Palavras, palavras, palavras
Eu já não aguento mais
Palavras, palavras, palavras
Você só fala, promete e nada faz
(''Palavras", Gonzaga Jr.)
José Serra, finalmente, se declarou candidato à Presidência. É a grande esperança branca, o escolhido para apear do governo a "República Sindicalista" apontada por outro tucano de alta plumagem, o indescritível FHC - que, na festa de hoje, teve também seus momentos de glória, justo ele que ultimamente andava tão escanteado pelos seus pares.
Mas chega de conversa. Vamos ao que interessa: os pontos altos do discurso de Serra, obra-prima do gênio da raça, líder predestinado a fazer o mundo se prostrar à sua excelência. (os grifos são de minha pobre lavra, que eu não me aguento de inveja!).
"Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis. Mas não são únicos. Honestidade, verdade, caráter, honra, coragem, coerência, brio profissional, perseverança são essenciais ao exercício da política e do Poder. É nisso que eu acredito e é assim que eu ajo e continuarei agindo. Este é o momento de falar claro, para que ninguém se engane sobre as minhas crenças e valores. É com base neles que também reafirmo: o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais."
(Serra tem tantas crenças e tantos valores que até hoje nunca se definiu ideologicamente. É daqueles que, quando perguntado sobre isso, vêm com a história de que direita e esquerda são coisas do passado etc e tal. A sua crença sempre foi no mercado; o valor que mais o inspira é a ambição).
"O governo deve servir ao povo, não a partidos e a corporações que não representam o interesse público. Um governo deve sempre procurar unir a nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado, na solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente de todos."
(Não é bem isso o que seu governo em São Paulo fez: ao contrário, estimulou a guerra fiscal, prejudicou outros entes federativos, provocou reclamações de vários governadores. E, na composição de seu governo, teve o cuidado até de alijar a turma da administração anterior, de Geraldo Alckmin, na teoria seu colega de partido).
"Ninguém deve esperar que joguemos o governo contra a oposição, porque não o faremos. Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo. Em meio século de militância política nunca fiz isso. E não vou fazer. Eu quero todos juntos, cada um com sua identidade, em nome do bem comum."
(Mas não é ele que acusa tudo o que de ruim acontece em São Paulo de consequência do "tró-ló-ló petista"?).
"Eu fui perseguido em dois golpes de estado, tive dois exílios simultâneos, do Brasil e do Chile. Sou sobrevivente do Estádio Nacional de Santiago, onde muitos morreram. Por algum motivo, Deus permitiu que eu saísse de lá com vida. Para mim, direitos humanos não são negociáveis. Não cultivemos ilusões: democracias não têm gente encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente de quem está no governo. Democracias não têm operários morrendo por greve de fome quando discordam do regime."
(No Estado de São Paulo, democracia é sinônimo de bordoadas em professores, porradas em manifestantes, pressões contra jornalistas, criminalização de movimentos sociais, arrocho salarial do funcionalismo público... Serra realmente não negocia direitos humanos: ele os ignora).
"Nossa presença no mundo exige que não descuidemos de nossas Forças Armadas e da defesa de nossas fronteiras. O mundo contemporâneo é desafiador. A existência de Forças Armadas treinadas, disciplinadas, respeitadoras da Constituição e das leis foi uma conquista da Nova República. Precisamos mantê-las bem equipadas, para que cumpram suas funções, na dissuasão de ameaças sem ter de recorrer diretamente ao uso da força e na contribuição ao desenvolvimento tecnológico do país."
(O sucateamento das Forças Armadas foi política de Estado do governo FHC, o "pai espiritual" de Serra, e a quem ele serviu lealmente. O governo Lula tem recuperado a dignidade dos militares, através de aumentos salariais que havia muito não tinham, por meio do reaparelhamento das Forças - o tão discutido projeto FX-2, de compra de caças para a FAB, por exemplo, era para ser concluído por FHC, que não teve coragem para isso - e até mesmo com a definição uma nova Política de Segurança Nacional).
"Desde cedo, quando entrei na vida pública, descobri qual era a motivação maior, a mola propulsora da atividade política. Para mim, a motivação é o prazer. A vida pública não é sacrifício, como tantos a pintam, mas sim um trabalho prazeroso. Só que não é o mero prazer do desfrute. É o prazer da frutificação. Não é um sonho de consumo. É um sonho de produção e de criação. Aprendi desde cedo que servir é bom, nos faz felizes, porque nos dá o sentido maior de nossas existências, porque nos traz uma sensação de bem estar muito mais profunda do que quaisquer confortos ou vantagens propiciados pelas posições de Poder. Aprendi que nada se compara à sensação de construir algo de bom e duradouro para a sociedade em que vivemos, de descobrir soluções para os problemas reais das pessoas, de fazer acontecer."
(Alguém pode dizer qual a marca do governo Serra em São Paulo? O chamado "Rouboanel"? O buraco do metrô? A inundação do Jardim Pantanal? Os mais de 60 mortos pelas chuvas? A destruição de São Luiz de Paraitinga? As porradas nos professores em greve? A invasão da USP pela Polícia Militar? A guerra entre policiais a metros de distância do Palácio dos Bandeirantes? Afinal, o que dá mais prazer a esse senhor?).
"Juntos, vamos construir o Brasil que queremos, mais justo e mais generoso. Eleição é uma escolha sobre o futuro. Olhando pra frente, sem picuinhas, sem mesquinharias, eu me coloco diante do Brasil, hoje, com minha biografia, minha história política e com esperança no nosso futuro. E determinado a fazer a minha parte para construir um Brasil melhor. Quero ser o presidente da união. Vamos juntos, brasileiros e brasileiras, porque o Brasil pode mais."
(Claro que o Brasil pode mais: Lula provou isso!).
by; Crônicas do Motta
By: Crônicas do
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