sábado, 20 de fevereiro de 2010

O baile de Lula

A Folha de São Paulo deve estar se mordendo de inveja da entrevista que Lula concedeu ao jornal que lhe faz uma oposição muito mais cerrada e que, à diferença do diário da Barão de Limeira, assume-se como corporativo que é ao praticamente não dar espaço em suas páginas aos seus “adversários” intelectuais na política, sejam dos partidos ou meros leitores.

A esta altura, todos já leram ou ouviram a entrevista que o presidente deu ao Estadão.

Quem só leu o material, porém, perdeu muito, porque a transcrição não foi integral e assim, até por conta da entonação das palavras, não poderá captar o tom do que aconteceu no que, a meu ver, não foi uma entrevista, mas um debate, de maneira que não irei me ater tanto ao conteúdo desse debate, mas ao fato político em si.

E o fato político é o seguinte: cinco jornalistas “cobras-criadas” não conseguiram encurralar o presidente nem uma só vez, sem falar que ele lhes deu várias aulas sobre vários assuntos e um certo número de lições de moral.

Mas, para não dizerem que não falei de flores, querem saber qual foi a resposta que mais gostei entre as muitas que o presidente da República deu ao jornalão paulista do alto de todo o brilhantismo de seu enorme português coloquial? Foi esta:


Estadão – Há quem tenha ficado assustado com a foto do sr. abraçando o Collor, depois de tudo o que passou na campanha de 1989.

Lula – O exercício da democracia exige que você faça política em função da realidade que vive. O Collor foi eleito senador pelo voto livre e direto do povo de Alagoas, tanto quanto foi eleito qualquer outro parlamentar. Ele está exercendo uma função institucional e merece da minha parte o mesmo respeito que eu dou ao Pedro Simon, que de vez em quando faz oposição, ao Jarbas Vasconcelos, que faz oposição. Se o Lula for convidado para determinadas coisas, não irá. Mas o presidente tem função institucional. Portanto, cumpre essa função para o bem do País e, até agora, tem dado certo.


De resto, mesmo que não deixassem Lula concluir suas idéias sem interrupção, que debatessem com ele em vez de perguntar, ele os calava com a propriedade de suas palavras várias e várias vezes. Quando tentavam rir das ironias que acreditavam estar fazendo, o presidente os acuava com assuntos nos quais têm que usar luvas brancas, como FHC ou as privatizações.

Lula disse tudo. Levou o “bambambam” Ricardo Gandour à loucura ao dizer na cara dele que o Estadão não tinha sustentação jurídica para suas acusações a Sarney e que não havia censura nenhuma. O homem não parava de gaguejar.

O presidente ainda me esbanja tranqüilidade e confiança ao minimizar a culpa de Serra e de Kassab quanto às enchentes justo no momento em que os dois estão perdendo popularidade por conta do caos em São Paulo

Lula, meus caros, recusou-se a chutar adversários caídos, adversários que usam capangas para agredi-lo com virulência, fazendo até acusações como a daquele “filho do Brasil” lá da Folha, uma acusação que me fez colocar uma centena de pessoas diante do jornal no fim do ano passado para dizer umas poucas e boas àquela gente pelo desrespeito ao mínimo de ética no debate político.

Enfim, quero lhes dizer que em um dia em que andava meio desanimado, o show que Lula deu nesse debate (ou seria bate-boca?) com o Estadão me fez lembrar o por que de eu ter criado este blog, ou seja, por Lula ter me mostrado que um homem comum pode, sim, vencer barreiras supostamente intransponíveis e fazer a diferença.

Claro que jamais chegarei à sola do sapato de alguém como Lula, mas ele mostrou a todos os homens simples do povo que qualquer um tem o dever de tentar porque qualquer um pode vencer. No fim, tudo se resume àquela receita que Dona Lindu deu ao filho e que o filme sobre a vida desse fenômeno político mostrou recentemente: há que “teimar”.



Escrito por Eduardo Guimarães

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