quinta-feira, 8 de julho de 2010

Parem as máquinas

Carlos Brickmann, Observatório da Imprensa / Circo da Notícia

“Já foi, e por muito tempo, o melhor jornal do país. Já foi, e por várias vezes, o mais inovador jornal do país. Já foi, durante muitos anos, o exemplo maior do jornalismo, aquele jornal com o qual todos gostariam de se comparar.

Já foi.


O Jornal do Brasil, um dos mais tradicionais jornais brasileiros, estuda a possibilidade de suspender sua edição impressa e ficar apenas na Internet. Seus compromissos, que beiram R$ 1 bilhão, são um peso difícil de carregar. É mais um marco do declínio do jornal que já completou 119 anos de existência. A agonia vem de longe. Um grande jornal morre décadas antes de deixar de circular.

O JB sempre se caracterizou por sua gente notável. Teve diretores como Odylo Costa, filho, Janio de Freitas e, especialmente, Alberto Dines, que transformou o jornal em benchmark – um produto a ser imitado em todo o país. Lá estiveram José-Itamar de Freitas, que depois, por anos, comandou a fase áurea do Fantástico; Murilo Felisberto, que criaria o Jornal da Tarde; Oldemário Touguinhó, que do Rio publicava furos sobre furos a respeito da carreira do santista Pelé; Fernando Gabeira, Ewaldo Dantas Ferreira, Carlos Lemos, Luiz Orlando Carneiro, Ricardo Kotscho, Luiz Paulo Horta, Zózimo Barrozo do Amaral, Rolf Kuntz, Ricardo Boechat, Ricardo Setti, Augusto Nunes, Guilherme Miranda, Regina Guerreiro, Laerte Fernandes, Maurício Kubrusly, José Nêumanne Pinto, Eurilo Duarte, Yan Michalski, Ebrahim Ali Ramadan – que iria transformar Notícias Populares num jornal popular lendário. Havia Bernardo Lerer, um dos poucos que ainda podem chamar o presidente Lula por seu antigo apelido, "Baiano". E Benjamin Steiner, diretor de Sucursal, marchand, jornalista – mas suas melhores histórias, perdoem-me os colegas, não dá para contar em público. Na família de seus proprietários mais famosos, os Pereira Carneiro, figura Albert Sabin, o criador da vacina Sabin, que erradicou a poliomielite.

A esplêndida equipe do JB fez um jornal tão carioca que se transformou na voz de todo o Brasil.

O jornal mais influente do país perdeu poder à medida que sua situação financeira piorava e seu principal concorrente na cidade, O Globo, impulsionado pela Rede Globo, ganhava fatias de seus mercados, especialmente na área em que sempre foi predominante, a de anúncios classificados. No início dos anos 2000, o JB cedeu a marca à Docas, do empresário Nelson Tanure, mudou o formato para berliner, cortou drasticamente os custos. Nada adiantou – e agora vem a má notícia do provável fim da edição impressa. Falou-se também em fechar tudo. Tanure nega. Mas a Gazeta Mercantil, também arrendada por ele, parou de circular.”

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