sábado, 8 de agosto de 2015

A “crise política”, a burguesia interna e a oposição: uma proposta de interpretação.


Michel Temer e Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
A crise do Governo do PT desenvolve-se de forma onde o fim do mandato de Dilma parece uma realidade cada vez mais concreta, só esperando o momento do derradeiro ato acontecer. Uma boa análise marxista deve conseguir captar na análise de conjuntura não apenas as movimentações institucionais de partidos e personalidades, mas compreender a dinâmica da luta de classes que se expressa na cena política. A hipótese que queremos desenvolver é a seguinte: a burguesia interna em suas mais importantes frações (latifúndio agroexportador, grande indústria e Bancos) não quer o impeachment e demonstra como maior preocupação a estabilidade política do estado burguês (temendo que uma “crise política” possa transformar-se em crise de hegemonia), mas as expressões políticas da burguesia, como alguns partidos políticos e monopólios de mídia, perseguem a derrubada de Dilma por estarem amparados num movimento de massas (nas camadas médias conservadoras e na massa organizada dos evangélicos conservadores) e buscarem principalmente seu interesse particular, provocando uma separação relativa entre a posição da grande burguesia interna e das suas expressões políticas. Tentaremos demonstrar essa hipótese.

É necessário antes de entrarmos na cena política tratar de uma questão teórico-metodológica. As classes em confronto forjam instrumentos de luta que contém dinâmicas próprias. Esses instrumentos de luta, que denomino de expressões políticas, representam o interesse universal de sua classe, isto é, manter ou conquistar a hegemonia (ou seja, que seu interesse de classe seja o dominante na sociedade), mas, contudo, também representa seus interesses particulares, específicos. Por exemplo, um partido político que representa a burguesia comercial tem o seu interesse específico de conquistar cada vez mais “espaço” dentro do aparelho político do Estado fortalecendo-se como partido. A busca desse interesse específico pode, às vezes, chocar com o interesse universal da classe do qual o partido é expressão política e acontecer uma ruptura relativa ou total entre a classe e sua expressão.

Quando assumiu o primeiro governo com Lula, o PT comprometeu-se com o capital-imperialismo dos EUA a não realizar qualquer reforma estrutural (na Carta aos Brasileiros) e se associou de forma orgânica com setores da grande burguesia interna de fração industrial ao colocar como vice-presidente o burguês (“empresário”) José Alencar. Na crise de 2005, quando Lula quase caiu, setores fundamentais da burguesia interna como Fiesp e CNA (representante do latifúndio agroexportador) defenderam o governo, e aliado a setores da esquerda governista, evitaram a queda. Depois de 2005 a adesão orgânica do PMDB ao governo marcou o pacto genético indissociável entre o Governo do PT e grande burguesia interna. Para os governistas existe até hoje um governo em disputa, mas na realidade, se um dia houve disputa por este governo, essa disputa acabou em 2005.

Contudo, sempre existiu uma relativa tensão entre a grande burguesia interna, o capital-imperialismo e o Governo do PT. Essa relativa tensão remete ao passado do PT: mesmo sendo um operador político do capital, as classes burguesas mantém certa desconfiança do PT e preferem claramente outras expressões políticas, como o PSDB (o que não torna, de forma alguma, o PT um partido de esquerda, como querem os governistas). Essa tensão relativa é agravada na eleição quando o PT de forma oportunista força o discurso à esquerda para ganhar a eleição ao cargo de presidente, e a grande burguesia interna joga com outras alternativas (Fiesp e Abimaq apoiaram Marina Silva no primeiro turno). Mauro Iasi sintetizou bem essa dinâmica:

O problema é que, mesmo assim, dando tanto à burguesia monopolista e tão pouco aos trabalhadores, a burguesia sempre vai jogar com várias alternativas, e, na época das eleições, vai ameaçar, chantagear e negociar melhores condições para dar sua sustentação. O leque de alianças da governabilidade petista não implica fidelidade dos setores do capital monopolista, adeptos do amor livre, entendem o apoio ao governo do PT como uma relação aberta. Por isso aparecem na época das eleições na forma de suas personificações como partidos de “oposição”.
Tal dinâmica produz um movimento interessante. Amor e união com a burguesia monopolista durante o governo e pau na classe trabalhadora (combinada com apassivamento via políticas focalizadas e inserção como consumidores); e briga com a burguesia e promessas de amor com os trabalhadores na época de eleição! [1]


Mas essa dinâmica de lutas e chantagens ganhou um ritmo próprio que deixa a própria burguesia e algumas de suas expressões políticas assustadas. Vejamos. O Brasil atual vive uma crise econômica que significa o fim da política econômica do lulismo e a consequente perda de emprego, redução do consumo e aumento da pobreza e miséria para a maioria do povo brasileiro (enquanto os monopólios continuam tendo lucros astronômicos). Essa crise econômica (para a classe trabalhadora) está provocando a desintegração do padrão de dominação que anunciou o início do seu fim com as trombetas das Jornadas de Junho. O padrão de dominação lulista que conseguiu mostrar-se como um médium de conciliação entre capital e trabalho criando uma política econômica onde aparentemente “todos ganhavam” acabou.


Nesse ínterim temos a aplicação do ajuste fiscal antipopular. O sentido do ajuste eu já tratei em outro texto [2] e não vou estender-me na questão, mas cumpre apenas relembrar o sentido geral: o ajuste fiscal antipopular é uma orientação política e econômica defendida no essencial por todas as frações da burguesia e todas as principais expressões políticas [burguesas] do país para retomar o patamar de acumulação de capital em nível superior através da intensificação da superexploração da força de trabalho e da dilapidação do orçamento público através dos juros da dívida pública e privatizações. Mas o ajuste fragiliza ainda mais o Governo Federal frente à população (por suas consequências nefastas sobre a classe trabalhadora) e afasta (leia-se: dificulta o aparelhamento) o PT de sindicatos, movimentos sociais, etc. As expressões políticas burguesas como PSDB e Rede Globo aproveitam o momento para jogar com a insatisfação, com o ajuste (mas sem questionar o ajuste em si) e galgar ao poder de estado (como representantes de classe). As manifestações de massa conservadoras puxadas por setores da “classe média” e totalmente apoiadas pelos monopólios de mídia (em especial a Globo), partidos de direita fora do Governo e pelo Congresso Nacional (depois de Eduardo Cunha ganhar a presidência) expressam a luta pelo poder do estado em curso, mas algo começou a mudar.
A burguesia não é um todo homogêneo. Ela é dividida em frações que têm vários interesses divergentes e existe luta entre essas diferentes frações para fazer do seu interesse o hegemônico no bloco no poder. As lutas intraburguesas são parte da “normalidade” do capitalismo; porém, existe algo que unifica toda burguesia: o medo da ameaça a propriedade privada ou ao seu poder político. Nesses momentos qualquer divergência some e clama-se por união nacional e o esquecimento temporário do interesse particular pelo interesse universal de classe. Os protestos de massa conservadores contra o Governo Federal e a agressividade do Congresso presidido por Eduardo Cunha estavam dentro do roteiro, mas as frações da burguesia começaram a descobrir que algo saiu do controle.

As camadas médias de tendência conservadora estão desesperadas. Existe uma tendência real, de vários anos, de rebaixamento de sua condição de vida. Grande parte dessa tendência é resultado da própria dinâmica de reprodução do capital que tende a cada vez mais reduzir os empregos e os salários de média e alta qualificação, combinado com um aumento constante do custo de vida e uma redução simbólica de históricos privilégios de classe (é mais comum pobre está na universidade, consumir no shopping, viajar de avião, etc. tirando a exclusividade das camadas médias de seus “templos” de consumo) [3]. Sem compreender bem os reais motivos dos seus problemas matérias e simbólicos, os setores conservadores das camadas médias elegeram o Governo Federal e o PT como os principais responsáveis por “seu drama”. Criando uma base de massas bastante ativa, ainda que sem organicidade, que branda diariamente pelo impeachment do Governo Dilma e apoia delírios como o combate ao comunismo do PT (Olavo de Carvalho, intelectual reacionário, vendeu 150 mil cópias do seu último livro. O livro custa mais de 60 reais. Não é nem preciso uma pesquisa do IBGE para saber o pertencimento de classe da maioria das pessoas que compraram a “obra”).

Temos o segundo complicador na história. O Brasil vive uma onda gigantesca de expansão do segmento neopentecostal. Parte significativa dos neopentencostais, ou evangélicos, estáaderindo a uma ideológica conservadora de cunho religioso que é instrumentalizada por pastores e igrejas para fundamentar projetos de poder [estatal]. Tendo muitos votos, capacidade de massa para mobilizar, dinheiro, grande influência ideológica, crescimento na conquista de cargos institucionais e uma rede de comunicação que abarca rádios, TVs, jornais, sites, lojas de compras, editoras, etc. os segmentos evangélicos conservadores representam hoje um poder real no cenário político. Via de regra, como são conservadores, seus interesses específicos se coadunam com os da burguesia (alguém já viu algum líder evangélico fundamentalista criticar pela esquerda a política econômica atual?), mas, por terem uma base de massas sólidas de onde advém seu poder, os segmentos fundamentalistas têm uma autonomia relativa frente à burguesia muito forte e isso significa, nesse momento, lutar contra o Governo Federal (que na cabeça de muitos representa o “ativismo gay”) independente de qualquer coisa para demonstrar “serviço” a sua base de massas, combatendo o pseudo-inimigo.

 O terceiro complicador é que a Operação Lava-Jato, como também já demonstrei em outro texto [4], explicitou a existência de uma ampla rede infrainstitucional de negociação entre empresários, aparelho político e aparelho judiciário na garantia dos interesses econômicos de empresários e “políticos”. À exceção do PSOL, todos os partidos no Congresso estão envolvidos e, no mínimo, os últimos cinco presidentes da república também. O medo da Operação e da ação mais ou menos megalomaníaca da Polícia Federal fez com que sujeitos como Eduardo Cunha, acompanhado por muitos deputados, achem que a única forma de salvar-se é partir para o ataque contra o Governo Federal, pois, para Cunha e seus asseclas, Dilma é responsável pela PF ter desencadeado a operação. Cunha age numa guerra pessoal, embora apoiado de forma clara por vários segmentos médios conservadores e o fundamentalismo religioso, contra o Palácio do Planalto e contra outros caciques do seu próprio partido, numa disputa pelo poder no PMDB.

Firjan e a Fiesp em editorial[5] conclamam diálogo, responsabilidade e ação para preservar a “estabilidade institucional”. Depositando no vice Michel Temer sua esperança. CNA, Abimaq e Febraban também não demonstram qualquer apoio ao impeachment puxado por setores do PSDB e setores mais conservadores do Congresso. A Rede Globo, seguindo a posição da Firjan e Fieps, publicou um editorial onde ataca Eduardo Cunha, chama os partidos e políticos à “responsabilidade”, defende um acordo suprapartidário entre PT e PSDB e clama as expressões políticas da burguesia para marginalizarem seus interesses específicos em prol dos interesses gerais de classe [6]. Lembrando que a próprio Globo é uma das principais fomentadoras da oposição ao Governo Federal, mas a rede da Família Marinho nesse momento pensa como um bom intelectual orgânico da burguesia.

Dentro do PSDB existe uma briga interna. Uma ala, ligada diretamente ao senador Aécio Neves, defende o impeachment e a convocação de novas eleições. Outra ala, ligado a José Serra e Geraldo Alckmin, toma um tom moderado ao falar de impeachment, procura conter a senha de poder de Aécio e ao mesmo tempo manobrar para conseguir que as cabeças de cada grupo (Serra e Alckmin) consigam projetar-se como o candidato do PSDB a presidência. O vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldaman, e um dos seus fundadores e intelectuais de mais prestígio, José Arthur Giannotti, já posicionaram contra a atitude de confrontação ostensiva contra o Governo do PT nesse momento político [7].


O que o Governo Federal está fazendo? Fundamentalmente atuando em três frentes. A primeira é buscar o apoio do PSDB. Lula reuniu-se com FHC para buscar soluções para a “crise política”, FHC em entrevista a uma revista alemã elogiou a honestidade de Dilma e disse que ela não é corrupta, Governadores do PSDB, como o de São Paulo e Paraná, declararam apoio ao ajuste fiscal antipopular e Mercadante elogiou o PSDB e procura costurar um acordo suprapartidário. A segunda frente de ação é conseguir unificar os diversos níveis do aparelho político em prol da “estabilidade” através de pura e simples compra de políticos e partidos. O Governo federal sancionou uma nova lei, de autoria do senador José Serra, que injeta 21 bilhões nos cofres de estados e municípios [8]. Mesmo com toda retórica do conter gastos, a mensagem é simples: apóiem-me que eu retribuo em dinheiro. A terceira grande frente de atuação é reforçar a coordenação com grandes representantes da burguesia (“empresários”) para forçá-los a disciplinar suas expressões políticas. Os donos da Cosan, Bradesco, Carrefour e Gerdau estão nos próximos dias no palácio [9] e no Congresso tentando controlar e direcionar a política institucional para o caminho que consideram adequado (ao fazer isso, inclusive, o governo admite que é representante orgânico da grande burguesia e não dos trabalhadores, para quem ainda tem dúvida).

Antes de partimos para a conclusão, cabe deixar algo mais claro. Por que a grande burguesia interna considera que os níveis atuais de enfrentamento ameaçam seus interesses? Existe uma clara crise do padrão de dominação vigente nos últimos 10 anos. Uma crise do aparelho político burguês que não consegue mais construir um consenso social mínimo, o PT está cada vez mais perdendo sua capacidade de apassivador dos movimentos sociais e sindicatos, estamos no maior número de greves desde os anos 80, os protestos de rua crescem, a “sombra” das Jornadas de Junho ainda está na memória e as condições materiais de vida da maioria da população irão tendencialmente piorar bastante nos próximos anos.

Uma das principais funções do estado burguês é representar a “arena de resoluções” das contradições advindas da própria sociedade burguesa. Explicando melhor. Se existe um latifundiário com milhões de hectares de terras improdutivos e milhares de famílias sem-terra querem plantar, é ilegal as famílias simplesmente ocupar e começarem a produzir. Se isso acontecer teremos, provavelmente, uma ação de reintegração de posse e o uso dos aparelhos repressivos do estado contra essas famílias. O “correto”, na lógica do estado burguês, é buscar agir dentro da lei e das instituições, para solucionar a situação. Como bem sabemos o estado burguês tem como elemento constitutivo (ontológico) próprio proteger as relações de produção dominantes. Logo, o “direcionamento” das contradições sociais para a “esfera política” é parte essencial da reprodução da dominação burguesa. Quando todo esse aparelho político perde qualquer forma de legitimidade frente às classes exploradas temos a possibilidade de que a “crise política” transforma-se em “crise de hegemonia” (colocando em conta o próprio domínio do capital) ou a necessidade de um golpe de força para manter a legitimidade da ordem burguesa, mas um golpe de força pode suscitar formas perigosas de resistência (radicalização se propaga em ondas: uma radicalização da burguesia pode engendrar uma radicalização das forças populares). Por isso essa preocupação da grande burguesia interna.

Como os acontecimentos vão desenrolar-se? Eu aposto, pelos dados apresentados, que o ciclo de enfrentamento ao Governo Federal irá intensificar (pelos elementos já colocados acima) e como solução institucional a grande burguesia interna irá costurar com os setores pró-impeachment do PSDB e os líderes evangélicos fundamentalistas uma solução de compromisso que evite “radicalismo” (como convocar novas eleições) e o nome que se projeta para isso é o de Michel Temer, como um presidente de transição (estilo Itamar Franco). Aposto que até o final do ano Temer assume a presidência, contudo, não arrisco dizer como Dilma (e consequentemente o PT) será eliminado do “jogo burguês”.

[1] – http://blogdaboitempo.com.br/2014/06/16/o-escravo-da-casa-grande-e-o-desprezo-pela-esquerda/
[2] – http://makaveliteorizando.blogspot.com/2015/04/das-jornadas-de-junho-pl-da.html
[3] – http://pcb.org.br/fdr/index.php?option=com_content&view=article&id=701:causas-economicas-do-antipetismo-da-classe-media&catid=3:temas-em-debate
[4] – http://makaveliteorizando.blogspot.com.br/2014/11/aoperacao-lava-jato-e-seletividade-do.html
[7] – Vários textos com a disputa interna no PSDB:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/07/politica/1438902995_519278.html
[8] –http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/08/1665582-nova-lei-federal-injeta-r-21-bilhoes-nos-cofres-de-estados-e-municipios.shtml?cmpid=facefolha
[9] – http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/08/1665591-governo-busca-apoio-de-elite-empresarial-para-conter-crise.shtml?cmpid=facefolha

Conheça os empregos ameaçados pela automação (e os novos que surgirão)


"Acredite se quiser, mas uma das profissões do momento nos Estados Unidos é a de caminhoneiro. Com base em dados do Censo americano, o site da National Public Radio (NPR), a rede pública de rádios do país, mostra que se trata do emprego mais popular em 29 Estados americanos.



Isso não quer dizer que dirigir caminhões seja uma carreira disputada. Sua popularidade está apenas no fato de ter vagas disponíveis e pagar um salário decente.

Diferentemente de inúmeras profissões que decaíram nos últimos anos, o serviço como caminhoneiro se manteve imune às forças que eliminaram vários postos de trabalho.

Nas últimas décadas, computadores e máquinas automáticas substituíram secretárias, bancários, frentistas, caixas de supermercados e tantas outras profissões. Mas as entregas de bens ainda não podem ser feitas por um prestador de serviços em outro país, e os trajetos de longa distância ainda não foram automatizados.

Mesmo assim, os caminhoneiros podem ser os próximos na lista de empregos sob risco de extinção. Empresas como Google, Uber e Tesla estão desenvolvendo veículos sem motorista, começando justamente por protótipos capazes de cumprir viagens longas.

Se conseguirem automatizar as entregas, isso não seria apenas uma benesse para as empresas distribuidoras, mas também para a segurança nas estradas – apenas nos Estados Unidos, até 4 mil pessoas morrem a cada ano em acidentes envolvendo grandes caminhões (com a culpa quase sempre atribuída a um erro do condutor).
Caminhoneiro é uma das profissões mais populares em vários Estados americanos
Mas caminhões que dirigem sozinhos não seriam bem-vindos em todas as áreas. Alguns críticos do conceito ressaltam que o fim dos caminhoneiros teria um efeito dominó sobre outros empregos.

Nos Estados Unidos, até 3,5 milhões de motoristas e 5,2 milhões de pessoas que atuam diretamente no setor de distribuição e entregas ficariam desempregadas. Além disso, as inúmeras paradas localizadas nas principais rotas rodoviárias poderiam ficar abandonadas.

Ou seja, os caminhões autoconduzíveis poderão arruinar milhões de vidas e trazer consequências desastrosas para um setor significativo da economia.
Futuro sombrio

Esse tipo de alerta sombrio costuma ser emitido com frequência, não apenas na indústria da distribuição, mas também em várias outras áreas da força de trabalho mundial.

Conforme máquinas, softwares e robôs vão se tornando mais sofisticados, alguns especialistas temem que estejamos à beira de perder milhões de empregos.

Segundo um estudo recente feito por analistas da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, a próxima onda de avanços tecnológicos vai colocar em risco até 47% de todos os empregos dos Estados Unidos.
 
Mas será que essas projeções são verdadeiras? E se forem, devemos nos preocupar? Se os robôs tomarem nossos lugares, vamos virar preguiçosos profissionais, como retratado no filme Wall-E? Ou será que as inovações tecnológicas nos darão mais liberdade para ir atrás de empreitadas mais criativas e compensadoras?
A mão que alimenta

Para podermos responder a essas perguntas, devemos reconhecer que a tecnologia, a inovação e a mudança das normais culturais sempre alimentaram a rotatividade da força de trabalho.

As máquinas vêm tomando nossos empregos há séculos. "As economias de mercado nunca ficam paradas", afirma David Autor, professor de economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). "As indústrias vivem ascensões e quedas, os produtos e serviços mudam – e isso vem acontecendo há muito tempo."

No passado, enquanto algumas profissões desapareceram, outras surgiram. Habilidades artesanais, que eram um grande trunfo para um trabalhador do século 18, foram substituídas pelo know-how da produção industrial, com o advento da manufatura de larga escala no século 19. Mas na década de 1980, muitas das tarefas feitas por pessoas durante a Revolução Industrial já eram executadas por máquinas.

De maneira geral, essas mudanças trouxeram resultados mais positivos do que negativos para a sociedade. "A automação nos deu mais tempo, e conseguimos realizar mais coisas", diz Autor.
Muitas redes ferroviárias já são autônomas, mas a tecnologia ainda pode trazer novas oportunidades
As máquinas de lavar transformaram uma tarefa de horas em algo que pode ser feito com um simples apertar de botão; ferramentas elétricas tornaram a construção civil mais eficiente; e computadores eliminaram trabalhosos cálculos e escritas. Houve uma melhora na qualidade de vida e na segurança das pessoas. "Deveríamos ficar felizes que muitos desses empregos desapareceram", afirma Carl Frey, um dos autores do estudo feito pela Universidade de Oxford.
Ritmo acelerado

Mas, em comparação com o passado, o ritmo com que as transformações no mercado de trabalho ocorrem hoje é muito mais acelerado. Com a possível exceção da Revolução Industrial, nunca assistimos a uma mudança tão rápida na sociedade e na economia.

E, apesar de ser cedo para confirmarmos, os números indicam que o mercado de trabalho não está evoluindo rápido o suficiente para acompanhar essas mudanças. A relação entre postos de trabalho e a população geral tem caído nos países desenvolvidos, independentemente da crise econômica mundial que começou em 2008.

"Acredito que isso mostra que a economia digital não criou muitos empregos diretos, e os empregos criados tendem a se concentrar em grandes cidades", afirma Frey. "Isso faz os preços aumentarem, cria desigualdades e impede que as pessoas morem ou se mudem para os lugares onde esses empregos estão surgindo."

Conforme alguns trabalhos começaram a marchar rumo à extinção, muitas pessoas que costumavam executá-los – agentes de viagens, telefonistas, técnicos de laboratório fotográfico,gráficos etc. – acabaram migrando para profissões que pagam menos – como garçons, faxineiros, jardineiros e outros – porque não tinham a formação necessária para ir para empregos da camada econômica equivalente.

"Há uma enorme mudança nas habilidades necessárias hoje no mercado de trabalho, mas ela não se reflete no nosso sistema educacional", explica Alison Sander, diretora do braço de análises para o futuro do Boston Consulting Group.
Robôs cirurgiões como o sistema da Vinci podem funcionar como as mãos dos médicos

Autor concorda: "De fato, há uma demanda cada vez maior por trabalhadores com formação superior e uma série de habilidades refinadas, mas uma queda vertiginosa na necessidade de pessoal com educação média".

Isso significa que uma enorme parcela da população que, nas últimas décadas, tinha um padrão de vida elevado, hoje já não pode mantê-lo.

E o problema só deve se intensificar nos próximos anos, à medida em que trabalhos que envolvam rotinas ou tarefas repetitivas mentais ou físicas têm mais chances de serem eliminados pela automação.
Empregos do futuro

Na lista de carreiras ameaçadas estão os atendentes de lanchonetes, caixas, operadores de telemarketing, contadores, garçons e até jornalistas.

Além disso, empregos que antes eram mais desafiadores e precisavam de uma alta especialização podem ser tornar comuns por causa da automação, como já ocorre, por exemplo, em certos setores da medicina, como a radiologia.

Mas a automação não necessariamente significa a ruína de vários outros setores. Enquanto houver tarefas que exijam algum nível de envolvimento humano, ainda há espaço para pessoas de carne e osso.

Quando a ferramenta de busca do Google começou a decolar, há pouco mais de uma década, por exemplo, houve o medo de que bibliotecários se tornariam seres obsoletos. Em vez disso, aumentou o número de vagas nessa carreira, exigindo novas habilidades. "Se uma máquina pode substituir um ser humano completamente, aquela pessoa é supérflua. Mas se essa pessoa puder gerenciar aquela máquina, ela se torna mais valiosa", explica Autor.

Junta-se a isso o fato de que máquinas e softwares muito provavelmente jamais poderão substituir certos empregos. Até hoje, o homem é muito superior em qualquer trabalho que envolva criatividade, empreendedorismo, habilidades interpessoais e inteligência emocional.

As carreiras que precisam delas? Clérigos, enfermeiros, palestrantes motivacionais, cuidadores, treinadores esportivos, artistas – todos com muitas chances de se dar bem em um mundo mais automatizado.

E mesmo que restaurantes comecem a usar tablets nas mesas para preparar os pedidos e robôs venham servir a comida, a sociedade pode não querer adotar essas mudanças. É possível que continuemos a querer que outros seres humanos venham a nossas mesas ou dirijam nossos táxis.

Este é um fenômeno que reflete na recente reaparição de artesões nos grandes centros urbanos do planeta. Hoje, há um mercado cada vez maior para móveis e outros objetos feitos à mão, para alimentos caseiros e com um toque pessoal, e por tantas outras artes e serviços. E isso significa também o surgimento de empregos digitais para ajudar a aumentar a venda desses produtos.
Exemplos de compensações

Ainda estamos longe de ter robôs que possam gerenciar uma sala de aula cheia de crianças
A realidade é que para cada carreira que a tecnologia elimina, sempre haverá uma onda de novos caminhos profissionais a serem explorados e criados. Assim como alguns dos empregos de hoje – gerente de mídias sociais, designer de aplicativos, diretor de impacto ambiental – teriam sido inimagináveis em 1995, não podemos prever que novos tipos de trabalho surgirão no futuro.

Mas conseguimos imaginar com base em números e tendências. Sander prevê um futuro onde conselheiros genéticos, biobanqueiros, autores de realidade aumentada, especialistas em antienvelhecimento e experts em mitigação de desastres naturais urbanos poderão ocupar os lugares mais quentes da economia, assim como outras profissões que decorrerão da concentração cada vez maior de pessoas nas grandes cidades.

Ao mesmo tempo, não devemos assumir que a economia vai se ajustar às mudanças. Não há garantias de que tudo funcione bem no futuro. Para tornar a transição o menos dolorida possível, precisamos ser proativos em assegurar que a destruição de certas carreiras seja feita com a provisão adequada para aqueles que perderem seu papel na sociedade.

"Se conseguirmos criar recursos sem uma grande demanda de mão de obra, o problema terá que ser: 'temos muita riqueza – como vamos distribuí-la?'", diz Autor.

Opções socialmente responsáveis podem incluir um apoio melhor para aqueles que estão temporariamente desempregados e treinamento acessível para ajudá-los a mudar para um novo setor.

Alguns países, setores e empresas estão respondendo melhor a essas mudanças do que outros. Para Sanders, de um lado, há organismos reguladores rígidos que podem impedir a inovação, como a recente proibição do Uber na França, por exemplo. Por outro, há o caso da Alemanha, onde 1,5 milhão de pessoas se matriculam em cursos preparatórios remunerados a cada ano, saindo deles com alta formação para atuar em áreas técnicas.

Hoje, mais de 4 mil empresas em todo o mundo montaram seus próprios centros de formação e treinamento. Outras companhias estão tentando mudar sua demografia para evitar a perda de empregos. A BMW, por exemplo, está modificando suas fábricas para atender às necessidades de seus funcionários mais velhos, em vez de obrigá-los a se aposentar.
No entanto, pode até ser que um dia as máquinas e a inteligência artificial tomem o lugar de seres humanos em várias áreas. Isso não é algo necessariamente ruim, especialmente se isso levar a um aumento da riqueza e do bem estar de todos."

Se for para cair, caia pelos bons motivos, Dilma


Samba da política doida
André Singer

Acontece sempre que a sociedade perde a direção e não ia ser diferente desta vez: o mundo político começa a produzir um festival de bizarrices. Observe-se.

Três semanas atrás, Eduardo Cunha foi acusado, no contexto da Lava Jato, de ter exigido e recebido propina de 5 milhões de dólares. Em resposta, decide romper com a presidente da República. O que uma coisa tem com a outra?

Nada. Dilma Rousseff não controla a Justiça, o Ministério Público nem a Polícia Federal. Cunha sabe. Trata-se de manobra diversionista. Para encobrir a grave denúncia que o atinge, joga o foco sobre o impeachment de Dilma, o qual se dedica a preparar com base na possível rejeição pelo Tribunal de Contas da União (TCU) das contas de 2014.

Na quarta (5), o vice-presidente da República chama a imprensa e reconhece que a situação é "grave" porque em reunião com as lideranças dos partidos governistas não conseguiu acordo a respeito dos salários de servidores da Advocacia-Geral da União (AGU), de procuradores e de delegados. Michel Temer aproveita a oportunidade para indiretamente se oferecer como alternativa para reunificar a nação. O que a unidade nacional tem a ver com a PEC 443?

Nada. O Brasil precisa se unir para bloquear o aumento de alguns funcionários públicos? É esse o projeto em torno do qual devemos nos congregar? Aliás, ao redor do que o país está dividido, mesmo? Ah, não, desculpe, foi só o jeito de avisar que, caso a loucura metódica do Cunha der certo, posso assumir a Presidência.

No dia seguinte, diante do movimento de Temer, a fração aecista do PSDB apressa-se a mudar de posição e abandona o impeachment liderado por Cunha. Resolve conclamar a população a marchar pela realização imediata de novas eleições. O que a unificação nacional para combater o movimento dos empregados da AGU tem a ver com a aprovação das contas de Dilma?

Nada. Ocorre que se houver impeachment da presidente e Temer assumir, em 2018 Alckmin e Serra vão disputar, dentro do PSDB, a vaga de candidato com Aécio. Mas se o TSE cassar a chapa Dilma e Michel, convocando-se pleito agora, Aécio teria a seu favor o recall da eleição presidencial recém-disputada e o fato de que Alckmin precisaria renunciar ao governo de São Paulo.

Enquanto evolui em Brasília o enredo amalucado dos políticos profissionais, sugiro a Dilma ler a excelente entrevista do economista da Unicamp Pedro Paulo Zahluth Bastos no "Valor" (6/8). A economia só sai do baixo-astral com medidas anticíclicas, diz o colega. Se for para cair, caia pelos bons motivos, presidente. Não por tentar cumprir o programa completo do seu adversário do ano passado.

A Lava Jato e o Partido dos Trabalhadores


http://insightnet.com.br/segundaopiniao/?p=138

A novidade política da Lava Jato é a revelação de que o Partido dos Trabalhadores cedeu à tentação de patrocinar e se beneficiar das relações espúrias entre interesses de grupos privados e iniciativas públicas. Faz parte da história intestina de todas as sociedades acumulativas o vírus da predação, do suborno, do saque, da extorsão e da violência em busca de vantagens além dos méritos competitivos. O Império inglês foi assim construído, incluindo associações clandestinas com piratas e corsários, no século XVIII, e escândalos internos sem fim desde o XIX; a riqueza das cidades hanseáticas e italianas que financiaram os jardins artísticos do Renascimento, seus pintores, arquitetos e escultores, essa riqueza foi obtida mediante fraude e corrupção de bandidos inescrupulosos e violentos, organizados em poderosas companhias de negócios. A grande arte flamenga e espanhola é rebento da generosa dissipação de recursos de ladrões e assassinos em versão marqueteira de mecenas. O extraordinário progresso material norte-americano a partir de meados do XIX colocou na galeria cívica do país os “robber barons”, sabidos e consabidos corruptos, genocidas, paradigmas das administrações libertinas e extorsivas das grandes cidades contemporâneas como Chicago, Nova York, Los Angeles ou Kansas City, sempre com a cobertura midiática de campanhas moralizadoras. As fraudes eleitorais são discutidas tão abertamente quanto o financiamento de campanha e não é segredo que a vitória democrata de John Kennedy contra Richard Nixon nada teve de católica (acobertada pela patranha midiática de que Nixon perdeu por causa do último debate na televisão), com os Republicanos dando troco na roubalheira da Flórida que deu a vitória a Bush Junior sobre Al Gore. Tudo supervisionado pelas autoridades eleitorais. Ninguém chia, trata-se de assunto exclusivo entre eles: dos roubos econômicos aos roubos eleitorais. O vírus está lá, agora protegido nos portfólios do sistema financeiro mundial.

A história recente do Brasil não fica a dever. A começar pelas obras marcantes da ditadura, de onde brotaram progresso material, liquidação física dos opositores e mágicos milionários, de sucesso inexplicável. Da tolerância democrática de José Sarney restou a criminosa entrega da propriedade pública das comunicações a um prático monopólio de golpistas centenários, corruptor de jornalistas, escritores, artistas, políticos. O monopólio das comunicações é atualmente o único poder irresponsável no País, exercido com brutalidade e a ele se curvam os demais, inclusive o poder judiciário. Fonte de corrupção permanente, manteve como assunto inter pares os escândalos financeiros do governo Fenando Henrique Cardoso, as trapaças das privatizações e a meteórica transformação de bancários em banqueiros, tendo o BNDES como rampa de lançamento. Assim como guarda no porão do noticiário a ser mobilizado, caso necessário, os rastilhos da política tucana em Minas Gerais e em São Paulo. Todos, juízes, ministros, políticos, procuradores, cantores, atrizes, narradores de futebol, são todos terceirizados do Sistema Globo de Comunicação.

Nesse País, por surpreendentes acasos, todas as investigações envolvendo os companheiros da boa mesa, pecaram por vícios de origem e devidamente esquecidas. Menos a Lava Jato, que segue aparentemente de acordo com as rigorosas regras judiciais, de que dá testemunho o Ministro Teori Zavaski. Qual é a novidade?

A novidade não é o roubo nem as relações ilegítimas entre agentes privados e públicos. Todos os consultores, projetistas, jornalistas, escritórios de advocacia econômica, todos que fingem ultraje ao pudor sempre foram não só cientes como, no todo ou em parte, beneficiados pelo sistema virótico da sociedade acumulativa brasileira. Enriqueceram e vivem como parasitas do sistema nacional de corrupção. A novidade é que o Partido dos Trabalhadores entrou como sócio, apresentando como cacife os milhões de votos daqueles que nunca foram objeto de atenção. Candidatou-se ao suicídio.

A caça ao intruso foi imediata. A cada política em benefício dos miseráveis, mais se acentuava a perseguição ao novo jogador, insistindo em reclamar parte do botim tradicional da economia brasileira. A penetração do PT na associação das elites predadoras era encoberta pelo compromisso real de muitos de seus quadros com o destino dos carentes. E assim como os grandes capitães de indústria, pelo mundo a fora, os nossos também cobraram uma exploração extra, uma vantagem desmerecida, uma nova conta na Suiça em troca dos empregos criados, da produção aumentada, do salário menos vil. Mas assim também como os operadores tradicionais, os petistas se entregaram à sedução da sociedade acumulativa: o roubo com perspectiva de impunidade.

A Lava Jato revelou a tragédia da vitória do capitalismo sobre a liderança dos trabalhadores. Os grandes empresários e as grandes empresas, ao fim e ao cabo, vão se safar, com os acordos de leniência e as delações premiadas, reservas que fazem parte de suas mochilas de sobrevivência. Serão nossos “robber barons” do futuro. Não assim a destroçada elite petista, à qual não resta senão acrescentar o opróbrio da traição à vergonha da confissão.

A vítima ensanguentada dessa caçada é o eleitorado petista. Muito além dos militantes, todos aqueles que saudaram e apoiaram a trajetória de crescimento de um partido que, claramente, era o deles. Os que suportaram os preconceitos, que resistiram às pressões e difamações e que viam nas políticas sociais o cumprimento de promessas nunca realizadas. Esses estão hoje expostos à brutalidade dos reacionários e fascistas, ao escárnio, aos xingamentos e ofensas. O eleitorado petista não é criminoso, criminosos são os fascistas que os perseguem nas ruas, nos lugares públicos, sem que as autoridades responsáveis tenham a decência de garantir-lhes a inocência.

Presidente Dilma Rousseff: é de sua responsabilidade e de seu Ministro da Justiça sair desse palácio de burocratas e meliantes suspeitos e garantir, e fazer governadores e prefeitos garantirem, por atos enérgicos, a integridade física e moral dos milhões de brasileiros inocentes que acreditaram na sinceridade dos membros do seu Partido. Os ladrões estão no seu Partido, não entre os eleitores que a elegeram.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A democracia das escolhas fáceis



 Ao passo acelerado em que polêmicas surgem e desaparecem nas redes sociais e nos noticiários, tratar de um só tema é tornar-se obsoleto em questão de horas. É por isso que escrevo agora sobre maioridade penal, Uber e a presidenta Dilma, três temas que, embora não pareçam ter qualquer correlação, são sintomáticos sobre o estado das coisas no Brasil e dizem muito sobre o país que queremos construir.
Aturdidos por novas polêmicas a cada dia e pela velocidade que se exige na tomada de posição, pouco tempo há para reflexão. Opiniões são formadas quando se curte e tornam-se verdades absolutas quando se compartilha. A busca pela verdade tornou-se uma corrida, em que o vencedor é aquele que mais rápido postou e mais curtidas angariou para sua causa. O problema nesse contexto reside principalmente na construção de argumentos lógicos e circulares que justificam a solução proposta simplesmente pela existência do problema. Assim vejamos:
A maioridade penal deve ser diminuída porque há muita violência e impunidade. Há muita violência e impunidade porque a maioridade penal precisa ser reduzida.
O Uber deve ser permitido para alimentar a concorrência porque os taxistas cobram caro e não prestam um bom serviço. Os taxistas cobram caro e não prestam um bom serviço porque não há concorrência e o Uber está proibido.
Dilma deve sofrer o impeachment porque é corrupta e incompetente. Dilma é corrupta e incompetente porque deve sofrer o impeachment.
Os argumentos acima são logicamente perfeitos e indestrutíveis, na medida em que o problema é a solução e vice-versa. Além de logicamente perfeitos, são também reconfortantes: enxergar uma simples solução para um grande problema tranquiliza a alma ao transferir a responsabilidade para outras pessoas. As soluções estão aí. É só executar. A “minha” parte está feita. É a democracia das escolhas fáceis.
Infelizmente, não é tão fácil assim.
A redução da maioridade penal como solução da violência não funcionará porque desconsidera que a população jovem no Brasil é a terceira mais assassinada no mundo, que o sistema carcerário apresenta um índice de 70% de reincidência ante 20% do sistema socioeducativo, que a maioria esmagadora dos jovens penalizados são pretos, pobres e favelados (e isso não é uma coincidência), que a guerra às drogas fracassou, que a Polícia Militar mais mata do que protege a juventude, que países que reduziram a maioridade penal voltaram atrás por considerar a medida ineficaz, que o Estado e a sociedade têm responsabilidade no processo de formação do jovem marginalizado.
A permissão do Uber como solução para os problemas de mobilidade urbana não funcionará porque desconsidera que o aplicativo não é uma tecnologia em si, que seu objetivo maior é a formação de monopólio no setor de transportes e manutenção dos lucros da empresa em detrimento das garantias de seus trabalhadores, que os taxistas são também explorados pelas cooperativas de táxi e submetidos a jornadas extenuantes e pressão constante, que a substituição de um monopólio (dos taxis) por outro (do Uber) não liberta ninguém, que as políticas de mobilidade também passam pelas discussões das ciclovias, dos corredores de ônibus e da gratuidade na tarifa do serviço, que o aplicativo só ajuda em aumentar o número de carros nas vias.
O impeachment de Dilma como solução para os problemas de corrupção do país não funcionará porque não leva em conta que a principal causa da corrupção em todas as esferas administrativas é a influência do poder financeiro sobre o poder político, que as doações recebidas pelo PT foram também recebidas por todos os outros partidos que querem o impeachment, que o custo total do financiamento das campanhas durante as Eleições de 2014 ultrapassaram o patamar de 4 bilhões de reais (e isso não é de graça), que os paladinos da ética e da moral que bradam nas tribunas do Congresso Nacional também são acusados de corrupção, que a tentativa de criminalizar apenas um partido não é democracia, que a corrupção já existia antes do PT chegar ao poder.
Como se vê, os três assuntos não são simples. Denotam reflexão e diálogo para que problemas sejam resolvidos e para que mudanças sejam avanços e não retrocessos. Mas assim também é o processo democrático. A construção do Estado democrático de direito não se faz à fórceps, batendo panelas e aos gritos, do dia para a noite. Pelo contrário, é construído diuturnamente, com ideias discutidas, construídas e amadurecidas com participação popular. Enquanto formos uma democracia de escolhas fáceis continuaremos a ser um país de problemas escondidos.
Por fim, resta lembrar que o regime de heróis nacionais e soluções únicas durou 21 anos e acabou em 1985. Há os que sentem saudade. Ainda prefiro acreditar que a maioria de nós não. Que estamos dispostos a construir uma democracia de fato, em que a soberania do voto popular é respeitada, em que prisões e bombas não são comemoradas, em que os trabalhadores tenham seus direitos respeitados, em que a mobilidade urbana seja direito de todos e em que a juventude possa cultivar sonhos em liberdade.
Zé Paulo Caires é Bacharel em Direito pela UNESP – Franca/SP e Pós-graduando em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho pela USP – Ribeirão Preto/SP.
vi no: http://justificando.com/2015/08/04/a-democracia-das-escolhas-faceis/

Site simula impacto da bomba de Hiroshima em cidades brasileiras



O site Nuke Map, um simulador desenvolvido por Alex Wellerstein, historiador e professor do Instituto de Tecnologia Stevens, nos EUA, mostra como seria o efeito devastador da explosão de bombas atômicas em qualquer lugar do mundo. (veja o site Nuke Map)
Veja abaixo uma simulação em cidades brasileiras de como seria a explosão de uma  bomba como a 'Little Boy', a primeira bomba atômica usada em guerra, cuja detonação destruiu em 1945 a cidade de Hiroshima, no Japão. O ataque completa 70 anos nesta quinta-feira (6):
Rio de Janeiro
No Rio, se jogada sobre o centro, uma bomba equivalente à “Little boy” – como ficou conhecida a bomba de Hiroshima – mataria mais de 34 mil pessoas e deixaria mais de 60 mil feridas, segundo o simulador (o site explica que se trata de uma estimativa vaga, já que é difícil fazer uma projeção de mortes por uma bomba atômica). O mapa abaixo mostra que os feitos mais graves se estenderiam por uma área que vai da Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont, e além.
Nuke Map simula detonação da bomba 'Little Boy' no centro do Rio de Janeiro (Foto: Reprodução/ NukeMap)Nuke Map simula detonação da bomba 'Little Boy' no centro do Rio de Janeiro (Foto: Reprodução/ NukeMap)
Nas imagens, o círculo central amarelo representa a bola de fogo gerada pela explosão, com raio de 180 m.
O círculo vermelho mostra a área da explosão no ar, a uma pressão de 20 psi e com raio de 340 m. Nessa área os prédios de concreto pesado seriam demolidos ou seriamente danificados e todas as pessoas morreriam.
O círculo verde abriga área de raio de 1,2 km em que entre 50% e 90% das pessoas morreriam se não recebessem atendimento médico, sendo que as mortes poderiam demorar semanas para ocorrer, como de fato aconteceu em Hiroshima.
O círculo azul, com raio de 1,67 km, corresponde à área em que a explosão ocorreria a pressão de 5 psi e a maioria dos prédios residenciais colapsariam e todos ficariam feridos.
Por fim, o círculo laranja, com 1,91 km de raio, mostra onde as pessoas seriam afetadas por queimaduras de terceiro grau, que causariam graves cicatrizes, invalidez ou amputação.

"Os efeitos diminuem aos poucos à medida que se afasta do epicentro. Mas não é que dentro do mesmo raio foi tudo igual. Os efeitos se sobrepõem", observa a professora Emico Okuno, do Instituto de Física da USP. "Grande parte das mortes imediatas [em Hiroshima] ocorreu devido às queimaduras em todo o corpo e ao trauma por terem sido lançadas no ar pela onda de calor e de choque. A morte devido à radiação ionizante foi posterior", diz.
São Paulo
Se caísse sobre o centro de São Paulo, a explosão de uma bomba com as mesmas características da de 1945 mataria mais de 170 mil pessoas e quase 190 mil ficariam feridas, também segundo o cálculo aproximado do Nuke Map.
Simulação de bomba de Hiroshima detonada em São Paulo pode ser feita pelo aplicativo Nukemap (Foto: Reprodução/ NukeMap)Simulação de bomba de Hiroshima detonada em São Paulo pode ser feita pelo aplicativo Nukemap (Foto: Reprodução/ NukeMap)
Brasília
Em Brasília, se disparada sobre o Eixo Monumental, teria o mesmo efeito devastador: mais de 170 mil mortes e quase 190 mil feridos, estima o Nuke Map.
App mostra raio de destruição que a 'Little Boy', bomba atômica lançada sobre Hiroshima, teria em Brasília (Foto: Reprodução/ NukeMap)App mostra raio de destruição que a 'Little Boy', bomba atômica lançada sobre Hiroshima, teria em Brasília (Foto: Reprodução/ NukeMap)
Imagem rara do cogumelo atômico de Hiroshima foi encontrado em arquivo de escola da cidade, revelou uma curadora japonesa. Acredita-se que a fotografia em preto e branco tenha sido feita cerca de 30 minutos depois do bombardeio, em 6 de agosto de 1945. (Foto: AFP/Escola Honkawa)Imagem rara mostra o cogumelo atômico de
Hiroshima, em 6 de agosto de 1945
(Foto: AFP/Escola Honkawa)
Detonação de 1945
A bomba lançada pelos Estados Unidos no fim da 2ª Guerra Mundial sobre Hiroshima foi detonada com uma intensidade de 16 quilotons a cerca de 600 metros de altura. Uma bola de fogo abrasador explodiu a um milhão de graus centígrados, arrasando quase tudo que estava a seu redor.

Os prédios de pedra sobreviveram às altas temperaturas, mas ficaram impressos, como um negativo fotográfico, pelas sombras das coisas e pessoas carbonizadas a sua frente.
A onda de choque inicial gerou rajadas de 1,5 quilômetro por segundo que arrastaram com força os escombros e arrancaram em sua passagem membros e órgãos humanos. Então, um cogumelo nuclear começou a se elevar acima da cidade até atingir 16 km de altura.
Bomba Litlle Boy matou, de imediato, 80 mil pessoas quando explodiu sobre Hiroshima, em 1945 (Foto: Reprodução/ NukeMap)Simulação da bomba 'Litlle Boy' no site Nuke Map em Hiroshima. Bomba verdadeira matou, de imediato, 80 mil pessoas quando explodiu, em 1945 (Foto: Reprodução/ NukeMap)


A explosão matou de forma imediata cerca de 80 mil pessoas. Até dezembro do mesmo ano, o número de mortos subiu para 140 mil. Nos anos seguintes, o número continuou crescendo devido às vítimas da radiação nuclear.
O bombardeio americano de 6 de agosto de 1945, com o avião Enola Gay, foi uma ação decisiva para acabar com a 2ª Guerra Mundial.
Três dias após o ataque, outro avião dos EUA lançou uma segunda bomba nuclear sobre o porto de Nagasaki, a “Fat Man”, de cerca de 20 quilotons. A explosão matou 70 mil pessoas e forçou a rendição do Japão da 2ª Guerra e seu fim, no dia 15 de agosto de 1945.
De acordo com as estimativas, o número total de sobreviventes da bomba - conhecidos no Japãocomo 'hibakusha' - em Hiroshima e Nagasaki em março de 2014 era de 192.719, 9.060 a menos do que no ano anterior, e a média de idade das vítimas era de 79,44 anos.

Veja imagens de Hiroshima destruída pela bomba comparadas com fotos atuais:
Combinação de fotos mostra a Cúpula Genbaku, hoje chamado Memorial da Paz, depois da explosão da bomba e em julho de 2015 (Foto: REUTERS/Shigeo Hayashi/Hiroshima Peace Memorial Museum/Handout via Reuters/Issei Kato)Combinação de fotos mostra a Cúpula Genbaku, hoje chamado Memorial da Paz, depois da explosão da bomba e em julho de 2015 (Foto: REUTERS/Shigeo Hayashi/Hiroshima Peace Memorial Museum/Handout via Reuters/Issei Kato)
Acima, foto histórica mostra pessoas caminhando perto da ponte Aioi, em Hiroshima, em 1945; abaixo, o mesmo lugar aparece em foto de julho de 2015 (Foto: REUTERS/Shigeo Hayashi/Hiroshima Peace Memorial Museum/Handout via Reuters/Issei Kato)Acima, foto histórica mostra pessoas caminhando perto da ponte Aioi, em Hiroshima, em 1945; abaixo, o mesmo lugar aparece em foto de julho de 2015 (Foto: REUTERS/Shigeo Hayashi/Hiroshima Peace Memorial Museum/Handout via Reuters/Issei Kato)
Primeira foto mostra marca no chão de silhueta de pedestre que estava na ponte Yorozuyo quando a bomba explodiu, em 1945; a segunda imagem mostra o mesmo local, que fica a 860 metros do epicentro da explosão, em julho de 2015 (Foto: REUTERS/U.S. Army/Hiroshima Peace Memorial Museum/Handout via Reuters/Issei Kato)Primeira foto mostra marca no chão de silhueta de pedestre que estava na ponte Yorozuyo quando a bomba explodiu, em 1945; a segunda imagem mostra o mesmo local, que fica a 860 metros do epicentro da explosão, em julho de 2015 (Foto: REUTERS/U.S. Army/Hiroshima Peace Memorial Museum/Handout via Reuters/Issei Kato)
no http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/08/site-simula-impacto-da-bomba-de-hiroshima-em-cidades-brasileiras.html