domingo, 25 de abril de 2010

Não,Ciro, Serra não é mais preparado para enfrentar crise.


Brizola Neto, em seu Tijolaço, comenta as manipulações feitas em torno das declarações de Ciro Gomes, exagerando sempre suas críticas ao governo e à Dilma, e omitindo os petardos que ele solta, como de praxe, contra o serrismo. 

Não dá, todavia, para tampar o sol com a peneira. Ciro conhece de perto a disposição antilulista da mídia e tem inclusive se utilizado dessa contraforça para se projetar. É muito fácil. Basta criticar o PT em temas mais ou menos óbvios, de forma não muito violenta para não queimar pontes, nem suave demais a ponto de não chamar a atenção dos hidrófobos antipetistas da big press, obcecados em coletar e divulgar qualquer crítica a seus inimigos.

O Ciro de ontem resolveu elevar a dose de antipetismo para, proporcionalmente, ganhar mais mídia. Quanto mais violento for seu ataque ao PT e, particularmente, à menina dos olhos do petismo, a sua candidata Dilma Rousseff, mais holofotes se acenderão para Ciro Gomes desfilar.

Conseguiu. O nome Ciro aparece em todas as manchetes de jornal.

Ou seja, Ciro Gomes sabe o que fez.

A mídia parou de xingar Ciro Gomes, pintado agora como um campeão. Destemperado, mas valente.

As forças dilmistas, como era de se esperar, assistem a cena estarrecidas, com medo de qualquer manifestação que bote ainda mais fogo na fogueira.
Segundo a pesquisa Ibope, Ciro Gomes marcou 8% na pesquisa estimulada. Isso corresponde a quase 10 milhões de votos. Ele é uma figura importante no xadrez eleitoral, e sabe disso. Suas manifestações serviram como advertência, tanto aos governistas, quanto para a oposição. Ciro tem expertise midiática. Na verdade, ele se tornou uma espécie de celebridade.

Mas Ciro, outra vez, deslumbra-se com a luz dos holofotes. Por mais intensa que esta seja, o poder não está em quem está sob a luz, e sim em quem liga ou desliga a lâmpada. E não é Ciro quem faz isso.

O deputado está nitidamente confundindo política com uma cultura de celebridade, e querendo impor a sua opinião política, que é válida, mas é SUA opinião pessoal, ao povo brasileiro. Isso não se impõe. Conquista-se. Ser presidente da República não pode ser puramente uma ambição pessoal. O candidato deve estar no centro de um conjunto de forças políticas, partidárias e sociais, para ser um representante dessas idéias, e não de SUAS idéias.

Daí que o parlamentar declarou, no meio dessa confusão, que pode abandonar a política e virar "intelectual". Toda frase de Ciro recende a uma arrogância que me assusta. Em primeiro lugar, ele parece menosprezar a função do intelectual. Se quer virar intelectual, ótimo. O Brasil precisa tanto de intelectuais como de políticos, contanto, claro, que seja um intelectual competente e corajoso. Afinal, da mesma forma que há políticos corruptos e incompetentes, também há intelectuais desprezíveis.

Em segundo lugar, Ciro simula um ceticismo em relação à política que não é coerente, nem com sua astúcia, nem com as circunstâncias históricas. Nunca houve política ideal em lugar nenhum do mundo. Muito menos no Brasil. Provavelmente nunca haverá. A política, por ser um ringue onde se disputa o poder, sempre atrairá os espíritos mais violentos e mais ambiciosos. Isso é natural e por isso mesmo que os cidadãos devem se organizar para lidar da melhor forma possível com esse Leviatã.

As circunstâncias históricas atuais, por outro lado, também não respaldam o sarcasmo e o cinismo de Ciro Gomes, porque estamos testemunhando mudanças sócio-econômicas profundas no país e o deputado sabe disso. Em meio à névoa neo-maquiavélica em que partidos e forças sociais se digladiam, pode-se vislumbrar o povo caminhando, silenciosamente, discretamente, indiferentemente, em direção à um futuro um pouco melhor. É um silêncio cheio de orgulho, porque os governos não lhe fazem favor algum. É uma conquista de seus próprios direitos, e que lhe custou, nos últimos séculos, muita fome, muito trabalho, muito sofrimento. Ciro Gomes sabe disso. Ciro Gomes sabe que dezenas de milhões de nordestinos já morreram de inanição e doenças. Ciro Gomes sabe que as capitais do Sudeste foram construídas por braços nordestinos, ao mesmo tempo que o Nordeste agonizava.

Ciro Gomes sabe, enfim, que o Nordeste passa por uma fase de grande transformação social, registrando índices de crescimento econômico muito superiores ao do resto do país.

Não quero acreditar que Ciro, mesmo sabendo e testemunhando tudo isso, quer pular para o outro lado do balcão e defender os conservadores do Sudeste.

Irá Ciro agora defender que Serra está mais preparado que Dilma para enfrentar crise? Por quê? Serra não será um ditador. Será a cabeça de um conjunto de forças políticas, e essas forças, na minha opinião, não estão nada preparadas para enfrentar nenhuma crise, principalmente porque foram essas mesmas forças as grandes produtoras de crises no Brasil. A ideologia política do serrismo não passa de um êmulo tropical e mambembe das idéias estrangeiras que geraram a última grande crise econômica mundial.

O governo Serra não apenas não estaria preparado para enfrentar crises, como seria o pivô de muitas crises. Sua conhecida intransigência e seu centralismo autoritário deflagrariam conflitos em toda parte: com prefeitos, com governadores, com movimentos sociais, com sindicatos, com outros partidos.

Além disso, Serra se elegeria com um reduzido grupo de partidos. Os únicos aliados do PSDB são partidos decadentes, reacionários. Quase não são mais partidos. PPS e DEM já articulam integrar-se ao PSDB para escaparem a uma humilhante extinção natural. Ninguém mais quer votar em PPS e DEM. Esse é o governo mais preparado para crise?

Não tem sentido.

Um governo mais preparado para enfrentar uma crise é um governo forte, que lidera um amplo leque de alianças partidárias, que exerce com sucesso a mediação entre segmentos sociais fortemente antagônicos. Serra não serve para fazer esta mediação porque os tucanos defendem apenas um lado. Serra não tem apoio de nenhuma entidade sindical, trabalhista, estudantil, indígena, camponesa. Nenhum instituição com um mínimo de enraizamento popular apóia ou apoiará Serra.

Não, Ciro, Serra não está preparado.

Ao longo de sua carreira, Serra afastou-se do povo brasileiro, e de seus interesses.

Serra não está preparado para representar o Brasil lá fora.

Ele já começou atacando o Mercosul, uma das maiores conquistas da América do Sul das últimas décadas. Ao mesmo tempo em que defende que o Brasil amplie suas exportações de manufaturados, Serra não vê (por cegueira ideológica) que é o Mercosul, e a América Latina, o destino de 90% de nossos manufaturados.

Serra defende o belicismo neocon dos norte-americanos e já escreveu um artigo fortemente ofensivo ao Irã.

Contribuirá, portanto, para as articulações pró-guerra que os poderosos lobbies armamentistas semeam na mídia corporativa mundial.

Não, Ciro. Serra não está preparado. E, pelo jeito, tampouco você está.

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