ou “Como superar o medo da eterna ameaça golpista”
Os articuladores do impeachment possuem menos convicção no projeto do que a mídia corporativa permite saber. Nenhum dos cenários possíveis é isento de riscos para as pretensões oposicionistas, e a acomodação de interesses está longe do consenso.
Um governo-trampolim ao estilo Itamar Franco (Michel Temer presidente e um tucano em ministério forte) pode afundar a carreira política de Temer. Ele ficaria com a pecha de traidor, uma crise para administrar e um exército de oportunistas cobrando a fatura. Tudo isso para servir ao sucesso alheio, na melhor das hipóteses, em 2018.
A troca geral de comando no Planalto agraciaria Eduardo Cunha ou Renan Calheiros,ambos suspeitos de ilegalidades. Eles podem renunciar a qualquer momento, evitando um processo no STF. A chance de Ricardo Lewandowski virar presidente não grada ao chefe da corte e muito menos aos nobres deputados e senadores.
No PSDB, só Aécio Neves quer novas eleições agora. A cúpula do PSDB tem motivos para recear uma derrota e sabe que herdar um governo derrubado sem motivos justos traria responsabilidades imensas para o partido. Especialmente com a Lava Jato roçando os esqueletos tucanos.
Em todos os casos, o PT deixaria o protagonismo negativo, fazendo o papel duplo de vítima e oposição, acenando com as imbatíveis conquistas dos anos Lula. A deposição poderia virar uma blindagem para a impopularidade e os equívocos de Dilma Rousseff.
Essa perspectiva aumenta a importância dos próximos atos públicos da esquerda. As recentes manifestações vermelhas anteciparam que podem sepultar o impeachment. Basta agora mostrar um pouco mais de organização e unidade, que as alas pragmáticas do golpismo abandonam as vertentes aventureiras e Dilma termina o mandato.
Pouco importa o viés antigovernista dos setores reivindicatórios, apesar do que diz o colunismo tucanóide (“o governo abandonado!”). A pressão social mostrará o que os futuros administradores precisariam enfrentar depois do impeachment. Com Lula, Ciro Gomes e outros líderes em plena campanha sucessória.
Continuo incrédulo com o mito heróico da resistência popular: golpe se previne ou se lamenta. As próximas ações da militância indicarão qual dos dois caminhos o país tomará. Mas precisamos sempre lembrar que as perspectivas políticas da esquerda são mais complexas e variáveis do que essas dicotomias sugerem.
http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br/2015/09/o-futuro-do-golpe.html
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