quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O desabafo de Florestan Fernandes Jr.

"Nós, jornalistas, estamos de luto. A família de Santiago Andrade está de luto. Não nossos patrões que fazem do jornalismo um espetáculo dos horrores. Que colocam na frente das câmaras âncoras despreparados e irresponsáveis que vomitam seus preconceitos e ódios"

Florestan Fernandes Jr
Apenas um desabafo de um jornalista de televisão
“Vai ser rápido, três takes”, foi o que disse Santiago ao sair da redação. A expressão banal usada com frequência por repórteres e cinegrafistas quando têm a tarefa de gravar um assunto que não demanda muito tempo, agora merece uma longa e demorada reflexão.
Morreu um companheiro de trabalho, jornalista de frente, da cobertura pesada das ruas, vielas e palácios suntuosos do país. Morreu um repórter do cotidiano, que colocava sua vida em risco quase que diariamente na nobre tarefa de informar. Com suas imagens ajudou a aumentar a audiência de telejornais. Certamente nunca teve o reconhecimento financeiro de seu importante trabalho. Como todos os colegas de profissão, tinha um salário miserável pelo risco que corria.
Mas isso não é mais importante. Ele já está morto. Morreu registrando as cenas de barbárie de um país que, pela primeira vez, se olha no espelho e vê refletido um rosto marcado pelas cicatrizes de centenas de anos de abandono e descaso. De um país de poucos, de uma justiça para poucos, de terras nas mãos de poucos, da educação para poucos, de riqueza para poucos. Um país de uma elite arrogante, perversa e preconceituosa, que por séculos controla a política em todos os níveis; estadual, municipal e federal.
Nós jornalistas, sim, estamos de luto. A família de Santiago Andrade está de luto. A sociedade brasileira mais uma vez está de luto. Não nossos patrões que fazem do jornalismo um espetáculo dos horrores. Que colocam na frente das câmaras âncoras despreparados e irresponsáveis que vomitam seus preconceitos e ódios. Jornalismo de baixo nível que usa e abusa do sensacionalismo para garantir audiência. De “âncoras” desafiando o bom senso todos os dias com um pensamento esquizofrênico e preconceituoso. Um jornalismo travestido de notícia que manipula dados, denúncias e, em vez de levar conhecimento, cultura e educação, faz da noticia um controle de mentes.
São os Black bloc da comunicação. Ajudaram e continuam ajudando a destruir os valores mais importantes da cidadania e de justiça social. Tudo cinicamente justificado pela liberdade de expressão. Tudo para manter o status quo de uma elite atrasada e mesquinha que realmente não quer abrir mão de seus privilégios.
protesto cinegrafista santiago andrade

A um passo do terror

Essa é a lógica perversa que leva ao terrorismo. Começa com um rojão e não se sabe como vai acabar. A outra face da moeda é o endurecimento das leis contra manifestações políticas e o cerceamento das liberdades individuais


Atribui-se ao ex-deputado Vladimir Palmeira, então o principal líder estudantil carioca, a palavra de ordem que incendiou corações e mentes nas manifestações de 1968: "Mataram um estudante, podia ser seu um filho". Edson Luís de Lima Souto era um secundarista paraense, filho de lavadeira, assassinado em 28 de março daquele ano. Cursava o supletivo e sonhava com uma faculdade de engenharia. Era frequentador do Calabouço, como era chamado o Restaurante Central dos Estudantes, localizado onde é hoje o trevo de acesso ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Criado por Getúlio Vargas, fornecia refeições baratas para estudantes pobres.
Foco de agitação estudantil, o Calabouço ficava ao lado do Instituto Cooperativo deEnsino, onde o mártir das manifestações de 1968 estudava. O término das reformas do restaurante e a melhor qualidade da comida eram bandeiras dos protestos. Os estudantes organizavam uma passeata quando a Polícia Militar chegou ao local e dispersou os jovens, que se refugiaram no restaurante. Policiais invadiram o local e o comandante da tropa da PM, Aloísio Raposo, matou Edson com um tiro à queima-roupa. Outro estudante, Benedito Frazão Dutra, ferido gravemente, morreu no hospital. Os estudantes não permitiram, porém, que o corpo de Edson Luís fosse levado para o Instituto Médico Legal (IML); foram com ele em passeata para a Assembleia Legislativa, onde foi velado. Dali, saiu para o enterro no Cemitério São João Batista, com 50 mil pessoas protestando. Edson Luís foi enterrado ao som do Hino Nacional, cantado pela multidão. O Rio de Janeiro parou.
O desdobramento do episódio foi a Passeata dos Cem Mil, em 26 de julho, que revelou profunda divisão entre os oposicionistas.Parcela considerável dos estudantes cantava a palavra de ordem "só o povo armado derruba a ditadura", enquanto os mais moderados respondiam com "o povo unido jamais será vencido" e "o povo organizado derruba a ditadura". Por trás da retórica, havia o "racha" do Partido Comunista Brasileiro, liderado por Carlos Marighella e outros líderes dissidentes, que defendiam a luta armada contra o regime militar. O resto da história é conhecida: a maioria dos líderes dos protestos aderiu à guerrilha urbana e rural; muitos foram presos, torturados, exilados ou simplesmente executados.

Vítima


O funeral do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, 49 anos, não terá, provavelmente, a mesma dimensão do enterro de Edson Luís. Apesar da consternação que o caso provocou na sociedade, os protestos serão sobretudo dos colegas de profissão. Poderia ser o pai de um dos manifestantes que participaram dos protestos contra aumentos de passagens, na Central do Brasil, há uma semana, ocasião em que foi atingido na cabeça por um rojão disparado por um manifestante. Atualmente, jornalistas não são bem-vindos nas manifestações, são hostilizados por policiais e por manifestantes porque registram os excessos de cada um, ou seja, revelam a irracionalidade e a violência que vêm dominando os atos de rua nas principais cidades brasileiras.
Nas rede sociais, a "mídia comercial", como é chamada até em reuniões de sindicatos de jornalistas profissionais, virou uma espécie de Geni para os militantes de esquerda, de todas as idades. Quem ousa questionar os métodos violentos adotados pelos militantes black blocs e outros arruaceiros é virulentamente atacado. Defende-se a legitimidade da violência nos protestos como uma espécie de autodefesa dos manifestantes, embora o vandalismo tenha virado um fim em si mesmo. Velhos teóricos de ultraesquerda, como Antônio Negri, ideólogo das Brigadas Vermelhas, voltam a ser lembrados nas reuniões e debates.
Curioso é que o governo é quase omisso em relação à atuação desses grupos violentos, mantendo distância regulamentar das manifestações. O desgaste da repressão fica para os governadores, com polícias despreparadas para lidar com o fenômeno. A repressão reforça o discurso de que a reação violenta é uma respostas legítima dos manifestantes, numa espiral crescente. Glamouriza-se a violência, da mesma forma como se faz a apologia da luta armada contra o regime militar, que foi um equívoco político crasso.
O jurista italiano Norberto Bobbio, em artigos para os jornais La Stampa e Avanti, travou um memorável debate com a esquerda do país europeu sobre a violência política e as raízes do assassinato do primeiro-ministro democrata-cristão Aldo Moro, pelas Brigadas Vermelhas, que adotaram a luta armada em plena democracia italiana, em maio de 1978. Criticava os grupos revolucionários que justificavam a própria violência como uma resposta possível à violência do Estado.
Essa é a lógica perversa que leva ao terrorismo. Começa com um rojão e não se sabe como vai acabar. A outra face da moeda é o endurecimento das leis contra manifestações políticas e o cerceamento das liberdades individuais, com o fortalecimento do chamado "partido da ordem", que não precisa necessariamente ser de direita, sem falar no surgimento de bandos fascistas e de justiceiros.
Como dizia Bobbio em outro de seus artigos, "a política não pode absolver o crime", como aconteceu com Cesare Battisti, terrorista das Brigadas Vermelhas condenado na Itália e que recebeu refúgio no Brasil.

LEMBRETE PRA QUEM DIZ QUE VIVEMOS EM UMA DITADURA


Sei que alguns afirmam que não estamos na democracia, SQN*. Ditadura é outra parada: na ditadura, pra começar, não se aceita que digam que é uma ditadura. Pratica-se censura, há prisões por puras divergências ideológicas ou declarações contra o regime, elimina-se o estado de direito e a vigência de leis e de garantias individuais e coletivas, fecha-se o Congresso, cassam-se mandatos e proibem-se determinados partidos, órgãos de representação da população e de classe são fechados, vigiam-se totalmente as comunicações e violam-se correspondências, há tortura a opositores políticos e assassinatos para eliminá-los fisicamente. Professores e reitores são cassados nas universidades públicas, jornalistas são impedidos de realizar seu trabalho e de falar, jornais e gráficas são fechados, estudantes não podem ter seus grêmios e são impedidos de reunir-se livremente para fins pacíficos: é assim hoje em dia?

Confiscam-se e queimam-se livros e discos, peças e filmes são impedidos de ser exibidos, há bombas em shows populares, redações de jornais e até em bancas de jornais colocadas por terroristas ligados ao sistema, o país se subordina até o pescoço aos interesses do capital e das nações mais poderosas, não podemos ter política externadescentralizada e nem decidir sobre nossos destinos ou contrariar o sistema vigente imposto, todos os cargos de mando da administração pública em todos os escalões são nomeados e ocupados por pessoas do mesmo grupo e interesses, tribunais e juízes perdem autonomia e julgam deacordo com a vontade do governo, não há eleições livres e diretas e nem oposição política concreta: aqui é assim?

Se fosse mesmo uma ditadura, eu nem poderia estar escrevendo isso, já que nessas poucas linhas eu exponho o que é uma ditadura e como ela funciona de fato. Já vivi essa situação e sei como é e como não é ... e garanto que não vivemos numa ditadura.
 
(* SQN significa 'só que não' e é uma gíria pra negar a proposição imediatamente anterior. É também o apelido ou sigla do ótimo blog do amigo Valdir Fiorini ->http://esquerdopata.blogspot.com.br/)
 








O papel da mídia no acirramento da violência


"A defesa de milícias privadas, linchadores de aluguel e grupos de extermínio revelaatraso civilizatório de quem aposta na “justiça” pelas próprias mãos.

Hamilton Octavio de SouzaGGN

De tempos em tempos a posição maisextremada de alguém da mídia cria desconforto até mesmo aos setores conservadores e de direita – da mídia e da sociedade. É o que aconteceu na última semana, quando uma notória comentarista do SBT, a TV de Sílvio Santos, defendeu em rede nacional o apoio aos atos de violência praticados por uma gangue de motoqueiros, que atacou, espancou e prendeu em um poste, covardemente, no Rio de Janeiro, um adolescente de 15 anos.
Não é de hoje que jornalistas e privilegiados cidadãos com amplo acesso aos meios de comunicação usam e abusam de discursos a favor da truculência de vigilantes, milicianos e esquadrões da morte. É sintoma persistente num país que não se livrou das heranças coloniais e escravocratas, em que a brutal desigualdade ainda separa o mundo em casa grande e senzala, ricos e pobres e acintosamente divide a sociedade entre os portadores e os desprovidos de direitos.

A característica mais evidente deste tipo de postura – que tem porta-vozes na mídia, no Congresso Nacional, nas Forças Armadas e nos mais diferentes espaços públicos e privados – é que seus autores não apenas se colocam acima das regras mais elementares do pacto de vida em sociedade, mas deliberadamente confrontam as leis, a Constituição Federal e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948.

Já tivemos em horário nobre da televisão brasileira inúmeros apresentadores de programas regionais e/ou nacionais, que defendiam abertamente o massacre de cidadãos acusados ou suspeitos da prática dos mais simples delitos, como o roubo de alimentos ou de qualquer bem de uso pessoal. Tais jornalistas e comunicadores sempre se valeram de bordões como “bandido bom é bandido morto” ou “lugar de bandido é na cadeia”, tudo para sensacionalizar os casos muitas vezes baseados apenas na versão da polícia.

É inaceitável verificar que as grandes redes de TV – Globo, Record, SBT, Band – ainda abrigam programas nos quais o babão ou a babona de plantão, verdadeiros pitbulls da selvageria, continuam destilando ódio de classe ou étnico ou de gênero ou de sexo contra pessoas indefesas e fragilizadas, utilizando assim o poder da comunicação de massa para atiçar contra elas toda a ira do sistema, inclusive a dos indivíduos que são pagos para matar.

Da mesma forma ainda temos no Congresso Nacional e nos vários níveis do Legislativo, parlamentares eleitos pelo voto popular que defendem as mais medievais formas de violência, seja contra os povos indígenas e os trabalhadores rurais sem terra ou seja contra as mulheres, os gays ou os jovens negros e pobres das periferias do Brasil, que são – em todas as estatísticas, as maiores vítimas fatais da intolerância econômica, social e cultural.

Todo mundo deve se lembrar de uma frase de um deputado federal de São Paulo, quando defendeu um estuprador que havia assassinado a sua vítima. Ele disse:“quer estuprar, estupra, mas não mata”, como se tal interpretação pudesse amenizar a barbárie contida na ação criminosa. Todo mundo também deve se lembrar de que na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro já tivemos, até recentemente, diversos aliados das milícias formadas nos bairros da Baixada Fluminense.

Existem, em São Paulo, inúmeras denúncias sobre a atuação dos grupos de extermínio formados nos quartéis da Polícia Militar do Estado de São Paulo, integrados por PMs, e que são responsáveis por inúmeros assassinatos nos últimos anos. Seus crimes são acobertados pelas autoridades e fazem parte não apenas da política de intimidação das populações periféricas, mas também, muitas vezes, esses policiais estão envolvidos nas organizações do tráfico de drogas, roubo de cargas e desmanches de veículos furtados.

Nada disso é novidade no Brasil: nos anos de 1960 e 1970 atuaram em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e outros estados, os famigerados “esquadrões da morte”, todos comandados por policiais. Durante anos esses esquadrões assassinaram centenas de pessoas sem passagem policial, suspeitos de crimes e presos (muitas vezes retirados de delegacias e cadeias) como se seus integrantes fossem “juízes” e “tribunais” da sociedade acima da lei e do respeito aos direitos dos cidadãos – entre os quais os de ter presumida a sua inocência, ter ampla defesa e, se condenado, por Justiça idônea, cumprir a pena sem a violação de sua integridade física.

O que parece chocar muita gente, atualmente, é verificar que na imprensa e nos mais influentes meios de comunicação, ainda existem profissionais – jornalistas ou não – adeptos e propagandistas das práticas do “justiçamento” de pessoas por grupos que se consideram acima das leis e da sociedade.

 Infelizmente, os concessionários das emissoras de rádio e TV adoram os programas que babam violência e defendem a barbárie, porque aumentam a audiência pelo sensacionalismo, mas eles lavam as mãos quando o conteúdo exige a sua responsabilidade.

Se a ausência de segurança pública é um problema sério no Brasil, e se os cidadãos comuns estão cansados da inoperância do Estado, a saída evidentemente não é acirrar uma guerra sem fim no seio da sociedade, que só vai favorecer ainda mais os ricos e poderosos (que podem comprar e dispor de todos os esquemas para garantir a sua segurança), mas está em exigir dos políticos e das autoridades medidas que reduzam as desigualdades e melhorem as condições de vida para todos. Fora disso será apostar na barbárie generalizada."

“O Brasil não é um país civilizado”: a Lógica Sheherazade, que não explica nada, interessa a quem?


Diário do Centro do Mundo

'O Brasil acabou. The End. Finito. Game over. Caput.

Já temos justiceiros que prendem adolescentes a postes com travas de bicicletas e detentos decapitados por detentos.

Agora, de acordo com a Folha, gays estão sendo agredidos nas ruas em “novas ondas” de ataques homofóbicos na região da rua Frei Caneca, em São Paulo. A solução proposta na matéria: “evitar lugares abertos; não dar ‘pinta’ — alguns trejeitos podem atrair a atenção de criminosos; evitar andar de mãos dadas e beijar em locais públicos”.

OK. Aparentemente, isso significa que, depois do beijo na novela das 9, já estava na hora de os homossexuais voltarem para o armário. O complicado é o conselho para “não dar pinta”. Como proceder? Que tipo de roupa eles devem ou não usar? Podem ouvir Lady Gaga? Qual o carro adequado? E as gírias?

Numa terra sem lei, chamar a polícia, nem pensar. Contratar um advogado para quê? Hoje, foi divulgada uma foto do suspeito de ter acendido o rojão que matou ocinegrafista da Band Santiago Andrade. Seu mandado de prisão já foi expedido.

Ele pode ser denunciado por um vizinho e entregue a uma delegacia. Ou, aplicando-se a Lógica Sheherazade, será “compreensível” se for apanhado por um grupo de vingadores imbecis e linchado, já que o estado não serve para coisa alguma e estamos na selva.

Numa entrevista para a revista ‘Forbes’, Rachel Sheherazade disse que o Brasil “não é um país civilizado. Ninguém acredita nisso mais. Em termos de civilidade, nós atingimos o grau mais baixo”. E segue daí.

Não que não haja problemas gravíssimos de segurança pública. Mas essa histeria interessa a quem? Gritar fogo e sair correndo para se salvar ajuda a quem? O pessoal que Sheherazade representa — ou as pessoas em quem ela vai votar: o que eles propõem? Um haraquiri ou um justiçamento coletivo? Temos alguma ideia?

Há alguns anos, os Simpsons criaram um episódio passado no Brasil. A certa altura, macacos cruzavam as ruas de Ipanema. Foi motivo de repúdio quase generalizado (especialmente por quem não entendeu que era uma piada).

Fosse hoje, os autores da série teriam de incluir homens encapuzados com cutelos, crianças fugindo de prédios em chamas e hienas se alimentando de cadáveres atirados a esmo nas praias, enquanto Neymar faz um gol impedido com as mãos.

E ninguém diria nada. Acabou. Caput. Fecha tudo e pede a conta. Vamos cobrir a cabeça de cinzas e entregar os reféns. Só tente, por favor, não sair dando pinta por aí."

Bomba! O vídeo que pode derrubar Joaquim Barbosa!

Prestem atenção nesse vídeo. Nele, Joaquim Barbosa fala inúmeras inverdades, além de seus ataques de praxe aos direitos dos réus.

É uma votação de 12 de maio de 2011. Julga-se exatamente se o STF deve liberar ou não os autos do Inquérito 2474 a alguns réus da Ação Penal 470. Barbosa vinha mantendo o Inquérito 2474 em sigilo desde que o recebeu, em março de 2007. No início de 2011, vazou uma pequena parte à imprensa, e vários réus da Ação Penal 470 solicitam ao STF para terem acesso à íntegra do inquérito, que tem 78 volumes. Barbosa, então relator da Ação Penal 470, recusa, e o caso vai a votação. Ao final, Barbosa vence, com ajuda de Ayres Brito, que desempata a votação.
Barbosa afirma que inquérito 2474 trata de outros réus e assuntos não relacionados ao mensalão petista.
Mentira.
O relatório do Inquérito 2474 trata dos réus que também estão na Ação Penal 470, como Marcos Valério e seus sócios, e Henrique Pizzolato e Gushiken. E traz documentos, logo em suas primeiras páginas, dos pagamentos do Banco do Brasil à DNA, referentes às campanhas da Visanet. Ora, o pilar do mensalão foi o suposto desvio de recursos da Visanet, no total de R$ 74 milhões, para a DNA, sem a correspondente prestação de serviços. Como assim o Inquérito 2474 trata de assuntos diferentes?
Barbosa diz que a Polícia Federal tomou cuidado para “não apurar, no Inquérito 2474, nada que já esteja sendo apurado na Ação Penal 470″.
Mentira.
No inquérito 2474, um dos documentos mais analisados é o Laudo 2828, que investiga o uso dos recursos Visanet, que é o tema principal da Ação Penal 470.
Celso de Mello dá uma belíssima aula sobre a importância, para a defesa, de conhecer todos os autos que possam lhe ajudar. E vota contra o relator, em favor do pedido dos réus.
Barbosa se posiciona, como sempre, como um acusador impiedoso e irritado, sem interesse nenhum em dar mais espaço à defesa.
Observe ainda que Celso de Mello dá sutis estocadas irônicas na maneira “célere” com que Barbosa toca esse processo (a Ação Penal 470), “em particular”. Ou seja, Mello praticamente acusa Barbosa de patrocinar um julgamento de exceção.
Celso de Mello alerta que a manutenção de sigilo para documentos que poderiam ajudar os réus constitui um “cerceamento de defesa”.
Barbosa agiu, como sempre, como um inquisidor implacável e medieval. Ayres Brito e Luis Fux, para variar, votam alinhados à Barbosa.
É inacreditável que o Supremo Tribunal Federal (STF), um lugar onde supostamente todas as garantias individuais deveriam ser asseguradas aos cidadãos perseguidos pelo Estado, de repente se transfigurou num tribunal de exceção, de perfil inquisitorial, no qual os direitos da defesa foram tratados, sistematicamente, como meras “chicanas”, “postergações inúteis”.
Todas as regras foram quebradas, mil exceções foram criadas, para se condenar sumariamente.
Nesse vídeo, temos a prova de que Barbosa agiu deliberadamente para cercear direitos à defesa. Isso é o pior crime que um juiz da suprema corte pode cometer, e que justifica um pedido de impeachment.
Entretanto, se pode verificar no vídeo o nervosismo de Barbosa para afastar qualquer possibilidade de trazer as informações do inquérito 2474 para dentro dos debates.
Celso de Mello lembra, então, que o plenário ainda estava na fase de apurações, e que portanto era o momento adequado para enriquecer o debate com mais informações, ao que Barbosa responde, com sua prepotência de praxe, que a fase de investigação estava “quase no final”. Como quem diz: “não me atrapalhe, quero terminar logo esse circo; vamos condenar logo esses caras os mais rápido possível; temos que dar satisfação à Rede Globo.”
torquemada2
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