O fenômeno Tiririca, que pede o voto ao eleitor "porque pior que está não fica", embora seja objeto de uma avalanche de críticas, não é algo novo na política brasileira.
Em todas as eleições aparecem candidatos como ele, sem nenhum preparo para exercer o cargo, e que apenas se lançam na vida pública para ganhar um tanto de publicidade.
Se, num desses acasos, acabarem eleitos, tanto melhor: afinal, com toda a verba disponível para manter um gabinete cheio de assessores, a rotina de um deputado não deve ser de todo desagradável ou complicada.
O caso do Tiririca se destaca das outras candidaturas "trash" porque ele foca, explícita e desavergonhadamente, aquele eleitor desiludido com a política e os políticos. Nesse sentido, votar em Tiririca é um ato de protesto. Não deixa de ser uma incoerência, mas o que fazer?
Esse tipo de voto também não é novidade nas campanhas eleitorais brasileiras. Em 1958 o rinoceronte Cacareco, que habitava o Zoológico de São Paulo, teve cerca de 100 mil votos para vereador, na frente do candidato mais bem colocado.
Em 1988, o Macaco Tião, um chimpanzé ranzinza que vivia no zoo do Rio, teve 400 mil votos na eleição para prefeito, ficando em terceiro lugar entre 12 candidatos.
O efeito desse voto de protesto ajudou, sem dúvida, a eleger várias pessoas, como, por exemplo, do jogador de futebol Biro-Biro, bom meio de campo corintiano, que foi vereador em São Paulo de 1989 a 1992. O caso mais recente que me lembro é do costureiro Clodovil, que em 2006 conseguiu a façanha de ser o terceiro candidato ao Congresso mais votado em todo o país, com inacreditáveis 493 mil votos.
Com esses exemplos quero apenas relativizar a presença dessa turma nas eleições deste ano. É do jogo democrático. Quem não concorda com elas que não vote nelas.
O que realmente exige uma discussão mais profunda é o sistema político brasileiro, que permite a proliferação de partidos sem nenhum traço ideológico, que surgem apenas para atuar como balcão de negócios, transacionando legendas para quem quiser, vendendo seus horários gratuitos a quem pagar mais.
Se a legislação não fosse tão leniente, aposto que o horário eleitoral não teria essa infestação de Tiriricas que se vê agora.
Crônicas do Motta
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