sábado, 27 de dezembro de 2014

Seca em São Paulo comprova crise ambiental mundial

Sistema Cantareira - Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas (25/09/2014)
Sistema Cantareira – Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas (25/09/2014)
O ano de  2014 foi o que marcou a terra da garoa, literalmente, como terra seca. Além da mais severa estiagem que o estado de São Paulo já enfrentou nos últimos 80 anos, diversos fenômenos influenciados pelo aquecimento global também causaram impactos significativos em outras áreas do planeta. É o caso, por exemplo, da Califórnia — que lida com a maior seca do milênio –, das ondas de calor em pleno inverno no Alasca e das tempestades em países da Europa, como a Itália e a Grã-Bretanha.
De acordo com relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, as concentrações de gases estufas na atmosfera alcançaram o maior nível em 800 anos.
Ainda segundo o documento, lançado em novembro, a estimativa é de que 2014 seja o ano mais quente da terra desde 1850, quando foi realizada a primeira medição. “A influência humana no sistema climático é clara: quanto mais perturbamos nosso clima, mais riscos temos de impactos graves, amplos e irreversíveis”, disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri, durante o lançamento do relatório. A cidade mais rica do Brasil se tornou um exemplo de como as alterações climáticas podem impor dificuldades à sociedade.
Abalada por uma estiagem que começou ainda em 2013, a região metropolitana de São Paulo logo viu suas represas secarem. Pela primeira vez, medidas emergenciais polêmicas permitiram o uso do chamado volume morto, que são as águas que estão abaixo das comportas, retiradas por meio de bombas.
Já no hemisfério norte, a seca também atingiu o estado mais poderoso dos EUA. Na pior estiagem dos últimos mil anos, a Califórnia sofreu perdas de mais de U$ 2,5 bilhões. Setor importante para a economia local, a agricultura fechou 20 mil vagas de trabalho.
De acordo com o biólogo Marcos Buckeridge, um dos redatores do capítulo do IPCC sobre a América Latina, alterações climáticas agudas farão com que o continente possa sofrer mais frequentemente com esses problemas. “Haverá eventos extremos de seca e de chuva ou o descongelamento dos Andes. Esses fenômenos causariam grandes alagamentos e o branqueamento de corais, prejudicando de forma significativa a biodiversidade marinha”, disse Buckeridge, que atua no Instituto de Biociências da USP.
Com esses dados alarmantes, em 2014 a ONU reforçou o seu discurso sobre a importância de um acordo mundial para limitar o aquecimento global a no máximo 2ºC até o final deste século. A proposta, porém, vem sendo postergada por conta de divergências econômicas entre os países ricos e em desenvolvimento. Nos dois maiores eventos ambientais realizados em 2014 — a Cúpula do Clima, em Nova York, e a Cúpula da Mudança Climática, realizada em Lima –, acordos foram tramados e propostas, divulgadas. Realizada em apenas um dia no final de setembro, em Nova York, a Cúpula do Clima, no embalo da Assembleia da ONU, reuniu milhares de pessoas nas ruas da “Big Apple” e cerca de 120 líderes mundiais nos debates, público inédito para eventos do tipo. Sem a assinatura do Brasil, que reclamou por não ter sido chamado ao encontro, o evento lançou a “Declaração de Nova York sobre Florestas”, que propõe zerar os desmatamentos até 2030. Em discursos eloquentes, representantes de países em desenvolvimento, como o Brasil, defenderam os chamados círculos concêntricos, proposta que coloca às nações ricas maior responsabilidade no controle das emissões.
A ideia, porém, desagradou às grandes potências. “As nações desenvolvidas devem liderar o processo de redução de emissões de gases estufa, mas isso não significa que os países em desenvolvimento possam produzir CO2 à vontade”, declarou o secretário norte-americano de Estado, John Kerry. Apesar de menos badalado que o encontro em Nova York, o evento na capital peruana tinha intenções mais significativas. A principal delas era resolver a equação entre emissão de gases e crescimento econômico.
Mas os 11 dias de trabalho não foram suficientes para a COP 20 chegar a um consenso. O acordo final, batizado de “Ação de Lima”, foi escrito com um dia de atraso. Ele estabeleceu o compromisso dos países em apresentar à ONU planos efetivos e ambiciosos para a redução de gases do efeito estufa até outubro do ano que vem, semanas antes da próxima COP, que será em Paris.
“Talvez seja cedo para ver esse impacto do aquecimento global na comunidade internacional. O relatório acabou de ser publicado e é necessário esperar para ver quais serão as consequências”, explicou Buckeridge. “Mas precisamos atingir as metas e diminuir as emissões de gases. Ou teremos graves dificuldades pela frente.”
http://brasileiros.com.br/2014/12/seca-em-sao-paulo-comprova-crise-ambiental-mundial/

O Petrolão e os outros escândalos abduzidos pelo noticiário



Nas últimas semanas, o Brasil tem vivido sob o impacto da Operação Lava Jato, que, em torna da qual o noticiário, na busca de uma associação ao chamado “mensalão”, batizou de Petrolão. Enquanto se eleva esse novo escândalo ao posto de "o maior da história", relegam outros episódios aos rodapés, os lançam um imenso Triângulo das Bermudas, o reduzem aos pedacinhos pelas lâminas de Freddy Krueger, os abduzem feito obra de alienígenas.

Esse é o caso, por exemplo, do "mensalão do PSDB", perpetrado, de forma pioneira, com a ajuda do conhecido Marcos Valério, durante o governo do senhor Eduardo Azeredo, em Minas Gerais.

Esse é o caso do escândalo do Banestado, de desvio de mais de R$ 100 bilhões para o exterior, no qual foram indiciados vários personagens ligados ao governo Fernando Henrique Cardoso, incluído o senhor Ricardo Sérgio de Oliveira, "arrecadador" de recursos de campanhas do PSDB, perpetrado, entre 1996 e 2002, também no Paraná, com a ajuda do mesmíssimo "doleiro" Alberto Youssef do atual escândalo da Petrobras.

Esse parece ser também o caso, do Trensalão do PSDB de São Paulo, que, apesar de ter tido mais de R$ 600 milhões das empresas envolvidas bloqueados pela justiça no dia 13 de dezembro, parece ter sido coberto por um Manto da Invisibilidade digno de Harry Potter, do ponto de vista de sua repercussão.

Seria ótimo se — hipocrisias à parte — o problema do Brasil se resumisse apenas a uma briga entre "bonzinhos" e "malvados".

Está claro que temos aqui, como ocorre em muitíssimos países, bandidos recebendo propinas no desvio de verbas públicas, atuando como "operadores" e facilitadores no trabalho de tráfico de influência, no superfaturamento e na lavagem de dinheiro e envio de recursos para o exterior.

E claro está também que existem empresários acostumados, com o tempo, a pagar ou a ser extorquidos, a cada obra, a cada licitação, a cada aditivo de contrato, pelos "intermediários" e oportunistas de sempre, e que já sofrem sucessivas paralisações, atrasos e adiamentos nas grandes obras que executam, que ocorrem devido a razões que muitas vezes escondem interesses políticos que nem sempre correspondem aos do próprio país e da população.

E padecemos, finalmente, ainda, da falta de coordenação e entendimento, entre os Três Poderes da República, em torno dos grandes problemas nacionais.

Leis, projetos e obras que são essenciais para o futuro do país, não são discutidas previamente entre Executivo, Legislativo e Judiciário, antes de serem encaminhadas para aprovação e execução, o que acaba levando, nos dois primeiros casos, a relações de pressão e contrapressão que acabam descambando no fisiologismo e na chantagem – e que afetam, historicamente, a própria governabilidade.

Na contramão do que imagina a maioria das pessoas, com algumas exceções, ao contrário dos corruptos e dos "atravessadores", os homens públicos — incluindo aqueles que trabalham abnegadamente pelo bem comum — estão muito mais preocupados com o poder, para executar suas teses, ideias e projetos, ou apenas exercê-lo, simplesmente, do que com o dinheiro.

No embate político, ter recursos — que às vezes chegam de origem nem sempre claramente identificada, pelas mãos de "atravessadores" que se oferecem para "ajudar" — é essencial, para conquistar o poder, na disputa eleitoral, e nele manter-se, depois, ao longo do tempo.

Esse é o elemento mais importante da equação. E ele só começará a ser resolvido se houver uma reforma política que proíba, definitivamente, a doação de dinheiro privado a agremiações políticas e candidatos a cargos eletivos, promova a cassação automática de quem usar caixa dois e aumente a fiscalização do uso dos recursos partidários ainda durante o período de campanha.

A gravidade da situação coloca em risco a imagem da empresas mais importante do país levou. A ponto de a defesa da Petrobras ocupar parte importante do discurso de diplomação da presidenta reeleita. Foi um recado importante de que não está fechando os olhos para a crise e de que tampouco permitirá que setores interessados na fragilização da companhia se dela de locupletem.

Mas por mais que sejam importantes, e impactantes, as prováveis prisões dos corruptos envolvidos no escândalo da Petrobras e a recuperação dos recursos desviados, se não for feita uma reforma política, de fato, elas não impedirão que mais escândalos ocorram, no financiamento de novas campanhas, já nas próximas eleições.
http://www.contextolivre.com.br/2014/12/o-petrolao-e-os-outros-escandalos.html

Aula para um formador de opinião



Qual(ais) o(s) jornalista(s) que forma(m) sua opinião? Pois nesse natal você deveria ser bonzinho com ele(s). Não apenas para agradar o Papai Noel, mas porque, afinal, é quem forma a sua opinião e como todo mundo você deve dar muito valor a sua opinião formada.

Ah! Quem não dá! Afinal você não investe na assinatura do seu jornal, da sua revista, nem perde tempo na frente da TV à toa, não é mesmo? Você faz tudo isso para ter uma opinião formada sobre o mundo, o Brasil, a política, a economia, o que seja! Então... Quem é que forma a sua opinião?

Neste Natal seja bonzinho com o seu formador de opinião, pois ele gosta muito de você. Ou nunca viu como todo jornalista se orgulha de se dizer um formador de opinião.

William Bonner, por exemplo, tem tanto carinho por aqueles a quem forma opiniões que os chama de Homer Simpson. Gente maldosa entendeu que chamou de idiotas os de opinião formada pelo Jornal Nacional da TV Globo, mas o Bonner explicou que é só um jeito carinhoso de se referir aos que tem opinião formada pela Globo.

Além da Globo, quem mais forma a sua opinião? Neste natal escreva a todos aqueles que formam a sua opinião, mas seja bonzinho e não faça como o meu amigo Pacheco que por buscar as informações que a imprensa nacional não divulga, não permite que os jornalistas brasileiros formem sua opinião. Nem o William Bonner, nem ninguém!

Veja aí a carta que o mal criado do Pacheco escreveu, dando uma aula num desses formadores de opinião. Esse Pacheco! Vai ver que não acredita em Papai Noel... E você? Acredita em Papai Noel?

E no William Bonner, você acredita?

Leia a carta do Pacheco e a envie para seu formador de opinião favorito. Depois me escreva contando qual a opinião que lhe foi formada sobre a aula do Pacheco ao jornalista da Gazeta do Povo.

Prezado

Creio que você talvez pudesse começar seu bem elaborado artigo, como o fez, criticando nosso pibinho. Contudo, como estamos em ritmo de festas, você poderia ter compensado a crítica com aquele "mas", presente na mídia, sempre desejosa em querer criar um fato negativo quando a notícia é favorável ao governo, tipo:

"menos pessoas passam fome no Brasil, mas...ainda 7 milhões padecem desse mal". Ou

"a inflação vai fechar o ano dentro da meta, mas...em janeiro ela deve ultrapassar o teto ".

Assim, no teu artigo caberia:

"...mas países europeus desenvolvidos apresentarão crescimento negativo"

Quanto à Petrobrás, não creio que o principal problema da empresa seja o "petrolão", embora ele não pare de crescer. Isso será episódico, embora a um grande custo.

O que nossa petroleira está sendo bombardeada em duas frentes: uma doméstica e outra internacional, ambas procurando desacreditá-la.

O aspecto doméstico está configurado no processo de vazamento seletivo de depoimentos prestados sob delação premiada. Sabe-se que alguns dias antes das eleições, um jornalista de prestígio na mídia dominante, noticiou que informações sigilosas foram fornecidas à Aécio Neves e à Álvaro Dias.

É também notória a campanha anti governo na mídia social, desenvolvida pelos delegados federais que atuam no processo Lava Jato. Já há mais tempo agentes federais praticavam exercício de tiro tendo Dilma como "mosca". Isso tudo sob as vistas do Ministro da Justiça (Zé, o lento) seu superior.

O juiz Moro, sempre tucano de carteirinha, vaza somente nomes de políticos da base de sustentação do governo. Já se disse, não sendo muito difícil comprovar, que a corrupção grassa (sem trocadilho) em vários níveis de governo e desde há muito tempo. Um dos advogados de empreiteiro declarou que:

"no Brasil não se coloca um paralelepípedo numa rua, sem o pagamento do "por fora ".

Não exatamente nesses termos.

Mas Moro, muito parcimonioso, permite que apenas dois nomes da oposição sejam revelados: o do tucano Sérgio Guerra e o do "socialista" Eduardo Campos. Ambos já no além vejam só!

A esposa do juiz, advogada, presta consultoria ao governo tucano de Beto Richa e pertence a escritório que defende os interesses de subsidiária da Shell, concorrente da Petrobrás.

Quer dizer que, se no decorrer do processo o magistrado conseguir chegar isento até o fim, merecerá uma "estátua de bronze na praça onze".

Já a mídia, por demais interessada na privatização da estatal, começaria por incentivar a mudança do sistema de exploração, de partilha para concessão, esta o sonho dos tucanos e neoliberais desde os tempos da "Petrobrax".

No âmbito internacional a briga é também encarniçada.

Vejamos: o preço do petróleo, já bastante "despencado", ainda não chegou ao fundo do poço. Como o custo de produção da Arábia Saudita se situa em torno de US$5/barril, ainda há muito espaço. Devemos ter presente que os sauditas não pretendem abrir mão da hegemonia de maior produtor mundial. Com preços tão e cada vez mais baixos, os árabes matam cinco coelhos de uma só cajadada: Rússia, Venezuela, país com a maior reserva mundial, o arqui-inimigo Irã, Líbia e outros menos cotados.

E o quinto?

Oras, a nossa Petrobrás que tem um programa de maior investimento mundial em exploração petrolífera; detém toda a tecnologia de exploração em águas profundas; e agora, com o potencial expressivo do pré-sal, que segundo os estudiosos, será ainda viável com o preço de US$35/barril, podendo se tornar um importante player no tabuleiro mundial da commoditie.

Com essa política, a Arábia Saudita determina que os EUA, seu grande aliado, adie sua exploração de xisto, que ficará estocado à espera de maior emergência e oportunidade. E Obama poderá sapatear sobre o caixão de Putin. A menos que o urso branco recorra à proteção da China, seu mais novo aliado desde o fim da União Soviética. Os dois países possuem um intercâmbio comercial de US$100 bilhões, com novo contrato para 30 anos para o gás russo que atinge US$400 bilhões. A China está numa confortável posição, em cima de uma reserva de US$3,89 trilhões.

Os chineses se preparam para assumir e manter a hegemonia econômica mundial. Começam por dar início à construção do Canal da Nicarágua, alternativa por demais interessante, para escapar da necessidade de utilizar o Canal do Panamá, de domínio americano. Os "amarelos", já em posição de destaque no intercâmbio cultural com diversos países, caminham celeremente para assumir o lugar de maior potência econômica mundial.

O programa chinês de ferrovias é qualquer coisa de impressionante. Com trens que desenvolvem velocidades inimagináveis, estão pretendendo espalhar a malha ferroviária pelos quatro cantos do mundo. Logo, logo o transporte ferroviário, levando e trazendo mercadorias de países longínquos do seu chão, estarão competindo com grande "handicap" com todos os países do mundo.

Então teremos uma nova geopolítica mundial.

Ah, os EUA continuarão com suas guerrinhas.

Enfim, só lamento ter tomado teu tempo com essa longa digressão comentando teu artigo.

Um grande e Feliz Natal para você e familiares.

Abç

Pacheco
Raul Longo
No Pé na Terra, via http://www.contextolivre.com.br/2014/12/aula-para-um-formador-de-opiniao.html

piada pronta do boliviarianismo patronal


Demissão no Estado de Minas mostra quem são os inimigos da liberdade de imprensa

A demissão de João Paulo Cunha, editor de cultura do jornal Estado de Minas, publicação de maior circulação naquele estado, ajuda a colocar um traço de realismo ao debate sobre liberdade de imprensa no Brasil.

É uma piada pronta, que ajuda a lembrar que vivemos um regime que deveria ser definido como bolivarianismo patronal.

Todos lembram de uma noite recente em São Paulo, quando jornalistas subiram ao palco de uma cerimônia de premiação para dizer em tom dramático: “não ao controle social da mídia.” É disso que estamos falando.

Embora estejamos falando de um direito constitucional, na vida real da imensa maioria de jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV do país o exercício da liberdade de expressão vive limitado por uma prerrogativa de classe.

Pode ser exercida pelos donos da empresa, seus familiares e uma pequena elite de profissionais autorizados. E só.

Aos demais jornalistas está reservada a função de apurar o que pedem e escrever o que mandam, num regime de cima para baixo que não é exagero comparar com hierarquia militar.

A linguagem panfletária, editorializada, reflete a falta de debate interno. A edição seletiva, dirigida para ressaltar um ponto de vista pré-definido, expressa a mesma situação.

Profissional diferenciado, há 18 anos no Estado de Minas, João Paulo pediu demissão ao ser informado pela direção da publicação que não estava mais autorizado a escrever sobre assuntos políticos.

A decisão foi tomada depois da publicação de um artigo no qual o autor ousava fazer uma observação em tom crítico ao senador e ex-candidato presidencial Aécio Neves. Convém atentar para dois detalhes. O artigo foi publicado em 12 de dezembro de 2014, ou seja, um mês e meio depois que Aécio já tinha sido derrotado por Dilma Rousseff, quando os votos já haviam sido contados e o resultado da eleição já fora anunciado. Seria impossível, portanto, imaginar que João Paulo tivesse a intenção de usar as páginas do Estado de Minas para pedir votos para a adversária de Aécio nas páginas de um jornal que defende a candidatura presidencial do senador mineiro desde 2010, quando ele sequer concorria  ao Planalto.

Outro aspecto é que não se trata de um artigo que julgasse Aécio Neves como um político bom ou ruim. Fazia uma crítica a sua postura depois da derrota, quando Aécio e o PSDB partiram para a ignorância: tentaram impugnar as urnas e estimularam protestos que pediam golpe de Estado. Num texto denso, refletido, verdadeira glória da imprensa brasileira de nossos dias, onde é raro ler-se um material de qualidade equivalente, João Paulo comparou Aécio a Bentinho, o personagem de Machado de Assis que não consegue compreender o que acontece no mundo — nem com a mulher Capitu, suspeita de adultério.

Vamos ler um trecho do artigo, chamado Síndrome de Capitu:

“Bentinho não sofre só pela traição mas porque não entende que o mundo mudou. Não pode aceitar que a sociedade republicana deixou para trás as amarras elitistas do Segundo Reinado e da escravidão. (…) Tudo o que ele não compreende o ameaça.”

Outro parágrafo:

“O Brasil tem uma recorrente síndrome de Capitu: tudo que a elite não tolera se torna, por meio de um discurso marcado pela força jurídica e da tradição, algo que deve ser rejeitado. Eternos maridos traídos. A tendência de empurrar a política para os tribunais é uma consequência desse descaminho. Assim, tudo que de alguma forma aponta para a mudança e ampliação de direitos é considerado ilegítimo e, em alguns momentos, quase uma afronta que precisa ser questionada e combatida. Foi assim com a visibilidade dada aos novos consumidores populares (que foram criminalizados em rolezinhos ou objeto de ironia em aeroportos), com as cotas raciais para a universidade, com a chegada de médicos estrangeiros para ocupar postos que os brasileiros, psicanaliticamente, denegaram.”

A leitura desses parágrafos — o texto integral pode ser encontrado na internet — mostra uma produção intelectual sofisticada, a altura das complexidades de um país como o Brasil em 2014. Não estamos falando de um panfleto. O tom é profissional, de quem sabe seus limites e conhece as fronteiras de quem faz a dissidência num ambiente geral hostil.

O vigor intelectual contrasta com uma certa timidez política, até.

E aí chegamos ao verdadeiro bolivarianismo de nossas terras. Qual a liberdade que ameaça nossos Bentinhos? Qual seu temor?

Ao falar de uma elite de “eternos maridos traídos”, João Paulo toca no ponto central de nossa democracia, regime que pode ser aceito, preservado e até celebrado — enquanto o povo não ousa ultrapassar determinados limites e fronteiras. Quando isso acontece, considera-se traição — e isso é imperdoável.

Esse é o drama da liberdade de expressão e da democratização dos meios de comunicação. A luta contra a censura foi bem-vinda enquanto auxiliou os donos de jornal a livrar-se das botas e tanques de um regime que haviam ajudado a colocar de pé.

Foi uma causa justa correta, vamos ter clareza.

Quando se procura ampliar o espaço para que o conjunto da sociedade possa se manifestar, num movimento que apenas fortalece a democracia, e é coerente com as mudanças sociais que ocorreram no país na última década, a reação é falar em bolivarianismo, sem receio de produzir uma fraude. Quem censura? Quem cala o outro lado? Quem oprime?

Até dá para entender. Só não dá para aceitar.

“Síndrome de Capitu” é um trabalho de gabarito, que não se lê todos os dias, que coloca a política em outro plano, da discussão cultural. Ajuda a pensar o país — e é isso que se proibiu.



Síndrome de Capitu


Existem duas verdades aparentemente óbvias que, no entanto, não têm ficado suficientemente claras para muita gente: o país mudou e a eleição já acabou. A insistência em dar continuidade ao processo que elegeu Dilma Rousseff poderia ser apenas um luto mal vivido, mas tende a se tornar perversa no campo político. Por outro lado, a recusa em enxergar a nova configuração da sociedade, resultado de seguidas políticas de distribuição de renda e inclusão social, pode gerar um impulso no mínimo grotesco em suas alusões reativas e chamamentos à ditadura.

É preciso ir adiante. A oposição, certamente, saiu fortalecida do resultado eleitoral bastante parelho. Mas corre o risco de jogar fora esse crescimento quantitativo em nome de um comportamento pouco produtivo em termos políticos. Em vez de jogar com seu eleitor fiel, interpreta os votos de acordo com suas conveniências e joga para a plateia pelos meios de comunicação, sem perceber que essa falácia já mostrou ser um paradoxo invencível: tem mais brilho que consistência, mais efeito que substância, mais eco que voz.

A oposição de hoje parece viver, no campo da política, o que Bento Santiago, o Bentinho de Dom Casmurro, de Machado de Assis, viveu em seus tormentos de alma: se perde na fantasia da traição (mesmo que ela tenha sido real). Para lembrar sumariamente o enredo do romance, Bentinho se apaixona por Capitu, desde logo apresentada como portadora de “olhos de ressaca”. São jovens de classes sociais distintas. Um arranjo permite o casamento. Logo Bentinho, já pai e bem posto na vida como advogado, desconfia que está sendo traído pela mulher com o melhor amigo, em quem vê semelhança com o filho. O casal se separa, o filho morre e Bento, sozinho, leva adiante sua sina de ser casmurro e sofrer com a desconfiança até o fim da vida.

Machado de Assis, como sempre, ao falar de seus personagens, está figurando a sociedade de seu tempo. Bentinho não sofre só pela traição, mas porque não entende que o mundo mudou. Não pode aceitar que a sociedade republicana deixou para trás as amarras elitistas do Segundo Reinado e da escravidão. Bento não reconhece a mulher, a sociedade, a história. Não pode aceitar que ela tenha uma vida independente e autônoma. Tudo que ele não compreende o ameaça. Capitu não é apenas a mulher, mas tudo que perdeu em seu mundo de referências que se esvaem. Mais que sexual, a traição é histórica. Homem de outro tempo, só resta a ele tentar convencer ao leitor e a si próprio de seu destino de vítima. E soprar um melancólico saudosismo acerca dos tempos idos, que busca reconstruir em sua casa feita à semelhança do lar da meninice.

O Brasil tem uma recorrente síndrome de Capitu: tudo que a elite não tolera se torna, por meio de um discurso marcado pela força jurídica e da tradição, algo que deve ser rejeitado. Eternos maridos traídos. A tendência de empurrar a política para os tribunais é uma consequência desse descaminho. Assim, tudo que de alguma forma aponta para a mudança e ampliação de direitos é considerado ilegítimo e, em alguns momentos, quase uma afronta que precisa ser questionada e combatida. Foi assim com a visibilidade dada aos novos consumidores populares (que foram criminalizados em rolezinhos ou objeto de ironia em aeroportos), com as cotas raciais para a universidade, com a chegada de médicos estrangeiros para ocupar postos que os brasileiros, psicanaliticamente, denegaram.

O romance de Machado de Assis tem ainda outro personagem curioso para a sociologia e psicologia do brasileiro, o agregado José Dias. Trata-se de um homem que vive às expensas da família de Bento e que, por isso, não cessa de elogiar quem o acolhe. Típico representante de certa classe média, ele é o bastião dos valores da burguesia da época, da qual só participa de esguelha. Mais burguês que os burgueses, em sua subserviência, ele gasta os superlativos e a vida a invejar e defender os “de cima”, com pânico de ser confundido com os “de baixo”. Epígonos de José Dias, hoje, são os que amam Miami, levam os filhos para ver o Pateta e participam de passeatas pedindo a volta dos militares.

Leviandade

Mas o que a síndrome de Capitu tem a ver com a política brasileira de hoje? Em primeiro lugar, ela explica por que, em vez de armar uma oposição de verdade, os partidos derrotados tentam inviabilizar a sequência do processo democrático. Em segundo lugar, pela defesa da dupla moral, que desculpa os erros do passado por causa da dimensão dos desvios de hoje, numa reedição do estilo udenista e despolitizador de analisar a conjuntura. Tudo que pode de alguma forma macular a oposição é considerado “sórdido” e “leviano”, numa substituição da política pela moral de circunstância. A corrupção, com sua espantosa abrangência, precisa ser combatida em toda sua dimensão e arco histórico. Nenhum culpado pode ficar de fora, de empresários a políticos de todos os partidos.

Por fim, a personagem machadiana ajuda a explicar a fixação em torno de determinados temas — no romance, é a traição, na vida política atual, é a inflação —, que são muito mais derivações que propriamente o que de fato interessa. A escolha dos ministros da área econômica mostrou como mesmo um governo popular e eleito democraticamente confirma as intuições de Machado de Assis. A excessiva submissão aos interesses rentistas pode ser um recuo estratégico. Mas é um recuo. Uma capitulação.

Economia não é uma ciência exata e, muito menos, isenta de componente ideológico. Um governo de esquerda precisa de uma política econômica de esquerda. Além do equilíbrio macroeconômico, o mais importante é apontar as estratégias de distribuição de renda e de investimento na área social. O deus Mercado não pode falar mais alto que os filhos de Deus. No complexo tecido que sustenta a governança, a presença das forças populares não pode ser colocada em segundo plano, como vem sendo até agora. A excessiva sujeição ao cálculo do apoio político está na base da grande corrupção que hoje enoja a todos. Por isso a reforma política popular se tornou a agenda prioritária da sociedade.

A oposição, por sua vez — e o senador Aécio Neves, candidato derrotado como seu nome de maior destaque —, tem uma tarefa a cumprir: dar um passo à frente no jogo político, com a grandeza que o momento requer. O que ainda está devendo.

Bentinho perdeu sua vida ao ficar preso a um passado de desconfianças que, de resto, até hoje divide as opiniões. Há grandes projetos que impulsionam uma vida e moldam expectativas de futuro, algo que ganhou o belo nome de utopia. Há, entretanto, obsessões que paralisam pelo rancor e ressentimento. Bentinho, é bom lembrar, nunca mais foi feliz. Foi ele mesmo o criador e a vítima da síndrome que o consumiu.

João Paulo Cunha

do:  http://www.contextolivre.com.br/2014/12/a-piada-pronta-do-boliviarianismo.html

‘Se eu tivesse um cérebro...’


Luciano Martins Costa, GGN

"Nestes dias entre feriados, os principais jornais de circulação nacional chegam esquálidos aos seus leitores, recheados apenas com a minguada cota de textos e imagens suficientes para completar os cadernos regulamentares.

Há poucos anúncios, alguns dos principais colunistas aproveitam para tirar férias e as corriqueiras tempestades de verão, que costumam apanhar milhares de turistas na sestradas, preenchem o espaço das páginas de papel e o tempo dos meios eletrônicos.

No noticiário político, a falta de acontecimentos interessantes faz aumentar ainda mais a já elevada taxa de declarações, mas neste início de verão nem mesmo a troca de ministros é capaz de produzir animação. A imprensa apenas encaminha especulações ou registra nomes cogitados ou confirmados, sem avançar em análises sobre o perfil do futuro governo.

Por baixo dessa modorra geral pode-se observar que a capacidade de criar uma agenda coletiva, principal trunfo que transformou o jornalismo em atividade básica da modernidade, está murchando junto com a relevância dos meios tradicionais.

Observando os jornais deste período entre o Natal e o Ano Novo, pode-se ter uma ideia de como está mudando o papel da imprensa, e não apenas a imprensa de papel. Há sinais em profusão de que a mídia tradicional perde influência sobre a sociedade e que só mantém a capacidade de pressão sobre as instituições porque elas estão tomadas por indivíduos incapazes de reconhecer a nova circunstância que favorece uma relação mais dinâmica entre a sociedade e seus representantes.

Veja-se, por exemplo, o movimento iniciado pelo economista Roberto Giannetti da Fonseca, que foi durante dez anos, até 2013, diretor de Relações Internacionais da Fiesp, contra as manobras que permitem ao atual presidente da entidade, Paulo Skaf, manter-se indefinidamente no comando da federação das indústrias paulistas.

Em artigo publicado na edição de terça-feira (23/12) da Folha de S.Paulo, Giannetti criticava a passividade dos dirigentes de sindicatos da indústria, que aceitaram uma mudança nos estatutos, que permitirá a Skaf continuar usando a entidade para alimentar seu projeto político (ver aqui).

Boneco de ventríloquo

No entanto, o que ele chama de “golpe na Fiesp” ganhou apenas uma curta repercussão no outro jornal paulista de circulação nacional, O Estado de S.Paulo, e mais nada. Nenhuma reportagem adicional, nenhuma pesquisa entre empresários, nem um estudo sobre a passividade bovina da outrora pujante indústria que foi um dia a locomotiva da economia nacional. Principalmente, chama atenção o fato de que nenhuma voz se levantou entre os representantes do setor para referendar ou desafiar a acusação do economista.

Em outro campo do noticiário, onde se publicam e analisam os nomes que virão a compor o futuro ministério, a ênfase da imprensa se limita ao ajuste de interesses entre as chamadas tendências do Partido dos Trabalhadores e as agremiações que fazem parte da aliança que venceu a eleição de outubro.

Aqui e ali podem-se anotar reparos à conveniência de dar ao governador do Ceará, Cid Gomes, o Ministério da Educação, ou de deslocar o ministro de Esportes, Aldo Rebelo, para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Exceto por algumas citações em blogs especializados, nada se lê na mídia tradicional sobre planos estratégicos ou definição de políticas públicas para esses dois setores fundamentais da estrutura do Estado.

Há oportunidade, por exemplo, para relacionar as dificuldades da indústria, cuja importância na economia nacional encolhe ano a ano, e o uso político da Fiesp, à nomeação de um parlamentar comunista para o ministério que mais afeta o setor. Ainda que seja discutível considerar que Aldo Rebelo não tem perfil para o cargo por causa de sua orientação ideológica, o que surpreende é que sua indicação não causa estranheza a uma imprensa habituada a fazer muito barulho por nada.

O futuro ministro certamente tem ideias para o novo papel que lhe será dado, mas em vez de instigá-lo a dizer que ideias tem, principalmente para estimular nossa anêmica capacidade de inovação, os jornais preferem fazer especulações fora de contexto, aqui e ali. É como se a imprensa tivesse encarnado o boneco de ventríloquo que estrela a propaganda do jornal O Estado de S.Paulo, e que vive repetindo: “Se eu tivesse um cérebro...”

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Que falta faz estudar, né deputada? Sobre a proposta do “auxílio-vítima”



Ela
A deputada Antônia Lúcia (PSC-AC) é autora de um projeto de emenda à Constituição (PEC 304/13) que visa a suprimir o direito ao auxilio-reclusão, previsto na Constituição de 1988.

O texto original do inciso IV,, do art. 201 é: “IV – salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda.”

Pela proposta da deputada, passaria a ser: “salário-família para os dependentes dos segurados de baixa renda.” Exclusão, pura e simples, do auxílio-reclusão.

Não contente com apenas excluir o auxílio-reclusão, a deputada ainda tenta criar um “auxílio-vítima”:

“VI – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa vítima de crime, pelo período que for afastada da atividade que garanta seu sustento e, em caso de morte da vítima, conversão do benefício em pensão ao cônjuge ou companheiro e dependentes da vítima, na forma da lei.”

É interessante ver o argumento da deputada para defender seu projeto:

“Ainda que a família do criminoso, na maior parte dos casos, não tenha influência para que ele cometa o crime, acaba se beneficiando da prática de atos criminosos que envolvam roubo, pois a renda é revertida também em favor da família. Ademais, o fato do criminoso saber que sua família não ficará ao total desamparo se ele for recolhido à prisão, pode facilitar sua decisão em cometer um crime.

Neste sentido, entendemos que é mais justo amparar a família da vítima do que a família do criminoso.”

A nobre deputada assume, como hipótese de verdade, que as famílias sempre são beneficiárias do produto do roubo.

Primeiro erro: nem todos os presos são presos por roubo. Há os homicidas, os estupradores e mais um monte de tipos penais dos quais as famílias não se beneficiam. E mais, como propor um objeto partindo de uma “verdade” que pode não ser verdade? Que lhe garante que TODAS as famílias se beneficiam do roubo? E quem rouba para comprar drogas para si? Que beneficio a família tem com isso?

Parece, também, que a deputada não entende nada de psicologia, de comportamento humano: se alguém fosse pensar na família, antes de cometer crimes, é bem provável que não os cometa.

Por fim, o argumento mais pífio que possa existir em termos de criação de uma lei (ainda mais para se tornar constitucional): é mais justo isso do que aquilo. É mais justo o auxílio-vítima do que o auxílio-reclusão.

Diferente da nobre deputada e de seus eleitores — e de todos quantos insistem em não entender os fundamentos do auxílio-reclusão — os constituintes tinham outro sentido do que seja justiça.

O primeiro sentido a ser lembrado está lá art. 5º, XLV, da CF88: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”. Isso significa dizer que o Estado não pode, ao mesmo tempo que pune um cidadão faltoso, punir, também, sua família, deixando-a sem condições de sobrevivência, embora até possa tê-las, como sói acontecer com os criminosos de colarinho branco. Não se trata, assim, de um argumento do tipo “mais justo isso do que aquilo”, no qual se baseia a deputada.

Um segundo sentido pode ser entendido se entendermos o princípio fundamental que informa a Previdência Social, expresso no art. 201 e seus incisos:

“I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II – proteção à maternidade, especialmente à gestante; III – proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV – salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes…”

Não são necessários muitos neurônios (que parecem faltar à deputada e a tantos quantos… ) para extrair daí o fundamento de toda a previdência: a proteção do cidadão — e de seus dependentes — em situação de risco.

Aliás, deputada, esse é o princípio fundamental de qualquer sociedade: a proteção dos seus cidadãos. Talvez a nobre deputada não tenha entendido, mas cometer crimes não exclui a cidadania. Um criminoso paga pelos seus crimes, ao menos no Brasil, com a perda da liberdade, mas não da DIGNIDADE ou da cidadania. Tanto é assim, que a mesma constituição diz claramente que compete ao Estado a garantia da vida e da dignidade dos presos. Sugiro-lhe a atenta leitura dos incisos XLIX e L, também do artigo 5º.

Muito ainda poderia escrever, deputada, para lhe explicar os sentidos da existência de uma sociedade, ou mesmo de uma Nação, mas antes devo fazer uma sugestão: estude mais antes de fazer propostas como essa.

Por fim, quanto à criação de um auxílio-vítima, e nas condições propostas, é tão justa quanto o auxílio-reclusão, pois parte do mesmo princípio, ou seja, a sociedade socorre seus membros em situação de risco.

Mas veja: o argumento não é “isso é mais justo que aquilo” e, sim, isso é justo na mesma medida que aquilo.

Isso é o sentido da palavra justiça. Entendeu ou quer que continue desenhando?

Estude e recomende aos seus que também estudem.

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy, via http://www.contextolivre.com.br/2014/12/que-falta-faz-estudar-ne-deputada-sobre.html

EUA e a estratégia de guerra contra Rússia na Ucrânia


Os Estados Unidos do Prêmio Nobel da Paz Barak Obama empreendem uma guerra virtual contra a Rússia e preparam obstinadamente uma guerra real para ser travada em território ucraniano. Não importa a inviabilidade dessa aventura militar, do ponto de vista estratégico. O objetivo não é controlar o território ucraniano e “salvá-lo para a democracia”, mas esgotar em combate o poderio russo mediante seu estrangulamento econômico e militar numa guerra convencional em terceiro país. É que nem os lunáticos neoconservadores instalados no Pentágono, no Departamento de Estado e no Conselho de Segurança Nacional proporiam um ataque direto à nação russa, dada sua condição de potência nuclear de primeira linha.

A estratégia central norte-americana é afirmar sua hegemonia mundial a partir da força. É-lhe intolerável a realidade de um mundo apolar ou multipolar em face da presença de um competidor nuclear como a Rússia e de uma potência econômica ascendente como a China, também ameaçadora, a médio prazo,  no campo militar. Para os neoconservadores, a hora de agir é agora, antes que essas forças rivais criem raízes mais profundas. O pretexto ucraniano vem a calhar. Depois de derrubar um governo legítimo e colocar em seu lugar um bando de facínoras, o próximo passo é a incorporação da Ucrânia à OTAN, em aberto desafio à Rússia. Só com muito sangue frio Putin poderá contornar mais essa provocação no quintal da Rússia.

É muito fácil começar uma guerra de grandes proporções na terra dos outros,  sobretudo quando se tem a ilusão de um poder assimétrico em relação ao adversário  e mesmo quando não se tem certeza quanto aos efeitos. É que, uma vez instalado o caos que se segue a uma guerra, não basta ter imensa superioridade miliar para controlar suas consequências. Os Estados Unidos são peritos em começar guerras inacabadas: foi assim na Coreia, no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão; mais recentemente insuflaram revoluções no norte da África, que resultaram em dramática carnificina e permanente instabilidade na Líbia e no Egito. Entretanto, quando se trata de conseguir a paz, os Estados Unidos lavam as mãos. Os outros é que cuidem do estrago que provocam, como no Haiti e no Iraque.

É muito fácil entender a estratégia dos chamados neoconservadores americanos que acabaram de colocar agora um representante na principal cadeira no Departamento de Defesa. Querem repetir o processo que levou à exaustão a antiga União Soviética. Dado que Estados Unidos e Rússia estão em virtual paridade nuclear, a solução é levar a Rússia à capitulação através de uma guerra convencional, não em território russo, que arriscaria uma guerra nuclear, mas no território de um terceiro país. Nada melhor, pois, que a Ucrânia. 

O objetivo dos neoconservadores é tentar repetir uma estratégia que, embora tendo dado certo na liquidação da União Soviética, não liquidou o Estado russo que estava em seu coração. O Estado socialista desmoronou, mas a nação russa, mesmo ferida, continuou de pé. Putin tratou de recuperá-la por inteiro colocando-a na condição de um estorvo nuclear que limita a vontade de poder ilimitada de Washington. A intenção norte-americana de atacar o governo sírio esbarrou efetivamente no veto russo e chinês. Isso, claramente, expôs a impossibilidade prática do exercício de um poder hegemônico na era nuclear partilhada. Transformado num boneco operado pelos neoconservadores, Obama resolveu “estrangular” a Rússia com embargos econômicos.

Recordemos os passos que levaram à extinção da União Soviética a fim de examinarmos os paralelos atuais. Em meados dos anos 70, foi refundada em Washington por influência do então diretor da CIA, George Bush pai, a ONG denominada “Comitee on the present danger”, ou Comitê para o Perigo Presente (CPD). Tinha como principal objetivo estatutário “levar a União Soviética à rendição, se necessário por meios militares”. Do Comitê faziam parte 60 personalidades notáveis do círculo conservador norte-americano, sendo que o futuro Presidente Ronald Reagan filiou-se à ela pouco antes de eleger-se em 1979. Como Presidente, levou a posições de alto destaque no Departamento de Defesa, no Departamento de Estado e no Conselho de Segurança Nacional 33 integrantes do Comitê.

Em 1985, quando estive na Alemanha para cobrir a reunião dos Sete Grandes, andava por lá o chefe do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Richard Perle, membro do CPD, fazendo conferências sobre o conceito subjacente ao programa de escudo nuclear, então conhecido como Guerra nas Estrelas, que se baseava no princípio de “guerra nuclear protegida”. Perguntei aos alemães o que achavam daquilo, pois a guerra nuclear “protegida” no contexto de Guerra nas Estrelas implicava a proteção nuclear do território norte-americano, mas não do europeu. Os alemães com quem conversei estavam perplexos. Imagino que estejam perplexos de novo com a marcha forçada pela guerra em território da Ucrânia, que os expõe diretamente às forças militares russas convencionais em seu próprio território.

É importante assinalar que não se tratava apenas de retórica. Diretivas presidenciais de Reagan, na virada do primeiro para o segundo mandato, introduziram mudanças cruciais nos programas de computador que põem em posição de ataque os três sistemas estratégicos baseados em terra, mar e ar das forças nucleares norte-americanas. Através de vazamentos de imprensa, soube-se de mudanças fundamentais  no SIOP (Single Integrated Operational Program, ou Programa Operacional Integrado Único), a parafernália eletrônica capaz de desencadear uma guerra nuclear contra a então União Soviética a partir do teatro europeu.

A principal alteração no SIOP, de acordo com os fragmentos de diretivas presidenciais secretas,  recolhidos e reconstituídos por um cientista canadense, F. Knelman (em “America, God and the Bomb”), consistiu em recuar para oito minutos, pelo princípio do prêmio por resposta rápida, o início de um ataque nuclear total à União Soviética a partir do primeiro alarme. Não se tratava de uma questão acadêmica. Como um hipotético míssil soviético em cruzeiro levaria 36 minutos para mergulhar em território nacional norte-americano (trata-se de míssil disparado de terra: não se menciona a frota indetectável de submarinos nucleares, por expediente elusivo de convencimento), o programa Guerra nas Estrelas só se justifica se houver uma capacidade efetiva de interceptá-lo no meio da trajetória, isto é, no mínimo 18 minutos depois do disparo. 

O mesmo tempo é o que levaria um míssil americano disparado de terra para alcançar o míssil hostil na estratosfera. Entretanto, seria necessário um sistema de detecção instantânea do início do ataque. Para qualquer efeito prático, não há possibilidade de alcançar o míssil antes que cruze o ponto médio da trajetória, a não ser de uma base em órbita. O programa Guerra nas Estrelas pretendia pôr bases em órbita, mas até lá seria necessário contar com a boa vontade dos estrategistas soviéticos para não atacarem primeiro. Por isso reduziram o tempo de resposta do SIOP a oito minutos, pelo que ficou limitado a um nível de redundância o processo de checagem para confirmar se um disparo captado na tela de controle eletrônico era um disparo real. Com isso ficamos todos expostos à possibilidade de uma guerra nuclear casual na medida em que o SIOP reagiria automaticamente a uma checagem errada sem tempo de consulta para resposta ao falso ataque do Presidente da República.

O primeiro passo para implementar Guerra nas Estrelas era ignorar o tratado SALT II, que vedava a construção de sistemas antibalísticos por parte de EUA e União Soviética. A lógica do SALT II, jamais aprovado pelo Senado norte-americano mas até então respeitado pelo Executivo, era simples: a dissuasão nuclear só se efetiva na base da autodestruição assegurada por quem iniciar uma guerra nuclear. Se um dos lados conseguir construir um sistema operacional que efetivamente proteja seu território de um contra-ataque nuclear, ele estará livre para desencadear um primeiro ataque sem medo de retaliação. Cientistas de todo mundo, inclusive americanos, questionaram as bases técnicas de Guerra nas Estrelas, mas Reagan, a fim de esgotar a União Soviética numa corrida tecnológica para construir seu próprio escudo, levou Gorbachev a uma posição insustentável por falta de condições econômicas e técnicas para isso.

Foi a combinação de pressão tecnológica, econômica e política norte-americana que levou a União Soviética à autodestruição. É este mesmo caminho que está sendo seguido agora para levar a Rússia à exaustão econômica e à rendição política. Não se trata de teoria conspiratória. Os norte-americanos, conscientes de sua superioridade militar e econômica, nunca escondem suas reais intenções. Seus movimentos são explícitos e claramente apresentados em documentos estratégicos públicos. Assim, eis como a intenção de eliminar qualquer possibilidade de “um novo rival” era colocada em 1992, imediatamente depois da derrota da União Soviética, pelo neoconservador Paul Wolfowitz, do CPD, então Subsecretário da Defesa, no Manual de Planejamento de Defesa: 

“Nosso primeiro objetivo é prevenir a re-emergência de um novo rival, seja no território da antiga União Soviética seja em outro lugar, que coloque uma ameaça do tipo que foi colocado pela antiga União Soviética. Isso é uma consideração dominante sublinhando a nova estratégia de defesa regional e requer que previnamos qualquer  tentativa de um poder hostil de dominar uma região cujos recursos poderiam, sob controle consolidado, ser suficiente para gerar poder global.”

Essa linha estratégica está sendo trilhada religiosamente no sentido de evitar que a Rússia seja um embaraço para a hegemonia militar absoluta norte-americana, contornando a realidade elidida da virtual paridade nuclear. O SALT II foi revogado,  unilateralmente, pelos EUA. Eles se recusam, por outro lado, a fazer um tratado de desmilitarização do espaço.  Assim, é necessário recuar à geopolítica anterior à Guerra Fria para entender os movimentos americanos. De fato, há uma década e meia a possibilidade real de uma guerra na Ucrânia está sendo preparada metodicamente pela OTAN, que agora mesmo acaba de decidir aumentar o comprometimento de orçamento militar de seus membros (2% do PIB) por pressão americana. Desde 1999 que a Organização avança para o Leste. Naquele ano, incluiu a República Checa, a Hungria e a Polônia. Uma segunda expansão se deu em 2004, incluindo Bulgária, Estônia, Latvia, Lituânia, România, Eslováquia e Eslovênia.  Com isso, quase metade dos países atualmente membros da OTAN foram incorporados, rumo ao Leste, depois do fim da URSS. Paralelamente expandia-se para Leste a União Europeia, cujo último movimento seria a tentativa de tomada de posse da Ucrânia. E só não houve a efetiva incorporação da Ucrânia e da Geórgia, formalmente sinalizada na cúpula de Bucareste em 2008, porque dessa vez Putin reagiu pela força, pois se tratava, a seu ver, de colocar uma fortaleza militar hostil no quintal de seu país.

O cerco militar à Rússia segue uma tríplice estratégia: alargamento da OTAN, expansão da União Europeia e promoção da “democracia”, obviamente desconsiderando o risco de uma guerra aberta. Diante do baile estratégico que foi a absorção da Crimeia pela Rússia, com apoio esmagador da população da península, os Estados Unidos se movem na direção da guerra através inicialmente de sanções econômicas, a partir de uma posição forte, recém-conquistada, no campo da energia. Contudo, não nos iludamos. Uma guerra convencional seria de alto interesse norte-americano, desde que ela pudesse esgotar a capacidade militar e econômica russa sem o risco de escalar para uma guerra nuclear. É com essa possibilidade que os neoconservadores contam para iniciar a guerra. 

Sabemos, por outro lado, pela experiência histórica, que os Estados Unidos não se preocupam muito em como acabar com guerras. Para eles trata-se de um jogo estratégico para assegurar a afirmação da hegemonia mundial. Por isso, no momento, a única força capaz de parar a máquina de guerra americana é o povo dos Estados Unidos, tocado pela consciência de solidariedade com os bilhões de inocentes do mundo, e eles próprios, que sofreriam as consequência de uma guerra proto-nuclear. É necessário que os inocentes rompam com a passividade, falem e votem. De fato, os Estados Unidos podem esgotar as forças econômicas e militares dos russos numa guerra em território de terceiro. Mas o que acontece com uma potência derrotada, humilhada, sitiada, e não obstante de posse de um imenso arsenal nuclear?

Aos que consideram essa análise exagerada peço que leiam “Foreign Affairs”, uma das mais prestigiosas revistas do estabelecimento norte-americano, em detalhados e esclarecedores artigos sobre a “crise” na Ucrânia, na edição de setembro último. Um deles diz claramente: “a crise na Ucrânia é nossa culpa”, referindo-se aos Estados Unidos. No corpo da matéria vem a narrativa da marcha da OTAN para Leste, em confronto direto com entendimentos anteriores com os russos e sob constantes protestos destes. Ali também se encontra o relato do caos planejado pelo Departamento de Estado e ONGs patrocinadas pelo Governo norte-americano para derrubar o governo legítimo pró-russo de Kiev, colocando em seu lugar um governo que tem pelo menos quatro membros proeminentes neofascistas.

Ainda em termos de medidas provocativas contra a Rússia, destaca-se a monstruosa derrubada do avião comercial MH 17 sobre o Leste da Ucrânia, um típico atentado terrorista que os Estados Unidos pretenderam atribuir a forças pró-russas. Falso. O avião, de que já não se fala mais muito sintomaticamente, foi derrubado por forças do governo de Kiev, conforme denunciou o presidente russo Vladmir Putin, numa reunião internacional, com base em investigações independentes, e com praticamente nula repercussão no Ocidente.

O ânimo dos neoconservadores  norte-americanos para o confronto global com os russos, a partir da economia, ganhou força com a revolução energética representada pela exploração de gás de xisto nos Estados Unidos através de uma das mais criminosas tecnologias do ponto de vista ambiental, o fracting. O sucesso comercial do empreendimento, com rápida expansão de produção de gás e petróleo de xisto, possibilitou atacar o principal pilar da economia russa, grande produtora e exportadora de petróleo e gás, e, simultaneamente, “tranquilizar” os europeus quanto à possibilidade de cessação de suprimento de gás russo à Europa, o qual seria substituído pelo norte-americano.

Não se sabe se os sauditas entraram nesse jogo por razões geopolíticas, evitando reduzir a produção de petróleo para prejudicar os russos, ou por suas próprias razões de tentar inviabilizar economicamente a produção de hidrocarbonetos por fracting. O fato é que também grandes empresas norte-americanas, que investiram pesadamente no petróleo e gás de xisto, estão tendo pesados prejuízos com a redução do preço do petróleo, que agrada mesmo só ao consumidor. Por outro lado, as promessas supostamente infinitas do fracting  se revelaram surpreendentemente  limitadas nos últimos meses:  em Monterey, na Califórnia, reservas de petróleo de xisto antes avaliadas em 13,7 bilhões de barris foram reavaliadas oficialmente para 600 milhões, ou 96% menos. Além disso, a opinião pública norte-americana começa a ser mover contra o fracting: segundo uma pesquisa de opinião recente, em 2008, 48% a 38% dos norte-americanos apoiavam essa tecnologia; em novembro último, 47% a 41% se manifestaram contra. Isso certamente reflete a comprovação inequívoca da destruição ambiental, sobretudo de aquíferos, que essa tecnologia suja provoca no meio ambiente de forma irreversível. 

Enquanto o mercado de hidrocarbonetos não sofrer nova reviravolta, refletindo o fracasso da Califórnia, a Rússia, sem dúvida, será penalizada pela estratégia norte-americana de seu estrangulamento econômico. Putin, com sua frieza característica, ponderou que a Rússia é um país autossuficiente e, de qualquer modo, tem meios de retaliação – imaginando certamente um embargo na exportação de gás para a Europa. Uma importante ficha para a Rússia é certamente a China, que já lhe garantiu um contrato de fornecimento de gás por 20 anos no montante de 400 bilhões de dólares, e que tem se alinhado com ela em questões geopolíticas, como no caso da Síria. Contudo, estamos claramente diante de uma escalada.

O novo passo estimulado pelos EUA foi a recente decisão do Parlamento da Ucrânia de renegar sua neutralidade. Note-se que o próprio Kissinger, num artigo recente, assinalou que a solução definitiva para a crise ucraniana, de uma forma aceitável pela Rússia, seria transformar a Ucrânia num país neutro entre a União Europeia/OTAN e a Rússia, como aconteceu com a Finlândia na Guerra Fria. Contudo, Kissinger é um velho conservador lúcido, não um neoconservador alucinado. Os EUA, sob controle destes, indicam que não aceitarão perder mais essa oportunidade de guerra. Tudo indica que forçarão a Rússia a aceitá-la. Com a integração da Ucrânia na OTAN, numa iniciativa indiferente aos milhões de russos e russófilos no Leste do país, a aliança militar ocidental estaria nas costas da Rússia, o que significa ameaça direta a seu território. O mínimo que a Rússia buscaria seria retalhar a Ucrânia com apoio local, o que de uma certa forma foi ensaiado na Crimeia. Seria então uma guerra global em território ucraniano? 


E nós, que temos a ver com tudo isso? Os inocentes entre nós acham que os neoconservadores norte-americanos veem com muita naturalidade nossa aproximação, via BRICS, com sua arqui-inimiga Rússia. Acreditam que a gravação das conversas da Presidenta foi mero divertimento. Acham que as tentativas de desestabilização do legítimo Governo brasileiro atual, assim como o reeleito, são fenômenos exclusivamente internos, ou resultantes dos impulsos éticos de alguns tribunais. Pelo fato de termos passado à margem de guerras, e estarmos no centro de um continente  peculiarmente pacífico, nos acostumamos a não pensar geopoliticamente – mesmo porque, na era nuclear, a geopolítica devia estar definitivamente fora de moda. Contudo, querendo ou não, estamos no jogo. Se o preço do petróleo cair abaixo de 40 dólares o barril, a exploração do pré-sal estará inviabilizada. Se os Estados Unidos fizeram a guerra contra a Rússia em território ucraniano, teremos de fazer difíceis escolhas.  

J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB
http://caviaresquerda.blogspot.com.br/2014/12/eua-e-estrategia-de-guerra-contra.html