terça-feira, 30 de abril de 2019

Lições de um professor Munduruku


Dia do Índio é data ‘folclórica e preconceituosa’, diz Daniel Munduruku. Professor, com doutorado pela USP e pós-doutorado pela Federal de São Carlos, ele prefere ser chamado de “indígena”, que significa “originário, aquele que está ali antes dos outros”.

A afirmação inicia uma entrevista publicada pela BBC-Brasil, em 19/04/2019.

Mas, atenção, diz ele, “os indígenas não são seres do passado, são do presente”. Já a palavra índio:

...está quase sempre ligada a preguiça, selvageria, atraso tecnológico, a uma visão de que o índio tem muita terra e não sabe o que fazer com ela. A ideia de que o índio acabou virando um empecilho para o desenvolvimento brasileiro.

Mas Daniel não é apenas indígena. É Munduruku. É seu “lugar de pertencimento”. Para ele, identificar “os diferentes povos indígenas significa garantir a eles direitos e políticas específicas, não políticas genéricas.”

Quanto ao 19 de Abril, sugere que as escolas deixem “de usá-la como uma data comemorativa. É uma data para a gente refletir”:

Um Dia da Diversidade Indígena teria um impacto semelhante ao Dia da Consciência Negra, que gerou uma mudança absolutamente significativa.

Aos que afirmam que os indígenas brasileiros vivem na miséria, Munduruku responde:

Quando a gente pensa que uma pessoa é miserável porque ela não é como a gente, porque ela não frequenta shopping center, a gente está sendo não apenas preconceituoso, mas racista.

Quanto ao momento atual:

Eu não quero ser profeta do caos. Mas minha perspectiva é que as coisas vão piorar para os povos indígenas nesse governo.

Nada a comemorar. Muito o que aprender e pelo que lutar.

Novo surto da crise mundial no horizonte


A revista eletrônica espanhola Sin Permiso publicou um artigo de Michael Roberts, em 19/04/2019. O economista marxista britânico inicia o texto alertando que em recente reunião conjunta, FMI e Banco Mundial novamente avaliaram que se tornou muito provável uma “nova recessão” na economia mundial.

Mas o que interessa destacar são as conclusões do próprio Roberts:

Toda crise possui um gatilho diferente ou causa próxima. A recessão internacional de 1974-5 foi provocada por um forte aumento dos preços do petróleo e o abandono dos Estados Unidos do padrão dólar-euro. A crise de 1980-1982 foi provocada por uma bolha imobiliária na Europa e uma crise industrial nas principais economias. A recessão de 1990-2 foi provocada pelos preços do petróleo e a guerra do Iraque. A leve recessão de 2001 foi o resultado da explosão da bolha dot.com. E a Grande Recessão se iniciou com o colapso da bolha imobiliária nos Estados Unidos (...). Mas, por trás de cada uma destas crises está o movimento de queda na rentabilidade do capital produtivo e, finalmente, uma desaceleração ou diminuição da massa de lucros.

Desta vez, acredito que o deflagrador será a dívida empresarial, já que as empresas conseguem acumular um excesso de créditos baratos e quando os lucros caem e o custo dos juros sobe, tornam-se insolventes.

Importante acrescentar que, de todas as crises acima, a mais profunda foi a de 2008. Aquela que nunca terminou e trouxe com ela uma onda ultraconservadora que vem varrendo muitos países importantes.

Quando um novo surto da crise vier, ou a classe trabalhadora responde com suas alternativas socialistas ou haverá ainda mais barbárie.