quarta-feira, 30 de novembro de 2011


Porta-voz do WikiLeaks analisa as estratégias da organização e os impactos que sua atuação vem causando no mundo

Igor Felippe Santos, João Brant, Maria Mello e Pedro Carrano / Brasil de Fato

Regido pelo princípio de que a livre circulação de informações emancipa os povos para que empreendam suas lutas, o WikiLeaks – organização responsável pela divulgação de documentos confidenciais que revelam a má conduta de governos, empresas e organizações no mundo inteiro – chegou a tornar públicos, até dezembro do ano passado, cerca de 250 mil documentos diplomáticos estadunidenses. Por sua luta, tem sido penalizado por grandes conglomerados financeiros, como Mastercard, Visa, American Express, Bank of America etc., que têm bloqueado a transferência de doações feitas por simpatizantes no mundo inteiro, por meio de seus cartões de crédito. Apesar da tentativa de miná-la, a organização continua ativa e recebendo doações. O jornalista investigativo islandês Kristinn Hrafnsson, seu porta-voz, falou sobre o assunto ao Brasil de Fato, durante sua participação no I Encontro Mundial de Blogueiros, realizado entre os dias 27 e 29 de outubro, em Foz do Iguaçu, no Paraná.

Brasil de Fato – Como você chegou ao WikiLeaks?

Kristinn Hrafnsson – Depois de trabalhar mais de 20 anos com jornalismo, tornava-me mais e mais exasperado com o fato de os jornalistas não estarem cumprindo com seu papel de expor a má conduta dos governos. O jornalismo é reflexo do que acontece na Europa e nos EUA, com a noção errada de objetividade. Os jornalistas se impõem uma castração quando vão cobrir os fatos, sob o pretexto de uma pretensa objetividade. Comecei a ser muito crítico com o jornalismo. Eu tinha estado no Afeganistão, no Iraque, cobria eventos internacionais. Claro que eu estava com nojo da cobertura da imprensa sobre as questões do meu país, momentos antes das invasões ao Iraque e Afeganistão. Mas, relação a estas, via-se que os jornalistas estavam sendo alimentados com mentiras como se fossem bebês para justificar o envolvimento militar estadunidense na região.

Onde você trabalhava?

Na televisão islandesa. Em 2008, houve a bolha com os bancos na Islândia, mais um exemplo de mentiras que os jornalistas compraram. Em quatro dias ela estourou e colapsou todo o sistema bancário. As pessoas que não tinham nenhuma experiência em promover manifestações políticas foram às ruas e ameaçaram queimar o parlamento. Foi, basicamente, o que derrubou o governo, um processo popular. Quando a poeira começou a baixar, começamos a receber informações de como os bancos armavam as fraudes; o trabalho interno. O que todos achavam que era um milagre econômico era simplesmente o trabalho de jovens banqueiros com tendências doentias por jogos. Em 2009 eu conheci o WikiLeaks, quando ele expôs pela primeira vez esse sistema ao publicar a carta de empréstimos do maior banco da Islândia. Eles eram tão poderosos que controlavam governos e as instituições que deveriam monitorá-los. Para mim, foi um momento chave de mudança quando eu percebi que ele podia expor o que meus colegas jornalistas não expunham, as falcatruas. Nesse período, conheci Julian Assange na Islândia e nos tornamos amigos. Ele me contou que a proposta do WikiLeaks era baseada no ideal dos hackers australianos do final dos anos 1980, e, embora o termo hacker tenha hoje uma conotação ruim, trabalhava com a ideia clara e simples de que a informação deve ser pública. No momento em que me engajei, esse movimento estava crescendo em espiral, vindo à tona esses vazamentos massivos que temos publicado desde abril do ano passado. O primeiro foi o vídeo do helicóptero num ataque ao Iraque [Assassinato colateral], que me deixou muito chocado. A ideologia do WikiLeaks é muito simples e direta: trata-se de liberdade de informação, transparência e importância dos informantes que ajudam a revelar corrupção e má conduta. Quando a notícia é apropriadamente disseminada, pode ser um veículo de mudança social, para trazer o que chamamos de justiça.

Qual balanço vocês fazem do resultado desses vazamentos?

É difícil avaliar os impactos, mas talvez o mais forte tenha sido o psicológico. Por mostrar que uma organização pequena pode expor as grandes más ações das nações mais poderosas, que tem o impacto de dar poder ao povo e convencê-lo de que a justiça é possível. De que é possível trazer mudanças sociais por meio da ação direta. Nós mostramos tantas informações novas sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão, expondo suas realidades, que foi possível contar o que realmente aconteceu a partir dos próprios atores que dela participaram, dos papéis oficiais. Os papéis jogaram luz sobre a vocação imperialista dos EUA no mundo e mostraram como eles operam em cada país, além das informações de má conduta que os próprios EUA encontraram nesses países.”
Entrevista Completa, ::Aqui:

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