sábado, 26 de junho de 2010

Deputado classifica como “nazista” campanha do Greenpeace

Sugestão da leitora Naídes C. Alves de Lima, de Ubatuba

Acostumado à controvérsia, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB) classificou como “nazista e traiçoeira” a campanha que o Greenpeace lidera contra ele, diante de sua tentativa de equilibrar a discussão sobre o Código Florestal. Reafirmando denúncias sobre atuação de algumas ONGs estrangeiras em prol de uma agenda que interessa a seus países de origem, ele diz não ter medo de enfrentar as polêmicas do tema. “O que mais temo na política é a omissão”, afirma, na segunda parte desta entrevista.

Amazônia
Aldo: "Greenpeace quer evitar presença do Estado brasileiro na Amazônia"   
O parlamentar fala ainda sobre o poder que as ONGs adquiriram no país durante os governos neoliberais do PSDB. Ao minimizarem o papel do estado, estas gestões criaram o ambiente para que entidades não governamentais ocupassem esse vácuo. Aldo critica ainda aqueles que tentam adiar o debate sobre o código para depois das eleições: “Têm medo de quê? A não ser que queiram esconder do eleitor as suas posições”. Veja abaixo:







Portal Vermelho: O senhor é vítima de uma campanha do Greenpeace que tenta associá-lo aos interesses dos grandes produtores. Isso tem a ver com as declarações que o senhor tem feito sobre algumas ONGs, vinculando-as ao capital estrangeiro?Aldo Rebelo: Quero crer que sim. O Greenpeace fica muito ofendido quando eu declaro que uma organização multinacional, com sede na Holanda, não defende nenhuma bandeira ambiental no seu país de origem. O Greenpeace exige 80% de Reserva Legal na Amazônia e, em contrapartida, não exige nenhum percentual na Holanda. Simplesmente a Reserva Legal não existe no direito da Holanda.

O Greenpeace exige, no Brasil, 600 metros, em alguns casos, de preservação de matas ciliares de um lado e do outro dos rios, enquanto isso também sequer existe no direito holandês. Essa entidade sabe que quase metade do seu país sede foi construído dentro de uma Área de Preservação Permanente (APP). A Holanda é um aterro construído dentro do mar.

Essa agenda que defendem aqui não existe no Greenpeace holandês ou no europeu. Está concentrada na Amazônia, onde boa parte de seus quadros vivem subsidiados, tentando estabelecer um cinturão de ferro, naquela área, contra a presença de brasileiros e do Estado brasileiro.

E eu me dispus a enfrentar esse debate, o que conduziu o Greenpeace a adotar um método nazista de enfrentamento da questão. Digo nazista porque é um método traiçoeiro. Essa foi a primeira organização que eu recebi em meu gabinete depois de nomeado relator. Foi a ONG que mais falou nas audiências públicas da comissão especial.

O Greenpeace, portanto, teve amplo acesso ao debate, como outras organizações também tiveram. Pelos interesses que defende, o Greenpeace está cumprindo seu papel. Eu, de fato, não esperava que ele tivesse compromisso com os agricultores brasileiros ou com o desenvolvimento do país. Como organização multinacional, ligada a um país europeu, eu acho que cumpre o script previsto para a instituição nesse debate.

Vermelho: Por que as ONGs têm tanto poder no Brasil?Aldo: Porque, nos anos 90, conhecemos uma grande ofensiva ideológica de fragilização do Estado nacional no Brasil, do Estado que planeja, pensa e executa. Houve até um apelo do presidente Fernando Henrique para que as ONGs se integrassem ao governo. Ele dizia que queria governar com elas.

Então as ONGs assumiram esse vácuo. Substituíram esse estado frágil, pusilânime, sem consciência do seu papel de representação dos interesses nacionais. As ONGs, principalmente as estrangeiras, bem articuladas, altamente financiadas, souberam, ocupar esse espaço.

É preciso destacar que 90% dessas ONGs são organizações de fato, humanitárias, integradas por gente de boa fé, que ajuda a cumprir um papel na sociedade. O problema não são essas, mas aquelas que acham que podem substituir o estado, em especial, o papel mediador do estado nos conflitos ideológicos, políticos, econômicos e sociais numa sociedade tão desigual como a brasileira.

A força delas também deriva do respaldo político de governos estrangeiros fortes, como o dos EUA, da Alemanha e Inglaterra, que amparam fortemente suas ONGs, com respaldo financeiro, diplomático, e, no passado, até respaldo militar quando foi necessário.

Há ainda a desinformação da mídia, cujas editorias de meio ambiente foram praticamente capturadas pela versão que as ONGs divulgam dos acontecimentos.

Vermelho: Há uma divisão, dentro do governo, sobre a reforma no Código. O que o senhor acha disso? Aldo: Creio que durante uma parte do tempo do governo do presidente Fernando Henrique e também do presidente Lula, o Ministério do Meio Ambiente foi tomado de assalto pelos interesses dessa agenda externa, veiculada aqui por essas ONGs. Espero que isso tenha mudado recentemente, com a saída do ministro Carlos Minc. Isso de fato aconteceu.

O governo precisa ter unidade. E ela deve ser referenciada no interesse nacional, que exige a proteção ao meio ambiente, e também ao desenvolvimento, à pecuária, à agricultura, à infra-estrutura. O governo tem que oferecer um caminho, não pode ser árbitro de si próprio e de seus conflitos. Tem que ter uma atitude resolutiva, que supere as diferenças e aponte a solução.

Vermelho: E isso está no horizonte?Aldo: Creio que sim. Fui indicado relator, aliás, fui convocado, porque não foi uma reivindicação nem minha nem do meu partido. A relatoria me foi oferecida como tentativa de mediar esse conflito entre ruralistas e ambientalistas. E eu, como nunca fui integrante da bancada nem do meio ambiente nem da bancada da agricultura, fui convocado por todos os partidos, em um acordo amplo, que excluía, por não querer participar, o PSOL e o PV, na tentativa de solução do impasse.

Eu disse que aceitava a missão desde que todos soubessem que eu ia procurar encontrar uma solução que fosse o equilíbrio entre o meio ambiente e o esforço da produção. Só que parte do setor ambientalista não quer esse equilíbrio. A natureza do impasse é principalmente essa. E o setor ruralista também prefere a luta política e a disputa do que a solução do problema. Se eu conseguir encontrar um caminho, creio que reunirei apoio suficiente para aprovar um projeto que ajude a dar uma saída para a situação.

Vermelho: No meio desse fogo cruzado, entre tantos interesses conflitantes, o senhor teme prejuízo à sua reeleição?
Aldo: O que mais temo, na política, é a omissão no momento necessário. O que mais temo é faltar ao interesse do meu país no momento em que posso contribuir e ajudar. Eu já paguei em outros momentos um preço elevado por integrar o partido comunista, por defender o governo Lula, por fazer oposição aos governos militares, por me opor às idéias do pensamento único e, em um passado recente, por não aceitar a solução das ONGs para a questão indígena na Amazônia.

Mas eu acho que isso também nos afirma, nos traz convicções de que o interesse nacional precisa ser defendido e preservado. Aqueles que acham que a solução para o Brasil é entregar o país à agenda dos interesses externos e do seu braço financeiro e político representado por uma parte dessas ONGs, não têm o que fazer mesmo.

Vermelho: Alguns ambientalistas defendem que se deve adiar o debate sobre o Código Florestal para depois das eleições. O que o senhor acha?
Aldo: Acho que nada melhor que discutir qualquer assunto em ano de eleições. É um ano propício ao debate político, à tomada de posições políticas. Todas as forças podem expor a sua opinião, sua convicção e seu voto. A não ser que alguém queira esconder do eleitor a sua posição. Esse é um gesto que corresponde a algum receio. Têm medo do que exatamente?

Quem tem uma posição justa não tem receio de expor em ano eleitoral. Qual é o medo? É um ano bom para que o eleitor veja o que está sendo defendido. Não consigo alcançar qual o receio dessa parcela do movimento ambientalista.

Vermelho: Não aumentam as pressões em ano eleitoral?

Aldo: Mas as pressões legítimas têm que existir. A política é feita das pressões legítimas da sociedade, dos eleitores.

Vermelho: Como é o trabalho da comissão? A população tem sido ouvida?
Aldo: Nós ouvimos primeiro os próprios deputados que estão na comissão, de todos os partidos. Depois, organizações não governamentais - municipais, estaduais, nacionais e as estrangeiras. Fizemos consultas a órgãos governamentais ambientais, às universidades, à Embrapa.

Ouvimos mais de uma dezena de técnicos. Escutamos os agricultores, federações de trabalhadores da agricultura, Contag, MST, os pequenos, os médios e os grandes produtores. Ouvimos os setores da construção civil, da energia elétrica, do reflorestamento. Foram 65 audiências públicas em Brasília e em 19 estados. Realizamos, de fato, um apanhado dos problemas em plano nacional.

Da Redação,
Joana Rozowykwiat

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