo considera vital desde a década de 1960, é classificado como “crime” em diversos pontos do texto. De acordo com o manual, mesmo em caso de estupro ou de inviabilidade do feto, a interrupção da gravidez não pode ser sequer aventada: “O direito de matar o próprio filho não pode ser fonte de liberdade nem de realização pessoal”. Todos os métodos contraceptivos, pílula e DIU inclusive, são considerados abortivos e criminosos.
Em terceiro lugar, o apego ao dinheiro
Causou espécie um vídeo que circulou recentemente, no qual o pastor Marco Feliciano pedia a senha de um cartão de crédito para um fiel, dizendo que, caso a senha não fosse revelada, “o milagre não viria”. Costuma ser igualmente criticada a cobrança do dízimo por parte de igrejas evangélicas –como se a igreja católica não o fizesse.
Tudo isso, contudo, é esmola perto do patrimônio misterioso e incalculável da igreja católica. A revista Exame fez umareportagem bastante reveladora sobre o Banco do Vaticano. Entre diversos casos de lavagem de dinheiro, escândalos sexuais, corrupção e má administração relatados pela publicação, destaco uma informação: o banco gere cerca de 6 bilhões de euros em ativos. Vou repetir: 6 bilhões de euros.
Isso sem contar as milhares de propriedades da igreja católica ao redor do globo todo. Não sou um estudioso do cristianismo, mas acredito que valores como ajuda ao próximo, desapego e amparo aos pobres não combinam com a acumulação de fortunas dessa grandeza. Mesmo que o chefe da instituição prefira andar num fiat “sem luxo” e dormir num “quarto simples”.
Em quarto lugar, a promiscuidade com o poder público
Muito se critica Feliciano e a bancada evangélica por usarem o poder público que detêm para obter vantagens para suas instituições. O que afronta o conceito de estado laico. O catolicismo faz o mesmo.
O amplo uso de estruturas e verbas públicas durante a visita de Francisco; o mesmo lobby para isenções fiscais e outras benesses financeiras; a mesma submissão dos governantes (de Dilma ao vereador de Pindamonhangaba). Mais: há crucifixos em repartições públicas (desrespeitando os evangélicos, inclusive) e mensagens religiosas nas notas de dinheiro, que são um símbolo nacional. E por aí vai.
(Parênteses: pedofilia)
Aqui não há o paralelo com Feliciano, mas vale lembrar das inúmeras acusações de abuso sexual contra padres no mundo inteiro, muitas cometidas contra menores e encobertas pelo Vaticano. A situação é tão grave que a ONU pediu, agora no começo de julho, esclarecimentos sobre os crimes cometidos por padres em todo mundo. Como o vaticano é membro das Nações Unidas e tem a falta de transparência como uma de suas marcas, a ONU quer saber o que a Igreja Católica têm feito de efetivo contra os criminosos que foram descobertos em suas fileiras.
Por fim, o apoio da mídia
Aqui, uma das maiores injustiças com Marco Feliciano. O pastor é hostilizado por todos, TV Globo inclusa. Suas posições, conforme demonstrado, são irmãs siamesas das defendidas por Francisco e pela religião que comanda. E dos dogmas vindos de Roma ninguém reclama.
Pior: a maior TV do país (bem como quase todos os outros veículos de imprensa) ajoelha-se ao mandatário da tv católica. E não acredito ser esta uma decisão baseada somente pela audiência. A missa de domingo está na grade da Globo há décadas --atualmente é celebrada ao vivo pelo Padre Marcelo. E a emissora, apenas recentemente, de olho na perda de audiência e de dinheiro, começou um flerte institucional com os evangélicos, inaugurado com o festival de músicas gospel Promessas.
Pare finalizar, deixo vocês com algumas frases do primeiro bloco do Jornal Nacional desta segunda-feira. Tentem imaginar Marco Feliciano ou qualquer outro líder evangélico sendo tratado desta forma pelo noticioso visto por quase metade da população brasileira toda noite:
“De papamóvel, fez um passeio que vai ficar na memória dos fieis”
“Distribuiu simpatia”
“Mais perto do povo, do jeito que o papa Francisco gosta”
Fiel: “Foi um presente de Deus, eu consegui estar perto dele e pude constatar que ele realmente é esse pastor humilde, amigo do povo e que veio pra resgatar mais fieis pra igreja católica”
“Deixou uma legião de fieis encantados”
“Santo, abençoado, humilde... os elogios vão brotando”
Fiel: “Ele é gente como a gente”
“A cada esquina ele faz novos amigos”
“Os gritos pareciam saídos de um show de rock”
“Se fosse só isso, já valeria a pena, e o papa Francisco acabou de chegar”.

4 milhões a mais de empregos. É o fim do mundo...


Ministro Manoel Dias:
 grandes obras vão manter ritmo de criação de vagas

(Foto: José Cruz/ABr)
Os jornalões fizeram de tudo para dizer que o Brasil também tem fracassado na criação de empregos formais. Ontem (23), foi divulgado que no primeiro semestre deste ano foram gerados 826,1 mil empregos com carteira assinada, resultado de 11,439 milhões de admissões e 10,613 milhões de desligamentos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado foi o menor desde o primeiro semestre de 2009, quando foram registrados 397,9 mil empregos formais. No mesmo período de 2010, 1,634 milhão de postos foram criados; no primeiro semestre de 2011, 1,414 milhão; e nos primeiros seis meses de 2012, 1,047 milhão. 
Ora, quem faz esse tipo de análise, de que a criação de empregos no Brasil está se enfraquecendo, se esquece de um detalhezinho: o país já vive, praticamente, o pleno emprego.
Dessa forma, fica mesmo difícil manter o ritmo observado nos últimos anos.
Além disso, há de se destacar que a crise econômica ainda não terminou no mundo e é óbvio que ela tem reflexos, ainda que pequenos até agora, na economia brasileira.
Os setores com os melhores desempenhos nos primeiros seis meses do ano foram os de serviços (361,1 mil postos), da indústria (186,8 mil) e da construção civil (133,4 mil). Os com os piores desempenhos foram administração pública, com saldo negativo de 30,8 mil vagas; comércio, com saldo negativo de 13,6 mil; e extração mineral, com saldo negativo de 3,1 mil.
Para o ministro Manoel Dias, o bom desempenho do setor de serviços é um indicativo de expansão no mercado de trabalho. "O aumento de serviços significa que há um aumento real dos salários, do poder de compra da população e do atendimento de demanda. O salário da população aumentou. As pessoas estão consumindo mais e exigindo mais qualidade", explicou. 
No primeiro semestre, o salário médio de admissão dos trabalhadores com carteira assinada chegou a R$ 1.090,52, o equivalente a 1,70% a mais do que o rendimento no mesmo período de 2012 (R$ 1.072,33). Em relação a junho, o saldo de empregos gerados foi ligeiramente superior ao do mesmo mês no ano passado, 123,8 mil ante os 120,4 mil em 2012. 
O ministro reduziu a meta para a criação de empregos formais neste ano. A previsão anterior era de que o saldo chegaria a 1,7 milhão. No último mês, Dias voltou atrás na previsão e, na terça-feira, confirmou a redução para 1,4 milhão. Ele explicou que a conjuntura do mercado de trabalho e da economia não permitem que se façam as mesmas previsões anteriores. "As causas que vão determinar a criação de empregos eu não posso prever. O Brasil ainda na entrou na crise de emprego que atinge outros países. Mas quem disse que vamos ficar permanentemente nesta situação? Apesar disso, acho que vamos nos manter devido às políticas públicas", disse.
Dias aposta em investimentos, especialmente em grandes obras, como portos, aeroportos e de mobilidade urbana, para manter a criação de postos de trabalho até o fim do ano.
"De janeiro de 2011 a junho de 2014 [período do governo Dilma Rousseff], foram criados 4 milhões de empregos. O resultado é espetacular, considerando a conjuntura mundial, em que há desemprego em todos os países", disse Dias, que voltou recentemente de Moscou, na Rússia, onde os ministros do Trabalho do G20 se reuniram para discutir o tema e adotar medidas em âmbito mundial. (Com informações da Agência Brasil).

Feliciano, Malafaia e o papa Francisco



Por Lino Bocchini, na revista CartaCapital:

Os evangélicos estão sendo injustiçados. O tsunami de críticas que atingiu Marco Feliciano, Silas Malafaia e demais líderes evangélicos fundamentalistas se aplica ao papa Francisco e à Igreja Católica. Explico: as mesmas bandeiras conservadoras levantadas pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos do Congresso estão no centro da atuação da igreja católica há séculos. E o argentino Mario Bergoglio, agora chamado de Francisco, comunga destes ideais e não se mostra disposto a alterá-los. Pelo contrário.

Vamos por partes:

Primeiro, a homofobia

Muito se reclamou da atuação de Feliciano contra os direitos fundamentais dos homossexuais. A coleção de frases e a atuação do pastor não deixam dúvidas quanto à sua posição. Como é sabido, a igreja católica igualmente condena a homossexualidade, e considera pecado o amor da população LGBT.

O próprio Francisco, pessoalmente, demonstra preocupação com o que chama de “lobby gay” no Vaticano. Conforme revelou o site católico Reflexión y Liberación, o pontífice afirmou o seguinte em uma audiência recente com a diretoria da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos: “Na Cúria há gente santa de verdade. Mas também há uma corrente de corrupção, é verdade. Fala-se de lobby gay, e é verdade, ele está aí... temos que ver o que podemos fazer”.

Segundo, os direitos da mulher

Em entrevista para o livro “Religiões e política”, o deputado do PSC-SP afirmou o seguinte: “Quando você estimula uma mulher a ter os mesmos direitos do homem, ela querendo trabalhar, a sua parcela como mãe começa a ficar anulada, e, para que ela não seja mãe, só há uma maneira que se conhece: ou ela não se casa, ou mantém um casamento, um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo; [assim] você destrói a família, cria-se uma sociedade só com homossexuais, e essa sociedade tende a desaparecer, porque ela não gera filhos”.

A igreja católica sempre tratou a mulher de forma diferenciada. A começar pelo fato de que elas não podem ser ordenadas. Aos homens (padres) cabe orientar os fiéis, ditar os rumos da igreja e do mundo. Às freiras cabem tarefas como cuidar dos enfermos e necessitados e, por exemplo, cozinhar, lavar e passar para o “homem simples de fala mansa” que está entre nós.

Mais: estão sendo distribuídas 2 milhões de cópias de um Manual de Bioética (em PDF) durante a visita do papa ao Brasil, sendo quase a metade da tiragem a versão em português, segundo informações da Confederação Nacional de Bispos Brasileiros. De suas 72 páginas, praticamente a metade traz pilhas de informações “científicas” e julgamentos morais contra o aborto. O restante divide-se entre a condenação de pesquisas com células-tronco, a condenação da inseminação artificial e a condenação da eutanásia.

O direito sobre o próprio corpo, uma questão que o movimento feminista do mundo todo considera vital desde a década de 1960, é classificado como “crime” em diversos pontos do texto. De acordo com o manual, mesmo em caso de estupro ou de inviabilidade do feto, a interrupção da gravidez não pode ser sequer aventada: “O direito de matar o próprio filho não pode ser fonte de liberdade nem de realização pessoal”. Todos os métodos contraceptivos, pílula e DIU inclusive, são considerados abortivos e criminosos.

Em terceiro lugar, o apego ao dinheiro

Causou espécie um vídeo que circulou recentemente, no qual o pastor Marco Feliciano pedia a senha de um cartão de crédito para um fiel, dizendo que, caso a senha não fosse revelada, “o milagre não viria”. Costuma ser igualmente criticada a cobrança do dízimo por parte de igrejas evangélicas –como se a igreja católica não o fizesse.

Tudo isso, contudo, é esmola perto do patrimônio misterioso e incalculável da igreja católica. A revista Exame fez uma reportagem bastante reveladora sobre o Banco do Vaticano. Entre diversos casos de lavagem de dinheiro, escândalos sexuais, corrupção e má administração relatados pela publicação, destaco uma informação: o banco gere cerca de 6 bilhões de euros em ativos. Vou repetir: 6 bilhões de euros.

Isso sem contar as milhares de propriedades da igreja católica ao redor do globo todo. Não sou um estudioso do cristianismo, mas acredito que valores como ajuda ao próximo, desapego e amparo aos pobres não combinam com a acumulação de fortunas dessa grandeza. Mesmo que o chefe da instituição prefira andar num fiat “sem luxo” e dormir num “quarto simples”.

Em quarto lugar, a promiscuidade com o poder público

Muito se critica Feliciano e a bancada evangélica por usarem o poder público que detêm para obter vantagens para suas instituições. O que afronta o conceito de estado laico. O catolicismo faz o mesmo.

O amplo uso de estruturas e verbas públicas durante a visita de Francisco; o mesmo lobby para isenções fiscais e outras benesses financeiras; a mesma submissão dos governantes (de Dilma ao vereador de Pindamonhangaba). Mais: há crucifixos em repartições públicas (desrespeitando os evangélicos, inclusive) e mensagens religiosas nas notas de dinheiro, que são um símbolo nacional. E por aí vai.

(Parênteses: pedofilia)

Aqui não há o paralelo com Feliciano, mas vale lembrar das inúmeras acusações de abuso sexual contra padres no mundo inteiro, muitas cometidas contra menores e encobertas pelo Vaticano. A situação é tão grave que a ONU pediu, agora no começo de julho, esclarecimentos sobre os crimes cometidos por padres em todo mundo. Como o vaticano é membro das Nações Unidas e tem a falta de transparência como uma de suas marcas, a ONU quer saber o que a Igreja Católica têm feito de efetivo contra os criminosos que foram descobertos em suas fileiras.

Por fim, o apoio da mídia

Aqui, uma das maiores injustiças com Marco Feliciano. O pastor é hostilizado por todos, TV Globo inclusa. Suas posições, conforme demonstrado, são irmãs siamesas das defendidas por Francisco e pela religião que comanda. E dos dogmas vindos de Roma ninguém reclama.

Pior: a maior TV do país (bem como quase todos os outros veículos de imprensa) ajoelha-se ao mandatário da tv católica. E não acredito ser esta uma decisão baseada somente pela audiência. A missa de domingo está na grade da Globo há décadas --atualmente é celebrada ao vivo pelo Padre Marcelo. E a emissora, apenas recentemente, de olho na perda de audiência e de dinheiro, começou um flerte institucional com os evangélicos, inaugurado com o festival de músicas gospel Promessas.

Pare finalizar, deixo vocês com algumas frases do primeiro bloco do Jornal Nacional desta segunda-feira. Tentem imaginar Marco Feliciano ou qualquer outro líder evangélico sendo tratado desta forma pelo noticioso visto por quase metade da população brasileira toda noite:

“De papamóvel, fez um passeio que vai ficar na memória dos fieis”

“Distribuiu simpatia”

“Mais perto do povo, do jeito que o papa Francisco gosta”

Fiel: “Foi um presente de Deus, eu consegui estar perto dele e pude constatar que ele realmente é esse pastor humilde, amigo do povo e que veio pra resgatar mais fieis pra igreja católica”

“Deixou uma legião de fieis encantados”

“Santo, abençoado, humilde... os elogios vão brotando”

Fiel: “Ele é gente como a gente”

“A cada esquina ele faz novos amigos”

“Os gritos pareciam saídos de um show de rock”

“Se fosse só isso, já valeria a pena, e o papa Francisco acabou de chegar”.


domingo, 21 de julho de 2013

A BAIXA AUTOESTIMA CONTAMINA O BRASIL



Por Alexandre Figueiredo

Os anos 90 foram a década perdida no Brasil. Isso porque foi nessa época que os valores duvidosos introduzidos no establishment do entretenimento que os EUA viviam nos anos 80 (oficialmente a década perdida de lá) foram introduzidos em nosso país.

Com promessas de melhor tecnologia, maior visibilidade de famosos em geral e até acadêmicos, e de algum benefício "pragmático" na vida de qualquer um, passou-se a se contentar com pouco, aceitando facilmente qualquer degradação ou deturpação de conceitos, ideias e propostas para o mínimo do medíocre, mesmo que esteja longe até de atender as necessidades mais básicas.

E qualquer degradação tinha sua desculpa. "É para atrair mais público", "É para organizar melhor", "É porque o povo entende isso melhor", entre outras coisas. Fora aquela desculpa esfarrapada que muito se ouve: "Sei que não é uma maravilha, mas é melhor do que nada".

Essa postura se torna bem pior do que no pré-1964. Mesmo nos primeiros anos da ditadura militar, lutava-se por melhores condições de vida. Hoje recomeçam os protestos de ruas, mas são apenas o começo de um despertar que ainda não é completo, é um começo de tentativa de superação dos problemas, mas que não trouxe resultados plenos e concretos, embora isso seja questão de tempo.

Mas foram cerca de 50 anos de degradação de todos os sentidos. Na ordem política, econômica, cultural, institucional. Da mobilidade urbana ao radialismo rock, da problemática das mulheres pobres à mediocridade intelectual na Academia Brasileira de Letras. Parecia que o Brasil se degradava em doses homeopáticas, mas de 1964 para cá o país regrediu em dimensões buñuel-kafkianas.

Na música brasileira, temos um quadro pior. A respeitável e admirável Música Popular Brasileira de 1965-1968 é hoje depreciada, mesmo de forma "científica" em monografias e documentários, seja pela glorificação da mediocrização cultural do brega e seus derivados (inclusive o "funk"), seja pela esculhambação gratuita de nomes de indiscutível talento como Chico Buarque e Edu Lobo.

E hoje a situação é pior, porque mesmo os ritmos populares autênticos, como sambas, baiões, modinhas e outros agora são discriminados em prol de uma "cultura de massa" que até combina apelo popular com sucesso comercial, mas possuem valor artístico-cultural bastante duvidosos, por mais que a intelectualidade insista em relativizá-los.

O grande público, que antes era receptivo até a um sofisticado Edu Lobo, hoje está muito mal acostumado com as mesmices brega-popularescas que só produzem hits instantâneos, mas são desprovidos de qualquer responsabilidade sócio-cultural e artística, porque não produzem conhecimentos, só produzem refrões a serem consumidos pelo "povão".

A perda de autoestima é clara. Muitos não querem mais cultura brasileira, mas tão somente um hit-parade a competir com os EUA, com a desvantagem de que nosso "ritipareide" é a imitação do grande país imperialista.

Em vez de desejarmos um novo Jackson do Pandeiro, temos um Márcio Victor do Psirico. Em vez de querermos um novo Sidney Miller, temos um Michel Teló. Em vez de procurarmos um novo Agostinho dos Santos, encontramos um Thiaguinho. E em vez de esperarmos por uma nova Sílvia Telles, vem logo uma MC Anitta.

MC Anitta é o paradigma do hit-parade radicalmente assumido no Brasil. E que elimina qualquer contexto para as pregações intelectualoides que, em seus delírios ideológicos travestidos de "ciências humanas", tentam glamourizar os fenômenos de massa com falsas alusões a movimentos libertários ou expressões artísticas de vanguarda.

Observando o sucesso da funqueira em cada passo, nota-se todo o marketing bem calculado em factoides, demonstrações de falsa modéstia e até mesmo a solteirice forçada (para não dizer falsa) típica das musas popularescas. Pode parecer uma campanha engenhosa e certeira, mas com certeza nada para nos fazer esquecer de Silvinha Telles morta no auge da carreira, aos 32 anos, em 1966.

Mas não é só no aspecto musical. De repente, o Brasil abriu mão de querer realmente o melhor. Se quer o "melhor", mas apenas em sentido "pragmático" de atender apenas a necessidades imediatistas. Nada que represente real qualidade de vida, mas apenas algo que possibilite a sobrevivência humana e o atendimento apenas a necessidades instintivas, nem sempre prioritárias ou vantajosas.

Daí a herança dos anos 90 da ditadura midiática, do direitismo político, do neoliberalismo econômico. Só que muitos desses "frutos" são defendidos como se não tivessem a ver com esse contexto sócio-político de tecnocratas, políticos ainda autoritários e executivos de mídia que, trancados nos seus escritórios, acham que detém os segredos e os desejos das classes populares dentro de seus ternos.

Não se quer cultura, mas apenas "cultura pop", igualzinho ao que acontece nos EUA. Pouco importa a produção de conhecimentos e valores sociais sólidos, o que se defende é o consumismo puro, travestido de "cultura das periferias".

Mesmo entre parte da opinião pública esclarecida, o poder midiático, político, tecnocrático e econômico manipulou seus desejos, suas ideias e perspectivas. De repente, aquelas pessoas que tinham algum senso questionativo mais ácido passam a amaciar seu senso crítico, aceitando o "estabelecido" porque "os tempos são outros".

Portanto, não há como escapar. O Brasil que tem MC Anitta como a "maior revelação" da música é o país que tem Merval Pereira na Academia Brasileira de Letras, Joaquim Barbosa de mãos dadas com a Globo, Jaime Lerner ainda pregando modelos ditatoriais de mobilidade urbana, Geraldo Alckmin governando São Paulo como se fosse um tirano medieval (ele é ligado a Opus Dei).

Este é ainda um país anterior aos protestos de ruas, que mostra intelectuais preferindo defender o jabaculê como futuro da cultura popular, enquanto membros do Judiciário defendem a "legalidade" da ditadura midiática. É um país marcado pela baixa autoestima, de preferir macaquear os EUA - como MC Anitta imitando Britney Spears e cia. - do que ser o próprio Brasil da justiça social e qualidade devida.
http://mingaudeaco.blogspot.com.br/2013/07/a-baixa-autoestima-contamina-o-brasil.html

Se Deus quiser, o Brasil ainda terá um presidente ateu




Em resposta à Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo deste domingo (21), o bispo Robson Rodovalho, líder da igreja “Sara Nossa Terra”, afirma que acredita ser natural o país ter um evangélico na Presidência da República no futuro.
Se não me falha a memória, o Brasil teve seu primeiro presidente protestante na figura do presbiteriano Café Filho, que assumiu o país por pouco mais de um ano após o suicídio de Getúlio Vargas, não tendo sido eleito para a função. O ditador Ernesto Geisel era luterano, mas também não foi eleito pelo voto popular. A grande novidade seria um governante protestante que fosse evangélico neopentecostal e suas liturgias da prosperidade e da cura.
O número de católicos cai (de 63%, em 2010, para 57%, hoje, segundo o Datafolha) e o de evangélicos não apenas cresce em número (de 24% para 28%), mas também em presença na política partidária. Marina Silva, membro da Assembleia de Deus, hoje está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos para a eleição presidencial no ano que vem.
E, se por um lado, há parlamentares evangélicos que vociferam contra a dignidade humana, mas outros que atuam na defesa dos direitos das minorias, mesmo nos casos em que há conflito com sua religião. Da mesma forma que ocorre com muitos católicos.
Além do mais, no fundo, isso não tem importado muito. Uma vez chegando ao poder, independentemente de sua crença, políticos atendem às demandas de grupos religiosos conservadores com vistas à chamada governabilidade ou visando às eleições. Por exemplo, o combate à homofobia através da educação avançou pouco na atual administração federal, menos por conta da pressão de deputados da bancada evangélica e mais por esse cálculo político.
A pesquisa Datafolha, deste domingo, mostra que os católicos podem ser menos conservadores que os evangélicos em alguns temas (como a adoção por casais do mesmo sexo), mas ainda assim, na resultante final, a nossa sociedade não se coloca de forma progressista com relação aos direitos individuais.
Particularmente, ficarei chocado no momento em que o Brasil eleger um presidente declaradamente ateu que não precise esconder isso de seu eleitor com medo que o seu caráter seja, estupidamente, julgado por conta disso.
(Tenho certeza que FHC e Dilma são, no máximo, agnósticos não-praticantes. Mas tiveram que ajoelhar e dizer amém.)
O fato é que o Brasil aceitaria mais facilmente alguém que acredita em Deus mesmo com uma fé diferente da sua do que alguém não acredita ou não tem certeza disso.
No dia em que isso ocorrer, creio que atingiremos a maturidade como democracia. Não porque ateus são melhores, longe disso. Mas pelo fato de que teremos compreendido que, se o governante zelar pela dignidade e igualdade de direitos de todas as crenças, sua fé pessoal é tão importante quanto o time de futebol pelo qual torce.