Luciano Martins Costa, GGN
"Nestes dias entre feriados, os principais jornais de circulação nacional chegam esquálidos aos seus leitores, recheados apenas com a minguada cota de textos e imagens suficientes para completar os cadernos regulamentares.
No noticiário político, a falta de acontecimentos interessantes faz aumentar ainda mais a já elevada taxa de declarações, mas neste início de verão nem mesmo a troca de ministros é capaz de produzir animação. A imprensa apenas encaminha especulações ou registra nomes cogitados ou confirmados, sem avançar em análises sobre o perfil do futuro governo.
Por baixo dessa modorra geral pode-se observar que a capacidade de criar uma agenda coletiva, principal trunfo que transformou o jornalismo em atividade básica da modernidade, está murchando junto com a relevância dos meios tradicionais.
Observando os jornais deste período entre o Natal e o Ano Novo, pode-se ter uma ideia de como está mudando o papel da imprensa, e não apenas a imprensa de papel. Há sinais em profusão de que a mídia tradicional perde influência sobre a sociedade e que só mantém a capacidade de pressão sobre as instituições porque elas estão tomadas por indivíduos incapazes de reconhecer a nova circunstância que favorece uma relação mais dinâmica entre a sociedade e seus representantes.
Veja-se, por exemplo, o movimento iniciado pelo economista Roberto Giannetti da Fonseca, que foi durante dez anos, até 2013, diretor de Relações Internacionais da Fiesp, contra as manobras que permitem ao atual presidente da entidade, Paulo Skaf, manter-se indefinidamente no comando da federação das indústrias paulistas.
Boneco de ventríloquo
Em outro campo do noticiário, onde se publicam e analisam os nomes que virão a compor o futuro ministério, a ênfase da imprensa se limita ao ajuste de interesses entre as chamadas tendências do Partido dos Trabalhadores e as agremiações que fazem parte da aliança que venceu a eleição de outubro.
O futuro ministro certamente tem ideias para o novo papel que lhe será dado, mas em vez de instigá-lo a dizer que ideias tem, principalmente para estimular nossa anêmica capacidade de inovação, os jornais preferem fazer especulações fora de contexto, aqui e ali. É como se a imprensa tivesse encarnado o boneco de ventríloquo que estrela a propaganda do jornal O Estado de S.Paulo, e que vive repetindo: “Se eu tivesse um cérebro...”
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