O fenômeno "Cala Boca, Galvão"
A TV Globo passou a ter um problema sério depois do impacto alcançado pela mensagem “Cala Boca, Galvão”, no Twitter, um sistema de micromensagens disseminadas pela internet e que na semana passada chegou a ter repercussão mundial.
A emissora não vai afastar o polêmico locutor durante a Copa do Mundo, mas provavelmente dará férias prolongadas a Galvão Bueno depois do fim do torneio para tentar reverter apropaganda negativagerada pela surpreendentemente rápida veiculação da mensagem entre os usuários do Twitter.
É a internet mostrando como o fenômeno das redesestá mudando comportamentos que no passado eram considerados utópicos, como, por exemplo, a Globo ter que deflagrar uma operação emergencial de marketing para evitar danos maiores à imagem de seu mais importante nome na Copa do Mundo.
Esta não é a primeira vez que o slogan "Cala Boca Galvão" aparece em faixas levadas por torcedores em estádios de futebol. A diferença agora é que mais do que um protesto ele se transformou num fenômeno de marketing viral na Web. E aí a Globo não pode ignorá-lo. Ela agiu rápido para tirar as faixas levadas para os estádios sul-africanos, usando o peso de sua influência junto aos organizadores do evento, e contra-atacou em seus programas de esporte brincando com a repercussão do fato.
A emissora teve o cuidado deevitar a polêmica com os twiteiros, mesmo depois que estes criaram toda a espécie de confusões e equívocos misturando futebol com proteção a papagaios em extinção e supostos hits da cantora Lady Gaga. Até um clip com Hitler xingando o locutor circulou pela Web. Uma resposta mais agressiva atearia ainda mais fogo aos críticos de Galvão Bueno e a Globo sabia que o problema era menos visível.
Não se tratava apenas dos exageros verbais e os erros informativos de Galvão Bueno, mas do fato de que sua onipresença nas telas da Globo serviu como catalisador para um segmento do público que não gosta da hegemonia global na mídia brasileira. A emissora trata este tema com luvas de pelica porque sabe que na era digital uma fagulha pode se transformar num incêndio avassalador, em matéria de marketing de imagem.
Artigo do jornalista Carlos Castilho, ex-chefe do escritório da TV GLobo em Londres. Publicado no portal Observatório da Imprensa.
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Lembrem-se, hoje ninguém sintoniza a TV Globo. Os índices de audiência podem não cair muito, amanhã, mas vai subir a pressão dos anunciantes da Globo e das empresas de publicidade que fazem a mediação entre a mídia e os anunciantes.
Esses fenômenos, de resto incontroláveis, em ambiente de alta tecnologia, mas com grande interação pública, deixam o sistema midiático de comunicação à beira de um ataque de nervos.
A desestabilidade é enorme e crescente.
Não há meios de oferecer resistência.
A adesão é um risco alto.
Não há parâmetros quantitativos e/ou qualitativos para medir/avaliar o alcance do fenômeno.
Para o sistema midiático (mídia tradicional, publicidade, anunciantes e mercado) está acontecendo o similar a um cataclismo geológico, sem precedentes registrados.
Como agravante, não há acúmulo de dados históricos para proceder hipóteses empíricas que possam definir pelo menos um perfil mínimo do fenômeno ora em andamento.
Por outro lado, como eu já disse aqui outro dia, Dunga não é flor que se cheire. O cara é afilhado do Ricardo Teixeira, cartolão da CBF, se é que vocês me entendem.
Vamos recordar apenas duas frases ditas por Dunga, há duas semanas, quando anunciou a equipe de jogadores que levaria para a África do Sul.
Comentando sobre a ditadura militar, afirmou que não poderia avaliar se foi boa ou ruim, "só quem viveu é que pode nos dar a resposta". E completou o desastre verbal, assim: "É a mesma coisa sobre a época da escravidão. Eu não vivi, como é que vou dizer - ah!, era ruim, era bom, não sei...".
Portanto, cuidado com o sujeito, ele pode furar os seus olhos!