por Sérgio Malbergier, na Folha Online
O maior erro da oposição venezuelana, e a concorrência ao título é enorme, foi o boicote às eleições de 2005. O resultado foi um controle total do Legislativo, armação perfeita para o golpe constitucional chavista.
Oposição fraca geralmente significa democracia fraca. No cenário mais extremo, a oposição no Brasil pode virar residual em 2011 se José Serra não concorrer à Presidência.
As coisas já estão pela hora da morte. A prisão de José Arruda é outro prego no caixão do DEM, que um dia sonhou ser a direita renovada de que o país precisa.
O PSDB é um bloco de vaidosos desunidos, sãopaulocêntricos, indefiníveis (direitistas de esquerda ou esquerdistas de direita?), sem pose e sem discurso diante do sucesso estrondoso de Lula.
Mas o PSDB tem um candidato presidencial forte, José Serra, que, por recall, méritos ou algo que não sabemos, ainda lidera as pesquisas, mesmo fugindo da campanha e enfrentando uma máquina federal com força nunca antes empregada nesta nova República.
Estrategista, cerebral, Serra calcula que não precisa entrar na chuva para se molhar agora, com Lula e Dilma loucos por briga até para que a neopetista apareça e cresça.
Serra hesita, cheio de razões: a megapopularidade de Lula, a economia virtuosa, a fraqueza da oposição, a supermáquina federal.
A decisão é difícil para quem tem como quase certo mais quatro anos no Palácio dos Bandeirantes, a segunda cadeira mais importante do país.
A desistência de Serra transforma Dilma em favorita máxima, se já não o é. Abre também caminho para um segundo turno Dilma-Ciro e outras conseqüências sísmicas --uma Venezuela 2005 à brasileira, com a oposição, se não sumida como lá, pequena o suficiente para dar a PT e aliados maioria mais do que qualificada, capaz de desviar o país do consenso atual, tão tardio quanto essencial.
Pousou carcará no Palácio dos Bandeirantes. Se correr, o bicho pega, se ficar, ele come.
* Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo.
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