terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A doméstica e o futuro médico: uma amostra do crime e castigo no Brasil

Há uns 15 dias o Brasil inteiro se revoltou com um crime: um bebê recém-nascido foi abandonado numa rua do bairro nobre de Higienópolis, em São 

Paulo, capital (glo.bo/1GwE4Q1).

As câmeras de segurança do bairro (são muitas, para proteção de seus moradores) permitiram identificar rapidamente a autora do crime. Não vou dar o nome dela, pois já foi estampado em todos os jornais, revistas e sites de mídia do país. 

Apenas resumo que se trata de uma nordestina que vive e trabalha em Sampa como empregada doméstica. Mulher, nordestina, pobre. Possivelmente com pouco estudo.

A autora do abandono justificou-se na delegacia: já tinha dois filhos, mora na casa dos patrões com a mais nova (o mais velho é criado por parentes na Bahia), e com medo de ser demitida escondeu a gravidez inteira, pariu o filho sozinha no banheiro do quarto de empregada e depois deixou a criança na rua. Fez questão de ressaltar que não a abandonou: escondeu-se atrás de uma árvore e ficou esperando alguém encontrar o bebê.

(Parêntesis aqui: ela deixou a criança dentro de uma sacola que pegou na casa dos patrões. A sacola era do Au Pied de Cochon, um restaurante tradicional de Paris)

Por óbvio, a doméstica foi condenada. Não falo do processo criminal, que ainda vai rolar bastante - embora eu não tenha dúvida da condenação dela neste. Foi condenada sem apelação pela opinião pública. Foi xingada das piores imundícies nas redes sociais e no espaço dos comentários dos portais de mídia. Como sempre, não faltou o "na hora de fazer não pensou, né???", essa pérola-frase-feita que sempre mostra a condenação do brasileiro médio sobre o prazer da mulher.

Mas o que eu quero falar aqui é o seguinte: a doméstica, como disse, foi identificada em todos os detalhes. Sabe-se que é natural de Vitória da Conquista (BA), tem 37 anos, seu nome completo foi exposto nos jornais, sua foto e filmagem foram exibidas à exaustão. Condenada publicamente, com sua imagem arruinada.

Corta pro futuro médico: a USP divulgou que um aluno, concluínte do curso de Medicina, havia sido "punido" pela instituição (glo.bo/1RRb6B7). A punição: um ano de suspensão. O ato irregular dele: estupro. Isso mesmo, es-tu-pro. E não era o primeiro, era o segundo estupro pelo qual a USP o condenava. Ainda falta um: ele é acusado de ter estuprado três colegas de universidade, duas do curso de Medicina e uma do curso de Enfermagem.

Dentro de um ano ele poderá concluir o seu curso. E teremos um médico-estuprador-serial clinicando por aí. Quem sabe na área de ginecologia, para o completo não-desespero de suas futuras pacientes. Digo "não-desespero", pois o nome do futuro médico uspiano não saiu nos jornais - e, lógico, nome e foto provavelmente jamais sairão.

(Outro parêntesis: sinceramente, se a USP não considera três estupros algo grave o suficiente pra expulsar esse aluno, acho melhor fechar a Reitoria e largar a Universidade ao deus-dará. Sem nenhuma forma de gestão ou controle ela estará mais bem administrada do que agora)

É isso aí, pessoal: só uma suspensão e nenhuma execração pública ao estuprador serial da USP. Enquanto isso a doméstica segue sendo linchada, cuspida, agredida, condenada.

A coisa é tão gritante que sem ser mulher eu concluo que é muito escroto ser mulher nesse país! Nessas horas eu fico muito tentado a achar que as mulheres nos países islâmicos radicais tem uma vida menos difícil que as brasileiras. A mulher brasileira, afinal de contas, não pode:

- andar numa rua escura ou deserta, senão está "se expondo" ao risco de ser estuprada. Se for atacada a culpa é dela, por estar numa rua escura e deserta - ainda que essa rua seja o único caminho que ela tem pra sair e chegar de casa...- usar roupa justa ou curta, senão "merece" ser estuprada ou "está pedindo". A mulher só está segura se usar burca, usar a roupa que ela quiser não pode não!

- ser bonita ou explorar a sua sexualidade com independência, senão está sendo vadia, piriguete, vagabunda, ou qualquer adjetivo que os doentes gostem de usar. Homem pode fazer o que quiser, mulher tem que ser uma santa recatada;

- ir sozinha ou com amigas a uma balada ou um bar, senão "está procurando". A mulher só pode sair se tiver um homem no grupo, pra marcar o território e protegê-la dos demais. Senão a matilha se sente inteiramente à vontade pra atacar;

- pular carnaval sozinha ou com as amigas, senão leva passada de mão, apalpada e tem que dar beijo à força. Afinal, se está sozinha no carnaval ela "está querendo", já que mulher "séria" não vai pra carnaval sem um dono.

Em suma, a culpa do estupro, do assédio e da violência é sempre da mulher, pelo simples fato dela ser mulher, e ela só está segura se estiver dentro de casa, escondida.

Se eu fosse mulher no Brasil, só me sentiria minimamente segura se treinasse krav-magá e tivesse porte de arma!

A pobre doméstica, que por imposição de uma vida difícil, dura, de pobreza, se viu obrigada a abandonar seu filho, essa foi condenada em público. As vítimas do futuro médico estuprador-serial estão feridas pro resto da vida.Tanto a doméstica como as estupradas perderam tudo, da dignidade à imagem.

O futuro médico e atual estuprador-serial, esse não! Ao homem toda a benevolência e proteção! Ele conta com toda a proteção da mídia, da USP e da lei pra se manter incólume, concluir sua faculadade e ser um respeitável médico perante a sociedade.

Fecha-se o ciclo do crime e castigo à brasileira, uma situação recorrente quando a vítima é pobre ou mulher: o criminoso segue bem, obrigado, e as vítimas devidamente condenadas e/ou destruídas. E toda a sociedade jura de pé junto (num país que nem a lei básica consegue cumprir) que estaremos bem quando matarmos todos os bandidos em praça pública. Afinal, bandido bom é bandido morto.

Menos o estuprador-serial da USP, que pra todos os efeitos nem existe. Esse nem bandido é: trata-se do "doutor" Fulano de Tal. Aquele que talvez venha a ter no cartão de visita, abaixo do nome, o título "ginecologista".

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Texto do professor e advogado Alan Souza.

no: http://faloporquetenhoboca.blogspot.com.br/2015/10/a-domestica-e-o-futuro-medico-uma.html

AÉCIO SE FAVORECE COM ESSE CIRCO, MAS QUEM VAI PERDER O EMPREGO É VOCÊ.




Como sempre digo, o brasileiro não merece nada melhor do que já tem.

Se o Brasil fosse um país parlamentarista, eu diria que Dilma merecia o impeachment. Isso porque sejamos honestos, ela não governa. Ela brinca de suprema democrata, enquanto os ratos embaixo dela, de TODOS os partidos, surrupiam tudo o que é público, inclusive a vergonha e a dignidade de ser brasileiro.

Naturalmente ela não é responsável pelo que todo mundo faz, ainda mais os bandidos do PSDB, que não valem o que comem, mas eu se fosse ela, tinha lá no começo dessa Lava Jato, abraçado o negócio pra mim, e tirado a bandeira da oposição. Ao contrário, ela resolveu fazer de conta que não era com ela, enquanto certos segmentos da sociedade faziam o que sempre se dispuseram a fazer. O lema de Bornhausen. Varrer o PT da face da Terra.

Aos ingênuos que acreditam na seriedade desta farsa judicial, eu pergunto, é coincidência que só petistas vão presos por causa de uma roubalheira da qual todo mundo se beneficia?

Qual dos pilantras que a acusam de corrupção não responde por crime?

Mas o ponto não é esse. Dilma se travestiu de Themis, a deusa da Justiça, e colocou uma venda nos olhos. Brincando de não fazer política, ela brincou de não governar e fez a pior das políticas, a política do "não é comigo".

Deixou a moral seletiva tomar conta, passando a impressão de que só o partido dela é corrupto.

O PT é corrupto? Óbvio. Mas que bom que fosse o único. Era fácil de resolver.

Dilma em sua incapacidade política, escalou uma turba de tucanos vestidos de vermelho pra tocar o governo petista, e entregou o país aos rentistas. E o pior é que não foi de uma hora pra outra. O Brasil vem agonizando há anos e ela insistindo em achar que não poderia interferir em nada.

Contas públicas? Responsabilidade Fiscal? Metas de inflação? Pergunta pros chineses como é que faz, porque eles estão bem menos interessados na tecnocracia pregada pelos EUA, do que em fazer girar a roda da economia de seu país.

Dilma é sim bem intencionada, mas de boa intenção, o inferno está cheio.

Não Dilma, não é assim. Se você estivesse na Suiça, não poderia interferir. Mas você está no Brasil, aquele mesmo país onde só se encontram políticos bandidos, que não têm vergonha na cara, que preferem atear fogo à nação, matando todo o povo queimado, do que esperar mais 3 anos por novas eleições.

Você está no Brasil, Dilma. O Brasil do povo que não se informa, que se planta na frente de uma TV, esperando que saia de lá a verdade suprema.

Você está no Brasil, Dilma. O Brasil dos iletrados que quando resolvem ler, lêem revistas semanais desqualificadas, que sobrevivem de grana do impostos do governo de São Paulo; que respiram o ar pútrido que o PSDB emprestou à coisa pública durante toda sua existência.

Você está no Brasil, Dilma. O Brasil dos petistas que não sabem o que é partido, que atiram para todos os lados, que pouco se lixam pra nação. Uns roubando, outros golpeando o governo numa tentativa inútil de salvar a própria pele, como se quisesse dizer "eu sou petista, mas não sou como os outros". Uns ingênuos, isto sim. Quem implantou o ódio contra o PT, implantou contra o PT, e a totalidade de seus membros, e não de alguns gatos pingados que eventualmente estejam fazendo bobagem.

Me lembro que na ditadura tinha um ditado até que coerente: "a esquerda não se entende nem na cadeia".

Ou seja, não unificam o discurso. Brigam entre sí. Não conseguem ter foco. Enquanto isso, a direitada deita e rola, pois eles têm foco único. E o perseguem noite e dia.

Ora, o PSDB está sendo mestre na arte de fingir que, quando pegam um deles roubando (coisa rara, pois curiosamente nunca ninguém desse partido é pego), dizem, "bem, fulano é bandido, mas é exceção".

A mídia tucana e o judiciário seletivo colocaram na cabeça do povo que o PT é 100% corrupto.E o PT vestiu a carapuça. Ficou quieto, não fez nada.

Me perguntei se Dilma é tão ingênua assim pra chegar nesse ponto, ou se ela tem um grande plano, pra salvar o país.
A incapacidade política dos petistas chega a dar dó, de tão ruim.  

Será mesmo que estes imbecis precisavam ficar alardeando pela imprensa que iriam cassar Eduardo Cunha, quase pedindo que em retaliação ele abrisse o processo de impeachment?

Por que não esperar, em banho maria até que a sessão de cassação do Chantageador Geral da República começasse, e, dando prosseguimento ao processo, ficaria daí sim, evidentíssimo que se ele abrisse o impeachment, era por vingança?

Óbvio, não que não tenha ficado claro. Qualquer leitor da Veja sabe disso. Mas o PT alardear a quatro ventos que iria votar contra ele, não fez o partido ter uma imagem mais "honesta". Faz tempo que o PT não tem isso. São apenas uns tontos.

Ou o PT espera ser salvo pelo STF? De Toffoli e Mendes? Ou pelos outros deputados da Câmara, no Brasil dos corruptos?

Hoje alardearam que líderes de certos partidos são contra o impeachment. E em tese, esses partidos contam com 300 deputados.

Ora, amigos. Que ingenuidade achar que deputados são fiéis aos líderes de seus partidos. Ainda mais, sabendo que podem lucrar em alguma coisa. Eles falam uma coisa agora, e votam outra na hora. Estamos cansados de ver isso acontecer.Ainda mais se a votação for secreta. Daí esqueça.

Se o Brasil fosse um parlamentarismo, Dilma iria pra casa, com justiça, pois não teve tutano pra governar.

Não teve tutano pra dar um murro na mesa e fazer o seu Ministro da Justiça se mexer. Fazer ele trazer à baila que quem acusa a presidente é tão corrupto quanto dizem que ela é.

Mas Cardozo fica lá, como dois de paus. Honestamente, não consigo ver pra quê ele serve, numa crise como essa. Não deu o ar da graça. E como o assunto no país é só esse, mesmo, ele como Ministro, não teve utilidade.

Ao invés, Dilma se sentou no Parthenon da tupinicalha e imaginou por um momento, ser Abrahan Lincoln, um grande estadista.

Não, Dilma. Não adianta jogar pra platéia num país como o Brasil, onde o que vale é o que diz a imprensa seja ela bandida e corrupta, seja ela sustentada pela oposição ao governo.

Ou alguém aí realmente pensou que não acabaríamos como a Venezuela? A imprensa manda aqui, como mandou por lá, depois que Chavez morreu.

Pois Maduro não é Chavez, e Dilma não é Lula.

Não, amigos. É conhecer muito pouco o Brasil pra achar que este amontoado de bandidos, de cidadãos corruptos que elegem políticos corruptos, iria se preocupar em preservar a democracia. O que essa gente medonha quer, é o golpe paraguaio.

O povo brasileiro merece mesmo, é um bom e pusilânime governo tucano, que venda o pouco de patrimônio que nos restou, e que, em razão da quebradeira que isso gerará, apenas coloque a culpa no governo dela, e que ninguém ligue.

Porque é evidente que o PSDB fará isso. Ipsis Literis.

Mas vejam que mal acabava o pronunciamento de Dilma na TV, falando rigorosamente NADA sobre a bandidagem institucional de um parlamentar extremamente sujo, que me liga um amigo meu, executivo de uma montadora chinesa que estava prestes a construir sua fábrica no Brasil. A companhia vinha adiando porque tinha medo do que aconteceria por aqui, pois bem sabem os chineses, o Brasil não é uma democracia, é um emaranhado de leis, que são desrespeitadas por quem não gosta do regime do povo.

Meu amigo, que era um bravo lutador em favor do impeachment porque dizia que assim o país voltaria a crescer (sim, ele vota no PSDB), recebeu um telefonema gentil de seus superiores, dizendo que a empresa estava formalmente desistindo de implantar sua fábrica por aqui. Não dá pra investir dinheiro num lugar que não tem governo, e que tem uma oposição que luta contra o próprio país e um povo que nada sabe, nem quer saber.

Sim, a empresa é uma dessas grandes que as revistas de automóveis disseram que iriam se instalar por aqui, mas até agora nada.

"J", como chamamos meu amigo executivo, estava assustado porque o que ele queria que acontecesse, aconteceu. E uma das primeira vítimas foi ele mesmo.

E por que? Porque o tupiniquim, é burro, porque acreditou no carnaval midiático, que elege santos e demônios. "J" não sabia que ele não fazia parte da equação política que o partido que ele adora estava maquinando há 12 meses. "J" não sabia que não o convidariam pra festa que ele mesmo ajudou a pagar. "J" não passa de um idiota útil, como se chamavam na Guerra Fria, os cidadãos que tinham crença numa ideologia e por ela morriam, sem saber que os mandantes daquela ideologia, pouco se lixavam pra vida do inocente aríete.

Dilma mereceria o impeachment, se fosse um parlamentarismo. Por pura incapacidade de governar.

Mas não é um parlamentarismo, e quem pagará o preço desse absurdo é o zé povinho. Do pobre ao mediano. Eles é que pagarão o preço da burrice tradicional brasileira, que só visa tirar A do poder, pra empossar B, e continuar roubando descaradamente a viúva. O zé povex não leva nada nessa festa.

Não leva nada mas veste a camisa como se fosse ele o ator principal desta pornografia.Faz festa por fulano ou cicrano, como se faz festa pro "curíntia" ganhando o campeonato.

O que resta a ele, é tão somente perder o emprego quando a economia parar de vez. E sim, ela vai parar, graças a ele mesmo. Graças ao seu cérebro que acha que política é igual futebol. Que tanto faz.

Parabéns, zé povex pobre ou da classe média. O Brasil te merece. 

E nós todos também, por não lhe ensinarmos a não ser tão limitado.
http://anaispoliticos.blogspot.com.br/2015/12/aecio-se-favorece-com-esse-circo-mas.html

Carta-Bomba, Carta-Testamento, Carta- Revelação, cartada destrambelhada


:
(Foto/ 247)
Em que pode significar carta-testamento, sua revelação em público resultou em bombardeio de todos os lados, até da oposição obcecada por impeachment, Michel Temer lamenta o fato de Dilma não confiar no PMDB. Evitou tocar na recíproca. Ao mesmo tempo, mostrou-se enciumado diante das tratativas com o líder pemedebista na Câmara Federal, o que acaba refletindo uma certa contradição nas lamúrias do vice, na medida em que aquelas conversações são bastante consistentes.

Aliás, é notório o fracasso de Temer em fazer daqueles que lhe são próximos aliados do governo no sentido de contribuir com a governabilidade, conforme as intenções manifestadas publicamente. Geddel batia mais no governo até que o esculápio/jagunço Ronaldo 'Rouba, Mente e Trai'; Moreira Franco não abriu mão dos vícios que o caracterizaram como um dos mais larápios governantes que o estado do Rio de Janeiro já conheceu, daí a queda; e Eliseu Padilha pediu pra sair porque sua longa trajetória fernandohenriquista parece ter falado mais alto nesse momento crucial, por isso cabulava votos para desafetos do governo dentro do PMDB.

Como se vê, tudo que Temer fez, bem como a tropa de que dispôs, mais atrapalhou do que ajudou, o que dá ao governo o direito de ao menos recorrer ao seu instinto de sobrevivência. Paralelo a isso, Jader Barbalho, Leonardo Picciani, Pezão, aliados nordestinos, entre outros, mesmo com todas as divergências verificadas, continuaram aliados e garantindo vitórias importantes em embates no parlamento.

Quanto ao papel decorativo, que  Temer alega lhe ter sido destinado por Dilma na composição política do governo, se puxar pela memória constatará que, perto de Marco Maciel, o vice de FHC, o atual vice seria um pop star colocado cotidianamente diante dos holofotes da notoriedade.

João Goulart, o último vice-Presidente da República eleito pelo voto direto do eleitor, quando o presidente da época renunciou ao mandato abrindo vaga para a sua ascensão, nem no Brasil se encontrava, o que o exime de qualquer acusação de conspiração que se quisesse fazer.

À margem do furibundismo que estigmatiza Temer como o grande artífice do golpismo contra a vontade soberana do povo manifestada em outubro último, é cristalino que sua tropa de choque jamais esteve sob seu controle, tanto que só agora, quando os fatos que ensejaram o afastamento de boa parte dessa tropa do governo já caíram no esquecimento, é que ele resolve reclamar.

Tudo com fortes indícios de tiro no pé, inclusive colocando em risco o projeto de atrair Serra para ser o candidato à presidência pelo PMDB,em 2018. Acuado pelo fato de também ter assinado decretos autorizando créditos suplementares, as tais 'pedaladas fiscais', a quando de algumas interinidades no cargo da presidência; e ameaçado de derrota em março próximo, quando seu partido escolherá novo presidente, essa carta do vice presidente da República parece ser o próprio tiro a provocar seu suicídio político. Será?  

Igualdade social, desmilitarização da polícia e educação: O tripé contra violência no Brasil

Igualdade social, desmilitarização da polícia e educação: O tripé contra violência no Brasil, por Débora Maria da Silva, líder do movimento Mães de Maio

MAES DE MAIO

Por Thiago de Araújo, via Brasil Post
Parecia que a Terra tinha parado em 16 de maio de 2006 para Débora Maria da Silva, hoje com 55 anos. Foi nesta data que o seu filho, Edson Rogério Silva dos Santos, de 29 anos, foi uma das 493 pessoas assassinadas no estado de São Paulo, naqueles que ficaram conhecidos como os Crimes de Maio. Passados nove anos daquele dia trágico, maior do que a dor da perda só o entusiasmo em lutar contra a violência.

“Nós representamos 56 mil Mães de Maio no Brasil, mesmo aquelas que não são ouvidas. O grito é por todas”, disse Débora, em entrevista ao HuffPost Brasil. O número faz referência ao número de homicídios registrados anualmente no País. O dado — que aponta uma mortalidade superior até mesmo a conflitos bélicos — é um dos elementos que impulsiona uma luta não só contra o Estado que mata, mas pela vida.
“Tentam jogar como o foco [dos problemas] na periferia, mas não é não. Nós sabemos que o maior bandido é o sistema e nós temos que derrubá-lo (...). É preciso também assumir que vivemos em um País genocida, no qual a juventude quer viver. A juventude quer viver com oportunidade.”

A voz de Débora encontra um eco ainda maior neste momento de luto no Rio de Janeiro, onde cinco jovens morreram fuzilados por policiais militares há uma semana. Foram 111 disparos pelas armas de quatro PMs, que podem ser expulsos da corporação.

A líder do movimento Mães de Maio ainda sugeriu durante a entrevista, concedida durante a abertura da exposição Setembro Verde: Jovem Negro Vivo, promovida emSão Paulo pela Anistia Internacional, um tripé de ações governamentais que podem ir ao encontro das reais causas da violência no País: igualdade social, desmilitarização da polícia e mais educação. “Só com justiça teremos paz”, sentenciou.

Acompanhe os melhores momentos da entrevista:
HuffPost Brasil: A relação do movimento Mães de Maio com a Anistia não é recente, certo? Qual é a importância de uma exposição como essa, que se debruça sobre a violência que vitima tantos jovens no Brasil, sobretudo os negros e pobres?

Débora Maria da Silva: Fomos descobertas pela Anistia Internacional em maio de 2006. Nós fizemos um trabalho com a Anistia Internacional. Antigamente, eles vinham de três, quatro meses, ou quando tinha algum fato emblemático no Brasil. Então eles vinham e faziam visita e depois se retiravam para o país deles. Nós lutamos com a Rede Contra a Violência, do Rio de Janeiro, para que tivesse um escritório da Anistia no Brasil, porque as violações de direitos humanos eram uma constante nas periferias. E conseguimos. Quando conseguimos, fomos agraciadas com esse relatório, que foca muito em Acari (RJ). A gente tem como exemplo as Mães de Acari, foi pioneira no Brasil. Foi mais do que legítimo eles virem e focarem em Acari.

Nós fizemos um trabalho muito grande contra a impunidade dos casos de Acari. O movimento Mães de Maio parou a Linha Amarela e a Linha Vermelha, no Rio de Janeiro, junto com a Rede Contra a Violência para que os casos de Acari não caíssem [no esquecimento]. Estava perto de prescrever, e a gente não podia aceitar que várias mães, que morreram esperando essa justiça, e que poderia servir de exemplo. Achamos melhor fazer um ato em memória dos meninos, dos adolescentes, e reforçar que essas mães tivessem um pedaço de papel, mas que para elas é muito significativo, que eram os atestados de óbito. Conseguimos alguns, outros faltam porque estão naquela burocracia, a gente vê que se comemorou este ano 25 anos dos casos de Acari e, de lá para cá, a violência se estendeu e segue muito grande. É muito importante ver uma organização como a Anistia Internacional abraçando o combate às violações de direitos humanos no Brasil, que são uma vergonha.

Quando a gente vê uma exposição dessa, a gente se enxerga nela. Fomos ao Rio na apresentação dessa exposição e vimos com muita riqueza esse relatório. Ele também representa o movimento Mães de Maio porque somos uma família de mulheres, viúvas e órfãs dos seus filhos. Quando temos nossos filhos, eles são nossos companheiros, nossos amantes, tudo além de um filho. E vê-los, dar visibilidade de um grupo desses para a favela, para periferia... É seguir porque não vai parar em Acari, não vai para no Rio de Janeiro. A gente já está com esse mesmo relatório, será divulgado um aqui de São Paulo, em maio de 2016, que foi um pedido que fizemos para a Anistia, que é parceira das Mães de Maio.
Tivemos uma CPI na Câmara e temos outra no Senado. Em comum, ambas se propuseram a debater e investigar a violência que no Brasil mata tantos jovens negros. Que avaliação a senhora faz desse movimento parlamentar? Acredita que pode gerar algum fruto a curto, médio e longo prazo?

Eu não me iludo com isso. Eu acho que as CPIs são mais pelo partidarismo. A gente teve a primeira CPI, da Câmara dos Deputados, que dá no seu relatório final que o genocídio [de jovens negros] no Brasil é simbólico. Como simbólico, se o Brasil é produtor de 56 mil ‘Mães de Maio’ por ano? Então foi uma CPI que o relatório, antes de ser entregue, já estava estragado. Geralmente essas CPIs viram ‘pizza’, e a do extermínio do jovem pobre, preto e periférico como a da Câmara também foi estragada porque eles montaram [o relatório]. Aquele meu depoimento que lá consta não foi legítimo, mas fui convidada a depor, mas tinha deliberado no coletivo que se não fossem todas as mães não iria nenhuma, até porque cada caso é um caso. Se é uma CPI que quer se aprofundar, que quer trazer Justiça para essa população, ela não pode diminuir as mães. Todas elas são iguais. Eles montaram como se eu tivesse prestado depoimento, mas eu não prestei. Faltou esse depoimento do único grupo, o Mães de Maio, que faz esse enfrentamento contra a violência do Estado, de mulheres que muitas vezes são até criminalizadas pelo Judiciário, e pelo próprio Estado como "mãe de facções criminosas".

Mas a nossa visão do coletivo é que não importa se seu filho é um bandido, não importa se seu filho é um policial, não importa se seu filho é um trabalhador, o que importa é que é uma mãe que perdeu um filho e a gente absorve. A gente não tem frequentemente mães de policiais, mas teve uma esposa de um policial que veio em fuga do Pará. Ele era muito violento, e nós a acolhemos. Temos no nosso grupo uma mãe e avó carcereira, ex-agente carcerária, que nós aceitamos, e temos ainda mães de meninos que passaram pelo sistema. Não interessa. O que interessa é que no nosso Brasil não tem pena de morte. Se há um menino que passou pelo sistema, ele tem que ser julgado pela Justiça, e não o Estado fazer justiça com as próprias mãos, decretando a pena de morte. Isso está mais do que garantido nas periferias e nas favelas.
Fomos convidadas também para participar da CPI do Senado, e essa vem à tona porque fizemos uma audiência pública e tomamos conhecimento que tinha a PEC 51, que é a da desmilitarização [das polícias] e que é a "menina dos olhos" do movimento Mães de Maio. Nós provocamos essa audiência... Quando fomos convidadas para essa CPI, vimos ela montada, nós vimos os integrantes com um olhar diferente. Essa CPI não é uma que vai cair no esquecimento, se tornar uma ‘pizza’. Eu acho que ela pode se tornar algo produtivo contra as violações dos direitos humanos e do direito fundamental, que é o direito à vida. Essa CPI, ela veio para legitimar que há uma necessidade de desmilitarização da polícia. Estamos falando e essa CPI está averiguando a violência policial. Vai ser um relatório de uma violência de um lado e de outro, tanto da parte de policial que é vitimado, que já colheram depoimentos, trazendo um olhar diferente para que possamos avançar na desmilitarização da polícia, que é necessária.

Desmilitarizar a polícia é a resposta, é isso que a senhora está afirmando então?

Sim, a gente não pode aceitar ter uma polícia partidária. A segurança no nosso País serve aos governos, são eles quem têm o controle dessa insegurança, essa é a palavra mais certa. Então a gente vê duas realidades: uma polícia no Estado de São Paulo, que tem o governo de um partido (PSDB), e a gente vê uma polícia lá em Salvador (BA) que é do mesmo partido do governo federal (PT). Mas a violência é igual, então se é um governo de esquerda em Salvador e acontece um extermínio maciço, então tem alguma coisa errada. O único caminho é que, se dizem que nós vivemos em um Estado democrático de direito, nós temos de conviver com uma polícia militarizada. Essa palavra "militar" torna difícil não dizer que a ditadura continua aí.
Temos que acabar com esse ‘câncer’ que é a Polícia Militar. E eu falo da Polícia Civil também, que possui um regime militarizado. Temos um conjunto para acabar com a violência no País: desmilitarizando as polícias; a reforma do Judiciário, que é como um ‘efeito dominó’ no qual o Judiciário contribui para democratizar a sociedade. Os dois, essas duas células, elas conseguem aparelhar a democratização da "mídia bandida", que também produz a violência aos pobres negros e periféricos.
Nós temos aqui em São Paulo um cenário político que pode ter figuras mais conservadoras e não tão favoráveis aos direitos humanos nas eleições de 2016. Isso lhe preocupa?

Vejo com preocupação. É preocupante o desenho do cenário político do nosso País, mas depende de nós. Vejo também a necessidade dos próprios militantes de dar aulas públicas. A nossa periferia, na qual somos a maioria, é analfabeta política. Quando a gente vai tratar de discurso político dentro da periferia, a periferia não entende que não é discurso político partidário, não consegue diferenciar, e isso é uma necessidade que as Mães de Maio, ocupando esses espaços, busca democratizar. Dentro da periferia é onde está a resistência maior da redução da maioridade penal, de pedir prisão, e falar para matar por causa de uma carteira ou de uma bolsa, e é essa falta de cultura política. Entendeu?
Isso mostra que aquela famosa tese de alguns setores da sociedade no País de que "bandido bom é bandido morto" não escolhe classe social. Como a senhora se sente quando se depara com alguém fazendo tal afirmação?

Foi isso que, em uma audiência pública que fizemos em Osasco (SP), o comando-geral [da PM de São Paulo] estava lá e ele veio falar que dá aula de direitos humanos, mas a aula de direitos humanos dele é ‘bandido bom é bandido morto’. A gente está em um cenário cheio de bandidos de farda, como eles mesmo estão sustentando. Será que nesse caso ele tem o mesmo discurso? Qual é o bandido bom para ser morto e de qual lado? Então eu acho que temos que ter uma igualdade para ver qual é o bandido bom que é bandido morto. O bandido bom é o vivo, que vá pagar pelo seu erro. Ele tem que pagar pelo seu erro, mas não da forma que eles tentam trazer à tona.

Se há essa discussão e esse clamor tão grande, então seria preciso começar a discutir a implementação da pena de morte no Brasil. É necessária a pena de morte no Brasil então, porque hoje ela está camuflada. Bandido bom é bandido morto não é só para periferia. Vemos bandidos de colarinho branco roubando os nossos recursos, sou uma cidadã que paga os seus impostos, e vejo esses servidores que deveriam dar segurança para nós, para os nossos filhos, sem fazer isso. Eles dão segurança e conduz essa prática de ‘bandido bom é bandido morto’ quando na realidade os bandidos são eles. O verdadeiro crime organizado que deveria ser extirpado é o Estado.
Eles tentam jogar como o foco [dos problemas] a periferia, mas não é não. Nós sabemos que o maior bandido é o sistema, e nós temos que derrubá-lo.

Acompanhando o trabalho do Mães de Maio, percebi que o Massacre do Carandiru é uma pauta presente...

O Massacre do Carandiru iria prescrever e nós, como mães, achamos melhor ocupar o espaço onde foi concretado. Pessoas que andam por ali de bicicleta, de patins, não sabem o que há por baixo daquilo, várias vidas ali acobertadas pelo Estado. Quando a gente via as rebeliões e os massacres dentro do Carandiru, dentro do sistema prisional, ele saiu após o Carandiru e passou para a periferia. Eles tentaram esquecer aqueles meninos que estavam tutelados pelo Estado. Então é necessário que a gente lembre dos nossos mortos. Os vivos devem se lembrar dos mortos. O Massacre do Carandiru foi para nós um dos maiores massacres já vistos no País. Foi vergonhoso. Nós não vamos deixar que isso passe em branco. Por mais que tenhamos feito pressão e eles tenham sido colocados no banco dos réus, a gente não conseguiu colocar lá o mandante. É algo comum aqui no Brasil.
Estive no julgamento do Massacre do Carandiru e, de fato, o ex-governador [Luiz Antônio] Fleury não foi processado, apenas prestou depoimento.

A gente tem que começar a exigir que os mandantes paguem pelos seus erros. A gente não conseguiu, mas eu acho que o Coronel Ubiratan teve aquilo do ‘com ferro fere, com ferro será ferido’, e teve o que ele almejou para ele mesmo, até porque foi ele quem causou tudo aquilo. Da mesma forma que quem foi apontada como responsável pela morte dele também não deu em nada. Mas não desejava isso para ele porque eu sou a vida, eu sou mãe. Queria só que ele pagasse pelo erro dele dentro do sistema, para ele sentir o que ele fez para aqueles meninos. Não foram só 111, foram mais, tudo acobertado pelo Estado, foram mais de 300 segundo depoimentos dos sobreviventes. O que a gente lembra do Massacre do Carandiru... Vamos levar eternamente enquanto estivermos vivas, e para lembrar sempre o que o Estado de São Paulo fez com esses jovens tutelados por ele.

Em 2016, os Crimes de Maio completam dez anos. Haverá algum tipo de mobilização especial do Mães de Maio?

Sim. Estamos pleiteando um memorial no quilombo do Jabaquara. Já tem uma conscientização por parte da Secretaria de Direitos Humanos e pela Secretaria de Cultura Municipal... Tem que vir deles. E mudança de nomes de ruas, mas simbolicamente é o memorial. Porque quando temos os corpos dos nossos filhos de 11 de maio de 2006 preservados em Santos (SP). Se a gente vai ter o memorial em Santos dado pelo prefeito que é do PSDB, de um partido de direita, por que a gente não vai ter um memorial aqui em São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores, que é um partido de esquerda? A gente exige que São Paulo faça esse reconhecimento.
Imagino que já tenham estado em contato com o secretário Eduardo Suplicy...

Já cobramos do prefeito [Fernando] Haddad em uma audiência pública, da Comissão da Verdade lá no Capão Redondo, mas a gente está barrada pelo fato de que o Haddad não agenda [um encontro] com as Mães de Maio. Desde maio, que teve essa audiência, estamos esperando até agora e ele não traz uma agenda para discutirmos essa desburocratização do quilombo. O governo federal também não reconhece aquelas terras como quilombo e nós reconhecemos. O túnel que existia lá, foram resgatadas conchinhas do mar lá, está em sintonia o quilombo do Jabaquara com o quilombo de Santos. E nos identificamos ali porque o Estado matou aqui e matou em Santos. Então nós vamos eternizar ali.

Qual o tamanho do movimento Mães de Maio hoje? A senhora tem esse número?

Nós representamos 56 mil Mães de Maio no Brasil, mesmo aquelas que não são ouvidas. O grito é por todas.
A organização é coletiva e sem o apoio, por exemplo, de partidos políticos? Não há interesse a se aliar a algum de ideologia próxima ao pensamento do movimento?

O movimento Mães de Maio não aceita apoio partidário. O apoio que vem partidário vem por exigência do grupo [em demandas]. A Mães de Maio não aceitam siglas partidárias porque é a briga entre elas que produz o genocídio no nosso País.

Tivemos recentemente chacinas em Osasco (SP), Barueri (SP) e Carapicuíba (SP). Em todas, policiais militares estão envolvidos. A senhora ainda acredita que, como diz o governo estadual, não existam grupos de extermínio em São Paulo?

O governo tem que afirmar que não existe grupo de extermínio e renegar isso, afirmando que não existem milicianos ou ex-policiais. Eles se tornam isso sim, eles trabalham o capital. Chegou a hora de cair a máscara do Estado. A gente vê chacina em efeito dominó todo final de semana. É corriqueiro desde maio de 2006. Não tivemos mais paz, as famílias não têm mais paz. A gente exige que o governo venha a público e admita: "desculpe, nós erramos". Porque ele afirma, por meio do secretário de Segurança [Alexandre de Moraes] que existe o envolvimento de policiais nas chacinas de Osasco e Barueri. Os projéteis, já ficou demonstrado, foram comprados pelo Exército e pela PM. Como renegar que não existe grupo de extermínio? Geralmente eles falam, e eu disse ao comandante que não existem ex-policiais. Por mais que eles tragam um número de 180 policiais expulsos, eles não fazem o controle do bandido que eles produzem e jogam na rua.

Não faz muito tempo que o próprio governador Geraldo Alckmin apresentou dados que apontavam para mais de 300 policiais só neste ano.

Acho que a nossa reflexão é que, quando a gente vê que um governo assume que expulsou, então é bandido fardado. Ele tem que ir para o sistema comum. Hoje eles expulsam e o policial vai para o [presídio] Romão Gomes. Sem isso, a gente com certeza acabaria com a impunidade. Teríamos formadores de opinião. O governo tem que parar com esse discurso de ‘caô-caô’, ele tem que mostrar que tem uma segurança pública da qual ele tem controle, o que não vemos hoje. Eles foram obrigados, por esse mesmo governo, a ir para a rua e matar em maio de 2006, acobertados pelo Ministério Público da capital. Quem estava atrás e quem está na direção da Secretaria de Segurança Pública é alguém do Ministério Público, o que não deveria acontecer. Há um corporativismo, com o qual a gente se depara, com o Ministério Público parabenizando pela eficiência da polícia em maio de 2006, restabelecendo a ordem. Que ordem é essa? Ir para periferia matar os nossos filhos porque era um ano eleitoral e era preciso mostrar que ele tinha controle do crime organizado? Foi ele quem produziu o PCC dentro dos presídios a base de achaque.

Por favor, gostaria que a senhora deixasse uma mensagem final aos que desejam um Brasil menos violento, que não permita que os Crimes de Maio se repitam.

A mensagem que eu deixo para a sociedade é que a burguesia depende do medo, mesmo eles escravizando em suas áreas de atuação. A escravidão não acabou. O Brasil, para acabar com essa violência, precisa de reparações aos negros e trazer os negros a um patamar de igualdade social. O País deve muito a esse pigmento. E quando não tem esse olhar, vem a desigualdade que é prática frequente, e é preciso também assumir que vivemos em um País genocida, no qual a juventude quer viver. A juventude quer viver com oportunidade.
Ser pobre não é crime, e para matar no Estado de São Paulo, eu falo da geografia do meu Estado primeiramente, que não basta ser negro, basta ser pobre. Então não aceitamos que sendo pobre, sendo negro, sendo branco, sendo rico, ele veio de uma mulher que produziu a vida. Exigimos o direito da juventude que quer viver. Não matem o nosso futuro. Deem igualdade, deem educação de qualidade. Apliquem na educação e na desmilitarização da polícia que nós vamos acabar com mais de 99% da violência no nosso País. O Estado é que é violento, não é a população pobre, negra e periférica. Ela não pode ser protagonista para não ter reparação. Chegou a hora do nosso País reparar os negros, reparar a desigualdade, para a gente tentar conseguir um País de paz. Sem justiça não haverá paz.
Pelo otimismo da senhora em suas palavras, o caminho para a revolução está posto, não?

Eu acredito que as mães são as verdadeiras revolucionárias. A revolução não aconteceu, ela ainda está para acontecer e o que nós vemos no Rio de Janeiro a gente vê, se há periferia, se a favela tomar a cidade, todos correm para o lugar da periferia, mesmo sendo a burguesia. Eles não estão garantidos em seus arranha-céus feito com o suor do negro e do pobre.