terça-feira, 22 de junho de 2010

JABULANI

a bola pensada na Inglaterra, costurada no Paquistão e usada na África do Sul

Os verdadeiros artesãos da bola recebem três euros (R$ 6,90) por dia
A bola que é jogada no Campeonato Mundial de Futebol da África do Sul chama-se Jabulani, e Casillas (goleiro da seleção espanhola) diz que ela é como “uma bola de praia”, que ela pesa muito pouco, e que ela faz movimentos estranhos no ar quando é chutada com muita força.


Jabulani é o nome comercial escolhido pela Adidas para a bola oficial do Mundial da África do Sul 2010, e na língua zulu significa regozijo, celebração e alegria. É um conceito sul-africano para uma bola pensada pelos engenheiros e pesquisadores da Universidade de Loughborough, na Inglaterra. “Com somente oito inovadores painéis em 3D, lacrados termicamente e pela primeira vez moldados em forma esférica com resina EVA (sigla em inglês de etileno acetato de vinil) e poliuretano termoplástico, a bola possui, além de tudo, uma circunferência exata”, diz a nota de imprensa que quase todos os meios desportivos do mundo reproduzem como robôs. Tudo é sofisticação: “A superfície da bola tem uma textura com ranhuras desenvolvida pela Adidas, chamada Grip`n`Groove”.

Usam-na Tshabalala (da seleção sul-africana), Messi e Casillas (mesmo que se queixe); por fim, a usam os ídolos, e as crianças e não tão crianças de todo o mundo querem realizar-se com uma. Por isso, a Adidas faz réplicas dessa bola em abundância na cidade paquistanesa de Sialkot, onde um trabalhador produz uma versão menos sofisticada dela a cada duas horas e meia. Se ficam 12 horas costurando, conseguem fazer cinco bolas, recebendo por isso, no máximo, 3 euros (aproximadadamente R$ 6,90) por dia. “Aqui, o problema do desemprego é tão grave que os chefes sabem que podem pagar muito pouco a nós e que não temos alternativas”, diz ao jornal britânico The Daily Telegraph um trabalhador de uma das manufaturas de Sialkot, onde se concentra boa parte da fabricação internacional de bolas de futebol.
 
Esses artistas e artesões da bola não ganham manchetes coloridas com títulos épicos e emocionados. O que recebem é entre 60 e 90 euros (entre R$ 138 e R$ 207) por mês, que segundo o Labor Rights Fórum,representa metade do mínimo que um trabalhador do Paquistão necessita para manter sua família e dar educação a seus filhos. “Meu marido e eu tivemos que explicar a nossa filha que não vamos poder pagar seus estudos. Ela ameaçou suicidar-se, inclusive”, diz Malika, uma mãe de 36 anos que mantém a duras penas seu trabalho na fábrica. “A pessoa que faz uma bola da Adidas fica orgulhosa por isso”, diz William Anderson, chefe de responsabilidade social corporativa da Adidas na região. “Eles não tem a percepção de que vivem na pobreza. Por exemplo, lhes pagamos mais do que ganhariam na agricultura”, diz Anderson.

Hoje mesmo no El Corte Inglês (rede espanhola de grandes lojas), cada réplica da Jabulani é vendida por 25 euros (R$ 57,50). A bola de linha superior, que é utilizada nas partidas do Mundial, é fabricada na China, e nessa loja custa 120 euros (R$ 276). A Adidas tem como objetivo ultrapassar os lucros obtidos durante o Mundial de 2006, cerca de 800 milhões de dólares.

Não é somente uma questão de dinheiro: há também o trabalho infantil e temporário, as demissões repentinas, a excessiva jornada diária de trabalho. Como em qualquer empresa de costura em grande escala, os acidentes com lesões não são incomuns: ”os trabalhadores podem perder um dedo se algo não funciona direito na máquina. Ou, na fase de colagem e estampa, estão expostos a altas temperaturas e produtos tóxicos”. Segundo o Labor Rights Forum, “não há formação nem informação sobre os acidentes de trabalho e sobre os direitos que lhes correspondem”.

A Adidas não é a única marca que fabrica no Paquistão, Índia, China ou Tailândia em empresas que tem a licença oficial da FIFA, mas que não oferecem as mínimas condições de trabalho, segundo o relatório“Missed the Goal for Workers: the Reality of Soccer Ball Stitchers”. Puma, Wilson,Vision, Regent e Capital estão entre as marcas que trabalham ou compram nas fábricas inspecionadas.

Juan Luis Sánchez

Periodismo Humano
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti

Nenhum comentário:

Postar um comentário