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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Os migrantes e a tragédia do século

Numa semana repleta de fatos relevantes para o Brasil e o mundo, destacam-se as manchetes sobre a crise humanitária que se alastra por terras europeias.


MASSIMO BERGAMINI UNHCR
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Desespero. Refugiados das guerras e da miséria se arriscam na travessia do Mediterrâneo rumo à Europa
Berlim – A semana foi recheada de notícias, informações e manchetes de importância. A crise financeira que se espraiou a partir da China e de sua economia que revelou suas fraquezas. O assassinato ao vivo de dois jornalistas nos Estados Unidos reacendeu debate sobre posse de armas naquele país. A recuperação, ainda que parcial, dos preços do petróleo no mercado internacional e a decorrente valorização das ações da Petrobras (que está longe de ser a massa alquebrada que nossa velha mídia quer que ela seja).
Correu mundo e manchetes o depoimento do doleiro Alberto Yousseff, na CPI da Petrobras, sobre o senador Aécio Neves ter recebido propina de Furnas. A notícia, escondida pela velha mídia brasileira, expôs a parcialidade da imprensa e a fragilidade dos vazamentos da Operação Lava Jato.
Mas as manchetes principais foram para a terrível tragédia dos migrantes na Europa. Mais de 70 corpos foram encontrados dentro de um caminhão abandonado numa autoestrada austríaca. Inicialmente a polícia estimou os corpos em 20, depois em 50 e finalmente em “mais de 70”. A imprecisão das cifras deveu-se ao adiantado estado de decomposição dos corpos. O caminhão pertencera a uma empresa transportadora de galináceos da Eslováquia, que afirmou tê-lo vendido em 2014. Estava em nome de um cidadão romeno e tinha placa da Hungria. Na manhã da sexta-feira a polícia húngara afirmou ter detido o motorista suspeito, além de alguns possíveis cúmplices.
Na quarta-feira (26) foram encontrados 50 corpos no porão de um navio no Mediterrâneo, que tinha 450 pessoas a bordo. Na quinta-feira, mais um naufrágio neste mar, desta vez ainda perto da costa da Líbia, provocou a morte de pelo menos 200 pessoas. Outras 200 conseguiram se salvar, socorridas por navios ou conseguindo chegar à terra firme.
Uma vaga de milhares de migrantes, vindos sobretudo da Síria e do Iraque, conseguiu “furar” o bloqueio do Exército da Macedônia junto à fronteira grega. A Macedônia acabou pondo trens à disposição, para que eles atravessassem o país em direção à Sérvia. De lá pretendem passar à Hungria e, depois, Europa Ocidental. A Hungria está construindo um muro na fronteira com a Sérvia, mas até o momento os migrantes têm conseguido atravessar.
Houve uma mudança de rota no caso de muitas dessas correntes migratórias. A Líbia continua sendo a rota preferida pelos que vêm da Nigéria, da Eritreia e da Somália e tentam ingressar na Europa pela costa italiana. Mas, no momento, a maior massa de migrantes vem da Síria e do Iraque, preferindo o caminho da Turquia ou da Grécia.
O fluxo de imigrantes provém de países desorganizados por guerras civis, em alguns casos com ajuda decisiva de potências ocidentais, como no caso da própria Líbia, do Iraque e da Síria. A emergência do Exército Islâmico na Síria e no Iraque só piorou a situação.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, se reuniram durante a semana para uma ação conjunta diante da questão. O maior problema está no convencimento de outros dirigentes em aceitar quotas de imigrantes refugiados.
Há forte resistência por parte de muitos europeus em assumir a responsabilidade diante do fenômeno. Nesta semana ouvi a entrevista de uma deputada polonesa, do campo conservador, junto ao Parlamento Europeu, dizendo que a Polônia não receberá esses imigrantes porque são indesejáveis, a maioria só quer se beneficiar das vantagens europeias, muitos são terroristas etc. Acrescentou ela que, caso recebesse imigrantes, o país só aceitaria “aqueles que fossem cristãos”. A deputada teve sorte de não ser eu o entrevistador, porque eu perguntaria a seguir, na lata, se esta afirmação implicava também a exclusão de judeus.
Na Alemanha prossegue o novo “esporte” neonazista: queimar abrigos presentes e futuros destinados aos refugiados. O incidente mais grave aconteceu na cidade de Heidenau, perto de Dresden, no estado da Saxônia, onde houve um confronto entre policiais e manifestantes que tentavam incendiar um desses abrigos.
Os manifestantes mais exaltados gritavam “Heil Hitler” e outros slogans nazistas. Também cantavam “Wir sind das Volk”, “Nós somos o povo”, slogan das manifestações que antecederam à queda do muro de Berlim, em 1989, e que agora está sendo apropriado pela extrema-direita.
O vice-chanceler Sigmar Gabriel, do SPD, o partido social-democrata alemão, e a chanceler Angela Merkel estiveram em Heidenau, condenando as manifestações. Depois disso, a sede do SPD em Berlim recebeu ameaça telefônica de que haveria uma bomba no prédio, que foi evacuado. Além da ameaça, a pessoa que telefonou proferiu slogans racistas. Nenhuma bomba foi encontrada.
No fim de semana estava prevista uma festa para receber os refugiados em Heidenau. Diante da ameaça, por parte de elementos da extrema-direita, de atacar o evento, o governo do estado e a prefeitura proibiram qualquer manifestação até a segunda-feira. Os partidos de oposição no plano federal (Verdes e Linke) protestaram, alegando o direito constitucional à livre manifestação. O deputado verde Cem Özdemir declarou no rádio que iria a Heidenau no fim de semana e conclamou todos os que quisessem a segui-lo.
Do outro lado do Atlântico, o pré-candidato republicano Donald Trump afirmou que, se eleito, deportará dos Estados Unidos todos os imigrantes ilegais. Um jornalista perguntou como ele faria isso, uma vez que o número de “ilegais” chega a 11 milhões.
Ele respondeu que tem muitas qualidades como manager, e que o processo de deportação seria “tranquilo” e “humanitário”. O último grande processo de deportação passiva nos Estados Unidos ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando 110 mil japoneses e descendentes foram confinados em campos de concentração dentro do país, num processo que provocou traumas ainda vivos.
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-do-velho-mundo/2015/08/os-migrantes-e-a-tragedia-do-seculo-1475.html

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Crime de Lesa Humanidade: a UE quer as riquezas de África, mas não quer as pessoas



O recente naufrágio em que mais de 900 migrantes africanos perderam a vida no estreito da Sicília é mais um trágico episódio de uma infindável sucessão de tragédias semelhantes. A UE e a dita “comunidade internacional” choraram as habituais lágrimas de crocodilo. Tentam ocultar a sua criminosa responsabilidade neste desesperado êxodo, que resulta directamente da rapina das riquezas africanas e da sistemática agressão imperialista.

Milhares de pessoas falecem todos os anos na sua tentativa de chegar à Europa. Pessoas fugindo da miséria a que o saque perpetrado pelo grande capital transnacional submete a África. Não vão à procura do “sonho europeu”, fogem do Pesadelo em que as transnacionais converteram a África; seguem o percurso que previamente seguiram as imensas riquezas extraídas dos seus países. Mas a UE quer as riquezas de África, mas não quer as pessoas. A Ditadura do Capital obriga as pessoas a empreender êxodos terríveis, em condições de perigo extremas.
 
Na madrugada de 19 de Abril 2015 um barco com mais de 900 pessoas migrantes afundou-se no estreito da Sicília: tentava levar centenas de pessoas da Líbia para Itália. A Procuradoria da Catânia indicou que se estima que poderiam ter falecido umas 950 pessoas; os procuradores dizem que ”ainda é impossível determinar com precisão o número de mortes”(1). Foram encontrados 24 cadáveres, e somente 28 sobreviventes. Carlotta Sami (ACNUR Itália), informou que o barco se afundou a uns 110 Km da costa. A Guarda costeira italiana tinha recebido um apelo de socorro durante a noite, avisando-a de que o barco se encontrava em perigo. Mas, segundo informou a guarda costeira, quando se iniciou a operação de resgate, o barco naufragou porque todos os que iam a bordo se colocaram do mesmo lado no desespero por sobreviver (2).
 
Um mar surpreendido tragou a vida de outras 900 pessoas. No mesmo mês de Abril de 2015 mais de 400 pessoas migrantes desapareceram e umas 150 sobreviveram, após naufragarem na sua viagem clandestina rumo a Itália, no dia 15. O Mediterrâneo converteu-se numa imensa tumba. No total umas 90 mil pessoas o cruzaram para a Europa entre 1 de Julho e 30 de Setembro de 2014, e pelo menos 2.200 perderam a vida. No trimestre anterior foram 75 mil pessoas e 800 mortes, segundo a ACNUR.
 
Estas tragedias representam um grande sofrimento para os familiares das vítimas; e por outro lado dão lugar a uma larga sucessão de malabarismos mediáticos para os políticos da UE, que vêm tentar tapar o sol com uma peneira. Querem tapar que o saque e as “guerras humanitárias” perpetradas pela UE e os EUA contra a África têm como consequência lógica o êxodo massivo. Vêm os políticos, os representantes das instituições internacionais, a ver qual é mais “caritativo”, qual mais “legalista”, qual mais ufano a propor soluções. E cada solução é menos solução que a anterior. Concentram as suas diatribes contra as supostas “mafias” de transporte de pessoas, quando é bem sabido que em muitas ocasiões o suposto “mafioso” não é outra coisa senão um pescador que já não pode sobreviver da pesca num mar saqueado pelo arrasto das grandes transnacionais, reconvertido em condutor de embarcações que tentam passar clandestinamente as fronteiras da Europa fortaleza.  Inclusivamente, e ainda que possa ser certo que muitos transportadores destas viagens clandestinas se aproveitam das pessoas em situação de êxodo, estes transportadores não podem ser tidos como os responsáveis por esta tragedia, por estes crimes de Lesa Humanidade. A menos que se queiram ocultar os verdadeiros responsáveis. Alguns já vêm até dizer que há que bombardear as embarcações nas costas de onde saem: o fascismo da União Europeia deixa cair completamente a máscara.
 
Entre os sobreviventes da tragedia de 19 de Abril, os media escolheram já os dois homens que lhes servem de bode expiatório: dois membros de la tripulação serão o alvo de todo o ódio; bodes expiatórios perfeitos para ocultar os verdadeiros responsáveis destes crimes contra a humanidade. São acusados de homicídio em massa, e os media do grande capital tentam responsabilizar as supostas “mafias do tráfego de pessoas” pela continuada tragédia do Mediterrâneo e do Atlântico.
 
Esta tragédia do falecimento atroz de centenas de pessoas provenientes da Líbia é também uma das consequências da invasão contra a Líbia, perpetrada pelos “aliados” e sua NATO em 2011.


A invasão da Líbia foi uma intervenção ao serviço do Grande Capital Transnacional que a NATO empreendeu com a ajuda de mercenários paramilitares infiltrados em Líbia a partir dos serviços secretos europeus e estado-unidenses. Esta invasão articulou-se com a total cumplicidade do aparelho mediático do capitalismo transnacional, que chamava ”rebeldes” aos paramilitares mercenários com a finalidade de justificar a invasão e o genocídio contra o povo líbio e o seu governo de então, de Muammar Al Kadhafi. Durante o governo de Kadhafi, a Líbia era o país com o mais alto nível de vida de toda a África; razão pela qual se fixaram na Líbia muitíssimos africanos de outras regiões de África. Estes africanos juntam-se hoje aos que tentam chegar à Europa fortaleza: a essa UE que saqueia as riquezas de África, mas que depois não quer as pessoas.
 
A Líbia foi alvo da cobiça capitalista por várias razões: tem no seu solo um petróleo dos mais superficiais do mundo e um potencial produtivo estimado em mais de 3 milhões de barris diários. Desde 2009 Kadhafi desenvolvia um plano para nacionalizar o petróleo líbio. O plano de nacionalização foi impedido por opositores no próprio seio do governo. Muitos destes opositores à nacionalização mascararam-se de “chefes rebeldes” ao serviço dos interesses das transnacionais.

Para além disso a Líbia possui uma imensa reserva hídrica subterrânea, estimada em 35.000 quilómetros cúbicos de água, que faz parte do Sistema Aquífero Núbio de Arenisca (NSAS), a maior reserva fóssil de água do mundo. Nos anos oitenta a Líbia iniciou um projecto de grande escala de aprovisionamento de água: o Grande Rio Artificial da Líbia, considerado um dos maiores projectos de engenharia, que distribuía água a partir dos aquíferos fósseis. Uma vez concluído, o sistema cobriria Líbia, Egipto, Sudão e Chade, e potenciaria assim a segurança alimentar de uma região afectada pela escassez de água para a agricultura. Isso evitaria que esses países recorressem aos fundos do FMI: algo que se opunha à aspiração por parte do Ocidente ao monopólio global dos recursos hídricos e alimentares.

Por outro lado a Líbia possuía 200 mil milhões de dólares de reservas internacionais que foram confiscadas pelos seus agressores. Foram estes os móbiles do crime contra a Líbia.
 
Após a agressão imperialista a Líbia ficou destruída, sem infra-estrutura aquífera nem viária, nem escolas, nem hospitais, uma vez que até estes foram bombardeados. Antes da invasão imperialista, as mulheres na Líbia viviam com muito mais liberdade do que em outros países da região; após a invasão, uma das primeiras medidas do governo de mercenários instalado pela NATO foi decretar a lei da Sharia, atrozmente cruel para com as mulheres, tudo isto sob os aplausos da UE e EUA. Outra das consequências da invasão da Líbia é o surgimento de grupos de terrorismo paramilitar em diferentes países da região: os mercenários empregados pelos serviços secretos europeus e estado-unidenses reciclam-se em outras operações do terror. Destas operações surge o Estado Islâmico. 
 
A Líbia foi torturada por aquilo que os media mentirosos tiveram o cinismo de chamar “bombardeamentos humanitários”. Toda a direita europeia e inclusivamente parte da dita esquerda europeia fez-se cúmplice desta aberrante operação de neocolonialismo visando apropriar-se dos imensos recursos petroleiros e aquíferos da Líbia. As transnacionais ampliaram as suas fortunas na base da tortura do povo Líbio.
 
O capitalismo é o responsável por estas tragedias, e concretamente os grandes capitalistas que lucram com o suor alheio e o saque do planeta: são eles os criminosos de Lesa Humanidade. Esses que os media nos apresentarão como “empresários de sucesso”.  85 multimilionários possuem uma riqueza igual à que 3.570 milhões de pessoas partilham, pessoas que sobrevivem exploradas em infernais barracões, tendo que vender os seus órgãos, tendo que trabalhar em fábricas que as sepultam vivas, tendo que prostituir-se desde a infância, ou tendo que empreender êxodos terríveis, cuja culminação não será outra senão a morte por afogamento, ou o afogamento em vida, tendo que trabalhar a troco de migalhas na Europa fortaleza, caso sobrevivam à viagem.
 
Hoje são milhares de homens jovens, mulheres e crianças, que o mar tragou. Um mar cujas ondas vão e vêm entre África e Europa, testemunhas silenciosas do genocídio capitalista, lambendo as praias dos países saqueados e também aquelas praias que são as portas do cinismo mais absoluto.

NOTAS:
(1)   http://eldia.es/agencias/8061022-INMIGRACI-N-MEDITERR-NEO-ITALIA-Prevision-Italia-busca-respuestas-naufragio-Cuantos-eran-que-hundieron
 
(2) http://www.telesurtv.net/news/Barco-con-700-inmigrantes-se-hunde-en-costas-de-Libia-20150419-0010.html
 
Fonte: www.elmuroinvisible.blogspot.com