A "GRANDE MÍDIA", EM FILME DE 1979
Jarbas (Flávio São Tiago) e Mateus Romeiro (Tarcísio Meira) acertam ponteiros em "República dos Assassinos".
.Considerações do jornalista Jarbas (personagem do ator Flávio São Thiago) no filme “República dos Assassinos”, de Miguel Faria Júnior, de 1979:
“Uma das coisas que aprendi nesses anos todos é que a missão de um jornal não é dizer a verdade. Cada frase, cada foto, era arrumada nas páginas com uma determinada intenção: emocionar, fazer rir ou chorar, deixar trêmulos de medo e ansiedade os oprimidos. E informar aos privilegiados, através de códigos cifrados e pessoais, sobre quem eles deveriam temer ou contra quem eles deveriam lutar. Sim, o jornal tinha apenas um objetivo: contribuir para que o mundo dos poderosos se firmasse. Para a grande maioria, restava apenas acreditar que nas notícias estava o mundo em que eles viviam.”
“República dos Assassinos” é baseado no livro do mesmo nome escrito por Aguinaldo Silva, repórter policial no início de sua carreira profissional e hoje autor de telenovelas. Um filmaço. O elenco é de primeiríssima linha, com nomes como Tarcísio Meira, Anselmo Vasconcelos, Ítalo Rossi, José Lewgoy, Paulo Villaça, Milton Moraes, Rogério Fróes, Tonico Pereira, José Dumond, Sandra Brea, Sílvia Bandeira (gatíssimas e no auge da beleza física) e Elba Ramalho (fazendo uma ponta como mendiga). A trilha sonora é de Chico Buarque e inclui joias como “Não sonho mais” (apresentada na abertura em versão instrumental, cantarolada por Elba em sua curta participação e pela dupla Elba/Chico no encerramento) e “Sob Medida” (cantada – ou dublada, não sei ao certo − por Sandra Brea no filme, a música fez sucesso na voz de Fafá de Belém).
Jarbas faz suas reflexões depois de cair em desgraça ao ser tornado público seu conluio com Mateus Romeiro (Tarcísio), policial retratado à maneira dos integrantes do “Esquadrão da Morte” (no filme, "Os Homens de Aço") e de policiais corruptos da vida real − é muito clara a inspiração em Mariel Mariscott. O acordo entre Jarbas e Mateus é muito simples: o primeiro recebe do segundo, de antemão e com exclusividade, a data, horário e local em que um bandido será executado. Em troca, Jarbas exalta a “coragem” de Mateus em textos fantasiosos, que transformam marginais de menor monta, assassinados sem chance de defesa, em perigosos meliantes mortos ao "reagir à ação da polícia". Tudo com a anuência do dono do jornal, o oportunista Gilberto (José Lewgoy), que depois passa a combater a força policial que ele próprio ajudou a promover.
Quaisquer semelhanças entre Jarbas (e sua posterior análise do papel da imprensa), o empresário de comunicação Gilberto e a “grande mídia” não são mera coincidência. Concorda ou discorda?
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