Há mais de vinte anos venho pesquisando homens e mulheres de diferentes gerações moradores da cidade do Rio de Janeiro e de outras culturas.
Percebi, no discurso das brasileiras de mais de 40 anos, duas queixas principais: a decadência do corpo e a falta de homem. De diferentes maneiras, elas me disseram: "Aqueles olhares, cantadas, elogios, tão comuns desde a minha adolescência até os 40 anos, desapareceram. Ninguém mais me chama de gostosa, eles me ignoram. Sou uma mulher invisível".
Curiosamente, as mulheres que se mostraram mais felizes não são as mais magras, mais bonitas ou mais jovens, mas aquelas que, mesmo fora dos padrões, estão casadas há muitos anos. Descobri, então, uma riqueza para as brasileiras: o "capital marital". Em um mercado de casamento em que os homens disponíveis são escassos, principalmente acima dos 40 anos, as casadas se sentem felizes por terem um produto raro e altamente valorizado na nossa sociedade.
As amantes de homens casados que pesquisei, as Outras, dizem que é praticamente impossível encontrar um homem interessante que não seja casado. Consideram melhor ter um companheiro, mesmo que casado com outra mulher, do que ficarem sozinhas. Ter um amante é uma opção que consideram satisfatória, tendo em vista as alternativas que se apresentam para as mulheres mais velhas.
Na hierarquia de valores das Outras, a melhor posição é a da esposa (com um marido fiel); seguida da Outra (com um amante fiel), da mulher que está só e, por fim, da mulher casada com um marido infiel. No caso de não ter um marido fiel (o "capital marital"), o amante fiel é considerado um outro tipo de capital, um pouco menos valorizado, é verdade, mas considerado melhor do que a solidão.
A Outra acredita que, no domínio afetivo e sexual, ela é "a única", "a verdadeira", "a número um". Para ela, a Outra é a esposa, com quem ele está apenas por obrigações familiares e sociais.
É interessante destacar que, na hierarquia das pesquisadas, ficar sozinha está acima de ser a esposa traída. Apesar do marido ou do amante serem capitais, eles perdem o valor quando são infiéis. O que reforça a ideia de que a fidelidade é o principal valor para as pesquisadas, um capital muito mais valioso do que a presença de um homem em suas vidas.
Apesar do comportamento infiel ser muito comum - como mostram os dados da minha pesquisa em que 60% dos homens e 47% das mulheres afirmam já terem sido infiéis - a fidelidade é considerada o principal fator para um relacionamento feliz. Não só no casamento, mas também nas relações extraconjugais, a fidelidade é o valor mais importante. Não é um verdadeiro paradoxo?
Percebi, no discurso das brasileiras de mais de 40 anos, duas queixas principais: a decadência do corpo e a falta de homem. De diferentes maneiras, elas me disseram: "Aqueles olhares, cantadas, elogios, tão comuns desde a minha adolescência até os 40 anos, desapareceram. Ninguém mais me chama de gostosa, eles me ignoram. Sou uma mulher invisível".
Curiosamente, as mulheres que se mostraram mais felizes não são as mais magras, mais bonitas ou mais jovens, mas aquelas que, mesmo fora dos padrões, estão casadas há muitos anos. Descobri, então, uma riqueza para as brasileiras: o "capital marital". Em um mercado de casamento em que os homens disponíveis são escassos, principalmente acima dos 40 anos, as casadas se sentem felizes por terem um produto raro e altamente valorizado na nossa sociedade.
As amantes de homens casados que pesquisei, as Outras, dizem que é praticamente impossível encontrar um homem interessante que não seja casado. Consideram melhor ter um companheiro, mesmo que casado com outra mulher, do que ficarem sozinhas. Ter um amante é uma opção que consideram satisfatória, tendo em vista as alternativas que se apresentam para as mulheres mais velhas.
Na hierarquia de valores das Outras, a melhor posição é a da esposa (com um marido fiel); seguida da Outra (com um amante fiel), da mulher que está só e, por fim, da mulher casada com um marido infiel. No caso de não ter um marido fiel (o "capital marital"), o amante fiel é considerado um outro tipo de capital, um pouco menos valorizado, é verdade, mas considerado melhor do que a solidão.
A Outra acredita que, no domínio afetivo e sexual, ela é "a única", "a verdadeira", "a número um". Para ela, a Outra é a esposa, com quem ele está apenas por obrigações familiares e sociais.
É interessante destacar que, na hierarquia das pesquisadas, ficar sozinha está acima de ser a esposa traída. Apesar do marido ou do amante serem capitais, eles perdem o valor quando são infiéis. O que reforça a ideia de que a fidelidade é o principal valor para as pesquisadas, um capital muito mais valioso do que a presença de um homem em suas vidas.
Apesar do comportamento infiel ser muito comum - como mostram os dados da minha pesquisa em que 60% dos homens e 47% das mulheres afirmam já terem sido infiéis - a fidelidade é considerada o principal fator para um relacionamento feliz. Não só no casamento, mas também nas relações extraconjugais, a fidelidade é o valor mais importante. Não é um verdadeiro paradoxo?
Por Mirian Goldenberg, antropóloga e autora de "Por que homens e mulheres traem?".
Texto extraído da Revista O Globo, de 22 de agosto de 2010.
passeandopelocotidiano.blogspot.com/
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