Beijos, abraços, presentes, amigo secreto, todo mundo desejando “Feliz Natal”… Noventa por cento de tudo quanto acontece nessa época é a mais pura expressão da hipocrisia.
Há muitos anos namorei uma médica judia. Era especialista em fazer plantão no dia de Natal. O Natal simplesmente não existia para ela. Simples. E era feliz assim. Alguns bilhões de seres humanos não estão nem aí para o Natal.
O cristianismo deu um jeito de reforçar, em proveito próprio, as mazelas humanas com o Natal. (aliás, não é só com o Natal…). E o consumismo desenfreado criado pelo capitalismo, idem. Bem, nisso judeus, cristãos, mulçumanos, chineses (principalmente), indianos e tantos outros estão “muito aí”. Querem vender, vender, vender e vender.
Somos, na maior parte do tempo, senão infelizes, ao menos não felizes. Todos temos chefes imbecis, colegas idiotas (e para eles também somos isso), que passamos o ano inteiro desejando que sumam da face da Terra. Mas dê-lhe presentinho de amigo secreto…
O índice de pessoas solitárias é altíssimo. Estejam sozinhas ou acompanhadas, não importa. E o Natal é vendido como uma festa de confraternização, de união, ou seja, o oposto da realidade das pessoas em geral. Se já sofremos com a solidão durante o ano inteiro, o Natal tem o condão de precipitar suicídios… E dizemos “Feliz Natal”, para quem vai se matar na noite em que não estaremos juntos! Na noite em que estaremos solitários…
Já passamos o ano inteiro correndo atrás das contas. E o Natal nos fará passar o próximo ano do mesmo jeito: endividados correndo atrás do gerente do banco, do atendente da financeira, e até do padre, para tentar se eximir do pecado da ganância. Mas não importa, no dia do Natal eu sou feliz!
E as famílias? Ah! Tão unidas que são. Irmãos que adoram irmãos, pais que estão sempre com os filhos… É lindo, né? E existe isso? Onde, por favor? Maridos que amam as esposas e não traem, e vice-versa.
Gente que literalemente “se aguenta” o ano inteiro, mas “Feliz Natal” dizem…
E o pior de tudo, é que acreditamos piamente, como bons cristãos que somos, que devemos ensinar isso para nossos filhos. A acreditar em Papai Noel (para aos seis anos ter que explicar porque mentimos até então). Por que não fazer como tantos e de cara já dizer que Papai Noel não existe, que não acreditamos nisso? Por que somos hipócritas: acreditamos numa coisa, mas nos comportamos de outra. E somos covardes o suficiente para não assumir isso diante dos próprios filhos. Algo tão fácil, que qualquer desses bilhões que não acreditam fazem com a maior naturalidade.
Com certeza vai aparecer algum psi dizendo que isso é importante na formação da criança, etc… e tantas outras baboseiras que qualquer chinesinho de dois anos consegue desmentir…
Vendemos o peixe pelo preço que nos venderam, dizemos. Mentira! O Natal não precisa existir. Mais, deveríamos ter a coragem de abolir o Natal. Natal foi uma data inventada para aumentar o rebanho de bois cornetas soltos por aí.
Esses dias ouvi uma frase (e não sei de quem é): “não importa o que fazemos entre o Natal e o Ano Novo, mas sim o que fazemos entre o Ano Novo e o Natal”. E disso muitos esquecem. Mas desejam feliz natal assim mesmo…
E o diamante da época: a solidariedade. Beleza! A expiação dos pecados. Sou incapaz de ajudar uma criança durante o ano todo, mas vou aos Correios buscar uma cartinha… e mando junto um cartão dizendo “Feliz Natal”. Pronto, fiz uma criança feliz, mesmo que ela morra de fome antes do final do ano.
Por toda hipocrisia que o Natal representa, deveríamos abolí-lo das nossas existências.
Luiz Afonso Alencastre Escosteguy, via http://www.contextolivre.com.br/2014/12/a-hipocrisia-do-natal.html
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