terça-feira, 8 de outubro de 2013

O traficante, o populista e o repressor!



O documentário Dançando com o Diabo mostra a complexidade das favelas cariocas na visão de três personagens ligados diretamente ao tráfico de drogas: um pastor, um policial e um traficante.

Produção estrangeira de 2008 acompanha o cotidiano de Aranha - chefe do tráfico da Coréia/RJ, delegado Leonardo Torres - policial marombado da Delegacia de Repressão aos Narcóticos - e Pastor Dione – Assembleia de Deus.

Aqui, nesse texto, não pretendo fazer uma reflexão sobre o documentário em si e muito de menos analisar como a realidade é tratada nesse documento audiovisual, mais sim usar os depoimentos e as histórias do filme para constatar fatos e reforçar alguns argumentos.

Os traficantes de uma forma geral, apesar de praticar atos covardes - e não poderia ser diferente, veja o nível cultural e de conhecimento que eles apresentam em suas falas - e de ter uma consciência de resistência adquirida num meio caótico e selvagem, logo não é o meio e muito de menos a resistência ideal da classe trabalhadora, conseguem ter uma consciência de classe oprimida em processo de resistência ao sistema, embora torta e confusa, muito mais progressista do que os policiais, os ditos trabalhadores oprimidos que estão a serviço da sociedade de bem e que são tratados como heróis pelo senso comum de classe média de nosso país.

Em nenhuma hora há críticas ou um processo de autocrítica por parte dos policiais em relação à repressão policial nas comunidades e muito de menos em relação ao papel da polícia num sistema de opressão e da luta de classes que temos na atualidade.

No entanto isso aparece quando a voz é dada aos traficantes. Além disso, os traficantes não costumam dividir a sociedade entre “bons” e “ruins”, vê o processo como natural em termos de resistência e opressão.
Se os policiais são oprimidos e vítimas da violência como se dizem por que não tem uma consciência de resistência como tem os traficantes? E se compararmos com os traficantes estes tem meios e instrumentos para conseguir enxergar além da "linha de tiros" (melhores escolas, acesso a lugares e diversas culturas. Enfim tem mais conhecimento de forma geral) que os segundos não têm. O traficante passa a maior parte preso em uma favela, circulando por alguns KM².

As justificativas dos traficantes para estar no crime e praticar atos de resistência são por necessidade, sobrevivência e por vai. Mais repare bem: as necessidades sempre estão relacionadas com a família e com a comunidade. Essas são as mesmas necessidades, ou parecidas, que levaram a classe trabalhadora a derrubar regimes e fazer revoluções. Como exemplo cito a Revolução Francesa e Revolução Russa quanto à temática luta por pão e luta contra a fome.

O pastor, talvez, seja entre os três personagens com segundas intenções. A Igreja faz um trabalho de assistência social sim, mais o objetivo não é humanitário. O economicismo está na consciência de resistência do traficante, não aparece quando personagem é o policial. E, embora camuflado, pode se encontrar muito bem na figura do pastor.

Parece que para o investigador a questão é ideológica, ou seja, uma causa sentimental em favor de uma sociedade pacificada de forma geral. Os depoimentos reforçam falta de conteúdo crítico dos policiais em suas incursões nas favelas. Em outras palavras: reforça elementos presente em movimentos fascistas que a polícia é acusada de ter como princípio. Mais essa ideologia dos “homens da lei”, ou seja: combater o mal em nome do bem é elemento principal para manter o sistema de opressão, repressão e exploração em funcionamento quanto se trata de comunidade sem cidadania, tráfico de drogas e ordem social de uma sociedade de classes.

Mais é no pastor que o objetivo, travestido de causa humanitária, é mais economicista. E o cara que é apresentado como elemento imparcial, mais é na verdade um populista. Um cara que ganha, e muito, com a situação atual. Talvez, mais que o policial de elite, que ao contrário do pastor, não tem laços com comunidade.

Em resumo, o traficante vive, resiste e sobrevive. O policial é um elemento externo, que não tem quase nada a ver com a comunidade afetada, que age sem senso crítico e em nome de uma política sistemática recheada com uma cobertura ideológica das classes dominantes. O Pastor, embora pertencente à comunidade, é o cara que ganha – poder, influência e dinheiro. Não teria sucesso sem a situação caótica que se tem.

Documentário completo:


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