quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Ah, se o Brasil tivesse juízes...


O Judiciário é o poder que menos funciona no Brasil - é caro, lento, e promove uma Justiça que, aos olhos do cidadão comum, privilegia os ricos e pune os pobres.

Além disso, muitas de suas decisões são tão estapafúrdias que chegam a ser inexplicáveis, pelo menos à luz da lógica, o que induz as pessoas a crer que elas são fruto de, digamos, um incentivo, uma recompensa, um cafezinho, um por fora, por parte do réu, sendo o beneficiado, claro, o próprio julgador.

Por falar nisso, alguém conhece algum juiz, algum promotor, ou mesmo algum delegado de polícia, pobre, remediado, classe-média?

Entendo pouco de direito, mesmo assim ouso dizer que, para que se faça justiça, seja lá o caso em questão, o interesse coletivo deve prevalecer sobre o individual.

Não há lógica, por exemplo, em condenar à prisão quem rouba meio quilo de carne, ou uma roupa, ou seja réu primário de uma infração menor.

O custo social de uma prisão por esses crimes é maior que os benefícios que ela possa proporcionar à sociedade.

Mas vamos ao que interessa, que é essa crise política e econômica pela qual o país está passando.

Todos sabem que ela é fabricada, é fruto das ações dos perdedores da eleição presidencial de 2014, que não aceitaram, como em qualquer democracia que se preze, a derrota, e tentam, por todos os meios, chegar à presidência sem passar pelo crivo das urnas.

Um dos maiores instigadores e operadores desse processo é o atual presidente da Câmara dos Deputados, que, é notório, não passa de um escroque, com traços latentes de psicopatia, tal qual aqueles gangsteres do cinema americano.

Há outros fatores desestabilizantes à normalidade da vida brasileira, como essa operação Lava Jato, que, mostram os fatos, sob o pretexto de prender corruptos, se transformou num poder extra da República, agindo sob claros interesses partidários-ideológicos, poupando, em sua fúria, principalmente o PSDB, principal partido oposicionista, e investindo furiosamente contra o PT e aliados.

Pois bem, e vamos terminar por aqui, o fato é que, se houvesse juízes no Brasil, ele não estaria mais vivendo essa bagunça toda, e essa desgraça que quase o paralisa, não estaria mais acontecendo. 

Tanto as evidentes irregularidades da Lava Jato teriam sido já interrompidas, como esse ridículo processo de impeachment presidencial devidamente abortado.

O Brasil, se houvesse cá juízes, seria tratado como uma democracia moderna, forte e praticamente consolidada, e não como uma republiqueta de bananas, dessas que são usadas pela sua oligarquia como mero quintal para satisfação de seus desejos.

http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2015/12/ah-se-o-brasil-tivesse-juizes.html

Assim se prepara uma nova Guerra Mundial



França, Grã-Bretanha e Alemanha, além dos EUA, ampliam intervenção no Oriente Médio; o alvo principal não é o EI, mas a Rússia


Por Joseph Kishore

Os eventos da semana passada passarão à história como divisor de águas na constituição do imperialismo no século XXI. No período de poucos dias, EUA, Grã-Bretanha e Alemanha ampliaram o respectivo envolvimento militar na Síria, depois que a França intensificou sua campanha de bombardeio no mês passado.

O pretexto para essas operações são os ataques terroristas de 13 de novembro em Paris, seguido agora pelo horrendo ataque a tiros em San Bernardino, Califórnia, na quarta-feira passada. As razões declaradas publicamente, contudo, pouco têm a ver com discussões estratégicas que estão acontecendo nos escalões superiores das forças militares e das agências de inteligência.

Por trágica que seja a matança de 130 pessoas em Paris e 14 em San Bernardino, não explicam a repentina convulsiva escalada militar das principais potências imperialistas contra o Oriente Médio. Não é difícil ver semelhanças e diferenças em relação a 1915, quando os EUA recusaram-se a entrar na Primeira Guerra Mundial, mesmo depois do afundamento do RMS Lusitania, com perda de 1.198 vidas. Naquele momento, a classe capitalista norte-americana ainda estava dividida sobre se seria aconselhável intervir na então chamada “Grande Guerra” (que só passou a ser chamada “Primeira Guerra Mundial” depois que houve a Segunda).

A força básica por trás da guerra na Síria é a mesma que motivou a formatação imperialista de todo o Oriente Médio: os interesses do capital financeiro internacional. As grandes potências imperialistas sabem que, se quiserem pôr a mão no butim, têm também de fazer sua parte da matança.

Esse movimento de guerra no Oriente Médio é altamente impopular, o que explica o frenesi para utilizar os ataques recentes na Europa, além da atmosfera de medo que a mídia-empresa cria e infla, para ativar as ações o mais rapidamente possível. Considerem-se os eventos da semana passada:

Na terça-feira, o governo Obama anunciou que enviaria novo contingente de Forças de Operações Especiais, oficialmente contra o EI (Estado Islâmico no Iraque e Levante). Em conferência de imprensa no mesmo dia, Obama repetiu que qualquer acordo na Síria terá de incluir a derrubada do presidente Assad da Síria, aliado chave da Rússia.

Na quarta-feira, o parlamento britânico aprovou apoio à ação militar na Síria, depois que o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, desimpediu qualquer caminho rumo à guerra, ao aceitar “livre votação” sobre o tema para os deputados de seu partido. Aviões britânicos decolaram imediatamente para bombardear alguns alvos na Síria já na quarta-feira à noite, com o primeiro-ministro Cameron declarando “simpatizante de terroristas” quem se opusesse à guerra.

Na sexta-feira, o parlamento alemão correu a aprovar moção para que a Alemanha também se juntasse à guerra contra a Síria, praticamente sem nem discutir a questão. A aprovação parlamentar ao envolvimento da Alemanha na guerra veio depois da decisão do governo Merkel, no início da semana, de enviar 1.200 soldados, seis jatos Tornado e um navio de guerra para a região.

E então, durante o fim de semana, a mídia-empresa nos EUA e todos os políticos doestablishment dedicaram-se a explorar o tiroteio em San Bernardino, Califórnia, para pressionar a favor da expansão da guerra no Oriente Médio. Os candidatos republicanos à presidência dispararam “declarações” beligerantes insistindo que os EUA estariam diante da “próxima guerra mundial” (governador de New Jersey, Chris Christie); que “o país precisa de presidente para tempos de guerra” (senador Ted Cruz, do Texas), e que “eles declararam guerra contra nós e nós temos de declarar guerra contra eles” (ex-governador da Flórida, Jeb Bush).

Em discurso no domingo à noite, Obama defendeu, contra os críticos republicanos, a própria política na Síria; repetiu que se opõe ao envio massivo de soldados em solo para a área de Iraque e Síria, e que é a favor de acelerar os ataques aéreos; o financiamento para grupos dentro da Síria; e o uso de tropas de países vizinhos. Elogiou os movimentos de França, Alemanha e Reino Unido, e declarou: “Desde os ataques em Paris [dia 13/11], nossos mais próximos aliados (…) aceleraram a contribuição deles à nossa campanha militar, que nos ajudará a acelerar nossos esforços para destruir o EI”.

Por mais que pressionem e pressionem a favor de mais guerra, nem Obama nem qualquer outro setor do establishment político nos EUA diz sequer uma palavra sobre as raízes reais do ISIS, que já serviu de pretexto para a “guerra ao terror” a partir do qual começou, e nunca mais se alterou, a política externa dos EUA para 15 anos.

No discurso de domingo, Obama fez uma referência oblíqua ao crescimento do EI “em pleno caos da guerra do Iraque e depois na Síria” – como se nada tivesse a ver com a própria política dos EUA. A verdade é que EUA e aliados é que ocuparam (ilegalmente) e devastaram (consequentemente) o Iraque, e na sequência criaram e ou inflaram grupos de islamistas fundamentalistas na Síria, a partir dos quais o ISIS emergiu como cabeça de ponte da guerra contra o presidente Bashar al-Assad da Síria.

Os terroristas do EI que executaram os atentados em Paris puderam viajar livremente, entrando e saindo da Síria, porque milhares de jovens como eles viajavam da Europa para a Síria, livremente, e com o apoio de autoridades, para que se unissem ao golpe e à guerra contra Assad.

Quanto ao ataque em San Bernardino, funcionários citaram a viagem dos dois atiradores à Arábia Saudita e seus contatos com indivíduos da Frente Al-Nusra, para poderem referir-se ao tiroteio como ataque terrorista. A Arábia Saudita, centro de financiamento e apoio para os grupos fundamentalistas islamistas em todo o Oriente Médio, é aliada-chave dos EUA na região, e a Frente Al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda, é aliada de facto dos EUA na Síria.

Em vez de resposta contra os ataques recentes, as ações das potências imperialistas são a realização de planos já existentes e de ambições já conhecidas há muito tempo.

Na Grã-Bretanha, votação dessa semana reverteu a decisão de 2013, da Câmara de Comuns, segundo a qual o país não participaria de guerra planejada e liderada pelos EUA contra a Presidência da Síria. A elite governante alemã não para de “exigir” que o país participe mais ativamente do avanço militar na Síria, para afirmar a própria posição como potência dominante na Europa.

Nos EUA, antes dos ataques em San Bernardino, ouviam-se vozes insistentes do establishmentpolítico e da mídia-empresa a favor do envio de tropas de solo e da imposição de uma zona aérea de exclusão sobre a Síria.

Com os EUA à frente, as potências imperialistas já se engajaram numa guerra infinita, centrada no Oriente Médio e Ásia Central, já há um quarto de século. Mais de um milhão de pessoas já foram mortas e outros muitos milhões foram convertidos em refugiados. Depois das guerras no Afeganistão e no Iraque durante o governo Bush, Obama supervisionou a guerra na Líbia e as campanhas conduzidas pela CIA para mudança de regime na Ucrânia e na Síria. As consequências desastrosas de cada operação prepararam o terreno para que o governo Obama expandisse e intensificasse a guerra.

O que se vê hoje é uma reformatação para recolonização do mundo. Todas as velhas potências levantam-se, exigindo a parte de cada uma no neobutim. Embora hoje centrado no Oriente Médio rico em petróleo, o conflito na Síria já se vai convertendo em “guerra por procuração” contra a Rússia. Do outro lado da massa de terra eurasiana, os EUA dedicam-se a ações cada vez mais provocativas contra a China no Mar do Sul da China.

A situação geopolítica é hoje mais explosiva que em qualquer outro momento anterior, desde as vésperas da Segunda Guerra Mundial. Acossada por crise econômica e social para a qual a classe das elites governantes não têm resposta progressista a oferecer, aquela classe das sempre mesmas elites cada vez mais recorre à guerra e ao saque, como a única resposta que conhecem para quaisquer das suas dificuldades.

(*) Artigo originalmente publicado em português pelo site Outras Palavras e, em inglês, peloWorld Socialist Web Site.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O boteco do PT




Sentado no Boteco do PT, entre 2003 e 2014, o brasileiro escolheu iguarias no cardápio, fartou-se e dependurou a conta – que chegou em 2015! O freguês se espantou: como? Os preços do cardápio eram baratos!

Ora, explicou a gerente do boteco, já não tenho crédito e tudo sobe – a luz, o gás, o telefone. Veja a inflação! Acha que compro, hoje, alimentos pelo mesmo preço que no passado? Já tive que despedir vários empregados.

A crise brasileira é a crise da democracia virtual que predomina no Ocidente. Desde quando se introduziu o sufrágio universal, a suposta democracia política jamais coincidiu com efetiva democracia econômica.

Na economia capitalista não existe democracia. Existe apropriação privada, competitividade, submissão aos ditames do mercado e não aos interesses da nação. Todas as vezes que se fala em democratizar a economia, como uma simples distribuição de renda, as elites puxam as armas – golpes de Estado, evasão de divisas, guerras. Hitler e Mussolini que o digam. Jamais teriam feito o que fizeram se não tivessem contado, no início de seus mandatos, com a cumplicidade das elites europeias e estadunidenses.

O PT conhecia as regras do jogo da democracia virtual. Por isso, lançou a carta ao poder econômico na campanha presidencial de 2002, conhecida como “Carta ao povo brasileiro”. Em 12 anos de governo, o Partido não promoveu nenhuma reforma estrutural, para não ameaçar o quinhão das elites. No entanto, implantou políticas sociais que, de fato, livraram da miséria 45 milhões de brasileiros.

A falta de reformas, como a agrária, impediu que as políticas sociais ganhassem sustentabilidade. E o Brasil prosseguiu na dependência do modelo econômico neocolonial: exportação de produtos primários e matérias-primas (hoje, commodities), captação de capital externo etc. Basta lembrar que, nos últimos 12 meses, o governo pagou ao sistema financeiro, de juros da dívida pública, R$ 510 bilhões, cinco vezes mais que o orçamento anual da Saúde, que é de R$ 100 bilhões.

O poder econômico aceita tudo, menos a redução de sua margem de lucros. Por isso, compra políticos e juízes, contrata lobistas, distribui propinas, interfere nas leis, manipula o noticiário.

Acuado, o governo, vendo o boteco vazio, entregou a ele o controle da política econômica – o ajuste fiscal, que penaliza apenas os mais pobres. Ora, o poder econômico é ganancioso. Agora quer também o poder político. Daí a tentativa de impeachment de Dilma, cujo fiador é o PMDB.

O PMDB vive o drama hamletiano: presidir ou não, agora, o Brasil? Se Michel Temer deixar passar o cavalo encilhado que se apresenta à sua porta, pode perder a única oportunidade de se tornar presidente e, quem sabe, retornar eleito em 2018 se lograr salvar o boteco da falência.

Se montar, sabe que corre o risco de ter em mãos um boteco inadimplente, com a crise se arrastando até 2018, vários partidos da base aliada lhe fazendo oposição, e o Executivo obrigado a saciar a gula infindável de seus correligionários por cargos e benesses.

Quem sobreviver, verá.

Frei Betto é escritor, autor do romance policial “Hotel Brasil- o mistério das cabeças degoladas” (Rocco), entre outros livros.

no: http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=11291:o-boteco-do-pt-&catid=17:frei-betto&Itemid=55

A corrupção como infecção que afeta nossa sociedade.

Maior número de identificação de casos de uma doença pode não significar que ela esteja aumentando, mas sim que assou a haver uma melhor eficácia no ato de diagnosticá-la.

Reprodução - blog.saude.gov.br (um dos mosquitos transmissores da malária)
Dizer que agora há mais corrupção do que no governo FHC é o mesmo que dizer que em nossos dias há mais mortes por doenças diversas que matavam desde os primórdios da humanidade, mas que só foram identificadas com a medicina moderna.
Ou seja, o fato de termos mais consciência hoje dos casos de corrupção não significa necessariamente que não havia corrupção antes. Ao contrário, pode significar que hoje a corrupção é mais combatida.
A malária (uma doença que ataca o fígado causada pelo parasita Plasmodium) afeta populações humanas — mais intensamente — há pelo menos 10.000 anos. Quando uma pessoa era atingida pela malária, dificilmente se sabia o que de fato acometia o doente. Sentia-se os efeitos, mas não se sabia o que de fato estava ocorrendo dentro do organismo da pessoa.
Somente em finais do século XIX os cientistas/médicos Patrick Manson eRonald Ross conseguiram identificar o parasita que atacava o fígado das pessoas e que causava fortes febres nos que contraíam a doença.
Isso significa que Manson Ross inventaram a malária? Significa que ao identificarem o Plasmodium e seu ciclo de vida e de reprodução no organismo humano eles se tornariam os responsáveis pelo surgimento, ou pelo aumento da doença - como consequência de terem ajudado a diagnosticar mais facilmente a malária? Certamente que não!
É necessário separar o aumento da percepção em relação a um problema (como é o caso da corrupção) de um real aumento do problema. Como se faz necessário considerar que antes da descoberta científica da malária (ou maleita para os mais antigos), milhões de pessoas devem ter morrido ao longo da história da humanidade por causa dessa doença sem que ninguém ficasse sabendo.
A diferença da corrupção de hoje com a de ontem é que a nossa mídia tradicional se esforça em esconder a corrupção do passado e se alegra quando as autoridades (tal como fazia Geraldo Brindeiro — ex procurador geral da União do governo FHC que entrou para a história como “o engavetador geral da União”) engavetam, escondem ou “sentam em cima” de provas contundentes de governos que se posicionam mais à direita.
Há pessoas que de fato não prestam atenção em contextos e comparações como a que foi feita acima, há outras que fazem questão de ignorar considerações como as descritas, pois acham que se pensarem demais sobre o tema, serão obrigadas a adotarem uma postura mais ética ou menos hipócrita. Mas chega uma hora que não tem como ignorar.
A corrupção não nasceu no governo Dilma. A corrupção passou a ser investigada de fato e punida em seu governo, tal como a malária passou a ser combatida mais efetivamente a partir de 1880. Devemos mandar exumar os corpos de Manson Ross para cuspir em seus cadáveres por conta da malária que ainda aflige o mundo?
Certamente que não!
por Allan Ferreira Ana Trevisan - membros do Imargens/USP - colaborouAdolfo Garroux, especial para os Jornalistas Livres.

O contragolpe virá quando a esquerda descobrir o povo brasileiro




Ao longo de sua história a direita brasileira praticou diversos golpes contra a própria direita. Pouquíssimos foram os governos da Velha República que conseguiram levar a término o mandato único, pois o café transbordava o leite ou vice-versa de acordo com os interesses dos clãs mais fortes. Aí veio Getúlio Vargas que como Pedro II foi derrubado por ferir os clãs pelo simples fato de atender interesses mínimos das camadas populares.

A popularidade alcançada pela monarquia, sobretudo com a abolição da escravatura, não foi suficiente para promover um contragolpe contra a república dos coronéis. Apenas algumas mobilizações isoladas como a de Canudos na Bahia e os fuzilados na fortaleza de Anhatomirim em Desterro, à qual Floriano Peixoto impôs uma homenagem a si mesmo, dando à cidade o nome que até hoje se preserva: Florianópolis.

Já a popularidade obtida pelo ditador que promoveu a primeira democratização social brasileira instituindo leis trabalhistas, saúde e ensino público, impulsionando a economia do país através das primeiras indústrias de base, resultou em ser levado novamente ao cargo executivo através do voto popular que passou a ser desrespeitado por alguns jornais de São Paulo e Rio de Janeiro.

Para ser mais exato “A Tribuna da Imprensa” de Carlos Lacerda e “O Estado de São Paulo” da família Mesquita. Um que outro adotou a mesma linha de defesa dos interesses estrangeiros contra a política nacionalista de Getúlio, mas é falta de memória ou desconhecimento da história dos que tentam comparar os esforços da Mídia de hoje com aqueles tempos em que isso de Mídia praticamente inexistia e o que havia de mais próximo era o grupo Diários Associados de Assis Chateaubriand.

Apesar de viver as turras com Getúlio, amiúde trocavam favores, como quando Chatô obteve do ditador interferência na legislação para manter a guarda de sua filha após a separação matrimonial. Mas nem Lacerda nem Mesquitas puderam impedir a comoção popular promovida pelo suicídio de Getúlio em 54. Um ato individual, mas é o que se pode considerar como único movimento contragolpista de nossa história, pois quanto ao de 64 somente arremedos como o das Ligas Camponesas de Paulo Francisco Julião e do governo Miguel Arraes em Pernambuco. Movimentos suspensos por seus líderes para evitar inútil derramamento de sangue.

Desde a criação da estrategia golpista do Mensalão se ouve da própria militância e de integrantes do próprio PT muitas críticas ao governo, afirmando que deveria tomar esta ou aquele atitude, evitar isso ou aquilo. Culpa-se ao governo e ao partido pelo que cada um considera o erro primordial e apenas para citar um exemplo dessas duvidosas autocríticas, citam-se os que consideram contratação de Waldomiro Diniz como origem dos motivos do golpe como se na testa daquele ex-assessor já estivesse escrito: “Fui corrupto”, ou como se houvesse milhares de técnicos experientes a disposição e dispostos a compor uma equipe de governo, ou como se José Dirceu fosse amigo do Carlinhos Cachoeira. No entanto, raro se ouvir críticas à manipulação da Mídia através de um fato ocorrido anteriormente no governo Garotinho que sequer era aliado do PT ou do governo Lula.

E graças à esquerda brasileira o golpe prossegue. Golpe iniciado lá na abolição da escravatura e sempre presente e permanente a cada vez que algum governo brasileiro implanta medidas de interesse popular.

O inverso de tal situação se exemplifica na história de Cuba.

O Partido Comunista Cubano, como todos os partidos comunistas, não concordava com a revolução armada, mas desde a tomada de Moncada as esquerdas de Cuba se uniram em um único propósito. Fidel, Che ou Raúl não foram conscientizar a população cubana sobre estes propósitos de casa em casa. Evidentemente este foi um trabalho de toda a esquerda daquele país.

Dizer que o povo cubano era mais consciente do que o brasileiro é desconhecer a história e a localização geográfica de Cuba ao lado da Meca do consumismo da qual se tornou colônia tão logo finda a revolução da independência cubana da coroa espanhola. Em Cuba não houve independência, apenas troca de colonizadores.

Sujeito ao tráfico de drogas e intensa exploração do lenocínio, por décadas o povo cubano foi educado à subserviência profissionalmente utilizada em cassinos e hotéis de turistas americanos e a exploradores da mão de obra produtora de charutos, cana de açúcar e rum. No entanto, apesar de 5 décadas do mais restrito bloqueio comercial já imposto a um país de tão reduzido território, apesar das inúmeras tentativas de assassinato de Fidel, os Estados Unidos não se estimulam a darem um passo para invadir a Ilha mesmo após 2 décadas de finda sua única proteção internacional: a União Soviética. Atravessaram o mundo para invadir Afeganistão e Iraque e promoverem golpes em Líbia, Síria, etc.; mas o governo de Cuba está preservado.

O programa Mais Médicos tem permitido maior contato com cubanos, sejam da área da saúde ou os que para cá vieram para administração do plano binacional. Estes, mesmo quando inquiridos a respeito muito pouco se referem a Fidel ou Raúl Castro, tampouco ao comunismo ou qualquer ideologia política, mas repetidamente e com muito orgulho se referem a uma entidade: “nosotros cubanos".

Quando deixarmos de ser da Europa ou dos Estados Unidos e nos descobrirmos em nossa consciência como “nosotros brasileños”, talvez possamos vir a entender que o golpe contra o Brasil não resulta de imaginárias deficiências de comunicação e políticas de um governo que tem cumprido a risca com os propósitos de inclusão social e democratização de oportunidades e acessos à educação e saúde e outras necessidades básicas de nossa população, promovendo a retirada do Brasil do Mapa Mundial da Fome e nosso IDH como jamais nenhum outro o fez antes.

Quando a esquerda brasileira descobrir o povo brasileiro, talvez se conscientize do que realmente seja ser de esquerda e só então poderemos promover o primeiro movimento de contragolpe da história política do Brasil.

* É jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.

Por Raul Longo