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Dístico dos inconfidentes mineiros |
É a economia quem define o modo de ser da política.
Todas as formas de organização social na história da humanidade foram moldadas pelo modo de produção social, que mais não é do que as regras pelas quais se obtém a sustentação social (além da produção, a distribuição e o consumo).
É o modo de produção que define o modo de distribuição e consumo, ou seja, o modo de apropriação dos bens e serviços indispensáveis ao consumo social. O termo economia, que deriva do grego, tinha o significado de regras da casa.
Destarte, a economia é a regra socialmente definida, que tem sua aplicabilidade explicitada por regras comportamentais de controle social materializadas e determinadas pela política.
Num sentido amplo, economia é uma definição política (que tem sido historicamente imposta de cima pra baixo) de comportamento macrossocial de produção e consumo.
Em sentido estrito, política é o regramento jurídico governamental e comportamental do indivíduo social, enquanto homo economicus transformado em cidadão (detentor de direitos e obrigações próprias à cidadania definida economicamente).
Não é por menos que há cidadãos de primeira classe (aqueles a quem os países concedem o direito de ir e vir livremente, desde que tenham posse para financiar o turismo de passeio ou negócios); e os de segunda classe, obrigados a enfrentas as intempéries de uma migração clandestina.
A superestrutura é formada por definições jurídicas que evidentemente estão sempre permeadas por outras injunções comportamentais, como a arte, a filosofia, a religião, a literatura, a estética corporal e urbana, etc.
Mas todos esses fenômenos sociais são contaminados (no caso da ciência social aplicada à economia capitalista) ou estabelecidos por um modo econômico-social de produção e convivência que historicamente tem sido imposto de cima para baixo.
Daí a conclusão óbvia de que a política é serviçal da economia e tem uma soberania de vontade relativa, presa que está à dependência econômica.
Se quisermos dar à política um conceito mais abrangente, de vontade soberana, teremos de defini-la de modo também mais abrangente, como modo de relação social (ou seja, como economia social, que assim abrange um pensar político fora da caixa, cujos conceitos vão além da economia burguesa).
Daí Marx ter intitulado de Crítica da Economia Política as suas reflexões sobre a forma-valor enquanto instrumento de escravização indireta moderno e contraditório nos seus fundamentos, e como tal fadado ao desaparecimento, uma vez que é dado histórico, com começo, desenvolvimento e morte.
O atual estágio de degradação da política advém da degradação da economia e não o contrário, como tentam fazer-nos crer aqueles que a apresentam como algo intrinsecamente salutar, mas prejudicado pela crapulosa política atual. Trata-se apenas de uma versão conveniente para quem está empenhado em preservar o modo de produção capitalista.
É a velha economia aquilo que faz um farsante como o capitão Boçalnaro, o ignaro, optar por:
— dar um giro de 180° no seu propósito original (eleitoral-absolutista-militar-golpista-nacionalista-liberal), que é contraditório desde o seu enunciado;
— abraçar um projeto eleitoral populista de quinta categoria, que nega os conceitos liberais de seu ministro da Economia e dos manuais clássicos do ramo, deixando o grande empresariado e o mercado com as barbas de molho, indagando-se sobre em quantas heterodoxias mais ele incorrerá para tentar reeleger-se;
— concluir que, com o desemprego estrutural no atual estágio de debacle econômica mundial e brasileira, turbinado por uma pandemia virótica assombrosa, seu projeto original teria de ser momentaneamente abandonado (ainda que por mero oportunismo político e somente até que as suas pretensões originais possam ser retomadas, segundo sua visão míope de golpista primário).
Mas a metástase da economia em estágio avançado de decomposição não aponta para uma harmonia política capaz de mantê-lo com níveis de popularidade aceitáveis, perante uma população desassistida em razão de uma ordem econômica que faz água por todos os lados.
Se o quadro econômico brasileiro é depressivo, quadro político chega a ser desolador.
O que dizer de um Estado como o Rio de Janeiro, cujos últimos governadores foram, estão ou serão presos por corrupção (causa relativa, pois a primária é a falência capitalista), tendo à desgraça deles se acrescentado agora a desse farsante corrupto, sem passado, sem presente e sem futuro, Wilson Witzel, que se elegeu com o mesmo discurso anticorrupção do Boçalnaro e de seus filhos zero à esquerda???
O que dizer de um partido que terminou o seu ciclo de mais de 13 anos na presidência da República envolvido em comprovadas maracutaias (mensalão, petrolão e outras) com o que há de pior na tradicionalmente putrefata política brasileira???
O que dizer de um presidente que se ofende e ameaça esmurrar um profissional do jornalismo em serviço, pelo simples fato de este fazer a pergunta (por que o Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da Michelle?) que até os paralelepípedos da ruas repetem???
O que dizer de um parlamento composto em sua maioria pelo chamado centrão, que chantageia todos os governantes em troca de cargos públicos para ali promoverem as mais descaradas práticas corruptivas e de exercício de poder como forma de manter as suas reiteradas elegibilidades pelo voto de cabresto dos grotões empobrecidos???
A política apenas reproduz aquilo a que serve: o capitalismo, cuja natureza é a corrupção contida na apropriação indébita do trabalho abstrato produtor de valor, mecanismo pelo qual ocorre a acumulação do capital pelo capitalista.
Isto no Brasil, que tem o triste galardão de:
— ser uma das últimas nações a abolir a escravidão dos africanos, aqui trazidos como mercadoria;
— ser o único país que derrubou o império monarquista e instaurou a república pela força militar em conluio com uma elite política de direita, mais conservadora do que o Imperador destituído;
— nos anos de chumbo do século passado, ter hipocritamente entronizado no poder político, após a queda da ditadura de 1964-1985, o antigo presidente do partido fantoche dessa mesma ditadura (José Sarney).
Por aqui é oficialmente proibido o custeio eleitoral pelo poder econômico (empresas industriais, bancos, grande comercio, ricaços em geral, etc.), mas se destina, no empobrecido orçamento público, uma criminosa verba para os partidos políticos, presididos por verdadeiros gangsters que a usam para se perpetuarem como chefões de suas respectivas legendas.
Portanto, além de o povo financiar a sua própria opressão política, ainda ocorre por debaixo do pano (o famoso caixa 2) a influência do poder político econômico empresarial e do enriquecimento ilícito da corrupção com o dinheiro público. Além de queda, coice.
Sem querer elogiar o Grande Irmão estadunidense, que é a meca da exploração mundial econômica e bélica, devemos enfatizar que pelo menos na questão da influência do poder econômico nas eleições de lá, a coisa se passa de maneira explícita: os candidatos que mais arrecadam dinheiro publicam tal ocorrência como forma de demonstração de prestígio e de forte apoio político na pátria do capital.
O eterno pêndulo da ineficácia eleitoral entre progressistas e conservadores corresponde a uma farsa de manifestação da vontade popular pelo voto, que nada mais é do que a legitimação do roubo na economia e do exercício do poder político que lhe é subserviente.
Se num passado distante a conquista da sufrágio universal representou um avanço com relação ao absolutismo feudal e capitalista dos primórdios, a democracia burguesa atingiu um estágio tal de decomposição e degeneração que votar em suas eleições significa corroborar e legitimar um sistema que sofre de metástase orgânica funcional, cuja morte está anunciada.
Daí nossas recomendações:— não vote!
— conscientize-se da importância do seu protesto contra tudo que está aí!
— supere todas as categorias capitalistas (valor, trabalho abstrato, dinheiro, mercadoria, mercado, política, Estado, partidos políticos, etc.)!
— promova a emancipação social e a verdadeira justiça!!!
(por Dalton Rosado)