terça-feira, 26 de novembro de 2013

TV corrói o cérebro das crianças, diz um novo estudo


No século passado, antes de as crianças ficarem reféns de games, smartphones e iPads, havia outro inimigo dos pais: a televisão. Acreditava-se que ela fazia mal para a visão, para a educação, para o comportamento. Logo se passou a acreditar que era lenda urbana.

Não era.

Uma nova pesquisa da Universidade de Ohio constatou que meninos em idade pré-escolar que tinham uma TV no quarto, ou cujos pais deixavam o aparelho ligado de maneira inercial, tiveram um desempenho pior nos níveis mental e emocional. Sua compreensão dos sentimentos de outras pessoas era superficial — crenças, desejos, intenções etc.

O estudo foi com 107 crianças na faixa entre 38 e 74 meses. A capacidade cognitiva estava prejudicada. A faculdade de “ler” os demais, dizem eles, um passo fundamental para a maturidade, estava comprometida.

“Tanto a TV ligada sem ninguém assistir quanto sua simples presença no quarto têm um impacto negativo”, afirma o relatório. “A TV expõe as crianças a personagens e situações sem profundidade e que requerem um processo superficial de entendimento”.

Isso acontece, entre outras razões, porque é uma mídia muito menos interativa do que, por exemplo, a Internet ou os videogames. É feita sob medida para o chamado couch potato.

A boa notícia é que ela está morrendo. De acordo com um levantamento do Citi Research, tanto as emissoras abertas quanto fechadas tiveram, em 2013, seu pior ano na história nos EUA. Todos os principais canais a cabo perderam pelo menos 113 mil assinantes no terceiro quadrimestre deste ano — é o fenômeno dos cord-cutters. No Brasil, a tendência não é diferente (o Ibope bate recordes negativos há 13 anos).

Sim, ainda é possível ver coisa boa por assinatura. Mas a situação se complica quando você tem a possibilidade de, com serviços de streaming na Internet, como o Netflix, assistir o que quiser, como quiser e na hora em que quiser.

Ou seja, quando seu filho estiver ali, em seu mundo, com o laptop e o iPad abertos, trocando mensagens ao mesmo tempo, não se desespere. Ele podia estar vendo o Big Brother, tornando-se um pequeno robô anti-social e comentando sobre o próximo capítulo da novela das 9.

(Por DCM)


sugado do:: http://comunicatudo.blogspot.com/2013/11/tv-corroi-o-cerebro-das-criancas-diz-um.html#ixzz2ln4d80zb
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O Barbosismo, o PT e o pós-julgamento



A prisão de lideranças petistas, cercada de ilegalidade e manipulação, não marca apenas um divisor no partido. Ela coincide com uma transição de ciclo econômico

Saul LeblonCarta Maior

O conservadorismo brasileiro construiu uma narrativa e a cercou de um cão de guarda.

Era forçoso que tivesse a pegada  agressiva das mandíbulas que travam e não soltam para dar conta das  cores  extremadas do enredo.

O intento foi bem sucedido  mas o epílogo, inconcluso, está longe de entregar tudo o que prometeu.

Joaquim Barbosa foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa quando se tratou de tanger a AP 470  na direção das manchetes que a conceberam.

O que se concebeu,  a partir de um crime eleitoral de caixa 2 , foi consumar aquilo que as urnas sonegavam: aleijar moralmente o campo progressista brasileiro; sepultar algumas de suas principais lideranças.

Na verdade, o intercurso entre campanha política  e financiamento privado já havia punido o êxito progressista nos seus próprios termos.

Subtraindo-lhe práticas, projetos e um horizonte ideológico, de cuja regeneração depende agora o seu futuro e a capacidade de liderar o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

A prisão de lideranças petistas, cercada da ilegalidade e da manipulação sabidas, não marca apenas um divisor no partido.

Ela coincide com uma transição de ciclo econômico mundial que impõe um novo repertório de escolhas estratégicas ao país e ao PT.

Os limites assimilados na chegada ao poder talvez não sejam mais suficientes para se manter à frente dele nessa travessia.

Em postagem em seu blog, antes da prisão, o ex-ministro José Dirceu resumiu o paradoxo ao criticar aqueles que hoje  –a exemplo do que se fez até 2008-- endossam a panaceia ortodoxa do choque de juros e de cortes orçamentários.

“Para fazer isso não precisam  de nós’, advertiu o ex-chefe da Casa Civil de Lula.

Quem –e o quê--  ditará  a agenda brasileira no pós-julgamento da AP 470  não é uma inquietação exclusiva do lado que ficou no banco dos réus.

A emissão conservadora sabe que saturou um capítulo da disputa com a prisão algo decepcionante dos alvos mais graúdos.

Parte do conservadorismo, porém, fica com água na boca.

E sonha alto quando vê Joaquim Barbosa ladrar como se a teoria do domínio do fato, agora, significasse um dote imanente para atropelar réus, juízes e cardiopatas com a mesma truculência  biliosa exibida durante o julgamento.

Delirantes enxergam um Carlos Lacerda negro nos palanques de 2014.

Finalmente,  o elo perdido, a ponte capaz  de suprir o vazio de carisma à direita e de injetar paixão ao discurso  antipetista: o barbosismo.

O engano conservador pode custar mais caro ao país do que custaria ao PT  ter o algoz como rival.

Joaquim Barbosa tem de Lacerda apenas uma rudimentar mimetização de incontinência colérica.

Tribuno privilegiado, o original  catalisou a oposição a Vargas. Ainda assim, o talentonão foi suficiente para evitar os desdobramentos que se seguiram ao suicídio de 1954.

Os desdobramentos foram de tal ordem que adiaram por uma década o golpe esmagado por Getúlio com um único tiro.

É verdade que Lacerda , a exemplo de Barbosa hoje, foi também uma construção midiática.

Ancorado nessa alicerce,  construiu um carisma  que insuflou a classe média contra a corrupção,  os sindicatos, os inimigos do capital estrangeiro e o desgoverno populista.

Contra Vargas, sua voz ecoava simultaneamente na Rádio Globo, dos Marinhos e na Mayrink Veiga; a presença inflamada do udenista sacudia  também a  audiência da TV Tupi, de Assis Chateaubriant, a TV Rio  e a TV Record, da família Machado de Carvalho.

Dispunha ainda do jornal Tribuna da Imprensa, criado em 1949, com o dinheiro do anti-getulismo local e estrangeiro.

A voz de Lacerda era o que hoje é o Jornal Nacional, da Globo: a narrativa da direita endereçada a todo o Brasil.

Por trás da retórica vulcânica, todavia, existia um substrato de aparente pertinência que sustentava o belicismo das suas inserções.

Ao confronto internacional marcado pela consolidação comunista na China e a construção do Muro de Berlim, superpunha-se a emergência da Revolução cubana.

Seja pela maior proximidade, seja pelos laços culturais, as transformações em Cuba  granjeariam  enorme receptividade na luta latino-americana contra o subdesenvolvimento e o apetite leonino do capital estrangeiro.

Hoje,  ao contrário, a exacerbação conservadora só se sustenta pela instabilidade que o colapso do seu próprio ideário  –ainda sem resposta à altura--  acarreta urbi et orbi.

E esse é o ponto fundamental da disputa no pós-AP 470.

Colérico-dependente, Joaquim Barbosa  está muito distante das credenciais para se apresentar como a personificação do  salvador da pátria, diante dos desafios que se avizinham.

O maneirismo é a única relação que existe entre o barbosismo  e o  lacerdismo.
Ou o janismo.

Maneirismo é a simulação afetada do original.

Quanto mais se esmera em exacerbar as referências do que não é, maior o artificialismo que  exala.

Mas isso só ficará definitivamente claro se o foco do debate for deslocado a partir de agora para o que é principal – e o que é principal requer do campo progressista algo mais do que a busca inercial do voto em 2014.”

Cardozo rebate PSDB: “Me recuso a ser engavetador”



Em resposta à cúpula do PSDB, que pediu hoje sua cabeça, ministro da Justiça fala duro; "A época de engavetador geral já acabou", disse ele, para justificar envio de denúncias contra tucanos à Polícia Federal, por suspeita de envolvimento em cartel no contrato de trens e Metrô em São Paulo, com Alstom e Siemens; declaração vem a calhar depois que o procurador de São Paulo Rodrigo de Grandis engavetou durante dois anos e oito meses pedido de colaboração da Justiça suíça no caso; em resposta à afirmação dos tucanos de que são diferentes dos petistas, Cardozo afirma: "Todos são iguais perante à lei"; denúncia cita Aloysio Nunes, José Aníbal, Edson Aparecido e Arnaldo Jardim, do PPS, mas ligado a tucanos


O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, falou duro na tarde desta terça-feira 26 ao responder a cúpula do PSDB, que pediu sua cabeça (leia aqui) devido à denúncia de cartel envolvendo nomes importantes do partido apresentada por ele à Polícia Federal. "A época de engavetador geral já acabou. Eu me recuso ser um engavetador geral de denúncias. As denúncias que chegarem às minhas mãos serão sempre encaminhadas à PF para fazer uma investigação imparcial", disse Cardozo.

A declaração é feita cerca de um mês depois de o procurador da República Rodrigo de Grandis ser acusado de engavetar um pedido de colaboração de procuradores suíços no caso Siemens. Segundo De Grandis, que contou que o documento foi guardado numa gaveta errada e, por isso, arquivado indevidamente, houve uma "falha administrativa" na Procuradoria de São Paulo. O pedido ficou longe do conhecimento do órgão por dois anos e oito meses.

Segundo Cardozo, cabe a ele, como ministro da Justiça, apenas solicitar a investigação, que será coordenada por um delegado de polícia. Mais cedo, os tucanos afirmaram que ele não tinha condições de chefiar as investigações. "O presidente do PSDB disse que o ministro da Justiça não tem condições de coordenar e chefiar as investigações. Quem faz isso é o delegado de polícia.

 Há um ligeiro equívoco jurídico, meu poder se limita a pedir investigação que é feita com absoluta autonomia", disse.
O ministro da Justiça lamentou ainda que o suposto esquema envolvendo multinacionais e governos do PSDB em São Paulo tenha se transformado em disputa política. "Acho muito ruim que investigações sejam transformadas em disputa política, em dizer que 'conosco não que somos diferentes'. Todos são iguais perante à lei", rebateu. Aécio Neves também disse mais cedo que os tucanos eram diferentes dos petistas, numa referência ao caso do 'mensalão'.

"Se há denúncias, não importa contra quem seja, o ministro tem que ser pedir investigação. Senão é prevaricação", afirmou Cardozo. A denúncia apresentada pelo ministro da Justiça à PF cita os nomes do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), do secretário de Energia José Aníbal (PSDB-SP), do deputado licenciado e atual chefe da Casa Civil do governo paulista, Edson Aparecido, e do deputado federal Arnaldo Jardim (PPS), ligado a tucanos.”

Como se manipula a informação

William Bonner, ao vetar esta ou aquela reportagem, diz: "essa o Homer não vai entender". Ele refere-se ao "telespectador médio" do Jornal Nacional.

Mário Augusto Jakobskind, do Direto da Redação
Latuff
 
Não é de hoje que vários pensadores sérios estudam o mecanismo da manipulação da informação na mídia de mercado. Um deles, o linguista Noam Chomsky, relacionou dez estratégias sobre o tema.

Na verdade, Chomsky elaborou um verdadeiro tratado que deve ser analisado por todos (jornalistas ou não) os interessados no tema tão em voga nos dias de hoje em função da importância adquirida pelos meios de comunicação na batalha diária de “fazer cabeças”.
 
Vale a pena transcrever o quinto tópico elaborado e que remete tranquilamente a um telejornal brasileiro de grande audiência e em especial ao apresentador.
 
O tópico assinala que o apresentador deve “dirigir-se ao público como criaturas de pouca idade ou deficientes mentais. A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantil, muitas vezes próxima da debilidade, como se o espectador fosse uma pessoa de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantil”.
 
E prossegue Chomsky indagando o motivo da estratégia. Ele mesmo responde: “se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, então, por razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos”.
 
Alguém pode estar imaginando que Chomsky se inspirou em William Bonner, o apresentador do Jornal Nacional que utiliza exatamente a mesma estratégia assinalada pelo linguista.
 
Mas não necessariamente, até porque em outros países existem figuras como Bonner, que são colocados na função para fazerem exatamente o que fazem, ajudando a aprofundar o esquema do pensamento único e da infantilização do telespectador.
 
De qualquer forma, o que diz Chomsky remete a artigo escrito há tempos pelo professor Laurindo Leal Filho depois de ter participado de uma visita, juntamente com outros professores universitários, a uma reunião de pauta do Jornal Nacional comandada por Bonner.
 
Laurindo informava então que na ocasião Bonner dissera que em pesquisa realizada pela TV Globo foi identificado o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se, segundo Bonner, que “ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como o BNDES, por exemplo. Na redação, o personagem foi apelidado de Homer Simpson, um simpático mas obtuso personagem dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão do mundo”.
 
E prossegue o artigo observando que Homer Simpson “é pai de família, adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja, é preguiçoso e tem o raciocínio lento”.
 
Para perplexidade dos professores que visitavam a redação de jornalismo da TV Globo, Bonner passou então a se referir da seguinte forma ao vetar esta ou aquela reportagem: “essa o Homer não vai entender” e assim sucessivamente.
 
A tal reunião de pauta do Jornal Nacional aconteceu no final do ano de 2005. O comentário de Noam Chomsky é talvez mais recente. É possível que o linguista estadunidense não conheça o informe elaborado por Laurindo Leal Filho, até porque depois de sete anos caiu no esquecimento. Mas como se trata de um artigo histórico, que marcou época, é pertinente relembrá-lo.
 
De lá para cá, o Jornal Nacional praticamente não mudou de estratégia e nem de editor-chefe. Continua manipulando a informação, como aconteceu recentemente em matéria sobre o desmatamento na Amazônia, elaborada exatamente para indispor a opinião pública contra os assentados.
 
Dizia a matéria que os assentamentos são responsáveis pelo desmatamento na região Amazônica, mas simplesmente omitiu o fato segundo o qual o desmatamento não é produzido pelos assentados e sim por grupos de madeireiros com atuação ilegal.
 
Bonner certamente orientou a matéria com o visível objetivo de levar o telespectador a se colocar contra a reforma agrária, já que, na concepção manipulada da TV Globo, os assentados violentam o meio ambiente.
 
Em suma: assim caminha o jornalismo da TV Globo. Quando questionado, a resposta dos editores é acusar os críticos de defenderem a censura. Um argumento que não se sustenta.
 
A propósito, o jornal O Globo está de marcação cerrada contra o governo de Rafael Correa, do Equador, acusando-o de restringir a liberdade de imprensa. A matéria mais recente, em tom crítico, citava como exemplo a não renovação da concessão de algumas emissoras de rádio que não teriam cumprido determinações do contrato.
 
As Organizações Globo e demais mídias filiadas à Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) raciocinam como se os canais de rádio e de televisão fossem propriedade particular e não concessões públicas com normas e procedimentos a serem respeitados.
 
Em outros termos: para o patronato associado à SIP quem manda são os proprietários, que podem fazer o que quiserem e bem entenderem sem obrigações contratuais.
 
No momento em que o Estado fiscaliza e cobra procedimentos, os proprietários de veículos eletrônicos de comunicação entram em campo para denunciar o que consideram restrição à liberdade de imprensa.
 
Os governos do Equador, Venezuela, Bolívia e Argentina estão no índex do baronato midiático exatamente porque cobram obrigações contratuais. Quando emissoras irregulares não têm as concessões renovadas, a chiadeira do patronato é ampla, geral e irrestrita.
 
Da mesma forma que O Globo no Rio de Janeiro, Clarin na Argentina, El Mercurio no Chile e outros editam matérias com o mesmo teor, como se fossem extraídas de uma mesma matriz midiática.

Créditos da foto: Latuff

domingo, 24 de novembro de 2013

Mensalão. O ódio e o ressentimento da classe média


LucianAlvarenga
O desdobramento de mais um capítulo do julgamento do mensalão e, portanto, o adiamento para mais adiante daquilo que uma parte significativa da sociedade brasileira queria agora, isto é, a prisão, o achincalhe, as algemas, os camburões e, tudo, evidentemente, registrado pela imprensa nacional, evidencia mais uma vez uma marca profunda do caráter nacional, ou pelo menos dessa classe em especial, o ódio e o ressentimento.
A questão a muito deixou de ser justiça, isto é, que se julgue e que os culpados - caso assim sejam considerados - paguem de acordo com a lei e, se transformou numa catarse em que aquela parte da sociedade quer se ver redimida de sua passividade. De acordo com a psicanalista Maria Rita Kehl, passividade e vitimização são as marcas do ressentido.
Incapaz que foi, nas últimas décadas, de dar curso as suas demandas via os canais institucionais e políticos da democracia (seja passivamente abandonando o espaço público, ou ativamente apoiando o neoliberalismo selvagem da década de 1990), a classe média tradicional brasileira refugiou-se o quanto pode nos bunkers de uma vida toda ela privatizada, cada vez mais cara, menos segura, imprevisível e cada vez mais impagável.
A ascensão do PT ao centro do poder político em 2002, catapultado também pela bandeira da ética na política, reascendeu todos os motores da patrulha moral adormecida na classe média. Tendo em vista que o próprio PT fez a patrulha de todos os partidos até então, passou a ser, a partir daquele momento, o vigiado. O elemento extraordinário não era, nesse sentido, a eleição do PT à presidência, que naquele momento já estava bastante domesticado e amestrado aos poderosos intere$$es do capital financeiro; o tsunami se deu com o escândalo do mensalão e, o fenômeno de ódio e ressentimento veio à tona com força, na classe média.
Existe certamente um ódio de classe contra esse partido (O Mensalão e ingenuidade do PT); o PT é o partido que emergiu debaixo, somatório das forças sociais engendradas nos anos 1970. Aqui é que se entende melhor o ódio e o ressentimento contra o partido dos trabalhadores: além de estar onde nunca deveria, no cume do poder, tornou-se sinônimo de enriquecimento, vitória social, e seus baluartes andam pelos salões do poder enquanto a classe média tradicional viu a si mesma empobrecer, perder poder, e tônus político. Enquanto o PT, e tudo o que ele passou a representar, emergia, a classe media submergia.
O chamado mensalão, para além dos veredictos, expõem a apatia e passividade da classe média. É, segundo o seu olhar, os pobres que se deram bem, os corretos e éticos que lhe passaram a perna, enquanto ela, classe média, afunda em impostos, paga uma vida privatizada cada vez mais cara e vive sempre e, mais e mais, num mundo em que não possui nenhum controle de classe. O ressentimento é o sentimento daquele que não sendo sujeito dos próprios desejos e intenções fica a esperar que o pai, o bispo, ou seja lá quem de autoridade, faça por ele o que ele não consegue, não quer fazer. Como seu último discurso forte e concatenado foi o neoliberalismo selvagem dos anos 1990, e ela mesma, por miopia, tornou-se o principal alvo da selvageria, ficou então órfã, sem ação e incapaz de agir para além do ressentimento, quando muito, ódio.
O mensalão soa à classe média como uma trapaça no jogo; num jogo em que ela sente que perde cada vez mais. Na verdade o que lhe espaça é o fato de que a corrupção política, os desmandos do poder, a precariedade das instituições, o esgarçamento do tecido social onde ela está inserida, tudo isso e, tudo o mais que perfaz a vida do país é resultado do fato de que ela, classe média, esgueirou-se num processo de infantilização social em que ela não se sente responsável por nada - ela compra e paga e os problemas sociais é culpa de outrem; sendo, portanto, todos os problemas, inclusive os seus, resultado de um pai mal que não lhe atende nem lhe resolve a vida. Com a agravante de que este pai mal é bastardo (PT).
O ressentimento, assim, é fruto da passividade e vitimização de si mesma que marca a classe média. Mas o ódio é fruto do sentimento de que alguém, ou grupo, que não ela, está se dando bem. É o ódio de ver outrem (ens) nos píncaros da glória quando deveria, ela sim, por direito e destino de classe, lá estar. É um acinte os índices de aprovação do governo; uma ofensa pessoal o Lula ter virado um mito entre a população de menor renda e a principal liderança política do país. O ódio visto neste último capítulo do mensalão (embargos infringentes) significa mais a vingança que se quer impor ao adversário que ela não consegue enfrentar no campo legítimo do jogo político, do que propriamente o desejo de justiça e punição por corrupções praticadas.
O ódio expressa o fato que os plebeus fazem o que por direito divino apenas os nobres poderiam. O problema não é o mensalão, se fosse, ela estaria indignada com todas as outras modalidades de mensalão espalhadas pelo país, inclusive o do PSDB de Minas Gerais, ou mesmo, com o propinoduto tucano no metrô de São Paulo. O ódio é pelo fato de que apenas alguns, os escolhidos pela sorte da pertença de classe, estão autorizados a roubar. O PT não pode roubar por que não tem berço. Lembremos-nos como eram tratados por seus senhores, escravos fugidos, ladrões e beberrões.

Quando Lula disse em 2005 na Inglaterra: “o PT fez o que todos fazem”, ele desconsiderava o fato de que o PT não possui prerrogativa de classe. E isso a classe média não aceita, mas também não saber fazer outra coisa. Luciano Alvarenga

COMO O FBI A SERVIÇO DOS EUA USOU HACKERS NA GUERRA SECRETA CONTRA O BRASIL E OUTROS PAÍSES EMERGENTES.



O jornalista indiano Shobhan Saxena do jornal The Hindu entrevista o 
ex presidente Lula. As recentes descobertas sobre a espionagem 
americana em diversos países do mundo são uma preocupação 
que ja faz parte da agenda de países emergentes 
como a Índia e o Brasil.


Direto do site "Pragmatismo Político" por Shobhan Saxena:

Os hackers utilizados pelo FBI na guerra secreta contra o Brasil

Entenda como o FBI usou hackers em sua guerra secreta contra o Brasil. Até a agência de espionagem canadense coletava informações sobre o Ministério das Minas e Energia do Brasil

Primeiro,  a notícia que fez manchetes em todo o mundo na sexta-feira, 15 de novembro. Jeremy Hammond, membro do grupo de hackers LulzSec, foi condenado a 10 anos de prisão em Nova Iorque por uma juíza americana, por ter acessado ilegalmente os servidores da empresa de inteligência privada Strategic Forecasting (Stratfor), em dezembro de 2011. Nessa operação, ele alegadamente roubou milhões de e-mails, milhares de números de cartões de crédito, e destruiu as informações da empresa no processo.
A mídia norte-americana noticiou em detalhes a condenação de Hammond. Mas o que foi ignorado pela mídia foi a declaração de Hammond no Tribunal de Manhattan de que ele seguia as “instruções de um informante do FBI [Federal Bureau of Investigation] para invadir os websites oficiais de vários governos em todo o mundo”.
Em uma revelação chocante, Hammond disse ao tribunal que um colega hacker, conhecido como “Sabu”, deu a ele as listas de websites que eram vulneráveis a ataques, incluindo aqueles de muitos países estrangeiros. Em sua declaração, Hammond mencionou especificamente o Brasil, o Irã e a Turquia antes de a juíza Loretta Preska determinar que ele parasse de falar. A juíza havia avisado que nomes dos países envolvidos deveriam ser removidos para ficar em segredo.
“Eu invadi vários sites e entreguei várias senhas que permitiram Sabu – e por extensão seus contatos do FBI – controlar esses alvos”, disse Hammond ao tribunal. Sabu era um dos líderes do grupo de hackers LulzSec, afiliado ao grupo Anonymous, mas acabou sendo captado pelo FBI para ser um dos seus mais importantes informantes do mundo hacker depois de sua prisão em 2011.
Hammon fez uma grande revelação no Tribunal. Ele disse ao mundo que foi usado pelo FBI – através de Sabu – como parte de uma espécie de exército privado que atacou websites vulneráveis de governos estrangeiros. “O governo celebra a minha condenação e a minha prisão, com a esperança de que isso vá encerrar o caso. Eu assumi a responsabilidade sobre as minha ações, e aceitei que sou culpado, mas quando o governo vai responder por seus crimes?”, questionou Hammond no tribunal, antes de a juíza determinar que se calasse.
A juíza americana não queria que os nomes dos países-alvos da operação de hackers fossem revelados no tribunal. Mas Jacob Appelbaum, um conhecido pesquisador de segurança cibernética que vive em Berlin, divulgou a lista de websites-alvos e da informação disponibilizada no servidor do FBI por Sabu. “Essas intrusões ocorreram em janeiro e fevereiro de 2012 e afetaram mais de dois mil domínios, incluindo numerosos websites de governos estrangeiros no Brasil, na Turquia, na Síria, em Porto Rico, na Colômbia, na Nigéria, no Irã, na Eslovênia, na Grécia, no Paquistão, e outros…”, diz a declaração de Hammond,  segundo Appelbaum em uma série de tuítes na sexta-feira, 15 de novembro.
Isso significa que o FBI tinha como alvo todos esses países, incluindo o Brasil, através de um grupo de hackers. É interessante notar que o FBI prendeu Sabu em 7 de Junho de 2011, e no dia seguinte, o hacker concordou em tornar-se informante da agência americana. Duas semanas depois, houve um maciço ataque a websites governamentais brasileiros.
Em uma notícia de Mathew Lynley no VentureBeat, um website tecnológico, em 22 de Junho de 2011, há a informação de que um integrante brasileiro do grupo de hackers LulzSec invadiu vários websites governamentais brasileiros como parte de uma campanha maciça de ataque de hackers liderada pelo LulzSec. A notícia, intitulada “LulzSec recruta hackers brasileiros e invade dois websites do governo”, diz que tanto o portal da Presidência da República do Brasil quanto o Portal Brasil, do governo, estavam fora do ar quando a VentureBeat tentou acessá-los. “Ambos os websites foram atacados pelo LulzSecBrazil, um sub-grupo do grupo de hackers que fez manchetes recentemente por vários ataques a alvos importantes”, diz a notícia.
Com Sabu dentro de uma prisão americana e trabalhando para o FBI como informante e usando hackers como Hammond para atacar websites de governos estrangeiros, fica claro que invadir websites do governo brasileiro era uma missão da agência americana.
Isso não é uma surpresa, após as revelações recentes sobre a Agência Nacional de Segurança (NSA)  mostrarem que os americanos transformaram em alvo a comunicação pessoal da presidente Dilma Roussef. Mais chocante foi a revelação de que a agência de espionagem canadense coletava informações sobre o Ministério das Minas e Energia do Brasil.  Antes havia sido noticiado – graças aos documentos revelados por Edward Snowden  – que os americanos espionaram a Petrobrás também.
Tudo isso  – as notícias sobre as espionagens da NSA e as revelações de Hammond no Tribunal – revela um cenário perigoso: já há uma guerra cibernética acontecendo no mundo. A guerra foi deslanchada pelos EUA e seus parceiros mais próximos com dois objetivos: o primeiro é roubar o máximo possível de informações sobre governos, cidadãos e empresas de outros países; e segundo, atacar websites de redes de outros governos. Enquanto o primeiro objetivo é conquistado sob a fachada de “luta contra o terror”, o FBI atira usando como apoio os ombros dos grupos de hackers para obter o segundo objetivo.
A Guerra cibernética não declarada é a última – e mais potente – arma da geopolítica nesses dias. Como as revelações de Edward Snowden mostraram, países de língua inglesa – EUA, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália e Nova Zelândia – participaram conjuntamente de um grupo de espionagem, uma rede chamada “Cinco Olhos”. Seus maiores alvos eram países emergentes, como Brasil, Índia, Turquia e México, ou aquelas nações que seguem uma política externa independente.
O principal objetivo de toda essa espionagem feita em nome da “luta contra o terrorismo” é o desejo dos países “Cinco Olhos” de manter o seu controle e domínio sobre os recursos minerais e energéticos para continuar com as rédeas da economia global. Isso explica o fato de os EUA terem dividido a missão de inteligência sobre a América do Sul com os outros países “Cinco Olhos”.
Não é nenhum segredo que as empresas de petróleo britânicas e americanas planejam lucrar bilhões de dólares em seus campos de petróleo em torno das Ilhas Malvinas. O Brasil apóia a reivindicação argentina sobre essas ilhas, desenvolvendo sua própria tecnologia nas plataformas de petróleo no mar. Os “Cinco Olhos” querem saber tudo sobre a cooperação entre os dois países sul-americanos. Foi por essa razão que o Canadá – que encara o Brasil como uma ameaça nos campos de mineração – espionou o Ministério das Minas e Energia brasileiro.
O mesmo padrão de invasão cibernética, roubo e espionagem, foi repetido pelos “Cinco Olhos” em todo o mundo – da Índia ao Irã, passando pela Venezuela e China. Tudo isso com o objetivo de assegurar seus interesses financeiros. Mas os ataques do FBI a websites de vários governos são uma completa violação à sua soberania. Os americanos gostam de culpar os chineses por hackear redes de outros países, mas agora – graças a Hammond – sabe-se que o FBI dirige uma guerra secreta e suja contra outros países, especialmente aqueles que ousam seguir uma política externa e econômica independente.
Nenhum país pode parar esse ataque combinado da NSA, CIA e FBI e seus parceiros “Cinco Olhos”. Mas um esforço conjunto dos países emergentes pode pelo menos expor esse novo estilo de guerra suja.

Propinoduto tucano: quem é e como operava o informante


“Mais do que uma testemunha, o ex-diretor da Siemens, Everton Rheinheimer, delator do propinoduto tucano, era um dos expoentes do esquema

Pedro Marcondes de Moura, Sérgio Pardellas e Alan Rodrigues / ISTOÉ

O homem que pode abalar o Palácio dos Bandeirantes. Assim integrantes da força-tarefa responsável pela apuração do propinoduto tucano descrevem Everton Rheinheimer. A definição atribuída ao ex-diretor da divisão de transportes da Siemens não está relacionada apenas às suas mais recentes revelações ao Ministério Público, que fizeram com que o escândalo chegasse à cúpula tucana. Além de ser uma testemunha que acompanhou de perto toda a tramoia, Rheinheimer, na condição de dirigente da empresa alemã, era um dos expoentes do esquema. Reunia-se com lobistas, transitava com desenvoltura entre autoridades da CPTM e do Metrô e, segundo relato dele a interlocutores, chegou até a distribuir propina a mando da Siemens e com o conhecimento e o aval de políticos do PSDB.

O Cara 
O ex-diretor da Siemens reunia-se com lobistas, transitava entre
autoridades da CPTM e do Metrô e até distribuía propinas

Ao longo de mais de duas décadas na Siemens, Everton Rheinheimer fez carreira até chegar à direção da bilionária divisão de transportes da companhia em 2001. A pessoas próximas, o ex-executivo narra que, ao participar de reuniões com autoridades do setor de transporte sobre trilhos, autorizar pagamento de propina e assegurar a participação da multinacional no cartel, ele apenas deu continuidade a uma prática recorrente na gestão de seu antecessor. A prática usual, mas nada lícita, era o único caminho para a Siemens conseguir amealhar contratos com o poder público, costuma dizer o ex-executivo. Sob sua gestão e com a ajuda dos lobistas Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira, a Siemens sagrou-se vencedora de uma série de licitações que lesaram os contribuintes do Estado de São Paulo e do Distrito Federal. Foi com base nessa atuação e no que presenciou durante os governos de Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra (2001 a 2007) que Rheinheimer enviou, na manhã de 12 de junho de 2008, uma carta anônima, de cinco páginas, ao ombudsman mundial da Siemens. No documento, com 77 tópicos e seis anexos, o ex-executivo relatou as ilegalidades praticadas pela filial brasileira e suas concorrentes. Na carta e em depoimentos prestados ao Ministério Publico e à Polícia Federal, ele revela uma lista extensa de políticos e servidores corrompidos pela Siemens, entre eles os secretários estaduais Edson Aparecido (Casa Civil), José Aníbal (Energia) e o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP). O informante relata ainda o “estreito relacionamento” entre o principal lobista do cartel, Arthur Teixeira, e os também secretários Jurandir Fernandes (PSDB) e Rodrigo Garcia (DEM), além do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), o deputado federal Walter Feldman (PSB-SP) e o deputado estadual Campos Machado (PTB). Segundo o ex-executivo, o propinoduto abasteceu o “caixa 2 do PSDB e do DEM”. Todos os políticos negam envolvimento com as irregularidades.


PARCERIA 
O lobista Arthur Teixeira, o diretor da CPTM, José Luís Lavorente, e o secretário
Jurandir Fernandes (da esq. para a dir.): segundo o informante, os três participaram do esquema

Para pessoas de seu circulo íntimo, Everton Rheinheimer alega que resolveu abrir o verbo porque teria se revoltado com a maneira como o esquema era operado. Seu estado de ânimo teria se transformado após ele, pela primeira vez, ter feito a entrega da propina pessoalmente. Em meados de 2006, sem poder contar com a ajuda dos portadores frequentes ou lobistas, o ex-executivo teve de levar uma mala de dinheiro a um político paulista. “Foi um constrangimento para mim”, disse ele a interlocutores. Daí em diante, resolveu registrar e colher provas das práticas ilegais do cartel dos transportes. A versão heroica do ex-executivo contrasta com relatos de diretores de empresas subcontratadas pela Siemens. Segundo um executivo de uma empresa que teria participado do esquema, Rheinheimer não se constrangia em cobrar as comissões. “O dinheiro é para a base aliada do governo do PSDB”, alertava sempre Rheinheimer, segundo testemunho da fonte ouvida por ISTOÉ. “Sem a grana, não tinha negócio, dizia ele”, acrescentou a fonte.

Como ponta de lança do esquema, Everton Rheinheimer não teria dificuldades em reunir provas que incriminassem autoridades e políticos. Uma parte dessas provas já se tornou pública em reportagens publicadas por ISTOÉ desde julho. Entre elas, os contratos de fachada entre o conglomerado alemão e as consultorias radicadas em paraísos fiscais Leraway S/A e Gantown S/A, dos lobistas Sérgio Teixeira – morto em 2011 – e Arthur Teixeira. Este, indiciado pela Polícia Federal pelos delitos de corrupção ativa por subornar agentes públicos da área de transporte, lavagem de dinheiro e crime financeiro e alvo de bloqueio de bens por decisão da Justiça Federal. Também foram entregues por Everton, como ISTOÉ publicou com exclusividade, planilhas de saques da firma MGE de valores destinados a pagamentos a autoridades e cópias de contratos de serviços nunca prestados, segundo ele, firmados entre a empresa e a Siemens para esconder a origem da propina.


Se há controvérsias quanto aos reais motivos que o levaram a detonar o esquema, o fato é que Rheinheimer só resolveu contar o que sabia um ano depois de a Siemens ser apanhada num dos maiores escândalos corporativos do mundo e lançar uma campanha para acabar com a prática de corrupção a agentes públicos em suas filiais em 2007. A carta enviada ao ombudsman da Siemens, no entanto, não teve o efeito que ele esperava inicialmente. Contrariado com o fato de a Siemens não levar adiante suas denúncias, o ex-executivo procurou a bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo. Nos primeiros contatos, deixava documentos ou relatos das falcatruas em um local próximo à sede do Legislativo paulista e ligava de um orelhão, sem se identificar, para que assessores do partido buscassem a papelada. Os documentos serviram de base para uma série de representações da bancada petista endereçadas ao Ministério Público – a maior parte se refere a contratos das estatais paulistas hoje sob investigação. Meses depois, identificou-se e passou a municiar ainda mais os parlamentares do PT. Acompanhado do então deputado estadual Simão Pedro, chegou até a conversar com um promotor paulista, mas não quis prestar depoimento por temer represálias de pessoas ligadas ao cartel. Foi então que recorreu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão ligado ao Ministério da Justiça responsável por punir crimes que afetam a livre concorrência de mercado, como o de cartel. A proximidade com autoridades o fez sonhar com voos mais altos. Segundo documento da PF, Rheinheimer teria sugerido trocar dados sobre o cartel por um emprego na mineradora Vale, o que não se concretizou. Mesmo sem o emprego, ele forneceu informações suficientes para que a instituição pressionasse a Siemens a fazer um acordo de leniência – em que, em troca de denunciar todo o esquema, garantia imunidade a si e a seus antigos e atuais executivos –, trazendo à tona, em julho, o escândalo do propinoduto tucano. Desde então, de acordo com pessoas próximas ao ex-executivo, a Siemens passou a pagar sua defesa e viagens à Alemanha para retirá-lo do assédio de jornalistas. A preocupação com cortejo é tanta que ele removeu fotos suas da internet e tem evitado ficar em casa.

Fotos: Leonardo Rodrigues/Valor/Folhapress; Julien Pereira/Fotoarena; MÔNICA ZARATTINI/AE

Privatização ou Concessão? Chega, vamos também falar de Revolução


PUNHOPor: Leonardo Koury
Nos últimos meses acirrou um debate vindo de uma parcela da Direita brasileira, a igualação de que o Governo Dilma está propondo para o desenvolvimento econômico no país as mesmas diretrizes do que o governo Fernando Henrique Cardoso, no âmbito da infraestrutura.
Em suma, de que a nossa política econômica e nossa proposta de modernizar a maquina pública estavam caminhando com os mesmos princípios. Para a Direita, a era das privatizações do FHC não tem diferença objetiva da nossa atual política econômica referente a concepções do patrimônio público estatal.
Como comparativo, o leilão da Vale girou em torno de 3,34 bilhões, a concessão dos aeroportos girou em torno de 23 bilhões. A principal diferença está inicialmente de que o patrimônio continua público e de que este dinheiro será para alavancar a infraestrutura do país. As concessões ajudariam o governo na perspectiva de que o empresariado se responsabilizaria de melhorar no caso os aeroportos, bem como, também uma parcela dos ganhos voltariam ao governo brasileiro.
É obvio, e ninguém discute que alugar é melhor do que vender. Porem trago a ousadia de uma terceira discussão, saindo da lógica de que privatização e pior do que concessão. Quando vamos debater a revolução?
Não tenho a ilusão do socialismo utópico, de que vou acordar num pós Brasil / URSS, porem acordo todos os dias num paradoxo de um governo que atende ainda muito mais o Agronegócio (haja visto o ministro da agricultura) do que atende os anseios da reforma agrária. De que reforma tributária e fiscal estão longe da taxação das grandes fortunas e da possibilidade de pensar imposto sobre riqueza e não sobre produto. No Brasil, ricos e pobres pagam o mesmo imposto pelo litro de leite, mas as grandes empresas pagam uma conta de luz infinitamente mais barata e tem acesso a crédito de forma mais ágil e com juros menores.
As relações políticas e econômicas hoje atendem muito mais as bancadas ruralistas, do empresariado, da educação privada e religiosa do que os interesses sindicais e populares. Não estou negando os avanços das políticas sociais, porem nos cabe sempre relembrar as dimensões de partido, governo e movimento social, como também se lembrar do que nos faz partido político e de que princípios nós, Partido dos Trabalhadores defendemos. Aonde queremos chegar e porque governar, com quem e para quem governar.
Na administração do capital, em meio à discussão de que concessão é bem melhor do que privatização, apenas sugiro outro discurso, quando vamos debater a Revolução?
Leonardo Koury – Escritor, Assistente Social, Educador e Militante dos Movimentos Sociais