Eles ganham milhões! E também as corporações que patrocinam e as TVs que transmitem os jogos. Ainda que eliminados, retornam aos seus clubes milionários. Recebem em euro e dólares. Cada vez mais seus contratos alcançam cifras astronômicas. Seus patrões lucram ainda mais. Eles são os ídolos das torcidas em times que mais parecem uma constelação de nações. Futebol é mercadoria. Ainda assim, torcemos por eles e depositamos em seus pés (cabeças e mãos) as nossas esperanças. A vitória deles é a nossa vitória; sentimos a derrota como se fosse nossa.
Onze homens em campo parecem sintetizar os sonhos, alegrias e tristezas de uma nação. Diluem-se as diferenças de classe, esquece-se a realidade das injustiças e desigualdades sociais entre os indivíduos e as nações. O patriotismo fala mais alto. Brasileiros, torcemos pela nossa seleção e a favor e contra outras nações, especialmente contra los hermanos argentinos. Se eles se rejubilam com a nossa derrota, nos alegramos com a eliminação deles. Alguns dizem, jocosamente, que perdemos, mas não de quatro. Eles também ironizam: “Brasil 2014!”, foi a manchete do Olé, principal jornal esportivo argentino.
A ironia foi frustrada pela adoção do discurso “Brasil 2014!” na mídia tupiniquim. Os patrocinadores “nacionalistas”, uma certa marca de refrigerante e outra de cerveja que transformou os jogadores da seleção canarinho em “guerreiros, já tinham o “Plano B”. No mesmo dia da eliminação do escrete brasileiro já veicularam os vídeos com mensagens reconfortantes e o adiamento do sonho do hexa para 2014. A farsa “nacionalista” de multinacionais que, em épocas como esta parecem mais patrióticas do que os mais ferrenhos patrícios, passa despercebida. O capital não tem nação, mas interesses. Isso não tem qualquer importância para o nacionalismo de chuteiras que se manifesta com toda a sua pujança de quatro em quatro anos.
O futebol é o ópio do povo; é alienação! O indivíduo racional afirma-o. Se pararmos para refletir, ele tem razão. Não obstante, o choro e a tristeza dos nossos “guerreiros” é comovedor! A despeito de tudo, eles parecem sinceramente sentidos pela derrota. Falam como se representassem a nação, o povo brasileiro. Choram porque falharam em dar alegria a este povo que tanto os idolatram, ainda que com algumas rusgas num ou noutro caso. Esse comportamento é o esperado – nos choca a frieza dos que não sucumbiram ao clima pós-derrota.
A catarse é compartilhada pelos torcedores. As imagens mostram adultos e crianças em lágrimas. Como permanecer insensível? A emoção vem à tona. Eis o mistério do futebol: mobiliza emoções. E emocionar-se também é próprio do ser humano. Fossemos apenas racionais não assistiríamos sequer a um único jogo da Copa do Mundo. Vejo as imagens e compreendo as reações dos que sofrem. Também sou um desses milhões que, racional e emocionalmente, vive intensamente este momento. Estou entre os alienados, como dizíamos na década de 1980! Não choro, mas entristeço-me. Desligo a TV, ligo o computador e a vida retoma a sua rotina.
Na verdade, mesmo os desesperados não podem dar-se ao luxo de alongar a purgação. O trabalho, os estudos, a vida real, etc. são imperativos. Até porque não ganham os eurodólares que os “guerreiros” recebem; nem têm qualquer participação nos lucros dos anunciantes e das redes de TV que vendem o ópio. Este, não é gratuito; pagamos por ele ao consumir os produtos anunciados.
Por fim, ainda nos resta torcer contra os inimigos imaginários, nos alegrarmos com a derrota deles e adiar o sonho que nos vendem – e compramos – para 2014. Não chore, é apenas um jogo de futebol!Afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca!
blog do Ozaí
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